Após 28 anos, o PT volta a disputar o segundo turno em Natal. Mais uma vez a legenda vai a nova etapa eleitoral com uma mulher, no caso a deputada federal Natália Bonavides.
Em 1996, a então deputada estadual Fátima Bezerra (PT) contrariou os prognósticos e tirou João Faustino (PSDB), candidato do então governador Garibaldi Alves Filho (PMDB).
Fátima enfrentou Wilma de Faria, que viria a ser governadora por dois mandatos e voltaria a petista no primeiro turno em 2000.
Naquela eleição Wilma teve 92.244 (35,79%) votos contra 74.444 (28,88%) de Fátima, um cenário bem mais apertado que os 171.146 (44,08%) x 110.483 (28,45%) que separaram Natália do candidato governista Paulinho Freire (UB).
O segundo turno em 1996 ficou ainda mais apertado com Fátima diminuindo a diferença e ficando com 127.531 (48,32%) contra 136.396 (51,68%) de Wilma.
Natália tem contra si um cenário mais adverso que o de Fátima que enfrentou uma Wilma que não contava com o apoio das máquinas em nenhuma esfera de poder. Já Paulinho conta com o empenho do prefeito Álvaro Dias (Republicanos) que não tem medido esforços para fazer o sucessor.
Por outro lado, Natália conta com os apoios do presidente Lula e da governadora Fátima, que após perder a prefeitura quatro vezes (as outras foram em 2004 e 2008) foi eleita senadora e governadora, além de ter sido deputada federal por três mandatos.
Estes dias li que a eleição em Natal tem certa semelhança com o pleito de 2012, no entanto gostaria de ir mais longe e lembrar que este ano tem muita semelhança com a eleição de 1992, a primeira municipal com a possibilidade de 2º turno para as cidades com mais de 200 mil eleitores. Vamos lá uma volta há mais de 3 décadas veremos alterações, “permanências” e mudanças de atores e atrizes políticos na capital potiguar e no estado do Rio Grande do Norte.
Em 1992, tínhamos três principais candidatos era o Deputado Federal Henrique Eduardo Alves, eleito deputado desde de 1970, filho do ex-Governador e ministro Aluízio Alves, figura política histórica no nosso RN e principal liderança do clã Alves, que protagonizou a política do RN por praticamente mais de meio século. Naquele ano, Alves já era candidato a prefeito pela segunda vez, sendo a primeira em 1988 quando perdeu a eleição para a então Wilma Maia, primeira Deputada Federal do RN e a mais votada de 1986, vendo o presente e olhando pro passado, em 88, seria o ano que Natália Bonavides (PT), das principais candidatas deste ano ao Palacio Felipe Camarão nasceu e que em 2022, foi reeleita Deputada Federal e mais votada do RN.
Voltemos a mergulhar no início dos anos 90, a então Prefeita Wilma (PSB) lança um nome técnico para sua sucessão, o seu Secretário de Planejamento Aldo Tinoco (PSB). Este ano, o Prefeito Álvaro Dias (Republicanos) até ensaiou fazer o mesmo e lança a Secretária de Planejamento Joana Guerra (Republicanos), no entanto optou por indica-la a Vice- Prefeita do Deputado Federal Paulinho Feire (União Brasil), candidato da extrema direita, do Senador Rogerio Marinho (PL) e do Senador Sterveson Valentin (Podemos ). Em sua trajetória política Freire possui histórico de ter sido Vice-Prefeito de Micarla de Souza, Vereador de Natal por vários mandatos, Deputado Estadual e Presidente da Câmara dos Vereadores de Natal
Neste ano, um Alves ainda pode chegar a Prefeitura, ou melhor voltar, o ex-Prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves apoiado este ano pela Senadora Zenaide (PSD), que assumiria pela primeira vez, no início deste século com a renúncia da então Prefeita Wilma de Faria, em 2002, reeleito em 2004. Como também, eleito em 2012 e reeleito em 2016, na qual tinha o atual Prefeito Álvaro Dias como seu Vice-Prefeito. Olhamos pelo retrovisor, em 92, não tínhamos somente um Alves disputando a Prefeitura com chances de vitória .Já que Anna Catarina Alves, irmã gêmea de Henrique Alves, era a candidata do então Governador José Agripino Maia, líder do clã e força política Maia. Naquele ano, a Governadora atual, iniciaria ainda a vida pública em cargos eletivo, Fatima Bezerra (PT) seria eleita Deputada estadual, em 1994, a paraibana hoje é Governadora reeleita e já escreveu seu nome na história potiguar, vencendo o Governo do RN, por duas vezes junto a Garibaldi Alves, José Agripino Alves e Vilma de Faria. O seu Vice-Governador é Walter Alves (MDB), filho do ex-Governador Garibaldi e o partido também apoiará Bonavides.
O Pleito de 1992 terminaria com a disputa por segundo turno, não com os filhos de Aluízio Alves disputando a prefeitura e sim com Henrique Alves enfrentando Aldo Tinoco e perdendo na eleição mais acirrada da história de Natal até então por menos de mil votos. A história desse pleito já foi escrita a deste ano está sendo escrita por todos nós.Com o período de convenções perto de encerrar dia 05 de agosto.
Carlos Eduardo Alves (PSD), poderá voltar a Prefeitura, Natália Bonavides (PT) poderá ser a terceira prefeita de Natal ou Paulinho Freire poderá ser eleito.
Desta forma, das memorias afetivas que tenho do meu pai me contando desse pleito na nossa Jucurutu-RN. Hoje, radicado e adotado por Natal, na qual é o meu viver nas ultimas quase duas décadas, metade de minha vida, também estou atento e atuante na cena política atual que definirá os rumos de nossa amada cidade pelos próximos 4 anos. Seguimos todos natalenses nascidos ou radicados ou talvez de passagem escrevendo e lutando pela história de condução da Natal que desejamos ver e que terá desfecho de resultado até o final de outubro.
*É bacharel em comunicação Social – Jornalismo e em Serviço Social pela UFRN, além de Servidor Público Federal na UFRN.
Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o bruno.269@gmail.com.
Por indicação da senadora Zenaide Maia (PROS – RN), a ex-governadora do Rio Grande do Norte, Wilma de Faria, foi homenageada, in memoriam, com o Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, concedido pelo Senado Federal a personalidades com notáveis contribuições para o avanço dos direitos da mulher e da cidadania. A premiação foi recebida por uma das filhas de Wilma, a ex-deputada estadual e atual presidente da Agência de Fomento do Rio Grande do Norte, Márcia Maia, em sessão solene nesta quarta-feira (23). “Há quatro anos, minha mãe nos deixou, mas ela vem sendo sempre lembrada como referência para as mulheres do Rio Grande do Norte e para todas nós. Uma mulher perseverante, que enfrentou muitos preconceitos, mas foi extremamente forte e se tornou a primeira mulher governadora do estado, destacando-se no combate à pobreza rural e no trabalho social”, declarou Márcia, em sua fala de agradecimento.
A trajetória política de Wilma, marcada por feitos pioneiros, foi relembrada por Zenaide: “[Wilma] foi a primeira mulher prefeita de Natal, três vezes eleita para a prefeitura da capital do Rio Grande do Norte. Também foi a primeira deputada federal do estado, deputada Constituinte; além de ser a primeira mulher governadora do estado, e por duas vezes! Fez toda a diferença no nosso estado e no país!”, enfatizou a senadora, em seu discurso de entrega do Diploma, no qual também saudou a presença de Márcia e Cíntia, representando a família de Wilma, no plenário do Senado. A senadora fez um apelo para a maior participação feminina na política. “Mulheres brasileiras, vamos ocupar os espaços de poder para fazer uma diferença real na vida das mulheres e dos grupos que mais precisam!”, finalizou.
Neste ano, o Prêmio Bertha Lutz completou vinte anos de existência e foi concedido a outras 20 mulheres, entre elas, a pneumologista Margareth Dalcolmo; a médica, ativista e diretora executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck; a historiadora e cientista política, Heloísa Starling; e a empresária Luiza Trajano. A solenidade contou com a presença da farmacêutica Maria da Penha Fernandes, símbolo da luta contra a violência doméstica, agraciada com o Diploma Mulher-Cidadã em 2005.
Trajetória
Wilma Maria de Faria nasceu em 17 de fevereiro de 1945, em Mossoró. Casou-se aos 17 anos com Lavoisier Maia e teve quatro filhos: Ana Cristina, Márcia, Lauro e Cíntia. Foi professora, especialista em Sociologia e mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Em 1979, quando primeira-dama do Rio Grande do Norte, coordenou o Programa Nacional do Voluntariado (PRONAV), assumiu a presidência da Legião Brasileira de Assistência (LBA) no estado, presidiu a APAE e criou o Movimento de Integração e Orientação Social (MEIOS). Em 1983, assumiu a Secretaria de Trabalho e Bem-Estar Social.
Em 1986, foi eleita deputada federal na Assembleia Constituinte. Sua atuação em defesa dos direitos sociais e da classe trabalhadora fizeram-na figurar entre os “Deputados nota 10”, distinção concedida pelo Departamento Intersindical de Assuntos Parlamentares (DIAP).
Wilma foi eleita por três vezes prefeita de Natal: em 1988 (sendo a primeira mulher prefeita da capital potiguar); em 1996 e em 2000. Em abril de 2002, deixou a prefeitura para disputar o governo do estado. Eleita com expressiva votação, tornou-se a primeira mulher governadora do Rio Grande do Norte, em 2003. Em 2006, foi reeleita para o cargo, em outro feito pioneiro para as mulheres potiguares.
Na eleição de 2012, Wilma foi eleita vice-prefeita de Natal, na chapa com Carlos Eduardo. Em 2016, foi eleita vereadora da capital potiguar, seu último cargo político. Faleceu em 15 de junho de 2017, aos 72 anos, em decorrência de um câncer no sistema digestivo.
Por sua luta e trajetória política, Wilma de Faria ficou conhecida como “Guerreira”.
Legado
Foram muitos os feitos de Wilma de Faria em suas gestões à frente do Governo do Rio Grande do Norte, como a instalação da primeira Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), no campus de Caicó; a duplicação da Avenida das Fronteiras e da Itapetinga; o Pórtico dos Reis Magos; a drenagem e pavimentação de mais de duas mil ruas; a urbanização da Avenida Rio Branco e a construção do
Corredor Cultural; a construção e recuperação de 1.800 casas populares; a Central do Cidadão, na Zona Norte; a recuperação e ampliação do Centro de Reabilitação Infantil; entre outras obras. Wilma de Faria também foi responsável pela instalação dos primeiros parques eólicos, a implantação da Usina Termoelétrica do Vale do Açu (Termoaçu), e das termoelétricas Potiguar 1 e 3; assim como pela viabilização da Refinaria Clara Camarão. Houve, ainda, investimentos importantes nas áreas de bioenergia, energia solar, infraestrutura de transmissão e cooperações socioambientais.
Em 2018, foi realizada uma pesquisa Ibope/Tribuna do Norte e Wilma de Faria foi apontada como “a melhor governadora dos últimos 30 anos”.
Em um artigo intitulado “Caminhos da Política” o ex-deputado federal Laíre Rosado revelou os bastidores do histórico rompimento de seu grupo político com a família Alves, encerrando uma parceria que na época já durava duas décadas.
Laíre compara a frieza com que Garibaldi Alves Filho (MDB) descartou o primo Henrique Alves (MDB) com a experiência que ele viveu 16 anos atrás.
Vale a apena a leitura do texto publicado em O Mossoroense. Segue na íntegra:
CAMINHOS DA POLÍTICA
O ex-senador Garibaldi Alves afirmou que rompeu política e familiarmente com o ex-deputado Henrique Alves. Quando do rompimento de Carlos Augusto com os tios, Dix-huit declarou que, em política, o primeiro que apodrece é o sangue. Na aliança política entre familiares o vínculo se mantém enquanto atende ao interesse de todos.
Em 2006, Garibaldi nos fez passar por vexame semelhante ao que está expondo Henrique. Acreditava que o apoio de Rosalba Ciarlini era fundamenta para sua eleição ao Senado. Foi assim que, pelo telefone, marcou encontro comigo e com Sandra, em nosso apartamento na capital do estado, no cruzamento das ruas Antônio Basílio com Rui Barbosa.
Uma visita do grande líder Garibaldi deveria ser motivo de alegria, mas não foi o que aconteceu. Depois dos cumprimentos iniciais, sem arrodeio, disse que estava precisando do apoio da ex-prefeita de Mossoró e avisava que eu e Sandra, então deputada federal, deveríamos buscar outro partido, deixando o PMDB, partido a que estávamos filiados há vários anos. De maneira enfática, repetiu que não teríamos mais espaço para disputar novas eleições filiados ao partido onde tivemos grandes vitórias.
Ponderei que poderíamos conviver com Rosalba em um mesmo partido. Não havia necessidade de cancelamento de nossa filiação ao PMDB, partido que amávamos e onde nos sentíamos confortáveis. Pedi somente que, caso ele concordasse, queria que o anúncio dessa nova composição fosse feito por nosso intermédio, para evitar uma reação maior dos correligionários. Fiquei surpreso com a reação de Garibaldi, afirmando não havíamos entendido sua decisão e que tínhamos que sair do PMDB. E completou, quanta ironia meu Deus, que entenderia qualquer posição que assumíssemos.
Perguntei sobre o diretório municipal do PMDB em Mossoró e ele respondeu que esse assunto não era mais de minha responsabilidade. Perguntei ainda se Rosalba assinaria ficha de filiação partidária e, mais uma vez, ele não me respondeu. Sempre fui muito tranquilo em minhas reações emocionais, mas não suportava a decepção profunda que tomou conta de Sandra
Não procurei o deputado Henrique Alves acreditando que, mesmo se não concordasse com Garibaldi, não o enfrentaria, quando a justificativa era sua eleição ao Senado. Procuramos Geraldo Melo, além de correligionário, nosso amigo, com provas de solidariedade desde o tempo de Vingt Rosado. Contamos da visita de Garibaldi e ele demonstrou perplexidade, sem querer acreditar no que estava ouvindo. Perguntou se nós concordaríamos em um novo encontro, dessa vez com a sua presença. Geraldo seria candidato ao Senado nessas eleições e tinha interesse em manter unido a base de apoio. Viajei até Brasília e, no apartamento de Sandra, conversamos novamente com Garibaldi, com a participação de Geraldo Melo.
Sandra deixou um muito claro a Garibaldi que estávamos atendendo a uma sugestão de Geraldo, mas não acreditava que Garibaldi reconsiderasse sua decisão de não nos querer no PMDB. Em poucos minutos, diante da frieza e Garibaldi, Geraldo foi acometido de uma crise de enxaqueca que o obrigou a usar medicamentos para concluir o diálogo.
Não havendo mais nada a acrescentar, Garibaldi despediu-se de mim e de Sandra e convidou Geraldo para descerem juntos no elevador, para analisar algum detalhe da conversa, disse ele. Geraldo lhe respondeu que, diante das colocações que havia escutado, não havia mais espaço para nenhuma conversa.
Foi então que Sandra, olhando para os dois, disse “Geraldo, hoje, nós somos os traídos, mas amanhã você é quem será enganado por Garibaldi. Há indícios seguros de que ele já fechou com a candidatura de Rosalba Ciarlini ao Senado.” Ao que parece, Geraldo imaginou essa hipótese inteiramente impossível, mas foi o que aconteceu.
Poucos dias depois de Garibaldi formalizar o apoio a Rosalba como candidata ao Senado, encontramo-nos com Geraldo que foi se dirigindo a Sandra e afirmando, “amiga, você tinha toa razão. E eu não quis acreditar que isso pudesse acontecer”.
No final, Sandra foi reeleita deputada federal. Rosalba foi eleita senadora, com o apoio de Garibaldi. Geraldo não conseguiu voltar ao Senado e o próprio Garibaldi foi derrotado por Wilma de Faria, eleita governadora do estado. Passado o período eleitoral, Garibaldi chegou a reconhecer que tinha cometido um erro político ao trocar o apoio de Sandra e Laire por Rosalba e Carlos Augusto. Não somente por conta de votos, mas pelo desequilíbrio que isso provocou em Mossoró e Região Oeste.
Quem sabe, no futuro Garibaldi Alves volte a admitir ter incorrido em outro erro político, desta vez mais grave que o primeiro. Afinal de contas, como ele mesmo declarou, é um rompimento familiar e político.
Um estudo realizado pelos professores Sandra Gomes, Alan Daniel Freire de Lacerda e André Luís Nogueira da Silva traçou o perfil do secretariado potiguar entre os anos de 1995 e 2015, um trabalho que visou identificar se existiu no período que abrangeu seis gestões (quatro eleitas – Garibaldi Alves Filho, Wilma de Faria, Rosalba Ciarlini e Robinson Faria- e dois mandatos “tampões”- Fernando Freire e Iberê Ferreira) houve predominância técnica ou política, além da influência dos acordos forjados na Assembleia Legislativa.
Alan Lacerda e Sandra Gomes são do Departamento de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) enquanto que André Luís é da Escola de Administração de Empresas de São Paulo e Fundação Getúlio Vargas.
Eles identificaram no trabalho que a lógica das relações entre o Governo do RN e a Assembleia Legislativa não é necessariamente a mesma que ocorre entre o executivo federal e o Congresso Nacional. “Nem todos os partidos da base parlamentar detêm nomeações para o secretariado e não se observam regras de proporcionalidade ao tamanho das bancadas no Legislativo. A análise das trajetórias pessoais dos secretários e secretárias no Rio Grande do Norte sugere haver outras lógicas que explicam suas escolhas”, diz o artigo.
Apesar disso, houve variações significativas no perfil do secretariado entre os governos dentro dos critérios estabelecidos no estudo que dividiu os secretariados em quatro categorias:
Político
Técnico
Técnico e político
Nem político nem técnico.
Confira no quadro abaixo a conceituação dos critérios:
No período entre 1995 e 2015 coube a Rosalba Ciarlini (na época do DEM) o título de governadora que formou a equipe mais técnica. Enquanto Robinson Faria (PSD) que, teve apenas o início da gestão analisado, ficou com o título de quem mais aliou características técnicas e políticas na equipe. O segundo governo de Garibaldi Alves Filho (PMDB) – 1999/2002 – foi o que registrou o maior perfil político.
Confira no quadro abaixo:
Em conversa com o Blog do Barreto (entrevista na íntegra será publicada amanhã), Alan Lacerda, um dos autores do trabalho, explica que os elementos políticos e partidários na formação dos governos se mescla com questões familiares e que seria necessário saber como se deu a formação nos escalões inferiores. “Isso varia um pouco entre os governos, e dentro de cada um deles. O governo Garibaldi, por exemplo, foi o mais “partidário” no período 1995-2015. A rigor, argumentamos que o elemento partidário se mescla com redes familiares e pessoais de confiança do governador. É importante também chamar a atenção para o segundo escalão e a administração indireta estadual, que não foram objeto de nossa pesquisa. Talvez neles resida outro padrão, que qualifique o que dissemos no trabalho, ou seja, um padrão no qual o perfil partidário das bases governistas na Assembleia é atendido de um modo mais claro”, explicou.
Apesar das variações entre os governos o estudo avaliou que a característica que mais se sobrepõe nos Governos do RN é o que alia perfil que conjugam características técnicas e políticas. “Na grande maioria dos governos, o uso de critérios puramente técnicos, considerando tanto a concepção restrita quanto a ampliada, se sobrepõe às escolhas com viés unicamente político e os governos potiguares têm optado pela combinação de qualificações técnicas e políticas ao mesmo tempo”, diz o artigo.
Isso se deve ao faro de que as conexões partidárias se mesclam com as conexões pessoais e familiares, inclusive se estendendo aos secretários considerados técnicos. “Que fique claro – há coalizão, mas os partidos só podem ser tomados como unidades de análise em certas agremiações e determinados momentos, assim como em determinadas secretarias. A inclusão dos partidos não parece se guiar por cálculos restritos à Assembleia e as nomeações ditas técnicas refletem uma associação e concepção alargadas da competência funcional da pessoa, como vimos na discussão da Seção 1. Daí o sentido de ambiguidade, ou de não univocidade, detectado por nós durante a investigação. Boa parte da discussão empreendida aqui pode ser reexaminada e qualificada, em futuro inquérito, sob o ângulo da “coalizão mitigada”, conclui o trabalho.
Governos do RN se pautam pela composição partidária da Assembleia na hora de forma o primeiro escalão
A pesquisa traz também um quadro comparativo entre o quadro partidário na Assembleia Legislativa e a ocupação de espaços pelos partidos no primeiro escalão.
O estudo mostra que em democracias parlamentaristas são os partidos que pinçam de seus quadros os indicados para compor os governos. Eles também comparam a situação no RN com estudos como o de Sandes-Freitas & Massoneto (2017) que apontam peso partidário nas nomeações no Piauí e São Paulo. Ele também cita o trabalho de Passos (2013) sobre o Rio Grande do Sul que indicou o PDT ocupando 85% das secretarias na gestão de Alceu Colares (1991/95) comparada com a de Antonio Britto (1994/98) que fez um governo todo montado a partir de indicações partidárias.
O estudo levanta a hipótese de a menor participação dos partidos numa Assembleia Legislativa se dê pela baixa quantidade de parlamentares, no caso do RN 24. “Há aspectos especificamente estaduais que devem figurar na reflexão. Um ponto objetivo óbvio, mas raramente notado nessa discussão, merece menção: assembleias estaduais são bem menores que o Congresso Nacional. A maior assembleia estadual, a paulista, tem menos de cem integrantes – a sua congênere potiguar, nosso objeto aqui, possui 24 deputados. A tarefa de compor o secretariado, se pensamos a questão estritamente em termos de escala, é facilitada. O governador pode, por exemplo, fazer contatos pessoais, facilitando transações eleitorais relacionadas ao pleito de um prefeito. Alguns deputados estaduais podem valorizar mais sua influência em disputas municipais do que a ocupação de espaços na administração estadual”, afirma.
No período analisado, Garibaldi Alves Filho teve a gestão com maior peso partidário sendo que o seu partido, o PMDB, no primeiro governo ficou sobre-representado, situação que mudou no segundo mandato quando a agremiação indicou 54% das pastas. “É verdade que o PMDB também detinha maioria similar de deputados na base aliada, mas precisamos considerar que um subconjunto das indicações não tinha critério partidário. Levando em conside[1]ração apenas as indicações de filiados a partidos da base para secretário, quase 80% é dirigida a peemedebistas. Mesmo o PPB (antigo PPR) obteve apenas duas secretarias, ou cerca de 8% do total da “cota” destinada aos partidos, apesar de possuir 35% dos deputados da coalizão governativa (Macedo, 2017; Santos, 2017)”, destaca o trabalho.
Eleita com uma coligação pequena, que terminou por ampliar a base no segundo turno, Wilma de Faria precisou atrair aliados para garantir apoio no parlamento. Ela precisou abrir mais espaço para os partidos. “As nomeações de Wilma se espalham no seu próprio partido e por PFL, PT, PDT, PCdoB, PPS, PL (posteriormente PR), PTB, configurando-se um cenário de maior fragmentação partidária derivado em parte da própria Assembleia. A pesquisa detectou grande quantidade de indicações na cota pessoal da governadora, assim como técnicos com perfil político no sentido amplo do termo (ver Tabela 1 na Seção IV) e o PSB não tem a dominância observada no PMDB em governos anteriores. Os peessebistas mantêm quatro secretários nos primeiros (2003-2006) e segundo (2007-2010) mandatos, dentro de um total de onze e treze indicações estritamente partidárias, respectivamente. Em todo caso, o governo é claramente majoritário na Casa até o início de 2010. Há diversas mudanças partidárias na composição da coalizão nos dois mandatos”, explica o estudo.
Já Rosalba (ver texto abaixo) montou um governo predominantemente técnico e com secretários alinhados a ela e ao marido Carlos Augusto Rosado. Enquanto Robinson Faria, apesar da retórica do “governo técnico” ele acabou montando uma equipe que aliou os dois perfis sendo que das nove indicações com filiações partidárias cinco foram do PT que tinha apenas um deputado estadual.
O então governador preferiu montar a base negociando apoios no “varejo”.
O trabalho conclui que os governantes não optaram por formar o secretariado levando em consideração a proporcionalidade dos partidos na Assembleia Legislativa.
Confira:
Como caracterizar as principais gestões analisadas em conexão ao seu relacionamento com o legislativo? Qualquer classificação é provisória a essa altura da investigação, mas é possível definir certos parâmetros de maioria no que toca à consistência da mesma. Sendo assim, o governo Garibaldi pode ser designado como partidarizado, majoritário e de dominância clara do partido do governador sobre o primeiro escalão; na Assembleia cede-se espaço a um partido aliado (PPB). O governo Wilma é partidarizado, majoritário e sem dominância do seu partido sobre o secretariado, ocorrendo incidência de “cotas pessoais” em cargos importantes; na Assembleia cede-se espaço a um partido aliado (PMN). O governo Rosalba apresenta baixa partidarização, sem núcleo partidário dominante seja na base legislativa seja no secretariado. Por fim, o governo Robinson (aqui estudado apenas na primeira formação do secretariado) exibe baixa partidarização com obtenção individualizada de apoios no legislativo potiguar. De modo geral, não constatamos tentativas claras de dar maior proporcionalidade às indicações partidárias no que concerne a postos de primeiro escalão e bancadas na assembleia estadual.
Cota pessoal
Um ponto que iguala Garibaldi e Wilma diz respeito ao critério de “cota pessoa”. Sendo que no primeiro, as pessoas com esse perfil já se encontravam no PMDB e na segunda ela manteve pessoas com esse perfil em postos chave. Enquanto Rosalba preferiu trazer pessoas de sua confiança dos tempos em que foi prefeita de Mossoró. “Fica claro, portanto, que as proporções partidárias na Assembleia Legislativa não figuram de imediato ou regularmente nos cálculos dos governantes estaduais. Elementos derivados das famílias políticas potiguares reforçam a necessidade de alianças que são pessoais entre os nomeados e o governador”, destacou.
Aposta em perfil técnico não garantiu gestões bem avaliadas
Entre 1995 e 2015 somente dois governadores conseguiram se reeleger e foram justamente os que menos trabalharam com equipes mais técnicas: Garibaldi Alves Filho e Wilma de Faria (na época no PSB).
Já Rosalba Ciarlini e Robison Faria que montaram equipes mais técnicas terminaram registrando altos índices de impopularidade e não conseguiram se reeleger. Vale lembrar que Rsalba sequer chegou a tentar a reeleição e Robinson teve apenas o primeiro ano de mandato avaliado.
O estudo mostra que aposta na equipe técnica terminou por refletir no desempenho político da governadora Rosalba que teve crises sucessivas com Assembleia Legislativa e outros poderes. Ela chegou a ter apenas 7% de aprovação em dezembro de 2013, sendo a pior avaliação entre os gestores estaduais no país. “O caso do governo Rosalba é exemplar disto. No critério restrito, teria sido a administração mais “tecnicamente competente” dentre todos os governos. Mas isto não garantiu um gover[1]no bem-sucedido, ao contrário: Rosalba sofreu com problemas na manutenção de sua coalizão político-partidária, uma gestão pública desastrosa em muitas frentes (crise na Penitenciária de Alcaçuz, decreto de calamidade pública na saúde pública, um ajuste fiscal que paralisou serviços públicos etc.), inclusive com ameaças de impeachment, e teve vida curta, não a habilitando, nem mesmo, para concorrer à reeleição”, diz o estudo.
O professor e cientista político Alan Lacerda, um dos autores do trabalho, destaca que no caso de Robinson as dificuldades se deveram à fragilidade da equipe. “O secretariado de Robinson, em termos de gestão, tinha o mesmo nível que seu chefe. Quadros frágeis, inclusive na sensível área da segurança pública, sem capacidade de definir prioridades. A rigor, o governador vendeu um governo técnico que nunca existiu. Não basta encher o governo de técnicos para que uma gestão tenha excelência técnica; os técnicos precisam ser bons e ter uma orientação política clara do principal gestor”, avaliou.
Amanhã publicaremos uma entrevista com um dos autores do trabalho.
Há anos alerto para o problema previdenciário do Rio Grande do Norte. A preocupação surgiu a partir de uma conversa em 2011 nos corredores da Reitoria da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
O interlocutor? Ninguém mais ninguém menos que o professor Anselmo de Carvalho que alguns dias depois passaria a integrar o recém-empossado governo Rosalba Ciarlini primeiro como chefe do gabinete civil depois como secretário de administração. Mesmo sem estar na gestão ele já conhecia situação em profundidade.
Na época ele alertava que em 2017 o Governo do Rio Grande do Norte teria um servidor aposentado para um na ativa. A previsão não só se cumpriu como hoje temos mais inativos do que ativos contribuindo.
Resultado: R$ 140 milhões de rombo previdenciário por mês. Ano passado eram R$ 120 milhões em média. A previdência estadual é um problema antigo e mal formulado. Para você ter ideia até 2019 tinham 44 mil aposentados que nunca contribuíram segundo cálculos do presidente do Instituto de Previdência do Rio Grande do Norte (IPERN) Nereu Linhares. Hoje o número se aproxima dos 50 mil.
Em 2005 a então governadora Wilma de Faria regulamentou a situação previdenciária passando a cobrar a contribuição dos servidores. Foi a última vez que algum chefe do executivo estadual conseguiu mexer no vespeiro.
Depois disso só Robinson Faria em 2017 ousou tratar do assunto. O problema do ex-governador foi de timing. Nesta época ele já estava profundamente desgastado e optou por uma mudança linear na alíquota tratando quem ganha menos igual a quem ganha mais. Essa foi a minha crítica à proposta sempre ponderando que a reforma era inevitável.
Mas e o que Rosalba tem a ver com essa história? Agora retorno para a conversa com Anselmo. Naqueles tempos ela já sabia do diagnóstico da situação do IPERN. Tinha condições de tomar as providências, mas deixou o problema seguir até setembro de 2013 quando começou a atrasar os salários de parte do funcionalismo. A solução encontrada para recolocar a folha nos trilhos? Unificar os fundos previdenciário e financeiro do IPERN.
Àquela altura já com um péssimo relacionamento com a Assembleia Legislativa, que Rosalba achou que poderia pintar e bordar como fazia (e hoje faz) com a Câmara Municipal de Mossoró, impedia a andamento da proposta. Só no final de 2014, com aval do então governador eleito Robinson Faria, ela finalmente conseguiu unificar os fundos previdenciário e financeiro e iniciar os saques para encerrar o mandato com a folha em dia. O problema já não era mais dela, mas do sucessor.
Rosalba iniciou o problema, Robinson deu prosseguimento. Louve-se aqui o papel do ex-deputado estadual Fernando Mineiro (PT) que sempre se opôs a essa ideia mesmo sendo aliado do governador.
Hoje o Fundo Previdenciário não cobre as despesas com inativos e Rosalba faz a egípcia colocando sua turma para satanizar a proposta do Governo Fátima Bezerra (PT) que coloca alíquotas maiores para quem ganha mais. Não existe proposta de reforma da previdência boa pode ser mais ou menos ruim.
Reformar o IPERN não é uma opção. É uma imposição dos fatos que agora ganha contornos dramático com as imposições do Governo Bolsonaro que envolvem até restrições das transferências voluntárias, o que agravaria ainda mais a situação do Estado.
Há tempos sou ciente desta necessidade. Critiquei dois pontos na reforma de Robinson: 1) como já escrito acima era a necessidade de poupar quem ganha menos; 2) a importância de construir uma proposta dialogando com os sindicatos. A meu ver a governadora atendeu estas duas demandas.
Rosalba foi a governadora que teve condições de conter o problema lá atrás se não brigasse tanto com sindicatos e poderes. Hoje ela segue repetindo o erro em relação ao Previ-Mossoró tomando medidas que vão empurrar a bomba para o colo dos seus sucessores.
A ex-governadora de hoje é a ex-prefeita de amanhã.
O juiz Bruno Montenegro Ribeiro Dantas, integrante do Grupo de Apoio às Metas do CNJ, proferiu sentença referente à primeira fase da Operação Sinal Fechado, deflagrada pelo Ministério Público Estadual em 2011 para apurar suspeitas de fraude e corrupção no âmbito do Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Norte (Detran/RN) entre os anos de 2008 e 2011. Seis pessoas foram condenadas nesta fase, pela prática de crimes como peculato, corrupção e associação criminosa: George Olímpio, Lauro Maia, Marcus Vinícius Furtado da Cunha, Marcus Vinícius Saldanha Procópio, Jean Queiroz de Brito e Luiz Cláudio Morais Correia Viana.
Com 320 páginas, a sentença, cuja Ação Penal tramita na 9ª Vara Criminal de Natal, tem como foco a celebração de convênio entre o Detran e o Instituto de Registradores de Títulos e Documentos de Pessoas Jurídicas do Rio Grande do Norte (IRTDPJ/RN), o que, segundo os autos, resultou na oneração do cidadão potiguar, pois o Detran passou a exigir o registro, em cartório, dos contratos de financiamento de veículos com cláusulas de garantia real.
A sentença destaca que a operação Sinal Fechado apura a atuação de uma organização criminosa constituída para a prática de delitos no âmbito do Detran, cujos objetivos criminosos teriam sido alcançados através do pagamento e da promessa de propina a servidores públicos, fraude a licitações, tráfico de influências, além da utilização de instrumentos de intimidação e chantagem a ocupantes de cargos públicos no Estado do Rio Grande do Norte para tentar manter contratos obtidos ilicitamente, os quais ensejaram a prática de desvio de recursos públicos e particulares em favor da quadrilha.
Em relação aos resultados do convênio, “ficou assentado nos autos que milhares de pessoas – das mais diversas e variadas classes sociais, muitas delas não abastadas, sem dúvidas -, as quais registravam seus contratos de financiamento de veículos, foram indevidamente cobradas por serviços viciados, mediante a atuação da associação criminosa. Os delitos atingiram indiscriminadamente diversos órgãos públicos e a sociedade como um todo”, destaca o juiz Bruno Montenegro na sentença.
O magistrado considera ainda que os delitos ostentam expressividade financeira e que os lucros auferidos com as práticas criminosas foram vultuosos. “A amplitude dos valores drenados da máquina pública para a esfera patrimonial da parte ré, ainda que considerada de forma pulverizada, representa o agigantamento descomunal do esquema criminoso, o qual multiplicava os valores em razão do número de contratos de financiamento registrados mensalmente, operação matemática que levou à soma ao patamar dos milhões de reais”.
Condenações
O juiz Bruno Montenegro não atendeu ao pedido de perdão judicial formulado pelo Ministério Público Estadual a George Anderson Olímpio da Silveira em razão de sua colaboração premiada, firmada em 2017. Considerou ser mais apropriado a concessão de diminuição da pena em sua fração máxima, de dois terços. O magistrado destacou que George Olímpio é o líder da organização criminosa, “protagonista e responsável pela movimentação, pela instigação e pela motivação de seus comparsas em prol da empreitada criminosa” e o condenou pelos crimes de associação criminosa, peculato e corrupção ativa a uma pena final de cinco anos e onze meses de reclusão, em regime inicialmente fechado.
“Restou evidenciada a habilidade do réu em cooptar e manipular pessoas para perfectibilizar o atendimento de seus interesses, tendo, ele, manuseado os mais variados artifícios: relações familiares, amizades, cobrança de favores, desempenho indevido da advocacia, suborno, inverdades, ameaças, além de outros expedientes ardilosos. Em linhas gerais, o seu desempenho destacado e consciente nas ações criminosas influenciou a dinâmica organizacional do Estado, tanto no que toca aos atos administrativos, quanto na própria seara política. Além do mais, o acusado manipulou, de modo engenhoso, grande parte do empresariado potiguar, para que fossem financiados campanhas e planejamentos, mantendo elos de conexão com figuras políticas tradicionais do Estado do Rio Grande do Norte”, diz a sentença.
O juiz Bruno Montenegro condenou Lauro Maia pela prática dos crimes de associação criminosa, peculato e corrupção passiva, à pena total de 22 anos seis meses de reclusão, em regime inicialmente fechado. O magistrado destacou que o filho da ex-governadora Wilma de Faria exerceu papel fundamental no esquema criminoso e “manejava, como força motriz de sua esfera de influência, os laços de filiação com a ex-governadora Wilma de Faria, a qual não precisava ir à luz do dia no decorrer das negociações escusas, justamente pela atuação do seu filho, ora réu, rotulado como ‘Testa de Ferro’ daquela ex-mandatária. Não raras vezes, o acusado Lauro Maia expedia ordens informais, de modo oficioso e em nome da ex-governadora, aproveitando-se da verticalidade constatada entre o Governo do Estado e o DETRAN-RN para viabilizar, ao seu livre talante, o esquema fraudulento”.
Marcus Vinícius Saldanha Procópio foi condenado pelos crimes de associação criminosa e peculato à pena total de 14 anos de reclusão, em regime inicialmente fechado. “Ficou evidente que o réu ostentava vínculos familiares com João Faustino e sua participação envolvia tanto o viés operacional das bases da INSPAR, no caso técnico, quanto as negociações escusas – ou pouco republicanas – na fraude relativa aos Consórcios. Embora sustente que sua remuneração originava-se, exclusivamente, da construção e da supervisão das bases, existem relatos de George Olímpio mencionando o pagamento de propina a João Faustino, o qual também beneficiaria Marcus Procópio”.
O juiz destaca ainda que “Marcus Procópio concorreu para a corrupção passiva, uma vez que recebia os valores desviados em nome de outrem – leia-se, de João Faustino – , tendo em vista a função de suplente de Senador Federal ocupada por este, em recompensa à chamada assessoria parlamentar”.
À época procurador geral do Detran/RN, Marcus Vinícius Furtado da Cunha foi condenado pelos crimes de associação criminosa, peculato e corrupção passiva. Em razão de sua delação premiada, teve sua pena reduzida em um terço, chegando-se a uma pena total de 11 anos e dez meses de reclusão em regime inicialmente fechado. “Não é exagerado acentuar que o acusado operou como peça fundamental, ou seja, como elo de ligação entre os parceiros privados do Instituto e das Empresas DJLG e MBMO e o corpo de serviço público da autarquia. Ele formou, ao lado de George Olímpio, uma engrenagem básica que articulava interesses e promovia atos administrativos capazes de nutrir os anseios da Organização Criminosa. O acusado agiu como mentor jurídico das fraudes perpetradas através do Detran/RN”.
Jean Queiroz de Brito foi condenado pelos crimes de associação criminosa e de peculato, à pena definitiva de 11 anos e oito meses de reclusão, em regime inicialmente fechado. “Os autos revelam que ao sentenciado cabia 30% dos lucros. (…) Ficou esclarecido que Jean Queiroz de Brito compôs as primeiras tratativas para a concatenação do esquema criminoso, sobretudo por ser parte da família dos acusados Marluce e George, tendo sido alocado no esquema para lucrar com os repasses fraudulentos do IRDTPJ para as empresas DJLG e MBMO, supostamente legais”.
Luiz Cláudio Morais Correia Viana foi condenado pelos crimes de associação criminosa e de peculato, à pena definitiva de 11 anos e oito meses de reclusão, em regime inicialmente fechado. “Os autos revelam que ao sentenciado Luiz Cláudio Morais Correia Viana cabia 30% dos lucros, em que pese não detivesse, este, o poder de mando e de articulação na rotina dos outros acusados”.
Segundo a sentença, ele foi um dos idealizadores dos desvios de recursos por intermédio das atividades cartorárias, transferindo o know-how criminoso para George Olímpio e Marluce Freire, os quais assimilaram o estratagema ilícito, contando com outros associados locais para proceder com o fomento e o desenrolar da fraude.
“O réu, a despeito do exercício de suas funções notariais desempenhadas na cidade de Fortaleza, idealizou e se inseriu em um esquema criminoso, em prejuízo da sociedade norteriograndense, buscando expandir os limites de seus projetos criminosos para além das fronteiras cearenses”, observa o juiz Bruno Montenegro.
Extinção de punibilidade
Em razão de suas mortes, o juiz Bruno Montenegro reconheceu a extinção de punibilidade em relação à ex-governadora Wilma de Faria, ao ex-governador Iberê Ferreira de Souza, ao ex-senador João Faustino e à Marluce Olímpio Freire, tia de George Olímpio e presidente do IRTDPJ/RN.
Absolvição
Então diretor geral do Detran/RN, Carlos Theodorico de Carvalho Bezerra foi absolvido dos crimes a ele imputados. Para o juiz Bruno Montenegro, os elementos de prova levados ao processo não são capazes de caracterizar, sem dúvida razoável, a autoria e o dolo do acusado quanto aos delitos que lhe foram imputados.
“As provas carreadas descortinam, senão, que o réu Carlos Theodorico se mostrava, no mais das vezes, recalcitrante e reticente, inclusive se negando a praticar diversos atos referentes à celebração do convênio entre o Instituto e o Detran-RN. Devo levar em consideração, também, os reiterados depoimentos das testemunhas, uníssonos ao definir o comportamento profissional e rotineiro do acusado, o qual frequentemente realizava consultas aos especialistas de cada setor do Detran, e geralmente chancelava tais pareceres, compartilhando as decisões tomadas com outras autoridades da autarquia”.
O juiz ressalta que “subsistem dúvidas contundentes quanto à autoria e quanto ao dolo do agente, pois não ficou claro, pelo menos a este magistrado, se o acusado efetivamente se apropriou de valores ilícitos, se desviou quantias ou se solicitou ou recebeu vantagem indevida, no exercício de suas funções”.
Era 22 de janeiro de 2010, a então governadora Wilma de Faria (filiada na época ao PSB) reunia a imprensa e anunciava o calendário de pagamento do funcionalismo. Por coincidência foi também num 22 de janeiro que o Governo do Estado voltou a apresentar um calendário anual.
O fato aconteceu ontem quando o equipe da governadora Fátima Bezerra (PT) acertou com o Fórum de Servidores o calendário de pagamento salarial do ano de 2020.
A cobrança é antiga, mas foi ignorada nos governos Rosalba Ciarlini e Robinson Faria mesmo quando eles pagaram em dia. A primeira atrasou salários para parte do funcionalismo entre setembro de 2013 e novembro de 2014. Só conseguiu encerrar o mandato quite com o funcionalismo porque iniciou os saques ao Fundo Previdenciário. Seu sucessor seguiu a mesma linha e quando não tinha mais como mexer nos recursos dos aposentados voltou a atrasar salários em abril de 2016 e entregou o Governo a Fátima Bezerra com quatro folhas em aberto.
Agora há previsão de pagamento para o ano inteiro.
O Ministério Público Federal (MPF) obteve a condenação de Ana Cristina de Faria Maia e Carlos Roberto do Monte Sena, filha e então genro da ex-governadora do RN Wilma de Faria, por lavagem de dinheiro. Eles dissimularam a origem de R$ 200 mil, utilizados para impulsionar a campanha eleitoral de reeleição da ex-governadora, em 2006. Os recursos eram oriundos de fraudes em licitações e contratos da Secretaria Estadual de Saúde (Sesap/RN), denunciadas anteriormente pelo MPF na Operação Hígia.
O casal, por meio de movimentação bancária com fracionamento dos valores desviados, recolhia parcelas dos contratos fraudulentos em forma de doações de campanha. O esquema era coordenado pelos empresários Jane Alves e Anderson Miguel, já condenados pela Justiça Federal. A denúncia foi baseada em provas colhidas no curso da Operação Hígia e na colaboração premiada dos empresários.
O MPF constatou que as supostas doações tinham “a finalidade de manter a organização criminosa junto ao aparelhamento estatal, (…) com conhecimento prévio do ilícito por parte de Ana Cristina e Carlos Roberto, tendo em vista que todos tinham ciência de que os recursos financeiros ostentados pelo casal eram oriundos da prática de crimes”.
Na decisão, o juiz da 14ª Vara Federal do RN, Francisco Eduardo Guimarães Farias, considerou que “restou claramente confirmado que os acusados receberam de um dos integrantes do esquema fraudulento (…) valores expressivos a título de contraprestação para manter a empresa A & G Locação de Serviços nos contratos firmados com o governo estadual, os quais seriam possivelmente pulverizados na campanha eleitoral de Wilma Faria ao governo do Estado”.
O juiz também rechaçou a tese da defesa de Ana Cristina de que ela só foi acusada por seu parentesco com Wilma de Faria e Lauro Maia – seu irmão, também condenado na Operação Hígia. Ele concluiu que a condenada “agiu dolosamente no intuito de ocultar e dissimular os valores provenientes de crime antecedente (…)”. Destacou, também, que “a vantagem indevida não foi entregue diretamente em suas mãos, mas por intermédio de seu ex-companheiro e corréu Roberto Sena, artifício largamente utilizado em crime dessa natureza com o propósito de ocultar os principais beneficiários do montante ilícito, a saber, a acusada Ana Cristina e sua genitora Wilma de Faria, então governadora do Estado”.
Os dois foram condenados a mais de cinco anos de reclusão, inicialmente em regime semiaberto e ao pagamento de 139 dias-multa. Ainda cabe recurso da decisão. A Ação Penal tramita sob o nº 0004293-32.2015.4.05.8400.
Operação Hígia
A Higia foi deflagrada em 13 de junho de 2008, após recolher diversas provas de ilícitos cometidos durante o período de 2006 a 2008. Além de pagamento de mão de obra terceirizada em programas que sequer haviam sido iniciados, constatou-se divergências no quantitativo de funcionários, por meio de fraudes como o acréscimo de “funcionários fantasmas” na folha de pagamento e também o lançamento em duplicidade dos nomes.
Em dezembro de 2013, 11 envolvidos foram condenados a penas que variam de dois a 16 anos, além do pagamento de multas. O esquema incluía fraude em licitação, tráfico de influência e corrupção ativa e passiva.
De acordo com o procurador da República Fernando Rocha, os condenados e demais envolvidos no esquema “se associaram de forma estável e permanente com a finalidade de promover crimes, dentre eles, fraudes em contratos licitatórios com o Governo do Estado do Rio Grande do Norte, corrupção passiva, peculato e tráfico de influência”.
O processo de “desoligarquização” do Rio Grande do Norte começou em 2002 com a vitória de Wilma de Faria (PSB) para o Governo do Estado. Não que ela não tivesse uma origem oligárquica, mas ela iniciou de dentro para fora a derrocada da dominação familiar na política potiguar.
Wilma foi reeleita em 2006, mas não conseguiu reeleger Fernando Bezerra (PTB) senador. Alves, Maias e Rosados estavam com as três vagas no Senado. Mesmo assim a política do Rio Grande do Norte nunca mais seria a mesma. As oligarquias que antes se enfrentava precisavam se manter unidas para sobreviver.
Em 2010 foi a eleição que deu fôlego aos oligarcas potiguares com o “voto casado” elegendo Rosalba Ciarlini (DEM) governadora e reelegendo os senadores Garibaldi Alves Filho (MDB) e José Agripino Maia (DEM).
Mas em 2014 viria o recado do eleitorado com as vitórias de Fátima Bezerra (PT) para o Senado e Robinson Faria (PSD) para o Governo numa aliança pequena, mas que se mostrou capaz de fazer frente ao poderio oligárquico que mesmo unido acabou derrotado.
Em 2018, até aqui, o cenário é preocupante para o trio de sobrenomes que sempre dominou a política do Rio Grande do Norte. Para o Governo do Estado Fátima lidera com alguma gordura a ponto de ter chances de vitória no primeiro turno. Para o Senado o capitão da PM Styvenson Valentim (REDE) lidera. Garibaldi Alves Filho resiste, mas está em empate técnico com Zenaide Maia (PHS), que a despeito do sobrenome não é uma integrante da oligarquia Maia de Agripino.
Há um risco de pela primeira vez desde a redemocratização nenhuma oligarquia ocupar as três vagas no Senado nem o comando do Governo do Estado. Seria a conclusão do processo iniciado há 16 anos com Wilma de Faria de dentro para fora das oligarquias, mas agora no sentido inverso, de fora para dentro.
Mas por enquanto não tem nada definido, repito.
Oligarquia é o regime político em que o poder é exercido por um pequeno grupo de pessoas, pertencentes ao mesmo partido, classe ou família.