Por Gutemberg Dias*
Mossoró é uma cidade que está localizada no semiárido brasileiro e que tem um regime pluviométrico onde as chuvas são irregulares, mas que se concentram num período bem definido nos anos de maior precipitação. Essa característica não é exclusiva de Mossoró e se replica nos demais municípios que estão inseridos no semiárido brasileiro.
Essa concentração, quando se observa a série histórica, na figura abaixo, de 1970 a 2013 (Silva, 2014), fica claro que a maior incidência de chuvas acontece entre os meses de janeiro a julho, com destaque para os meses de fevereiro a maio, quando os índices pluviométricos ficam acima dos 100mm.
Essa característica do sistema pluviométrico de nosso município é responsável por chuvas torrenciais como aquela que ocorreu na última sexta-feira (30/04) e que deixou várias ruas da cidade alagadas, em especial, as áreas já conhecidas como o largo da Cobal, avenida João da Escócia, centro da cidade entre outros, ou seja, essa recorrência de alagamentos é conhecida pelo cidadão mossoroense que já convive com esse problema a muitos anos.
Recentemente, a prefeitura de Mossoró, a partir de ações voltadas a limpeza dos bueiros da cidade, tentou minimizar o problema dos alagamentos e utilizou as mídias os sociais para exaltar essa ação como uma solução para o problema dos alagamentos. Infelizmente ou felizmente, a depender da vontade do receptor da mensagem, a ação sugeriu à população que esse problema estaria resolvido. Destaco que essa ação é de grande importância, mas não é a solução para o problema que se arrasta a décadas.
Minha crítica não está na ação desenvolvida pela Secretaria Municipal de Infraestrutura, Meio Ambiente, Urbanismo e Serviços Urbanos, em relação a limpeza dos bueiros, mas no uso de uma propaganda falaciosa que não aguentou uma chuva mais intensa para ser levada pela enxurrada.
A solução para esse problema não está, única e exclusivamente, na limpeza de bueiros. Ela se assenta na elaboração e execução de um projeto macro de drenagem urbana que leve em conta essa característica climática e, sobretudo, o uso e ocupação da terra no nosso município, em especial, as áreas urbanas.
Se não for pensado dessa forma, qualquer gestão pública que assumir o discurso fácil da solução dos alagamentos apenas fazendo o trivial, será desacredita pela força da natureza e, não necessariamente, pelas dos homens. O problema é estrutural, as últimas ações de maior monta para sanar esse problema ocorreram no governo do ex-prefeito Dix-Huit Rosado, quando um projeto de drenagem urbana foi executado de forma ampla com foco na solução dos alagamentos constantes, principalmente, no centro da cidade. Destaco que outros projetos, desenvolvidos por gestores que o sucedeu, foram executados, porém focados em execuções pontuais.
É importante afirmar que um projeto macro de drenagem constitui-se numa ferramenta de gestão poderosa com o objetivo de equilibrar o desenvolvimento urbano, principalmente, no que se relaciona a cobertura da terra com o meio ambiente da cidade. Sendo assim, se faz necessário que a atual gestão mire nessa ferramenta para sanar parte dos problemas advindos pela pluviometria concentrada.
Acompanhando as redes sociais observei que as críticas feitas a Prefeitura de Mossoró não foram bem assimiladas, principalmente, pelo fato do atual prefeito está apenas a 4 (quatro) meses à frente da gestão municipal. Destaco, primeiramente, separar o cargo da pessoa, e as críticas se assentam na gestão e não no cidadão que democraticamente chegou a à condição de alcaide de Mossoró. Volto a afirmar que o cerne da crítica não é a ação na limpeza dos bueiros, mas o uso midiático de uma ação inócua ao problema de décadas dos alagamentos na nossa malha urbana.
Sugiro que atual gestão aproveite os milhões do FINISA e elabore e execute um projeto de drenagem urbana que seja capaz de resolver partes dos problemas já conhecidos. Depois disso, após intensas precipitações, com o problema realmente resolvido, use as mídias, qualquer uma delas, para alardear o feito.
Mossoró elegeu um novo alcaide querendo ter uma gestão nova e eficiente, não o mais do mesmo!
*É professor universitário.
Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.