Por Tales Augusto*
Depois de uma temporada mágica pelo Real Madrid (2023-2024), Vinícius Júnior, jogador brasileiro de futebol, era cogitado para ser eleito pela Revista France Football como o Melhor Jogador da temporada com o prêmio Bola de Ouro. Todavia, não foi isto que aconteceu e ainda temos muito a falar, analisar e pensar. Por quais motivos o que vimos em campo, não foi tão valorizado ou na verdade, foi e muito levado como valor ou valores a serem vistos e condenados a tal ponto dele ser preterido? Contudo, é importante frisar que Rodri, eleito pela revista, não é de todo uma injustiça ele ter sido eleito.
Criança pobre de São Gonçalo, na sua formação, saiu da base do Flamengo e ridicularizado por muitos jornalistas e comentaristas esportivos quando o maior time do mundo (em títulos, é necessário dizer) o contratou. Vinícius Júnior ou simplesmente Vini Jr, viveu um início complicado e até mesmo sendo levado a ser contestado que foi um erro sua compra. De Zidane para Ancelotti, Vini se tornou peça fundamental no time merengue e ainda por cima, marcando gols em duas finais de Champions e sendo campeão em ambas. Nesta temporada, tudo levava a crer que seria escolhido o Melhor Jogador. Não foi isso que aconteceu e para piorar, a cerimônia de premiação pareceu ser feita especialmente para Vini Jr, especialmente para o humilhar. É necessário voltar no tempo para entender o que aconteceu e repito parte do título do texto, jamais será só futebol!
Vini Jr, sofreu desde o início com desafios. Primeiro dentro do próprio elenco, quando Benzema o preteria em relação aos colegas de clube, não só ele, mas o próprio Zidane parecia também seguir este viés. Quando da chegada de Ancelotti como técnico, o diamante não só foi lapidado, como seu valor aumentou e muito.
Todavia, tornar-se protagonista, tem seu preço e Vini Jr pagará caro por tudo isso, pagará, não pagar? Sim. Pois mexeu com um mundo que busca ser algo fora da humanidade e é ridículo. Esporte é uma invenção humana e por sua vez as práticas desportivas estão cheias de manifestações diversas que vão além do que as quatro linhas demonstram no futebol ou em outras modalidades.
Em outros textos, falei sobre as Olimpíadas do México, Muhamed Ali (Cassius Clay), a Democracia Corintiana, Maradona e a Guerra das Malvinas contra a Inglaterra na Copa do Mundo e tentei ir no amargo de um fato interessante, a Revolta de Nika no Império Bizantino que ocorreu a mais de um milênio, dentre outros assuntos desportivos.
E agora Vini Jr e seu ativismo contra o racismo na Espanha (e no mundo), que por sua vez vai além da Confederação Espanhola de Futebol, chegando, atingindo também à UEFA. Tudo somado para que ele não tivesse um palanque, holofotes maximizados para que ele pudesse falar sobre o que vivenciamos há séculos, o racismo.
Não são poucos os casos de racismo contra jogadores brasileiros na Europa e até mesmo na América do Sul. Basta lembrar o caso da seleção Argentina que venceu a Copa América e tratou de cantar hinos racistas contra os jogadores franceses e o pior, o silêncio de Messi. Vini Jr não tem o tamanho do portenho, contudo, teve a coragem de não se calar a nada e nem a ninguém. Teve a coragem de ser líder, numa questão que a maioria dos que sofrem se calam ou minimizam, não foi o caso dele, graças a Deus.
Foi vítima de atos racistas em muitos jogos, fora perseguido e até chegaram em redes sociais a incentivar o ódio contra o jogador e por sua vez, incentivando o racismo. Alguns foram presos e condenados. E recentemente defendeu após a goleada sofrida em casa pelo seu time contra o Barcelona, e foi direto na defesa dos atletas negros do time catalão em relação a manifestações racistas.
Só que os que o perseguem e não aceitam que ele além de um jogador exímio, sabem que ele não se calou e não se calará diante de tudo e todos.
Na premiação de melhor do mundo, requintes de crueldade foram feitos para que Vini Jr fosse humilhado e evidentemente não recebesse a premiação que fez jus em campo, acabando com o Jorge Weah, que em 1995, foi eleito o primeiro futebolista não europeu a receber o prêmio de Melhor jogador do mundo fosse o que entregasse a Rodri do Manchester City, o prêmio que Vini merecia. Não se contesta que Rodri foi um jogador muito bom, mas abaixo de Vini Jr na temporada.
José Calazans, saudoso jornalista da ESPN falara que “Zico não ganhou uma Copa do Mundo, azar da Copa do Mundo”. Não repito a frase, contudo, azar da revista em não o ter eleito. Mas penso que, sorte nossa, temos um craque nas quatro linhas nos jogos que nos faz gostar de futebol e um ser Humano, Demasiadamente Humano, capaz de possibilitar que tenhamos ainda fé na humanidade. E Brecht falou e é bom lembrar, “os outros só são gigantes, pois estamos de joelhos”. Que Vini Jr jamais perca sua essência, pois ele já é gigante, dentro de um esporte racista, homofóbico, misógino, preconceituoso e que precisa demais desse jogador. Azar da France Football pela não escolha do Vini Jr? Não, pois a demonstração foi que, o que ocorre fora das quatro linhas, também conta. E jamais será só um jogo de futebol, que bom que Vini Jr sabe disso e não desistiu da sua luta.
Contudo, passado pouco tempo, Vinícius Júnior foi eleito pela FIFA o THE BEST, o Melhor Jogador do Mundo. Numa eleição onde entre seus pares, entre jogadores de futebol poderia ter inveja de dele ou discordarem da sua luta. Tolo engano, teve praticamente o dobro de votos entre os jogadores, estes que sabem de futebol e o jogam.
O menino negro, pobre de São Gonçalo, vindo da base do Flamengo, defenestrado por parte da imprensa brasileira e espanhola, tornou-se, o Melhor Jogador do Mundo. Vale ressaltar que o futebol é coletivo, é complexo (não confundir com complicado) e muitos estiveram envolvidos para ele chegar aonde chegou. Vimos que ele não esqueceu disto, pois no discurso quando recebeu o prêmio, foi direto em citar vários que o ajudaram. Não por acaso o VINI é hoje para mim, o VINI, o VINI JR.
*É servidor público federal, professor efetivo de História no IFRN Campus Apodi, escritor, poeta, pensador, Mestre em Ciências Sociais e Humanas com estudos voltados a ascensão de pessoas das classes populares através dos estudos.
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