O Bolsonaro que só o Fábio Faria vê

Fábio Faria desenvolveu idolatria por Bolsonaro (Foto: Web/autor não identificado)

Por William Robson*

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, se tornou cão de guarda do presidente Jair Bolsonaro. Ora concede entrevistas enaltecendo atributos que somente ele vê, ora contra-ataca às reações contrárias a seu chefe. Faria manifesta a paixão que entorpece e que faz perder a cabeça. O ministro, também deputado federal pelo RN, se mostra este apaixonado, neobolsonarista fiel que, em alguns momentos, agia na truculência e no esporte preferido, que é criticar o PT, partido que antes apoiava e registrava tudo em suas redes sociais.

Fábio chegou a incríveis níveis de aulicismo, quando atribuiu a Bolsonaro a atualização dos salários em atraso no Rio Grande do Norte. Ressaltou que os recursos enviados possibilitaram o feito. Que o Governo do RN  estaria usando verbas destinadas pela União para ações contra covid-19 para pagar esta dívida. Aproveitou para criticar a governadora Fátima Bezerra no episódio do rombo que foi gerado pelo seu pai, o ex-governador Robinson Faria.

Noutro momento, o ministro bate boca no Twitter com os jornalistas, como ocorreu com Carlos Andreazza (CBN), Felippe Hermes (Infomoney) e com o Bruno Barreto. Sua voracidade bolsonarista demonstrava-se sedenta. Afinal, precisa agradar ao núcleo duro do bolsonarismo, exigente por este comportamento.

No entanto, o ex-presidente Lula entra no radar. Bolsonaro treme nas bases, o chamado centrão ameaça pular fora do barco… O bolsonarismo está diante do único candidato capaz de derrotar este movimento de extrema direita, negacionista, terraplanista e responsável por 300 mil mortes por Covid no Brasil. Bolsonaro tenta se transformar, com pronunciamentos mitômanos na TV e reuniões com próceres da República como sinal de diálogo. A água bateu no pescoço.

Se o chefe muda de comportamento, Fábio Faria segue a dança. E, em entrevista à Folha de S. Paulo, apresenta um presidente que ninguém conhecia até então. Que lutou por vacina desde o princípio, não é negacionista, que tem muita coisa para mostrar e que faz muito. Palavras do ministro, não minhas.

Chegou a até mesmo elogiar o artigo da colunista Mariliz Pereira Jorge, publicado no último dia 17 de março. “Mas uma coisa me conforta. Eu vejo o artigo, por exemplo, da Mariliz [Pereira Jorge, colunista da Folha]. Ele tem 120 adjetivações contra o presidente, mas não tem nem ladrão nem corrupto”, diz.

Outra: “Eu abomino totalmente esse nome negacionismo”, afirmou , ao abrir a entrevista, tentando escamotear as ações recentes do presidente, para quem sempre buscou saídas na pandemia, porém o debate foi “politizado”.

Para seguir  passando pano, Faria contabiliza a vacinação em números absolutos, não em percentual da população. A intenção é esconder o precário e lento processo de imunização no país. “Nós tínhamos presidentes que faziam pouco e falavam muito. E nós temos agora um presidente de um governo que faz muito. Tanto é que a quantidade de vacinas fala por si só. Nós provavelmente encerraremos o ano como o quarto país que mais vacinou.”, afirmou, acrescentando que Bolsonaro só deve fazer qualquer autocrítica, se antes todos os seus críticos fizerem primeiro.

Antes agressivo, o ministro levanta a bandeira branca. “Eu acho que a gente tem de desarmar. Todo mundo. O momento é de desarmar, porque o inimigo seu é o meu. O inimigo do Lula é o mesmo inimigo do Bolsonaro. É o vírus. Então, por que a população está desacreditada?”, diz, incluindo o ex-presidente petista na conversa. Ou seja, a sombra do Lula começa a incomodar.

É aí que se percebe a guinada no comportamento bolsonarista, estratégia dissimulada para sugerir um pendor radical para o centro. A bomba do retorno de Lula e sua candidatura em 2022, após as vitórias nos últimos julgamentos no Supremo Tribunal Federal (STF), ecoa com força no Planalto. Mas, Fábio Faria segura o orgulho e nega. “O efeito Lula não muda nada no PT ou no Bolsonaro”, garante.

O registro, em forma de selfie, de solenidade no Planalto (Foto: reprodução)

Reconhece a força do Partido dos Trabalhadores nas eleições do ano que vem: “O PT continua como um player de oposição que tem capilaridade em todos os estados e municípios. E que foi para o segundo turno em 2018, já governou o país e continua sendo um partido que dialoga com os nossos opositores”

Mesmo sem enfatizar críticas ao maior partido adversário de Bolsonaro, busca não desagradar o chefe. Os afagos continuam. “Ele continua sendo presidente e, se for candidato à reeleição, e eu espero que seja, tem forte chance de vitória. Até porque temos muito o que mostrar e acreditamos que o período eleitoral é a hora em que as pessoas avaliam o que o governo fez de bom ou não”, afirmou.

Fábio Faria tentou apontar as virtudes do seu comandante, gerando fantasias inacreditáveis. Terá de se esforçar para mostrar o lado bom de um governo insensível no ano que vem. Duvido que tenha.

*É jornalista, doutor em jornalismo pela UFSC e professor de jornalismo da UERN.

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