Ontem quando escrevi que estão iludindo os servidores estaduais com esse papo de reajuste estendido por meio de emenda (ver AQUI) deixei de registrar um fator importante: o que está por trás desse fervor de certos deputados estaduais em defender a pauta dos trabalhadores que eles tanto combateram no passado.
A votação de ontem permitindo a inclusão de todos os servidores no reajuste de 16,38% inicialmente voltado para os procuradores foi nada mais nada menos que um recado para a governadora Fátima Bezerra (PT).
Um alerta da Assembleia Legislativa cobrando mais atenção da governadora. Os deputados estão fazendo política enquanto a governadora se acomoda no argumento constitucional.
Os deputados favoráveis a emendas estão cientes de que a emenda de Nelter Queiroz (ver AQUI) não vai vingar por ser inconstitucional. Todos sabem que deputado nenhum pode propor reajuste salarial.
A questão é que o aumento dos procuradores é antipático e os parlamentares que não querem se queimar com eles rejeitando a matéria escolhem se ancorar numa falácia para jogar para a plateia.
O problema é que o servidor que quer reajuste pouco se importa com as regras.
E é aí que entra a Realpolitik* batendo a porta da Governadoria. Os deputados estão emparedando a petista sem dó nem piedade. Ao não reagir, Fátima deixa se sobrepor a versão negativa.
De Mossoró, temos uma lição de Carlos Augusto Rosado que trata a bancada de vereadores com mão de ferro na Câmara Municipal. Quando deixou de pagar 0,42% no reajuste do piso dos professores o projeto foi aprovado rapidamente. Quando Gilberto Diógenes (PT) propôs emenda devolvendo a diferença esta foi rapidamente derrubada.
O que acontece com a governadora? O projeto dos procuradores se arrasta há meses e deu tempo de se apresentar uma emenda inconstitucional apenas para gerar constrangimentos.
Quer mais um exemplo? Um grupo de prefeitos (ver AQUI) se posicionou contra o Programa de Estímulo ao Desenvolvimento Industrial (PROEDI). O que fez este mesmo grupo de deputados? Enquadrou a governadora com um projeto para anular o decreto do programa.
Neste caso, como já registramos (ver AQUI), ela falhou por não construir a proposta com os prefeitos. Agora acrescento que está faltando estreitar as relações com o parlamento.
Fátima hoje não tem sequer uma bancada própria na Assembleia Legislativa. Ela é totalmente dependente do presidente da mesa diretora Ezequiel Ferreira de Souza (PSDB).
Esta ausência de alinhamento pode trazer mais a frente novos dissabores para a governadora.
*Realpolitik é uma expressão alemã que significa “política realística”. O termo usado na diplomacia no sentido de se usar o pragmatismo nas relações deixando a ideologia em segundo plano. A palavra também é usada em sentido pejorativa para conceituar ações maquiavélicas e coercitivas.
