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Collor e a lembrança do que dá apostar em político marqueteiro

Por Bruno Barreto

Em 1989 o Brasil voltou as urnas após 29 anos para escolher o presidente da República. Naquela eleição, despontou um jovem alagoano apelidado de “caçador de marajás”.

Fernando Collor de Melo, que aos 40 anos, foi eleito o presidente mais jovem da história do Brasil.

A campanha de Collor foi puro marketing. Era criança, mas lembro dele iniciando o horário eleitoral próximo a uma cruz (nem lembro bem o local exato), falando de defender os descamisados e escutava minha saudosa avó Dona Darquinha (eleitora entusiasmada de Lula) reclamar que a mídia estava favorecendo o alagoano.

O candidato acusava o rival petista de plenejar confiscar a poupança dos brasileiros e se apresentava com uma ideia nova contra uma ideia velha. Sabe o slogan “a nossa bandeira jamais será vermelha”? Foi Collor quem criou.

FOTO: ARQUIVO/REUTERS – 06.10.1989

Eleito, Collor continuou posando de moderno com passeios de jet ski (lembra alguém?) e se deixando filmar correndo sempre com uma camisa com algum slogan.

Minha avó tinha razão.

Lula foi prejudicado naquela campanha com uma mídia que tinha o seu preferido. Foram capas e capas das então influentes revistas semanais, a famosa edição do debate no Jornal Nacional e tantas outras manobras.

Na faculdade de jornalismo li um livro chamado “A Imprensa Faz e Desfaz um Presidente” de Fernando Lattman-Weltma, José Alan Dias Carneiro e Plinio de Abreu Ramos. A obra revela detalhes da campanha de 1989 e do que levou a mídia a mudar de postura em relação ao presidente.

A imprensa que fez Collor presidente precisou desfazer. No poder, Collor confiscou a poupança (fez o que acusava Lula de planejar fazer), enfiou o Brasil no caos e a corrupção grassou.

Em tempos de redes sociais, há uma geração de novos Collors que entregam vídeos maneiros e muito marketing para iludir a população. Fazem demonstrações de vigor físico com pulinhos, fala acelerada e punho cerrado.

Foto: reprodução

Mas entregam péssimos serviços públicos, silenciam a mídia e intimidam adversários. Como Collor em Alagoas, escondem esqueletos nos armários das prefeituras sonhando em se tornar governadores para depois chegar a presidência, seguindo o caminho do “Caçador de Marajás” nos 1980.

O tempo passou e o truque de marketing voltou a iludir as pessoas. Que o povo não aprenda da pior forma possível a necessidade de encarar a política com seriedade.

Collor foi preso na última semana com 30 anos de atraso, aos 75 anos. Previna-se!

Desconfie dos marqueteiros.