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MPF investiga curso de extensão da UFRN voltado apenas para cristãos

O Ministério Público Federal (MPF) enviou ofício à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) cobrando explicações sobre a ação de extensão denominada “Construção do Reino de Deus”, proposta e coordenada por um professor do Departamento de Medicina Clínica, sem aparente objetivo acadêmico.

De acordo com o procurador da República responsável pelo procedimento, Camões Boaventura, “não se encontram no resumo do evento justificativas ou objetivos acadêmicos para a realização da Ação de Extensão em questão. Além disso, o proponente/coordenador não possui formação ou atuação na área de Teologia, sendo profissional da área de Medicina e Psiquiatria”.

O MPF irá analisar se a ação (um seminário de 30 horas), na verdade, configura um projeto de doutrinação religiosa “incompatível com a universidade pública”. O resumo, divulgado no site da própria UFRN, aponta: “Um dos conhecimentos mais significativos para a humanidade, foi aquele trazido por Jesus, que se dizia filho de Deus e comprovava isso com a produção de fenômenos que estavam acima da capacidade humana do seu tempo e até os dias atuais, conforme relatos aceitos majoritariamente pela maioria das pessoas que é informada.”

Essa afirmativa, segundo a denúncia enviada ao MPF, demonstra um viés discriminatório, ao considerar que os que não comungam dos princípios cristãos seriam, automaticamente, menos informados. O procurador vai aguardar as informações da universidade para avaliar se a iniciativa fere o artigo 3º, inciso IV, da Constituição, que prevê que a União deve atuar, inclusive na educação pública, em prol do “bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

Camões Boaventura destaca que, num Estado laico como o Brasil, as políticas públicas não devem ser orientadas por denominações religiosas ou idealizadas para endossar convicções religiosas específicas. Ele ressalta, em um despacho incluído no ofício enviado à UFRN, que, a despeito de serem livres para exercer sua convicção individual religiosa, “os agentes estatais (…) não devem endossar qualquer religião, na medida em que representam o próprio Estado Laico, agindo em nome deste”.

Fonte: MPF

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Entenda o que é o cyberbullying, a prática virtual que vem destruindo reputações e tirando vidas

Ambiente virtual vem se tornando cada vez mais tóxico (Foto: Getty Images)

A morte do jovem Lucas Santos, filho da cantora Walkyria Santos, que tinha apenas 16 anos e foi encontrado morto após receber uma série de comentários homofóbicos em suas redes sociais, trouxe à tona um debate que há muito necessitava ser feito na sociedade brasileira: O cyberbullying, ou o ato de perseguir e ofender alguém nas redes sociais.

De acordo com a UNICEF, o Cyberbullying é o Bullying realizado por meio das tecnologias digitais. Pode ocorrer nas mídias sociais, plataformas de mensagens, plataformas de jogos e celulares. É o comportamento repetido, com intuito de assustar, enfurecer ou envergonhar aqueles que são vítimas. Exemplos incluem: espalhar mentiras ou compartilhar fotos constrangedoras de alguém nas mídias sociais; enviar mensagens ou ameaças que humilham pelas plataformas de mensagens; se passar por outra pessoa e enviar mensagens maldosas aos outros em seu nome.

Para a psicóloga Karla Tamyres (CRP: 17/5014) o fato da internet garantir um alto grau de anonimato, causa a falsa sensação de liberdade, gerando uma tendência à irresponsabilidade e contribuindo para um comportamento de desinibição. Para ela, o aumento do cyberbullying tem relação com a falta de empatia entre as pessoas, que se potencializou na era das redes sociais.

“Ao circular pelas redes sociais sempre nos deparamos com alguma “brincadeira” que pode ser um gatilho para despertar na vitima sentimentos de inferioridade, vergonha, insatisfação, baixa autoestima ou revolta. Precisamos refletir sobre o impacto que nossas palavras podem ter na vida de alguém. Uma “brincadeirinha” pode causar uma enorme crise de sofrimento para quem lê ou escuta”, afirma a psicóloga.

Karla destaca que em situações em que esse tipo de agressão ocorre é fundamental o apoio da família e de profissionais especializados à vítima. “Junto ao sofrimento da vítima precisamos intervir, proporcionando uma rede de apoio – profissional da saúde mental, sociedade e familiares – para que essa pessoa possa se sentir acolhida e protegida pelos que estão mais próximos ou que exercem uma função afetiva mais íntima” conclui.

Falta de Legislação específica torna difícil o combate ao Cyberbullying

A Advogada Nádia Santos (OABRN nº 1157) explica que o combate ao Cyberbullying, assim como do bullying, enfrenta alguns obstáculos. Para ela, a falta de reação das vítimas, que é compreensível dada a natureza desse tipo de violência, e a passividade dos espectadores são elementos fundamentais para entender porque esse tipo de agressão tem se tornado tão habitual, mas a falta de uma legislação específica, que seja clara em suas sanções a quem cometer o cyberbullying, é determinante para dificultar o seu combate.

Nádia destaca que mesmo antes de a pandemia fechar as salas de aula da maioria das escolas, as agressões e humilhações entre crianças e adolescentes na internet já eram um problema. Com as forçadas aulas on-line e o aumento das horas em frente às telas de computadores e celulares, a preocupação com o aumento do cyberbullying se tornou ainda maior.

“Como Bullying e Cyberbullying não possuem uma previsão legal específica, ou seja, nem o Código Penal e nem mesmo o Código Civil fazem referência a tais palavras. É preciso fazer uma análise sobre as ações envolvidas em tais práticas e ver em quais tipos penais/cíveis, podem ser enquadradas/equiparadas. É esse o principal trabalho do operador do direito aos analisar atais crimes. É preciso muito cuidado e sensibilidade ao analisar as ações praticadas para que não fiquem impunes ou causem uma sensação anormal de impunidade. Todo ato, ainda que totalmente virtual, que causa danos a alguém deverá ser devidamente e duramente punido para que não seja repetido” explicou a advogada.

Diante da falta de leis específicas que tratem do cyberbullying, a cantora Walkiria Santos foi a Brasília no dia 10 de agosto conversar com parlamentares sobre a necessidade de uma Lei Federal que combata esse tipo de violência. O Projeto de Lei (PL) 2699/2021 de autoria deputado federal Julian Lemos (PSL-PB) e que se aprovado levará o nome do filho da Cantora, Lucas Santos, já está sendo discutido no Congresso. A cantora gravou um recado nas redes sociais falando sobre o diálogo com deputados e senadores. Confira AQUI 

Deputado do RN propõe lei “Lucas Santos” para coibir cyberbullying no Estado

O Rio Grande do Norte também deverá ter, em breve, uma legislação específica para tratar da temática do cyberbullying. Os Projetos de Lei (PL’s) são de autoria do deputado Ubaldo Fernandes (PL) e foram apresentados à Assembleia Legislativa na última segunda-feira (9).

A primeira das matérias protocoladas pelo parlamentar prevê a criação do “Programa Estadual de Enfrentamento ao Cyberbullying – Lucas Santos”, voltado ao combate a práticas hostis em ambiente cibernético, através de atos como: depreciar, assediar, remeter mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social.

Segundo o PL, o Estado do Rio Grande do Norte, por meio de suas Secretarias competentes, deverá realizar programas alusivos ao combate à prática do cyberbullying.

Às escolas do Estado do Rio Grande do Norte, públicas e privadas, caberia: I – implementar, em seu calendário letivo anual, campanhas permanentes de conscientização, palestras e fóruns que integrem a comunidade escolar em prol da discussão do combate às práticas do cyberbullying; II – criar serviço especializado de acolhimento às vítimas de cyberbullying, disponibilizando acompanhamento com os profissionais que desempenhem atividades voltadas ao bem-estar social e mental; III – oferecer cursos de qualificação e capacitação aos seus profissionais com temáticas referentes ao disposto nesta Lei.

O deputado Ubaldo conversou com Blog do Barreto e explicou o que o motivou apresentar legislações que tratam desta temática. Confira

  • BB – O motivou seu mandato a pensar nessas leis?

UF -Porque trabalhamos o nosso mandato sempre atento às demandas que surgem diariamente na sociedade, buscando contribuir para que tenhamos uma sociedade melhor.

No caso do cyberbullying, entendemos que os casos trágicos que ganham notoriedade são apenas um percentual muito pequeno desse grande problema que vem afetando especialmente a geração atual, com destaque para os mais jovens que já se depararam com esse cenário do uso da internet em larga proporção.

Essa grande exposição aos seus conteúdos geram distanciamento da vida off-line e, ao mesmo tempo que as pessoas expõem mais suas vidas, isso gera as curtidas tão procuradas, mas infelizmente também as mensagens de ódio, preconceito, bullyings e tantas outras coisas negativas. Só que com impacto muito maior com as milhares de visualizações que esses conteúdos podem alcançar.

  • BB- Como o Sr. enxerga esse terror psicológico nas redes sociais?

UF – Com preocupação e necessidade de políticas públicas urgentes, com bem planejados programas de cuidado com a saúde mental da população.

  • BB – De que forma o parlamento, não só estadual pode contribuir no combate a esse formato virtual do bullying?

UF- Com leis severas que inibam essas práticas, audiências públicas, campanhas educativas

  • BB- O quanto vê a importância dos órgãos oficias estarem atentos a esse novo tipo de violência?

UF- Fundamental, visto que podem não apenas fiscalizar, mas promover as ações necessárias e seria ideal que fosse em conjunto para que os resultados sejam os melhores possíveis com a redução desse problema social e de saúde.

Centro de Valorização da Vida

Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda no CVV e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV (https://www.cvv.org.br/) funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil

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Deputado do RN minimiza declarações preconceituosas de Bolsonaro contra os nordestinos

Girão defende Bolsonaro (Foto: reprodução/Internet)

O deputado federal General Girão (PSL) usou o Twitter para defender o presidente Jair Bolsonaro após mandatário nacional chamar se referir aos governadores nordestinos como da “Paraíba” e apontar Flávio do Maranhão (PC do B), como o “pior de todos”.

O parlamentar classificou como “cantilena” as reações contra o presidente: “Vamos ouvir essa “CANTILENA” de quem perdeu por vários anos. Independente do que O Presidente falou, o que importa mesmo é o que ele está fazendo pelo NE e pelo Brasil. O Brasil está mudando. Não entendeu? Decore”.

Mais à frente ele rebatou o ex-senador Cristovam Buarque (DF), que nasceu em Pernambuco. Buarque questionou o que pensam os nordestinos que votaram em Bolsonaro após essas declarações.

Girão reagiu: “Por que não te calas?”.

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“Menos uma defendendo bandido”

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Por Talvacy Chaves*

Há mais de dois mil anos, o paganismo do império romano e o paganismo infiltrado numa parcela do judaísmo aplaudiram, riram e torceram para que Jesus – o impuro, o defensor dos direitos das minorias (viúvas, prostitutas, leprosos, imigrantes), o que pregava e vivia a misericórdia e a compaixão pela miséria humana – fosse crucificado e morto, sem nunca ter cometido crime algum.

Nada mudou de lá pra cá. Hoje, o paganismo infiltrado numa boa parcela do cristianismo debocha, ri e festeja a morte de #Marielle – uma “maldita geni”, negra, defensora dos direitos humanos, sobretudo, do direito das minorias marginalizadas. “Menos uma defendendo bandido”, como li há pouco na timeline de um dos meus seguidores aqui no face.

Parece irônico, pra não dizer perverso, perceber que a grande maioria dos que estão comemorando a morte de Marielle pertence a algum segmento religioso e vive no Brasil, pátria de Marielle.

Enquanto o mundo todo aqui fora revela manifestações de repúdio e tristeza, uma legião de cristãos pagãos no Brasil festeja a morte de mais uma pessoa negra, entre dezenas de outras que morrem diariamente.

E um detalhe prababilístico. Talvez, aqui, fora do Brasil, a maioria do povo que chora e repudia o assassino de Marielle não seja cristã e não professe crença em nenhum deus. Provavelmente sejam ateus, agnósticos com um profundo sentimento de humanidade e compaixão pela dor do outro, mil vezes mais humanos do que muitos cristãos por aí.

Quando vejo essa guerra do racismo, do preconceito e da indiferença pela dor do próximo entre cristãos, fico cada vez mais convicto que o grande desafio do cristianismo em nossos dias é humanizar/cristianizar os cristãos. Mais do que doutriná-los, dogmatizá-los, é buscar colocar um pouquinho da humanidade de Jesus em nossos corações.

*Talvacy Chaves é padre e atualmente cursa doutorado em cultura digital na Universidade Pontificia Salesiana em Roma.

Texto extraído do Facebook do autor.

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Quando uma escola dá aula de preconceito

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A semana tem sido marcada em Mossoró pelo impedimento de um aluno entrar com um vestido na Escola Estadual Ainda Ramalho. O caso logo ganhou repercussão como gesto de homofobia.

A escola até deu uma justificativa razoável. A de que a saia era curta demais. Mas será que realmente foi isso? Não seria uma homofobia enrustida. Afinal de contas vivemos numa sociedade onde é comum as pessoas abrirem a boca para vomitar a seguinte pérola: “Não sou preconceituoso, mas não acho normal um homem dormir com outro”. Quem nunca ouviu isso?

No fundo houve sim um ato de homofobia no gesto. Nunca ouvimos falar de uma garota impedida de entrar na escola por usar saia curta. Simples assim.

Detalhe: o fardamento na Escola Aida Ramalho não é obrigatório.

Fato é que vivemos em uma sociedade que não aprendeu a respeitar os LGTB (Lésbicas, Gays, Transexuais e Bissexuais).

Uma escola tem que ser um templo do conhecimento, um lugar onde se aprende o respeito à diversidade… Não é educativo impor o preconceito.

Cá desse espaço torço que o jovem em vez de ficar traumatizado com o acontecido ganhe força para se tornar um símbolo da luta contra o preconceito na sociedade mossoroense.

Rever os conceitos é um bom caminho para quem acha que um homossexual é um “anormal”. Anormal é o seu preconceito.