Há 130 anos a princesa Isabel, herdeira do trono brasileiro, acordou com um sentimento de bondade incondicional pegou uma pena dourada e assinou a lei áurea. Jogou a chance de ser imperatriz do Brasil na lata do lixo por retaliação dos fazendeiros escravocratas, mas o “sacrifício” lhe valeu o apelido de “A Redentora”.
É mais ou menos assim que os livros contam a história na escola. O estereótipo ganha contornos de verdade materializada nas novelas de época da Globo que sempre mostram a abolição como sendo uma concessão de brancos bonzinhos.
As leituras mais aprofundadas mostram que não foi bem assim. Houve muita luta que não se resumiam aos “fujões” que montavam quilombos. Havia luta política e nomes como Luiz Gama, André Rebouças e José do Patrocínio são os verdadeiros redentores do Brasil.
No entanto, existiam brancos dando as cartas e na hora de se definir pela abolição as ideias de reforma agrária defendidas por André Rebouças e Joaquim Nabuco foram rejeitadas. Foi aprovada no Senado do Império uma lei fria e “imparcial” que se não indenizou os escravocratas também não deu rumos aos escravos. Como a gente sabe a tal da imparcialidade favorece as elites. A retaliação não demorou e a monarquia deu lugar a uma república via golpe de estado em 15 de novembro do ano seguinte.
Os negros foram jogados nas ruas sem terras, sem estudos e empregos remunerados. Alguns ficaram pelas fazendas por não ter para onde ir.
A luta pela abolição foi apagada dos livros de história na mesma proporção de que o fim da escravidão não interrompeu a escalada da desigualdade que grassa no país.
A violência contra os negros se seguiu. Hoje eles são as maiores vítimas da criminalidade, desemprego e vulnerabilidade social.
Há 130 anos a abolição tirou os negros das senzalas, mas não lhes concedeu liberdade. A escravidão seguiu em um outro formato de não-liberdade: o cativeiro da desigualdade social.