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Altius, fortius, citius e a paraibada: juntos e misturado

Nordestinos brilham nas Olímpiadas

Por Tales Augusto*

Olimpia na Grécia infelizmente está em chamas, estou acompanhando pelas redes de notícias e espero que contenham os incêndios. Mas não é de hoje que a cidade pega fogo, porém, antes em situações diferentes, onde até guerras eram suspensas. Lá eram realizados os Jogos Olímpicos, há mais de dois milênios, só os homens participavam, eram jogos com feições bem diferentes dos atuais.

O termo “Altius, Fortius e Citius” significa mais alto, mais forte e mais rápido. Tivemos nessa Edição dos Jogos Olímpicos de 2020, entretanto realizado em 2021 por conta da Pandemia. Os anfitriões japoneses acrescentaram outro termo aos três já tradicionais, JUNTOS. Eu até acrescentaria que misturados.

E a edição destes Jogos Olímpicos incluiu novas modalidades, o skate e o surf, esportes estes ainda malvistos por muitos brasileiros. Imaginar que o Skate já foi até proibido na cidade São Paulo por Jânio Quadros, passa-nos a noção do quanto as pessoas continuam achando que junto ao surf, são esportes de vagabundos, desocupados, drogados.

Algo que não me causa estranheza tais preconceitos, há os que acham que esporte e política não se misturam, na verdade não se separam. Porém tem os que tentam de todas as formas não enxergar isso. Pensemos nas políticas públicas (ou a inexistência delas), falta de apoio estatal e privado aos atletas e até mesmo a disciplina de Educação Física, uma das mais importantes, não ter o devido reconhecimento e por vezes temos escolas que nem quadra tem, para piorar, advinha a formação do Bolsonaro?

E hoje, dia 8 de agosto de 2021 será encerrada a edição e só voltando em 2024 em Paris. Jogos marcados por muitas questões que ocorreram fora das competições na Terra do Sol Nascente. Desde a galera do Nordeste com sua imensa “Paraibada”, até a filha de mãe solteira que abriu espaço para uma modalidade maravilhosa, além do “esquecimento” de tomar a vacina contra a Covid-19 faltou tempo.

Ah, sou amante do bom futebol, contudo, tantas outras modalidades me chamam a atenção e no caso de Tóquio, eu e boa parte da população brasileira trocou o dia pela madrugada, torcer em todas as modalidades que o Brasil participou e fez literalmente História.

Comecemos pela Paraibada. A Antônia Fontenelle falou faz pouco tempo a seguinte pérola, “esses paraíbas fazem um pouquinho de sucesso e acham que podem tudo. Paraíba é força de expressão, quem faz paraibada”. Alguns chegam já para defender, não faltam zumbis.

Mas não estou aqui para agradar, sim para analisar e nesta análise, a Paraibada trouxe nada mais nada menos nos esportes individuais 4 medalhas de ouro. Até a manhã deste sábado, o #TeamParaibada ganhou com Isaquias Queiroz na canoagem, Ana Marcela Cunha na Maratona Aquática, Herbert Conceição no boxe e o nosso medalhista potiguar, o primeiro a ganhar medalha no surf, de Baía Formosa para o mundo, o Ítalo Ferreira. Sabiam que estes quatro ouros nos colocaria a frente da Espanha, Suíça, Noruega, Bélgica, Dinamarca, Grécia, Áustria, Portugal e Israel. O número maior de medalhas de ouro é base para a classificação, assim como as de prata e bronze.

Inclusive na prata a maravilhosa Fadinha com seu jeito descontraído e muito consciente, quando pediu que não fossem para o aeroporto aglomerar devido a pandemia. Ela tem 13 anos, a Rayssa Leal, outra Paraibada, fera no skate e foi se divertir, que bom.

Já na ginástica olímpica, jamais esqueceremos a Rebeca Andrade, com seu ouro e prata, algumas pessoas sem noção podem pensar que devido a Simone Biles não ter participado. Mas olha, o que é o espírito olímpico, a estadunidense até vibrou nas apresentações da brasileira. A estadunidense conseguiu algo maravilhoso, dizer NÃO, mas disse sim para ela e para o mundo, mundo este que mesmo antes da pandemia já estava doente e continua, lastimavelmente, principalmente no sentido psicológico, só verdadeiros campeãs e campeões tem coragem de dizer NÃO.

Voltemos a Rebeca, fera demais, conseguiu ouro e prata, feitos inéditos na modalidade e não esqueceu de todos que vieram antes dela, a Daiane dos Santos resumiu bem demais, quando disse que “ela [Rebeca] é uma mulher que veio de uma origem humilde, foi criada por uma mãe solo, como a dona Rosa, porque o pai da Rebeca é vivo, mas não é presente na vida dela. Aguentou tudo o que aguentou, todas as lesões e está aí hoje. A segunda melhor atleta do mundo hoje é uma brasileira.”

Difícil também não lembrar da frase infeliz do vice-presidente da República, quando Mourão disse que “casa de mãe solteira é fábrica de desajustados’”. A mãe da Rebeca a criou e nunca desistiu dela no esporte, tem gente que perde a chance de ficar calado.

Todas as Histórias de vida que falei acima tiveram dificuldades diversas, pouco ou nenhum apoio merecido, mas todos querem usar do prestígio para se autopromover, muitos políticos. A superação é bela, romântica, só que acaba por expor a falta da valorização da base, patrocínios e ainda vivermos praticamente como na Copa do Mundo, comemorando e sem acompanhar os atletas diversos nas suas modalidades. É possível mudar, espero que mudemos, inclusive os governos no incentivo ao esporte, desde a Educação Física, até as competições mundo a fora, em todos e quaisquer campeonatos.

Outros dois fatos que me chamaram a atenção, a namorada da Ana Marcela que tive a polícia a visitando devido gritar no prédio e extravasar o orgulho e amor da sua amada que se tornou campeã olímpica, foi tenso, mas engraçado e no final os vizinhos entenderam o motivo. E o péssimo exemplo do Medina, que até não poderá participar de uma competição do Surf, por não ter tomado a vacina contra a Covid-19, ele não teve tempo. Acredite quem quiser, provavelmente o medo de perder patrocínio tenha impulsionado a mudança para ser imunizado, chances não faltaram. Lastimável!

Temos tantas outras Histórias, belas, necessárias e que nos deixam orgulhosos, olha que eu mesmo que torço pela seleção da Argentina no futebol masculino, acabei devido Oxóssi via Paulinho, a torcer pelo Brasil na final Olímpica e fomos campeões. Torci pelos atletas, em todas as modalidades, alguns não brasileiros, porém tinha/têm algo maravilhoso, o Espírito Olímpico, a vontade de competir, de vencer, mas jamais desistir!

Já estou com saudades dos Jogos Olímpicos, da Terra do Sol Nascente no Japão, em Tóquio, para aguardar chegar 2024 na França, em Paris, a Cidade Luz. Até lá, espero que nós brasileiros saíamos desse obscurantismo, retrocesso imenso que vivemos, que a Cidade Luz e a França, país onde o Iluminismo expandiu seus valores de civilidade, democracia, justiça, tripartição dos poderes, dentre tantas outras gratas heranças, que possamos chegar melhores.

A Paraibada comemorada não como ideia de separatismo, mas como identitária e de valorizar nossa História, nossa Diversidade e o respeito a esta. Jogos de Tóquio, da diversidade, onde os atletas LGBTQI+ ganharam voz, combatendo diversos preconceitos. Que a pandemia da Covid-19 não mais esteja conosco e que como falamos sobre o Japão ter adotado o lema ALTIUS, FORTIUS, CITIUS E JUNTOS, mais fortes e sem este mar de preconceitos.

E sobre Paris? ALEA JACTA EST

*É professor EBTT, mestrando em Ciências Sociais e Humanas da UERN.

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