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Será que nossas crianças cegas estão sendo de fato alfabetizadas em braile?

Por Thiago Fernando de Queiroz*

Acredito que quando uma professora do ensino infantil se depara com uma criança cega em sala de aula, a pergunta em sua mente deve soar da seguinte forma: Como vou alfabetizar essa criança? Pois, o ensino infantil tem por finalidade alfabetizar, e, como nosso alfabeto tem simbologias visuais, as pessoas cegas não têm como ter essa compreensão. Mediante a isso, que em 1824, Louis Braille elaborou o que hoje é denominado de Sistema Braille, pois, é por meio deste Sistema que a pessoa cega deve ser alfabetizada.

Mas, aqui deixo uma pergunta: Quantos professores na educação infantil conhecem o braile? Não vou fazer o papel de acusador, porém, de forma sincera, pouquíssimos professores conhecem realmente o Sistema Braille. Alguns até dizem que o braile não é tão importante na atualidade, pois, existem computadores e smartphones com leitores de tela, e, isso facilita. Contudo, faço um questionamento, mesmo você tendo computador e smartphone não usa mais lápis ou caneta para anotar algo? Usa-se, quando não é ensinado o braile para uma pessoa cega, está tirando a autonomia dela.

No Município de Mossoró existe um órgão que tem a finalidade de dar apoio às pessoas cegas, que é o Centro de Apoio ao Deficiente Visual – CADV. O CADV tem atuado como um Atendimento Educacional Especializado – AEE para as crianças cegas matriculadas na Rede Regular de ensino. As crianças vêm apenas no contra turno, e, muitas delas vêm no máximo duas vezes por semana, o que não é o suficiente para alfabetizar as crianças por meio do Sistema Braille.

Vale ressaltar que boa parte das crianças que estão conhecendo o Sistema Braille está tendo acesso por meio da Máquina Braille, que não é o indicado, pois, a máquina braile deve ser utilizada por quem já é alfabetizado em braile, ainda por cima, nem toda pessoa cega terá a oportunidade de ter essa máquina, visto que o valor dela é de mais de R$ 6.000,00 (seis mil reais). Essas crianças deveriam está tendo acesso a reglete negativa e o pulsão, pois, é a maneira correta para ensinar o Sistema Braille. Pode-se frisar que uma reglete e um pulsão não custa mais de R$ 80,00 (oitenta reais).

Precisamos ensinar nossas crianças cegas à forma correta de como aprender o Sistema Braille, e, permiti-las serem alfabetizadas pelo Sistema Braille. Pois, o que a cada dia é passado que utilizar-se-ão menos o Sistema Braille, e, esse fenômeno até é conhecido como “DESBRAILIZAÇÃO”.

É importante destacar que esse problema em Mossoró não é de hoje, para que não achem que é culpa da direção atual, ao contrário, a direção do CADV vem inovando para tentar ao máximo levar o conhecimento do Sistema Braille, porém, o que está faltando é a capacitação e a educação continuada dos professores que atuam na Educação Especial e na Educação Inclusiva.

A Associação das Pessoas com Deficiência Visual – ADVIMOS, irá neste ano de 2020, lutar para que o Sistema Braille seja propagado da forma correta, de forma que nossas crianças cegas possam ser de fato alfabetizadas por meio do Sistema Braille, e, permitir que as crianças com deficiência visual não estejam apenas em sala, mas, que as mesmas possam atuar em igualdade de oportunidades com as demais crianças.

E sabem o porquê desta preocupação da ADVIMOS? É que de acordo com o Censo do IBGE de 2010, cerca de 0,17% da população mossoroense são de pessoas cegas, e, se esses dados forem levados em conta com a estimativa atual, isso significa que têm em média 508 pessoas cegas. E, a pergunta é: Essas pessoas estão tendo autonomia? Essas pessoas estão podendo estudar? Estão tendo a oportunidade de serem inseridas no mercado de trabalho? Falando a verdade, não!

Por isso, que o Sistema Braille deve ser ensinado da forma correta, pois, deve-se ao máximo propiciar as pessoas com deficiência a sua autonomia. Não adianta dizer que esses sujeitos são coitados ou incapazes, ao contrário, as pessoas com deficiência são mais que capazes, apenas precisam de condições que as oportunizem cumprir com suas atividades.

Deste modo, convido a todos os cidadãos mossoroenses e de cidades circunvizinhas para lutarem por inclusão, lutarem por igualdade de oportunidades. Isso é sinal de amor ao próximo. Assim, vamos todos construir um mundo novo, vamos amar mais e respeitar mais o próximo. Acha utopia o que está sendo dito agora no final deste texto? Então, pelo menos faça sua parte na construção de mundo melhor, pois, tu podes ser exemplo para pessoas que nem sabes, mas, que te enxerga, talvez não com os olhos, mas sim, por suas atitudes.

Portanto, vamos que vamos na luta por inclusão, e, juntos somos mais fortes!!!

*É pesquisador em Inclusão e Direitos das Pessoas com Deficiência