Ter ideologia não é um problema em si. Todos nós temos, inclusive quem jura não ter uma para chamar de sua. O problema é quando a ideologia cega e vira uma tara.
Veja o caso das privatizações das subsidiárias da Petrobras e seus campos maduros. Não fazia o menor sentido estratégico para o país entregar para iniciativa privada ou vender para estatais estrangeiras.
Mas a tara ideológica no melhor estilo “privatiza que melhora” teve o desastre confirmado com a alta dos preços dos combustíveis ao longo dos governos Temer e Bolsonaro.
No Rio Grande do Norte, houve um desmonte da Petrobras para tornar mais barato para a iniciativa privada a compra dos ativos no Estado.
Não adianta repetir o clichê que o desmonte começou com Dilma Rousseff.
Os números desmentem.
Dados do Sindpetro/RN, divulgados pelo Blog do Barreto em diversas oportunidades, mostram que entre 2011 e 2014, os investimentos da Petrobras no Estado saíram de R$ 1,278 bilhão para 1,547. Em 2015, com a crise política ainda foram R$ 1,435 bilhão.
Já com Michel Temer os números despencaram em 2016 para 799 milhões caindo para 546 milhões em 2018. Quando Jair Bolsonaro (PL) assumiu, os números de investimentos da Petrobras no Rio Grande do Norte deixaram de ser divulgados.
Com esse desmonte ficou mais fácil vender os campos maduros a preços de banana e isso incluiu a Refinaria Clara Camarão.
O desmonte da Petrobras no Estado foi acima de tudo uma escolha política pautada pela tara ideológica que enxerga nas privatizações a panaceia que resolve todos os males porque é mais “eficiente” e livre de “escolhas políticas”, como se a política não importasse para o conjunto da sociedade.
Enquanto a Petrobras reduz mês a mês o preço da gasolina, em 40 dias a 3R Petorleum, nova dona da Refinaria Clara Camarão, aumentou sete vezes o preço do combustível. A alta acumulada em 40 dias de 3R é 5,8%, contrariando a tendência de baixa das refinarias da Petrobras.
Resultado: rapidamente, já temos uma gasolina R$ 0,68 mais cara que na vizinha Paraíba e R$ 0,67 em Pernambuco.
Privatização vale a pena quando se trata de uma empresa que dá prejuízo e não é estratégica para a sociedade. A Petrobras não dava prejuízo e era estratégica no Rio Grande do Norte. A iniciativa privada não tem responsabilidade social e o nosso bolso sente os efeitos da tara ideológica que entusiasmado apoio do ex-deputado federal Beto Rosado (PP), do deputado federal João Maia (PL), do senador Rogério Marinho (PL) e do ex-ministro Fábio Faria (PP).
Todos aplaudiram as vendas dos ativos da Petrobras no Governo Bolsonaro e os custos dos aplausos ficam por nossa conta em nome da tara ideológica liberal.
Privatiza que melhora, só que não!