É quase unânime que Aluízio Alves seja considerado o maior líder político do Rio Grande do Norte no Século XX. Tenho para mim que sem ditadura militar ele certamente seria eleito governador e senador várias vezes, mas a bagunça institucional do Brasil da República de 1946 que naturalizou a presença de militares na política prejudicou a carreira dele e de outros políticos talentosos (e com votos) daquela época.
No entanto, percebo neste 11 de agosto de 2021 quando Aluízio completaria 100 anos se estivesse vivo que a história dele precisa ser revisitada com certa urgência.
Ele fez um governo à frente do seu tempo desde a memorável campanha eleitoral de 1960 quando ele utilizou técnicas de marketing político que deixaram seus adversários atordoados. A gestão modernizou o Rio Grande do Norte em todos os aspectos. Nosso Estado tem um antes e depois de Aluízio Alves que criou os primeiros conjuntos habitacionais por estas bandas, trouxe energia para todos, criou a Telern e fez investimentos a partir da aliança para o progresso em parceria com o Governo estadunidense, cujos detalhes de bastidores foram revelados numa primorosa reportagem do jornalista Paulo Nascimento no The Intercept (ver AQUI).
No entanto, uma coisa sempre me incomodou: as manchas do “cigano feiticeiro” que foram apagadas da memória potiguar num passe de mágica.
A principal delas é a sua participação no golpe de 1964. Ele apoiou o arbítrio, promoveu perseguições que estão documentadas no Relatório Veras e participou da deposição do prefeito do Natal Djalma Maranhão, um episódio dramático demais para ser tão esquecido no Rio Grande do Norte.
Com a instituição do bipartidarismo, Aluízio Alves não fundou o MDB como muitos imaginam. Ele resgatou suas origens na conservadora UDN e foi disputar prestígio junto aos ditadores na Arena. Ele compôs a “Arena verde” que rivalizava com a, pasmem, “Arena Vermelha” de Dinarte Mariz.
Aluízio perdeu a queda de braço com seu ex-líder e, junto com os irmãos, foi cassado pela ditadura militar. Ficou sem direitos políticos não por suas ideias, mas por uma questão local com Dinarte. Aluízio ainda assim teve algum poder preservado podendo colocar o filho Henrique e o sobrinho Garibaldi na política além de ser consultado em todos os processos de escolhas dos governadores biônicos no período, inclusive protagonizando o acordão com o regime conhecido como “paz pública” em que mesmo cassado se juntou aos algozes para apoiar a candidatura de Jessé Freire ao Senado em 1978.
Em 1982 finalmente pode ser candidato ao Governo e perdeu para um garoto chamado José Agripino por 106 mil votos de diferença.
Após a redemocratização ele ainda foi duas vezes ministro (administração no governo Sarney e integração nacional no de Itamar Franco), mas não tinha mais o mesmo brilho eleitoral de antigamente.
Aluízio fez história, mas não podemos romantizar sua relação com a ditadura militar.