Categorias
Artigo

Por que criminalizar o nazismo e não o comunismo?

Por Hermes C. Fernandes*

Como defender uma ideologia responsável pela morte de milhões de pessoas em todo mundo? Uma ideologia que promoveu perseguição, torturas, guerras, genocídios não deveria nem sequer ser considerada, quanto mais defendida.

A que ideologia estou me referindo?

Se você disse “nazismo”, você acertou.

Se respondeu “comunismo”, também acertou.

E se ousou dizer “cristianismo”, lamento informar que você também acertou.

Não há inocentes nesta história.

Entretanto, não se pode jogar fora a criança com a água do banho, tampouco igualar e criminalizar cada uma delas.

O cristianismo, por exemplo, é um subproduto do movimento iniciado por Jesus de Nazaré e seus apóstolos. Não podemos condená-los por aquilo em que a mensagem se tornou três séculos depois, quando o império romano se apropriou da mesma, tornando o movimento em sua religião oficial. É aquela estória… Jesus é o cara, mas o fã-clube estraga.

Jesus pregava o amor ao próximo e aos inimigos. O cristianismo promoveu cruzadas, inquisições, caça às bruxas, etc. A comunidade cristã original tinha tudo em comum. O cristianismo criou a teologia da prosperidade, estimulando o acúmulo de bens em vez da partilha. Os cristãos primitivos acolhiam a todos igualmente. O cristianismo criou o Apartheid, segregando negros em sua própria nação. A mensagem subversiva do evangelho oferecia liberdade e igualdade indistintamente. O cristianismo endossou a escravidão. Jesus valorizou as mulheres, o cristianismo preferiu perpetuar o patriarcado.

Para não ser injusto, devo admitir que não haja um único cristianismo, e sim, cristianismos. Sempre houve um remanescente fiel aos ensinos do mestre. Gente como São Francisco de Assis, Teresa D’ávila, o Papa Francisco, Madre Teresa de Calcutá, Martin Luther King, Bonhoeffer, e outros. Mas também sempre houve gente indigesta que deturpou a mensagem de Cristo para encaixar-se em seus interesses mesquinhos. Prefiro aqui, não dá nomes aos bois. Pelos frutos são reconhecidos.

Por isso, não faria o menor sentido criminalizar o cristianismo.

E quanto ao comunismo? Deveria ser criminalizado tanto quanto o nazismo?

Quem se deu ao trabalho de ler os teóricos comunistas, certamente perceberá que há diversos pontos em comum com a proposta original de Jesus. Mas assim como não há somente um cristianismo, também não há somente um comunismo. Pode-se dizer, por exemplo, que a comunidade cristã original era, em essência, comunista, visto que “ninguém dizia que coisa alguma era sua, mas tinham tudo em comum.” Pelo menos, este é o testemunho encontrado no livro dos Atos dos Apóstolos.

“E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.” Atos 4:32

“Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum.

E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um.” Atos 2:44,45

A experiência comunitária da igreja cristã primitiva parece encontrar eco na máxima popularizada por Karl Marx: “De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades.”

Para quem nutre grande admiração por Israel, saiba que um dos experimentos comunistas mais bem sucedidos da história são os kibutz. Trata-se de uma forma de coletividade comunitária israelita. Apesar de existirem empresas comunais em outros países, em nenhum outro as comunidades coletivas voluntárias desempenham papel tão importante como o dos kibutz em Israel, onde tiveram função essencial na criação do Estado judeu.

O problema do comunismo foram as desastrosas tentativas de sua implantação. Algo análogo à tentativa do império romano de impor a fé cristã ao mundo na ponta da espada. Uma coisa é compartilhar seus bens movido por uma consciência social encharcada de amor; outra completamente diferente é fazê-lo por imposição de um Estado opressor.

A propósito, o comunismo em sua essência preconiza o fim do Estado. Portanto, querer implantá-lo a partir da força coerciva do Estado é uma contradição.

Jamais houve, de fato, um país comunista. Por mais que tenham sido ou ainda sejam administrados por um partido comunista, isso não significa que aquela sociedade tenha aderido à utopia comunista. A China, por exemplo, pratica um tipo de capitalismo de Estado.

Se Cristo nada tem a ver com Constantino, nem como o neo-pentecostalismo e sua teologia de domínio, Karl Marx nada tem a ver com Lenin, Stalin, Mao Tsé-Tung, Kim Jong-un ou qualquer outro ditador ou regime.

Portanto, se não se deve criminalizar o cristianismo, também não se deve criminalizar o comunismo, visto ser uma utopia que visa romper com a opressão do capital e combater as injustiças sociais.

Já o nazismo são outros quinhentos. Não existem nazismos. Não há nazismo do bem. O nazismo segue sendo o mesmo desde sua origem e ascensão. Sua ideologia defende a supremacia de uma etnia sobre as demais. E não apenas isso, mas também o extermínio de grupos humanos como judeus, ciganos, homossexuais e deficientes físicos. Não se fala de justiça social, igualdade de direitos, dignidade humana, e sim de nacionalismo cego e supremacia da raça ariana. Nazistas são eugenistas. O problema não está apenas em sua aplicação, mas na ideologia em si, fomentadora do ódio e da discriminação. Por essas e outras que o nazismo é criminalizado na maioria dos países. Ninguém quer ver a reedição do que Hitler tentou impor ao mundo.

Quero deixar claro que não sou comunista, tanto quanto Deus não é cristão. Prefiro identificar-me como um seguidor de Jesus buscando discernir os tempos, adequando-me àquilo que faça jus aos Seus ensinamentos. Como disse Paulo, examinando tudo, mas retendo o que é bom. No comunismo, deparei-me com a utopia. No nazismo só encontrei pesadelo.

*É bispo evangélico.

Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o barreto269@hotmail.com e bruno.269@gmail.com.

 

Categorias
Artigo

Pátria amada, não pode ser pátria armada ou como os pseudos cristãos usam da desfaçatez…

Tales Augusto de Oliveira*

Causou espanto entre cristãos a fala do Arcebispo de Aparecida ao falar que “Pátria Amada não pode ser Pátria Armada”?

Soa estranho é a defesa da violência por cristãos. Contudo, não é de hoje que parte da cristandade na atualidade se envolve com ideologias diversas que não condizem com o Evangelho. Alguns de forma torpe, ignorante (no sentido de desconhecimento da Bíblia), outros por pura desfaçatez, estes chegam a escolher apenas os versículos e capítulos que se identificam com eles e ainda esquecem que o tal Jesus, pregou Amor incondicional a todos, eles ainda enaltecem Israel de uma forma que quero entender, já que estes nem em Jesus acreditam.

Pois bem. Vamos devagar para entender o que envolve as práticas cristãs e Inicialmente o Catolicismo. Desde a década de 1960 em diante, correntes doutrinárias na Igreja Católica surgiram, as principais são a Teologia da Libertação onde faz “uma opção preferencial pelos pobres” (pensam que Jesus veio pra todos, mas principalmente para quem mais precisa) e a Renovação Carismática (segundo alguns são católicos que querem ser evangélicos, mas têm vergonha), surgida nos Estados Unidos e com interesse de se contrapor a Teologia da Libertação.

O Cristianismo, ou melhor, os pseudos cristãos, usam o nome daquele que eles chamam e acreditam ser Deus sem não seguir os seus ensinamos.

Para alguns, alimentar os pobres, Amar a todos independente de quem sejam, valorizar a vida, ser contra a violência e em especial a tortura, são erradas e acham que são até heresias ao Cristo. Queria entender essas pessoas que lotam igrejas, fazem arminhas nos cultos e missas, só que cegam para os irmãos que vivem em dificuldades, querem que matem pessoas encarceradas, torturem, que as pessoas em situação de rua morram de fome.

Quem vos escrever é um Cristão e Historiador, leitor da Bíblia e que na máxima AMAI AO TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO continua a seguir o Cristianismo. E concluo com a lembrança de uma canção cristã católica e as palavras de um pastor protestante/evangélico que admiro demais. A canção fala sobre o profeta Jeremias, “Tenho que gritar, tenho que falar, aí de mim se não o faço”. E lembrei do Pastor Martin Luther King quando disse “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”. Porque cristãos andam calados e medrosos? Cristãos ou PSEUDOS CRISTÃOS?

*É cristão, historiador, autor do livro HISTÓRIA DO RN PARA INICIANTES e mestrando em Ciências Sociais e Humanas pela UERN.

Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o barreto269@hotmail.com e bruno.269@gmail.com.

Categorias
Artigo

Você é cristão? Já arrastou Jesus hoje ou continua a reclamar duma ação cultural como blasfêmia?

Desfile de escola da escola de samba Gaviões da Fiel realizado há dois anos ainda é alvo de debate (Foto: reprodução)

Por Tales Augusto

Passei boa parte do ano de 2020 para 2021 vendo pessoas postarem que a Pandemia seria um castigo divino (sou Cristão e também Historiador), especialmente os cristãos, estes católicos e evangélicos.

Todavia, acho estranho que num planeta como o nosso com população caminhando para os 8.000.000.000 bilhões de habitantes, sendo que na totalidade deste número, os cristãos não são nem de perto a metade. Como ainda pensamos que tudo gira em torno da Fé?

Costumo falar com meus alunos que em sala de aula não posso agir como prosélito de qualquer denominação, exercendo a docência, lá estou como cientista social e não como doutrinador como sou na Igreja, seja na Liturgia que costumo participar ou ainda quando exercia a doutrinação sendo Catequista da Primeira Eucaristia e Crisma. Religião é doutrinação, sempre foi desde os primórdios.

É interessante, essa semana passada mesmo falei com meus alunos sobre a Idade Média (terceiros anos do IFRN Campus Apodi) . Para muitos a Idade das Trevas e para mim, Idade das Fés, onde na Europa, o ditame girava entorno da Igreja Católica Apostólica Romana. E como ela exercia seu poder em todas as esferas da vida medieval, desde antes do nascimento, até posterior a morte.

Usei duas imagens para este texto, a primeira onde cristãos numa Marcha para Jesus faziam arminhas e na outra o Jesus arrastado na avenida no carnaval de 2019.

Ora, a liberdade poética foi desrespeitada em relação ao Cristo sendo arrastado? Estranho. Pois ele diariamente é arrastado. Pessoas em situação de rua abandonados, pessoas sem ter o que comer, beber e sem ao menos pensarmos no Próximo como nosso Irmão. O “Amai ao Teu Próximo como a ti mesmo” mais parece um conto de fadas, um verdadeiro mito. Já pararam para pensar que eu e todos vocês arrastamos o Cristo real, que habita no nosso irmão? Os

Por outro lado, como ficam os Cristãos que dizem que “Bandido bom é bandido morto?” e que fazem arminhas nas Igrejas? Independe de ser católica ou não. Esquecem que o Cristo morreu na Cruz, antes torturado e vocês apóiam a tortura? Arrastando mais um vez Jesus? Ou ele não está em todas as criaturas criadas por Deus? Aliás, escolhem as passagens bíblicas que lhes convém? Rasgam o livro que dizem acreditar?

Por favor, depois mandem-me uma Bíblia com passagens que Jesus apoiou a tortura, o preconceito, o desprezo. Peço de coração, pois se me mostrarem, pode ser que eu defenda isso. A minha é Pastoral, já tenho tem mais de uma década, nela, Jesus vivia entre a ralé da sociedade judaica, agora inclusive nós sábados, que para os Judeus deve ser guardado. Lembram que Jesus estava entre os lazarentos, deficientes variados como cegos, foi até comer junto a Zaquel, sentou com a samaritana e conversou, são tantos relatos dele com o lixo da sociedade que me pergunto. Vocês crêem mesmo em Jesus.

Provavelmente se me derem uma nova Bíblia que dê apoio a torturador, a agressor de mulheres, a não ajudar quem precisa e se negar a ajudar, posso mudar.

Por acaso o “tive sede e me deste de beber, tive fome e me deste de comer estava nu e me vestiu, estava no estrangeiro e me acolheu…” não está na Bíblia de vocês?

Ao invés de agirem como algozes, julgando e sentenciando os outros, que tal mais AME AO TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO? É difícil viver numa contemporaneidade que as pessoas mais parecem medievais.

Durante a Idade Média, mataram judeus acusando-os de serem responsáveis pela Peste Negra. Vocês acreditam mesmo que Deus “”cancelou (palavra hoje em moda)” o carnaval? Acreditam como uma pessoa postou no meu Facebook, que Deus matou os mais de 2.500.000 por serem infiéis? Tipo como em Sodoma e Gomorra que de acordo com a Bíblia, não havia um justo?

Entendam, toda religião deve ser usada para o bem, se não for para o bem, não é religião, mas seitas, seitas que não aceitam o contraditório.

Certa vez li e infelizmente concordo, SE MATA MAIS EM NOME DE DEUS (usam já verdade o nome d’Ele), QUE JO NOME DO DEMÔNIO.

Estranho o que irei falar, mas conheço ateus com ações mais cristãs que muitos que estão em Igrejas e Templos, inclusive nem mais que eu. Pessoas que enxergam o humano no outro, que não perguntam se você acredita ou não em um Deus, valorizam a vida, o amor, ajudam sem condenar. Não vejo diferença entre fariseus e muitos “cristãos” hoje!

Observação: sabiam que no desfile Jesus vence o demônio? Mas parece que entre os cristãos o demônio venceu, o ódio de muitos derrotou o Amor que Jesus pregou a todos.

*É Cristão e Historiador

Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.

Categorias
Artigo

A quaresma, o cristianismo e o perdão

Resultado de imagem para quaresma crisitanismo

Por Tales Augusto*

“Havia ao lado de Jesus dois bandidos, o bandido bom e o bandido ruim, o bom mudou…” Ouvi muitas pessoas na minha infância falando isso, correções! Não havia dois bandidos, eram três. Outra correção, não eram dois bandidos (excetuando nesta explicação Jesus) onde havia um bom e um ruim, mas um que se arrependeu, houve conversão.

Drauzio Varella recentemente abraçou uma encarcerada que cometeu um crime hediondo, onde a pedofilia e outras ações estavam envoltas.

Contudo, ele não sabia que a detenta tinha cometido isso, mas tirem-me uma dúvida, o tal “amai ao teu próximo como a ti mesmo” aonde fica?

Em plena Quaresma estou lendo muitos cristãos condenando o Médico, já a detenda para muitos deles deveria era ser morta, antes torturada, é claro. Para que possamos fazer o que fizeram com o bandido Jesus?

Tento entender o CRISTIANISMO que muitos de nós diz seguir. Se a detenta está pagando sua pena perante a sociedade, quem somos nós para novamente a condenar, por acaso alguns de nós somos igual a DEUS?

Um assassino de cristãos chamado Saulo de Tarso se converteu e por ele, principalmente por causa de São Paulo hoje conhecemos a palavra de Deus.

Desculpem, mas é impossível ser Cristão sem acreditar no perdão e menos ainda sem perdoar. Se não fazermos isso, somos assim como muitos fariseus, verdadeiros Sepulcros Caiados. Doutores da Lei sem nada de realmente cristão em nós! “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” é a passagem do Bom Samaritano. Enquanto os ditos justos, corretos, corriam para não assistir aquela pessoa que fora agredida. Ele recebera ajuda justamente de um habitante da Samaria (sou um relés Historiador e pouco conheço a Bíblia), região má vista pelos demais seguidores de Iavé.

E hoje, a detenta paga pelo seu crime, mas queremos também condenar o médico que estava lá num trabalho jornalístico é fato, mas também de humanização.

Acredito que nós cristãos saibamos que Barnabé teve coragem de abraçar um cúmplice de um apedrejamento de um cristão márti, ele conseguiu abraçar Paulo, o maior disseminado da palavra de Deus)Jesus

A família da criança morta jamais será a mesma, Deus esteja sempre com ela e a conforte. Mas este Deus é o mesmo que perdoa, que veio ao mundo enquanto homem, onde o Verbo se fez carne e habitou entre nós? Que nos pregou “perdoar 70 X 7”?

Deus tenha piedade de nós!

*É professor do IFRN