Categorias
Artigo

O golpismo bolsonarista não chegaria a esse ponto sem tantos cúmplices

A escalada golpista do bolsonarismo não começou ontem. Tem início em maio de 2019 quando sem qualquer motivo os apoiadores do então presidente foram as ruas pedir intervenção militar, fechamento do Congresso Nacional e do STF.

Depois disso a escalada não parou.

Foram vários movimentos sempre com Jair Bolsonaro (PL) dobrando a aposta e incentivando os seus apoiadores a agirem contra as instituições. Os dois últimos 7 de setembros foram assustadores para quem tem compromisso com o estado democrático de direito.

Enquanto bradava ataques as urnas eletrônicas, judiciário e parlamento, Bolsonaro ia aparelhando as instituições. Deu uma série de benesses aos militares, incentivou a agitação política nos quartéis das polícias militares e escolheu a dedo um procurador-geral da República que funcionasse como seu advogado de defesa.

A omissão de Aras deixou que aliados radicais de Bolsonaro na imprensa e na política estimulassem o golpismo nas redes sociais.

Quando se viu em risco de impeachment, por todas as insanidades que praticou na pandemia, instalou o orçamento secreto e o esquema do tratoraço na Codevasf, para amansar o parlamento.

Assim Bolsonaro reuniu em torno de si cúmplices em sua escalada golpista. Usou como pôde os militares para questionar as urnas e quando perdeu a eleição no dia 30 de outubro contou com a ajuda de empresários e a omissão das forças armadas para espalhar golpistas nas portas dos quarteis Brasil adentro.

Enquanto pediam golpe, um crime previsto em lei, os golpistas eram tratados com todo respeito e consideração pelos militares. Na outra ponta, Bolsonaro estimulava o golpismo com o silêncio ou declarações dúbias. Os golpistas sempre contaram com a cumplicidade dos fardados.

As polícias militares em vez de agir com rigor, ofereciam proteção. O procurador-geral da República Augusto Aras vedava os olhos, se omitindo. A inação marcou todo processo de transição.

Sem ser incomodado, Bolsonaro deixou o país rumo aos Estados Unidos usando avião da FAB sem qualquer justificativa. Curtiu de longe a escalada golpista e só condenou a depredação na Praça dos Três Poderes porque se viu ameaçado de extradição. Ainda assim o fez com argumentos falaciosos.

Outro cúmplice do bolsonarismo foi o governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha. Além de colocar um efetivo pequeno para conter os golpistas, escalou policiais omissos que deixaram os golpistas passarem com facilidade no rumo dos atos terroristas.

Foi necessária uma intervenção federal na segurança do DF e hoje o ministro do STF Alexandre de Moraes afastou Ibaneis do cargo.

A conta não para por aí.

Houve também o discurso que minimizava as intenções dos golpistas. A covardia da mídia do mercado financeiro que não chamava os golpistas pelo que realmente são. Os “isentões” nas redes sociais que tratavam os crimes como “manifestações legítimas” num cinismo grotesco. Esses posicionamentos legitimadores dos golpistas colaboraram para o caldo de cultura que levou a democracia brasileira à beira do precipício na tarde de ontem.

Ainda há os que atacaram o ministro Alexandre de Moraes por tentar conter a escalada golpista e as fake News que fundamentaram as teses contra a democracia brasileira. Esses também são cúmplices.

O brasileiro só aprende lições da pior forma possível. Espero que agora entendam que a democracia do país está em risco e que os golpistas não começaram a cometer crimes ontem. Os atos criminosos vêm de antes e a punição tem de ser rigorosa seguindo o devido processo legal.

O golpismo não ameaçaria o país sem tantos cúmplices ao longo dos últimos anos. São militares, empresários, cúpula do Ministério Público e políticos radicais que incentivam o caos em suas redes sociais.

Nem todos serão punidos pela lei, mas moralmente já estão derrotados.