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As pesquisas eleitorais erraram em Natal?

Por Daniel Menezes*

Após aberta as urnas essa pergunta se impôs. Ora, diante da diferença posta pelas pesquisas e o resultado das urnas, há três caminhos:

OS INSTITUTOS QUISERAM PREJUDICAR NATÁLIA E PRINCIPALMENTE PAULINHO FREIRE?

  1. achar que existiu uma conspiração entre todos os institutos para ajudar Carlos Eduardo, que terminou mais alto nas pesquisas do que na urna e atrapalhar Natália, que a exceção do Seta e do Atlas, teve votação mais alta do que vinha como tendência nos levantamentos; e principalmente dificultar a vida de Paulinho Freire, em tese o grande prejudicado pelas pesquisas pela maior discrepância entre os números e as urnas;
  2. imaginar que, de repente, todo mundo desaprendeu a fazer pesquisa;
  3. Os números continuaram se movendo até o dia da eleição.

Como não acredito que os Institutos tiveram a intenção de atrapalhar Paulinho e Natália e ajudar Carlos Eduardo, até porque a maioria fazia levantamentos internos para os supostos prejudicados, vou partir do que está dito pela literatura sobre pesquisa e comportamento eleitoral e deixar o conspiracionismo de lado.

ALTO NÚMERO DE INDECISOS ATÉ O DIA DA ELEIÇÃO

É fato que há um forte contingente de eleitores que, nas disputas nas grandes cidades para prefeitura, para governo e para o senado, vem deixando para escolher seus candidatos nas últimas 48 horas de campanha. Como é possível saber se o fenômeno está acontecendo? Ora, confrontando a espontânea com a estimulada. Quando a espontânea sincroniza com a estimulada, isto significa que não haverá mudança e o eleitor já está bem informado, lembrando os candidatos pelo nome. Era o caso, por exemplo, de São Gonçalo do Amarante. Tanto que o Instituto Seta escolheu não mais fazer espontânea na cidade porque, a exemplo do que ocorre em cidades pequenas, em São Gonçalo, um município maior, a informação sobre candidaturas e escolha entre candidatos estavam consolidadas.

Mas em Natal as últimas pesquisas publicadas na sexta e no sábado davam um número de não votantes de mais de 40% na espontânea, revelando que o eleitorado ainda estava se movendo. Eu alertei a todos que conversaram comigo e na minha conta na Blue Sky sobre a questão.

Conforme o instituto Datafolha, 1/4 da população tem escolhido o seu candidato na majoritária nos grandes centros eleitorais para prefeito, senador e governador nas últimas 48 horas de campanha. A pesquisa foi feita em 2018 para entender a improvável vitória de Witzel no Rio de Janeiro. O fenômeno não acontece nas disputas presidenciais, por exemplo.

FOTOGRAFIA DO MOMENTO

A pesquisa vai fotografar o momento e só vai acertar se os números estiverem estabilizados. Não era o caso de Natal. Assim é um erro usá-la para predição.

ALTO NÚMERO DE ABSTENÇÃO

A eleição de Natal teve a maior abstenção desde os anos 2000. Ficou cada vez mais fácil faltar, por exemplo, com a justificativa via e-título, além do que as sanções pelo voto obrigatório no Brasil são muito pequenas. O alto número de faltosos vai tirar mais votos de alguém. Isto é, tende a tirar da caminho até a urna, digamos assim, o eleitor menos comprometido com o seu candidato e é provável que Carlos Eduardo tenha sofrido mais com o problema, ao contrário do que ocorre com o eleitor bolsonarista e petista. Há muitos estudos sobre o modo como isto vem impactando desigualmente os candidatos. Por exemplo, em 2022 no 1 turno, Lula perdeu mais votos com os faltosos do que Bolsonaro. O Instituto Seta colocou questões em sua primeira pesquisa de segundo turno para aferir o tema.

O QUE ACONTECEU EM NATAL?

Até a sexta feira, era quase consenso e a média geral davam: Carlos Eduardo e Paulinho Freire empatados tecnicamente em primeiro e Natália logo atrás em terceiro. Era notório que Carlos Eduardo lentamente estava desidratando e Paulinho e Natália subindo. Natália subia entre o público de esquerda e Paulinho estava secando a votação de Carlos Eduardo que tinha muitos eleitores nas pesquisas entre o eleitorado de direita.

PAULINHO FREIRE

Dois movimentos de Paulinho Freire corroboravam pra tanto – 1. a diferença de estrutura da prefeitura e de um batalhão enorme de vereadores e lideranças comunitárias, agindo; 2. um acerto de comunicação de sua campanha que colou em Carlos Eduardo a ideia de que era o plano B do PT. Isto o levava pra cima.

CARLOS EDUARDO

O que o ex-prefeito tinha, em parte, era recall e a lembrança foi se esfumaçando também pelo fato de não ter grupo, tempo de tv, quem segurasse a sua bandeira e ter ficado imprensado na polarização criada entre Paulinho e Natália.

PAULINHO FREIRE

Paulinho passeou na força da máquina da prefeitura e no antepetismo para desidratar, não Natália, mas Carlos Eduardo. Na hora em que aquele jovem pouco politizado, aquela mulher que pouco acompanha a política e outros públicos que escolhem nos últimos dias resolveram tomar pé do cenário da disputa, correram todos para Paulinho Freire. Bastava fazer o cruzamento entre eleitores de direita/ou apoiadores de Bolsonaro X voto para prefeito para perceber a tendência de queda sem fim de Carlos Eduardo entre esses eleitores.

NATÁLIA BONAVIDES

Sobre Natália Bonavides, eu tenho uma hipótese. As pesquisas do Instituto Seta sempre deram ela no patamar que ela teve, inclusive acertando sua votação em cima. É que as pesquisas têm uma dificuldade de capturar a tendência da zona sul pelo forte número de condomínios, prédios de difícil acesso e jovens que são difíceis de achar para responder a pesquisa. Todos os institutos sofreram com isso. Mas ela, a exemplo de Paulinho Freire, continuou subindo até o dia da eleição, na medida em que foi sendo conhecida.

RUIM COM ELAS, PIOR SEM ELAS

É preciso deixar o conspiracionismo de lado. As pesquisas fotografam o momento e ajudam o eleitor a se informar. Inclusive, esta informação pode interferir no cenário, refazendo as condições da disputa ao gosto do que o eleitor quer e ficou claro que ele, ao ser informado que Carlos Eduardo estaria no segundo turno, trabalhou para retirá-lo de lá. O eleitorado de Carlos Eduardo se “endireitou” e, no final, o deixou na mão.

PESQUISAS NO SEGUNDO TURNO

No segundo turno a assimetria entre a pesquisa  e a urna será bem menor, já que teremos apenas dois candidatos e um nível de informação do eleitorado já bem mais consolidado.

*É sociólogo, professor da UFRN, sócio do Instituto Seta e editor do Blog O Potiguar.

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