Padre Sátiro Cavalcanti será para sempre lembrado como líder a estadualização da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte em sua curta, porém rica passagem pela Reitoria da instituição entre 5 de agosto de 1985 e 8 de janeiro 1987.
Esse é o seu principal legado político pela capacidade de articulação demonstrada ao unir a comunidade acadêmica, movimentar todos os segmentos políticos do Estado, acionar ministros, convencer prefeito, governador, candidatos a governo, vereadores e deputados estaduais a formarem consenso na transferência de uma universidade de um município para um estado.
Na educação é o maior legado pelo que a UERN se tornou a partir da estadualização, deixando de ser uma universidade que sobrevivia a duras penas para se tornar uma referência de inclusão social com 89% de seus alunos oriundos de escolas públicas. Nada disso aconteceria sem estadualização cujo protagonista foi Padre Sátiro.
Mas para entender essa história é preciso voltar 38 anos na história. Padre Sátiro assumiu a então Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte (FURRN) após uma crise política que derrubou o então reitor Laplace Rosado. Na época era uma instituição municipal que era pública, mas não gratuita porque cobrava mensalidades dos estudantes. Ainda assim ela não conseguia se manter.
A universidade devia seis meses de salários aos professores e funcionários quando Padre Sátiro assumiu o cargo.
A missão dele era clara: encontrar uma solução para a FURRN. Padre Sátiro recebeu carta branca do então prefeito Dix-huit Rosado para acabar com aquela agonia que a instituição vivia e foi se mexendo nos bastidores, unindo os segmentos da comunidade acadêmica e conquistando apoio político.
O reitor dedicou boa parte de sua agenda no primeiro semestre de 1986 a Brasília onde participou de uma série de reuniões e contou com o apoio do então ministro da administração Aluízio Alves. Ele discutiu o reconhecimento de cursos e ao mesmo tempo defendia a federalização da instituição.
Sátiro tentou contatos com o então ministro da educação Marco Maciel, que chegou a ser paraninfo das turmas concluintes da FURRN em 1986. Chegou-se a se discutir a possibilidade de a FURRN ser anexada a antiga ESAM, atual Ufersa, mas a ideia não avançou. A anexação pela UFRN também foi uma das alternativas discutidas na época.
Nem federalização, nem Esam e muito menos UFRN. Todas as hipóteses foram descartadas porque esbarravam no argumento da mentalidade da época de que uma universidade federal era suficiente para o Rio Grande do Norte e ela era a UFRN.
O destino da FURRN era ser UERN e o de Padre Sátiro era liderar o processo como reitor. Assim, a página da ideia da federalização de 1985 deu lugar à luta pela estadualização ao longo do primeiro semestre de1986. Em abril, Padre Sátiro chegou a admitir que os campi de Patu, Pau dos Ferros e Assú seriam fechados caso não aparecesse uma solução para a crise. Em maio até o fechamento da universidade chegou a ser avaliado.
A virada de chave aconteceu em junho.
Padre Sátiro com a ajuda dos técnicos, alunos e professores lotou 10 ônibus e foi bater a porta do então governador Radir Pereira após a histórica assembleia do Cine Pax do dia 8 de junho que decidiu que era hora de focar na estadualização.
Radir gostou da ideia, mas disse que ficaria pouco tempo no poder e que os candidatos que disputariam a eleição na quele ano precisariam concordar.
O processo foi rápido. Padre Sátiro conseguiu arrancar dos candidatos ao Governo do Rio Grande do Norte João Faustino, Aldo Fonseca Tinoco, Sebastião Carneiro e Geraldo Melo a garantia de que eles dariam continuidade ao processo de estadualização da FURRN. Esse compromisso foi fundamental.
Em setembro a Câmara Municipal de Mossoró já tinha autorizado e o então prefeito Dix-huit Rosado assinado a lei autorizando a estadualização. Em novembro daquele ano a Assembleia Legislativa já tinha aprovado a estadualização e a FURRN já tinha sido incorporada ao patrimônio do Governo do Rio Grande do Norte.
A estadualização foi oficializada em 7 de janeiro de 1987.
No dia 8 de janeiro, e após rodar 35 mil quilômetros no Passat para encontrar uma solução para a FURRN, Padre Sátiro cumpriu a promessa de que após a missão dele como reitor ser cumprida renunciaria. A missão era resolver o maior problema da universidade que agora era além de pública, finalmente gratuita e poderia se manter como estadual.
Padre Sátiro renunciou ao cargo voluntariamente dando lugar a Antonio Capistrano e voltou ao curso de direito de onde ajudou a futura UERN no processo de reconhecimento de seus cursos no Ministério da Educação.
A estadualização da UERN é o maior marco de um líder religioso que se mostrou um hábil político e um batalhador da educação.
Confira o depoimento completo de Padre Sátiro numa entrevista que ele concedeu ao editor desta página e a jornalista Aglair Abreu: