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Marielle e a agenda de lutas das(os) negras(os) no legislativo

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Mariele Franco era militante do movimento negro (Foto: Renan Olaz/Câmara Municipal do Rio de Janeiro)

Por Plúvia Oliveira*

No dia 14 de março de 2020 completaram-se 02 anos do assassinato brutal da jovem, mulher, LGBT e negra Marielle Franco, vereadora da cidade do Rio de Janeiro. Mesmo com dois ex policiais militares (Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz) presos e acusados de participação, o crime continua impune. Um dos acusados, Lessa, foi preso em sua casa no Condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca (RJ), mesmo local onde o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) reside. Fica o sentimento de impunidade e o questionamento sobre “Quem mandou matar marielle?”.

O assassinato foi um ataque às ideias e valores que a vereadora Marielle Franco representava, por ser moradora e defensora dos direitos das periferias, que em sua maioria é negra e está às margens da sociedade devido a ineficiência das políticas públicas, como educação, saúde, falta de oportunidade de emprego e renda, informalidade e terceirização, falta de serviços públicos e o modelo militarizado de policiamento.

Num processo histórico, em que o estado brasileiro só se reconheceu estruturalmente racista em 1995 após diversos processos de lutas das/os negras/os, que culminou na Marcha Zumbi dos palmares e em conquistas posteriores, como o reconhecimento do dia 20 de novembro (dia nacional da consciência negra), na lei 10.639/2003 que obriga as escolas a inserirem o estudo da história e cultura afro-brasileira nos currículos escolares e o plano nacional de igualdade racial. Conquistas como estas motivam as(os) negras(os) a continuarem em luta, como é o caso das mulheres negras, que nas estatísticas do desemprego representam 16,6% em relação percentual dos homens, que representam 8,3%, segundo o levantamento feito pelo economista Cosmo Donato, da LCA Consultores, com base na média dos últimos quatro trimestres da Pesquisa nacional por amostras de domicílios contínua do IBGE.

Em todos os territórios, negras(os) resistem através de diversas estratégias. Em Mossoró, observamos que as(os) jovens negras(os) e periféricas(os) vêm resistindo e construindo alternativas coletivas, como a poesia, teatro, mobilização comunitária, capoeira, ocupação dos espaços culturais e economia solidária. Por outro lado, os dados do genocídio da juventude negra são alarmantes, estando Mossoró entre as 100 cidades que mais exterminam a juventude negra.

Em todas essas iniciativas, diversas de resistência, ecoam várias vozes que representam a continuidade da luta de Marielle e tantos outros símbolos, como Dandara e Zumbi dos palmares. Vozes essas que muitas vezes não são representadas em espaços, como no legislativo local, que é o caso da Câmara de Vereadores(as) de Mossoró. É fundamental que fortaleça-se nomes com o mesmo perfil combativo assim como o de Marielle Franco, tendo em vista que não basta ser negra(o), é preciso saber também quem representa o projeto #SomosTodasMarielle, considerando este caso uma das maiores demonstrações do Estado genocida do povo preto, fascista e um grave atentado ao estado de direito.

Coletivos, movimentos negros, frentes de resistência e partidos políticos precisam fomentar a auto-organização das(os) negras(os), que estão nos diversos espaços de resistência e de lutas, seja por educação, saúde, transporte, emprego, renda ou segurança. Neste sentido, propomos esse processo formativo, crítico e reflexivo sobre “Qual a Mossoró que queremos para as pessoas negras e periféricas?”. É fundamental pensarmos sobre a narrativa das(os) negras(os) nos diversos aspectos da cidade, que se não houver intervenção anti-racista, seguirá a lógica dominante, que é branca e de elite.

É feminista, militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM)e do Partido dos Trabalhadores (PT), sócia do Grupo Mulheres em Ação no Nova Vida e Estudante de Gestão Ambiental – UERN, Comunicadora Popular, apresenta o programa Espaço Lilás, aos sábados, na FM 98.7.