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Minha casa, minha vida

Por Emanoel Barreto

http://coisasdejornal.blogspot.com.br/

Dedicado a Teinha Magalhães Barreto


Não sei quantos minutos tem um instante nem quantas segundos tem um momento.  Instantes e momentos são um tempo mágico, especial. Sei que no horário da vida o tempo não se mede na régua redonda do mostrador do relógio. A vida, efêmera no tempo, existe em si e permanece viva no tempo dos grandes momentos. 
Quem faz a casa é quem a habita. A casa vive nos corpos, nas pessoas, no seu relacionamento, nas suas coisas, instantes e segundos, momentos e minutos.

 A vida dos casais que se sabem casados eterniza seus momentos, escande seus instantes. A consciência dos grandes momentos torna a vida algo eterno para o casal que sabe ter instantes de casal, instantes azuis.

Mais que isso, a vida vivida nas casas e nos casais se estende na imensidão dos quilômetros e das milhas do existir casal. E o casal, quando se vive no instante íntimo do ser entre si, caminha à luz solar de um sol que construiu ao longo dos momentos e instantes, século imenso do seu amor. 
  
Com a luz dos nossos instantes, a você, Teinha.

Emanoel Barreto

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Domingo, dia de futebol: “Ave, Pelé”

Por Gustavo Azevedo

Como medir a genialidade de um jogador de futebol? Somente pelos seus gols e seus títulos ou pelos seus feitos fora de campo? E por que não os dois? Se somarmos tudo que Pelé fez dentro e fora das quatro linhas, chegaremos a mesma conclusão que o craque húngaro Puskas chegou: “O maior jogador de futebol do mundo foi Di Stéfano. Eu me recuso a classificar Pelé como jogador. Ele está a cima de tudo”. Vez em quando aparece um “entendido” de futebol para dizer que algum outro jogador foi melhor que Pelé. O Atleta do Século, eleito por votação pela revista francesa L’Equipe, em 1980, está muito além de “apenas” ser o maior craque que já passou  pelos campos de futebol. Ele ser confrontado com outras lendas da estirpe de Muhamad Ali, o nadador Mark Spitz (nove medalhas de ouro em uma mesma Olimpíada) e Jesse Owens (atleta negro que calou Hitler em Berlim, nas Olimpíadas de 1934) é a prova da transcendência, além-gramados, do Rei.

Seria muito fácil justificar essa genialidade com os 1.281 gols que marcou na carreira, em 1.375 jogos. Mas esse mineiro, nascido em Três Corações e criado em Bauru/SP, e que vestiu a camisa alvinegra do Santos e a alviverde do Cosmos, fez coisas extraordinárias em sua caminhada esportiva. Parar, momentaneamente, uma guerra no Congo Belga em 1969, para que a torcida local pudesse prestigia-lo. Um ano antes, em um jogo amistoso na Colômbia, o árbitro colombiano Guillermo Velasquez (conhecido como El Chato), deu cartão vermelho a Pelé e foi literalmente expulso de campo pelo clamor popular da torcida enfurecida que reconduziu o Rei ao jogo. O gol mágico que marcou no Maracanã, contra o Fluminense pelo torneio Rio-São Paulo de 1961, driblando seis jogadores, que garantiu a famosa placa comemorativa e eternizada pela expressão “Gol de Placa“, assim como, o milésimo gol marcado no Vasco da Gama, do excelente goleiro Andrada, em 69 e oferecer as crianças do Brasil.

Transcender os gramados para justificar ser o atleta que ele foi, se explica ainda mais em março de 1966. O diário londrino “The Observer” publica uma foto de Pelé com o Papa Paulo VI, tirada no encontro do Rei do futebol com o sumo pontífice na biblioteca do Vaticano. Acima da imagem, os dizeres: “Em Roma, o maior jogador do mundo, Pelé, e um fã”. Portanto, não adianta tentar comparar esse ou aquele jogador com Pelé, o que Maradona (que era um craque) fez de extraordinário para ganhar essa comparação, ou até mesmo, Messi? O que muitos tentam e nunca conseguirão é renovar essa genialidade, por não suportar a idéia de eternização de um atleta que foi gênio dentro e muito mais fora dos gramados. Ave Pelé!

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Sofrimento do povo

Maria José é uma dona de casa. Meia idade, pobre e dependente do poder público, principalmente em questões de saúde. Sofrida, ela precisa de um tratamento que a rede pública de Mossoró não oferece.

Para se tratar ela precisa de deslocar de madrugada para Natal onde com muito esforço consegue uma ficha.

Sim. A cidade que reclama porque atende pessoas dos municípios vizinhos também exporta doentes.

Maria José, acorda cedo e vai a Natal em busca de atendimento. O ônibus que a Prefeitura de Mossoró cede para transportar os pacientes se atrasa. Ela chega fora do horário previsto. Antes examinada ela tinha que passar por alguns procedimentos preparatórios.

O problema é que ela se atrasou e tudo terminou somente às 9h quando a médica já tinha ido embora. Sensível com a história de Maria José, a atendente a “encaixa” na parte da tarde. Aí surge outro problema. O motorista que traz os doentes de Mossoró para se tratarem em Natal só espera até às 13h. Quem chega depois desse horário corre o risco de dormir numa das calçadas da capital.

Resultado: o esforço de Maria José foi em vão. Ela vai ter que fazer tudo de novo na próxima semana.

A história é verdadeira. Aconteceu hoje no Hospital Onofre Lopes. O nome de Maria representa as “Marias” e os “Josés”  que sofrem todos os dias em busca de um atendimento digno tão raro num sistema de saúde sob a batuta de uma classe política que trata uma dor de barriga no luxuoso Sírio Libanês, em São Paulo.

A vida do povo é sofrida.