A duplicação do trecho potiguar da BR 304 é uma urgência que se arrasta por décadas ceifando vidas e atrasando a economia do Estado.
Enquanto a nossa classe política briga por picuinhas, os cearenses seguem acumulando vitórias. Ontem o governador Elmano de Freitas (PT) foi recebido pelo dos transportes Renan Filho (MDB) e anunciou que o trecho entre a divisa com o Rio Grande do Norte e Aracati será duplicado.
Enquanto isso, o minúsculo trecho da Reta Tabajara, que antecede o início da BR 304, tem uma obra que se arrasta há anos.
A vitória da classe política cearense reforça o clichê de que os políticos do Estado vizinho deixam as diferenças de lado e se unem quando a eleição termina. Aqui no Rio Grande do Norte gasta-se 500 para que o outro não ganhe 50.
A tragédia diária da BR 304 é um símbolo da vergonhosa classe política potiguar. Quem transita por esta rodovia sabe o que é ter por algumas horas a sensação de estar o tempo todo com uma arma apontada para sua cabeça.
Há alguns anos sinto um profundo incômodo quando acesso algumas páginas na Internet cujo assunto mais relevante são os eventos sociais envolvendo os políticos. Pior: as assessorias de imprensa dessa turma alimentam isso em doses cavalares enchendo nossas caixas de e-mail com um monte de nada.
Até quando nossa classe política vai querer converter em notícia almoços em casas de prefeitos onde nada foi decidido ou se é não interessa divulgar, participações em procissões, batizados de meninos, velórios e festas profanas. Casamentos também são recorrentes.
Importa mais mandar recados para aliados e adversários por meio de fotos sem legendas do que dar declarações sobre assunto relevantes.
Isso não é assunto de interesse público e por consequência não deve ser fruto de exploração jornalística. No máximo uma notinha em colunas sociais ou fotos no “face” e “insta”.
Nem no Twitter isso faz sentido.
O máximo de interesse jornalístico (e público) que nossa classe política produz são escândalos que ela insiste em abafar por meio de intimidação sobre jornalistas e ameaças de cortes de verbas publicitárias feitas aos patrões.
Outro ponto, este mais simplório, que nossos representantes apresentam de relevante são os conchavos políticos de vésperas de eleições, mas isso só tem interesse público de fato em ano eleitoral. Antes disso, ganha contornos de fofoca frívola.
Por detrás disso tudo, está um interesse velado em deixar o que importa em segundo plano.
Então vejamos:
Você saberia dizer qual a bandeira de luta do senador José Agripino (DEM)? Saberia informar o que sai de relevante para o Estado através do mandato do senador Garibaldi Alves Filho (MDB)? A gente sabe que nossa outra senadora, Fátima Bezerra (PT), tem como bandeira a educação, mas não vemos ela tratar desse assunto com a mesma relevância que fala de Lula, Golpe e Temer?
E o nosso governador? Você certamente sabe que ele está em busca de um vice, que terá o apoio de Geraldo Melo (PSDB) e dos tucanos. Mas saberia dizer o que Robinson Faria pensa para solucionar os problemas do Estado?
O Rio Grande do Norte insiste num modelo econômico firmado nos anos 1970 por Cortez Pereira, no auge da ditadura militar. Este foi tão bom governador que ao final do mandato foi cassado pelos militares e ficou sem direitos políticos por dez anos.
Ninguém inovou e após 40 anos é inevitável que este modelo não se torne ultrapassado.
Neste século só vi o Rio Grande do Norte ter perdas. Perdemos indústrias, a Petrobras está de partida, nossos portos estão sucateados, as estradas são do “tempo do ronca”, não conquistamos a refinariam nem o badalado Hub da TAM.
Tudo culpa de uma crônica falta de infraestrutura.
Vivemos de um turismo confinado à reta tabajara, esmolas do Governo Federal e emendinhas para prefeitos de pires na mão.
O que ganhamos? Uma escalada incontrolável de violência e uma sensação interminável de pessimismo.
O pior disso tudo é saber que ninguém consegue encarnar a esperança na eleição que se avizinha e nossa classe política subestima (com certa dose de razão) o senso crítico do povo com alianças que são verdadeiras distopias políticas.
Não é por acaso que ninguém de nossa bancada de deputados federais pega um tema de interesse para si e transforma em causa. Ficam mudos e saem calados com a certeza de no ano eleitoral contornar o problemas com as estratégias de sempre: formar um “chapão” com poucos concorrentes, montar um exército de prefeitos e fazer dobradinhas com caciques regionais travestidos de deputados estaduais.
Esse modelo gera um comodismo e uma bancada tão filhotista quanto inoperante.
Então vejamos:
Rogério Marinho (PSDB) passa mais tempo falando mal do PT do que propondo algo. Quando decidiu fazer alguma de destaque foi ser relator da reforma trabalhista que lhe rendeu uma imagem negativa junto ao grosso da sociedade. E olhe que ele teve a atuação mais relevante no último quadriênio.
Zenaide Maia (PHS) se limitou alinhar-se com esquerda no combate as reformas de Michel Temer. Não foi além, mas somente por fazer o mínimo se tornou um nome competitivo para o Senado.
Fábio Faria (PSD) é mais conhecido pelas celebridades que namorou no passado (casou com a filha de Sílvio Santos) e chegou a ficar meses sem pôr os pés no Rio Grande do Norte. Felipe Maia (DEM) não consegue ser mais do que o filho de José Agripino. Walter Alves (MDB) é o menino de Garibaldi. Este até tem potencial, mas nem chegou perto ao desempenho dos tempos de Assembleia Legislativa. Rafael Motta (PSB) vai no mesmo sentido dos jovens citados. Beto Rosado (PP) assumiu as pautas do pai, Betinho, em defesa do agronegócio da venda dos campos maduros de petróleo. Mas acabou aparecendo muito mais por assumir causas impopulares do presidente Temer.
Antônio Jácome (PODE) também faz uma atuação apagada.
Dos nossos oito deputados, cinco são filhos de políticos das antigas.
Uma é irmã de outro.
Só dois chegaram lá sem apadrinhamento de sobrenome, mas um, Jácome, já esboça formar um clã colocando um filho deputado estadual e um irmão vereador.
Nossa Assembleia Legislativa é uma terra de onde brotam escândalos. Nosso Tribunal de Justiça não fica atrás. Só hoje tivemos dois desembargadores condenados ao xilindró.
Nosso Ministério Público e o nosso Tribunal de Contas são lugares manchados por contradições.
Enquanto isso, nossa elite política segue lépida e fagueira tirando fotos nas procissões, almoços, batizados de meninos e prestando solidariedade em velórios. Produzir algo que traga desenvolvimento que é bom é lenda. Nos discursos a velha tática de prometer saúde, educação e segurança sem dizer como nem de onde virão os recursos.
Esse jogo interessa a todos os citados acima e a ausência de senso crítico em relação a esses fatos produz um noticiário que esconde a mediocridade de nossos políticos que sequer se preocupam em nos dar alguma satisfação.
Estamos na reta final da pré-campanha e o nosso noticiário segue escasso de propostas e potente nos conchavos. O problema está no primeiro aspecto e não no seguindo que é natural ter maior impacto nesse período.
Mas o problema maior está em você, leitor. És também culpado por achar que seu compromisso com a política é apenas ir a urna votar.
Não. Não é!
Você precisa cobrar e fiscalizar a atuação dos políticos. Se não tem tempo ao menos acompanhe o noticiário sem dar audiência ao que é irrelevante nem tenha preguiça de buscar informações sobre nomes novos.
Sua indolência política coloca Carlos Eduardo Alves (PDT) como alternativa ao Governo e deixa Garibaldi e Geraldo Melo liderando as pesquisas para o Senado. São os mesmos sobrenomes de sempre. Nada contra eles, mas se você deseja mudança precisa fazer sua parte.
A mudança na política acontece de fora para dentro e não no sentido inverso. É um processo histórico que exige paciência e sabedoria para lidar com os erros quando arrisca.
Mossoró é um exemplo disso. Apostou novo e não deu certo. Preferiu voltar para o velho quando poderia ter tentado outro novo.
Pelo andar da carruagem puxada pelo sofrido elefante se tivermos alguma mudança em 2019 será só de partido político, pelos políticos.