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Caso Vuco-vuco mostra que não basta ter razão, é preciso saber usá-la

Prefeito entrou em conflito com ambulantes (Foto: redes sociais/Allyson Bezerra)

Ninguém questiona a necessidade de remover os ambulantes que ocupam espaços irregulares em Mossoró. Inclusive, boa parte desse grupo sabe que está na ilegalidade e sonha com uma solução por parte do poder público.

Como Francisco José Junior e Rosalba Ciarlini, o prefeito Allyson Bezerra decidiu mexer em um vespeiro. Os antecessores colheram desgaste e impopularidade. No caso do primeiro, a briga com os ambulantes é o marco inicial de sua derrocada política.

Como Francisco José Junior e Rosalba, Allyson tem razão em remover os boxes irregulares do Vuco-vuco. É uma questão legal (que se sustenta em recomendações do Ministério Público) e moral (por respeitar os direitos dos comerciantes que estão legalizados).

Mas temos aí uma questão muito mais complexa cujo uso da razão precisa ser conciliado com empatia e bom senso.

A ocupação ilegal de espaços no Vuco-vuco, Coronel Gurgel e Praça do Mercado não é a doença. É um sintoma. Sintoma da decadência econômica de Mossoró cujo desemprego galopante foi intensificado com a pandemia e isso empurra pais e mães de família para a informalidade.

Mossoró precisa lidar com isso criando novos espaços para o comércio popular. É um assunto que não foi bem debatido na campanha embora o prefeito tenha prometido que faria diferente de seus antecessores.

Ter razão num tema não é tudo. Esse respaldo não pode abandonar a empatia com pais e mães de família desempregados que já estão sofrendo com o péssimo momento econômico provocado pela crise sanitária.

Esse quadro obriga o prefeito a levar em consideração a sobrevivência dessas pessoas. A remoção dos boxes tinha que vir antecedida de diálogo e construção de alternativas para essas pessoas para aí sim fazer as necessárias medidas que envolvem acessibilidade e justiça com os comerciantes legalizados.

O que foi feito na madrugada de ontem foi cruel com os ambulantes prejudicados, mas talvez não gere o desgaste monumental sofrido por Francisco José Junior e em menor escala por Rosalba.

Por quê?

Porque o prefeito agiu atendendo aos interesses dos comerciantes legalizados enquanto Rosalba e Francisco José Junior bateram de frente com os que ocupam a Coronel Gurgel que são organizados em associação e possuem um poder de mobilização bem maior.

Ainda assim o prefeito errou tanto quanto seus antecessores por não pensar em construir alternativas antes de tomar as medidas.