Já deixei bem clara minha posição crítica contra a emenda que a emenda da deputada federal Natália Bonavides (PT) para a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Por mais que entenda ser justa e apoie a causa da busca dos restos mortais dos desaparecidos políticos da ditadura militar, R$ 100 mil retirado de emendas do Rio Grande do Norte fazem muita falta para um Estado paupérrimo como o nosso por mais que seja para ajudar a encontrar um potiguar como Luiz Maranhão.
Nem muito menos quero relativizar as críticas à Natália Bonavides às quais me associo.
A intenção é provocar uma reflexão.
No início da semana que se encerra hoje a Fundação Palmares anunciou que vai se desfazer de um exemplar raro do livro “Dicionário do Folclore Brasileiro” de Câmara Cascudo, um escritor símbolo da cultura potiguar, considerado o maior folclorista do Brasil.
Os que gritaram contra Natália se calaram contra esse acinte contra nossa cultura. O nativismo não aflorou nessa ocasião.
Nem mesmo a referência grosseira do relatório da Fundação Palmares despertou a ira nas redes sociais:
“Quem consultar o clássico ‘Dicionário do Folclore Brasileiro’ terá em mãos um livro não só gramatical e ortograficamente desatualizado, mas com páginas soltas e exibindo um forte cheiro de mofo”.
O envio de uma emenda para outro Estado é uma falha grave por parte de uma parlamentar e merece ser objeto de crítica por mais que se tenha a justificativa de que seja para encontrar os restos mortais de um potiguar desaparecido.
Mas e o ataque a um dos nossos símbolos culturais? Ninguém se importou.
Diria que a escolha de Natália como alvo teve o fato político. Alguns dos que se irritaram com a emenda dela são os mesmos que se calaram quando o deputado federal General Girão (PSL) mandou emenda da saúde para São Paulo ou que fazem vista grossa para o fato do ministro Fábio Faria morar em São Paulo para onde ele próprio já mandou uma emenda de R$ 80.014,00 em 2015.
O nativismo é de ocasião. Talvez se Natália não fosse de esquerda a reação fosse mais dócil. O peso ideológico nesta questão é indisfarçável.