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Rogério fez entregas de caminhões de lixo no RN em cidades com número de habitantes insuficiente para o benefício

Enquanto esteve a frente do Ministério do Desenvolvimento Regional o pré-candidato ao Senado Rogério Marinho (PL) articulou a liberação de caminhões de lixo compactador para pelo menos seis municípios do Rio Grande do Norte com menos de 17 mil habitantes, o que é desaconselhado pelo Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE/RJ) por gerar prejuízos aos cofres públicos.

O levantamento foi feito pelo Blog do Barreto por meio de pesquisa sobre as entregas realizas no Rio Grande do Norte que estão documentadas em notícias. O número pode ser ainda maior.

Boa parte das entregas aconteceu em dezembro. Uma das cidades beneficiadas foi Marcelino Vieira, que tem 8.336 habitantes. Naquele mesmo mês Jardim do Seridó, 12.397 habitantes foi beneficiada. Assim como Lajes Pintadas (4.763), Cruzeta (7.983), Florânia (9.786) e São José do Seridó (4.665).

De acordo com o Estadão, o TCE/RJ classificou a medida como desaconselhável do ponto de vista financeiro.

“Especialistas em gestão de resíduos não recomendam a utilização desses equipamentos mais potentes em municípios com menos de 17 mil habitantes. Os caminhões são caros, demandam funcionários preparados para operá-los e têm alto custo de manutenção – reparos no compactador precisam ser feitos em oficinas especializadas. Um estudo de auditores do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro considera o uso de caminhões compactadores em cidades com menos de 17 mil habitantes “desaconselhado sob a ótica financeira”. A cidade que recebeu o caminhão compactador de Collor tem 5.315 habitantes. O adequado para essas cidades seria o uso de caminhões caçamba”, diz a reportagem.

De acordo com a investigação as compras de caminhões de lixo compactados subiram 500% no Governo de Jair Bolsonaro através da a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), subordinada ao Ministério do Desenvolvimento Regional que até março estava sob o comando de Rogério Marinho.

O sobrepreço estimado é de R$ 109 milhões.

Outro lado

Ao Portal Agora RN, Rogério Marinho classificou a mídia nacional como “desesperada para atacar Bolsonaro”.

“A grande imprensa está desesperada. O Estadão, a cada 15 dias, fabrica um novo escândalo. Veja a questão do tratoraço, que eu fui colocado no centro. Passamos um ano sendo acusados, o MDR entrou com representação no Ministério Público e na Polícia Federal, para recebermos, há 20 dias, um acórdão do Tribunal de Contas da União, mostrando que a ata de quase R$ 3 bilhões – das quais executamos R$ 1,3 bilhão -, resultou em R$ 250 milhões de economia”, disse. “Aparece agora o bolsolixo. O Estadão fica fabricando problemas, porque temos um presidente honesto, mas o preço do aço subiu quase 100%. Eles começam a fazer especulações sem levar em conta o preço do mercado. Não estou aqui fazendo defesa, porque nem li nada, mas se for o mesmo padrão (do tratoraço), com certeza, essa vai ser a dedução”, completou.

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Bolsolão do lixo envolve órgão subordinado ao Ministério de Rogério Marinho

O Estadão revelou neste final de semana o esquema apelidado de Bolsolão do lixo que tem como protagonista o ministro chefe da casa civil Ciro Nogueira e o presidente da Câmara dos Deputado Arthur Lira (PP) que teriam superfaturado a compra de caminhões de lixo via  Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) subordinada ao Ministério do Desenvolvimento Regional, cujo titular era até o final de março o pré-candidato ao Senado Rogério Marinho.

A reportagem cita que um esquema envolvendo o Grupo Mônaco Diesel Caminhões, Ônibus e Tratores Ltda.

O caso teria um sobrepreço na compra de caminhões de lixo que chega a R$ 109,3 milhões no acumulado.

A compra de caminhões de lixo aumentou em 500% entre 2019 e 2021. O Estadão analisou 1,2 documentos durante dois meses em um trabalho investigativo.

Especialistas consultados pela reportagem apontam que compactadores de lixo usados no esquema são ideais para cidades com população acima de 17 mil habitantes.

Leia a reportagem na íntegra:

BRASÍLIA – O investimento público federal com coleta de lixo, um serviço essencial para o bem-estar da população, virou foco de despesas milionárias crescentes e fora do padrão nos últimos anos. Nas mãos do Congresso e do governo, a compra e distribuição de caminhões de lixo para pequenas cidades saltaram de 85 para 488 veículos de 2019 para 2021. Avaliados com cuidado, esses gastos revelam transações difíceis de entender, como a da cidade do interior de Alagoas que tem menos lixo do que caminhões para recolhê-lo ou a diferença de R$ 114 mil no preço de veículos iguais, comprados no espaço de apenas um mês – sem falar da presença de empresas fantasmas no meio das operações.

Durante dois meses, a equipe do Estadão analisou cerca de 1,2 mil documentos referentes à aquisição desses veículos com verbas do orçamento federal, incluindo relatórios, planilhas e vídeos, num total de 7,7 gigabytes. A distribuição de caminhões compactadores de lixo é usada por senadores, deputados e prefeitos para ganhar a simpatia e o voto dos eleitores de cidadezinhas pobres, onde a chegada desse tipo de auxílio é visível e faz enorme diferença. Até agora, o governo já destinou R$ 381 milhões para essa finalidade. A reportagem identificou pagamentos inflados de R$ 109 milhões.

A diferença dos preços de compra de modelos idênticos, em alguns casos, chegou a 30%. Em outubro passado, por exemplo, o governo adquiriu um modelo de caminhão por R$ 391 mil. Menos de um mês depois, aceitou pagar R$ 505 mil pelo mesmo veículo. Há casos também em que o governo recebeu veículos menores do que o comprado sem reaver a diferença de preço. Um município de 8 mil habitantes ganhou três caminhões compactadores num período de um ano e três meses, enquanto cidades próximas não têm nenhum. Até um beneficiário do auxílio emergencial ganhou licitações para fornecer caminhões de lixo para o governo.

Do jeito que está montada, a compra dos caminhões pelo governo para atender sua base no Congresso não segue nenhuma política pública de saneamento básico e não garante todas as fases da coleta de lixo. Caminhões são destinados a pequenas cidades sem qualquer plano para construção de aterros sanitários, como determinado em lei. No Piauí, por exemplo, o lixo coletado é jogado em terrenos a céu aberto em 89% das cidades. Mesmo assim, a prioridade dos políticos do Estado foi a aquisição dos veículos.

‘Lixociata’

A chegada dos caminhões de lixo vira uma atração nesses lugarejos. Em Brasileira (PI), a prefeita Carmen Gean (Progressistas) entregou o mesmo caminhão duas vezes. Em Mairipotaba (GO), houve uma espécie de “lixociata” – uma carreata para aplaudir o caminhão de lixo. Até políticos tradicionais participam.

Em agosto, o senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL) divulgou foto ao lado do caminhão de lixo na cidade de Minador do Negrão (AL). Comprado com recursos de emenda parlamentar do senador, o caminhão é um dos maiores disponíveis no mercado, com 15 metros cúbicos. Para encher o veículo, que custou R$ 361,9 mil, a cidade leva dois dias.

Especialistas em gestão de resíduos não recomendam a utilização desses equipamentos mais potentes em municípios com menos de 17 mil habitantes. Os caminhões são caros, demandam funcionários preparados para operá-los e têm alto custo de manutenção – reparos no compactador precisam ser feitos em oficinas especializadas. Um estudo de auditores do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro considera o uso de caminhões compactadores em cidades com menos de 17 mil habitantes “desaconselhado sob a ótica financeira”. A cidade que recebeu o caminhão compactador de Collor tem 5.315 habitantes. O adequado para essas cidades seria o uso de caminhões caçamba.

Um é pouco, dois é bom…

Barra de São Miguel (AL), cidade governada por Benedito de Lira (Progressistas), pai do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas), ganhou três caminhões compactadores, do modelo grande, em 2020 (duas unidades) e 2021 (uma unidade) que ficam, na maior parte do tempo, parados. O município tem 8.434 mil habitantes.

Enquanto isso, a 80 km dali, a cidade de Marimbondo, com 13.193 moradores, não recebeu nenhum veículo apesar de insistentes pedidos da prefeita Leopoldina Amorim (PSD). “Já pedi a Fernando Collor, já pedi ao governador, já pedi ao Arthur Lira. Pedi a todo mundo. Até agora nenhum filho de Deus lembrou. Estou quase maluca, esperando que chegue esse caminhão”, disse a prefeita.

Porto Alegre do Tocantins, com 3.200 habitantes, recebeu num período de cinco meses dois caminhões. Seriam necessários quatro dias e meio para encher os dois veículos, considerando a quantidade de lixo produzida na cidade. O prefeito Rennan Cerqueira (PL) disse ao Estadão que pediu apenas um, mas recebeu dois. “Um (parlamentar) me ofereceu e o outro fui eu que pedi. O meu lixo aqui é muito”, disse, desligando o telefone quando perguntado a quem se referia.

Dimensionar corretamente a quantidade de lixo produzido por habitante é o principal parâmetro para calcular a necessidade do município e evitar sobrepreço ou superfaturamento na compra de caminhões, segundo o Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas. Ao não seguir esse parâmetro, o governo abre caminho para fraudes.

‘Sou Centrão’

A compra de caminhão compactador de lixo disparou em 2020, logo depois que o Centrão tomou conta do governo Jair Bolsonaro. Foi no mandato do atual presidente que órgãos como a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e principalmente a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) intensificaram a aquisição dos veículos.

Ao longo do governo, foram licitados 1.048 caminhões compactadores de lixo pelas empresas controladas por apadrinhados do Centrão. O número saiu de 85 em 2019 para 510 em 2020 – um aumento de 500%.

Procurada, a Sudeco disse que agiu conforme um “alinhamento de todo o Executivo”. A Funasa alegou que é o município quem define o tamanho do caminhão. E a Codevasf negou irregularidades. O Palácio do Planalto não respondeu aos questionamentos do jornal. Os políticos citados na reportagem não ligaram de volta.