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Com Moro na disputa pela presidência, bolsonaristas mostrarão mais uma vez que retórica do combate à corrupção era cavalo de tróia para autoritarismo

Por Daniel Menezes*

O ex-juiz e ex-ministro da justiça Sérgio Moro deverá se filiar ao Podemos para disputar a presidência da república em 2022. Em 2018, o hoje presidente Jair Bolsonaro foi eleito e uma de suas promessas fundamentais era lutar contra desvios éticos e enfrentar um pintado sistema apodrecido. A candidatura de ano que vem será mais um indicativo de que a suposta defesa do combate à corrupção era mero biombo para outras pautas.

Sim, já é fato que Moro saiu do governo Jair Bolsonaro após a Polícia Federal sofrer interferência direta do presidente, que estava preocupado em paralisar as investigações contra sua família e isto não comoveu os supostos críticos da corrupção. Além disso, Bolsonaro vem desmontando operações – inclusive a Lava Jato – e trocando delegados, superintendentes da receita etc que passem a investigar desvios em seu governo. O atraso da vacinação no Brasil com as consequentes mortes geradas e os rolos comprovados pela CPI da Covid no Senado na tentativa de adquirir a vacina indiana mais cara do que as demais e não aprovada pela Anvisa não criaram qualquer arranhão entre os que se dizem intransigentes críticos de corruptos. O presidente governa com os alcançados pela lava jato, distribuindo emendas por um orçamento secreto já sabidamente não transparente e atravessado por irregularidades, sem ser incomodado. Diz em plena luz do dia que não há corrupção em seu governo. Seus eleitores não ligam.

O próximo ano será mais um oportuno momento para caracterizarmos o modo como o lavajatismo e bolsonarismo combinam, mas que o combate à corrupção não era peça central dos dois movimentos. Seus militantes sustentam suas visões de mundo, isto sim, em uma agenda reacionária de enfraquecimento de pautas pró-minorias e pró-pobres, além de advogarem saídas que dizem respeito ao armamento da população e intervenção seletiva do Estado – o fim do pacto gerado pela constituição de 1988 e criação de uma ordem imposta de cima e sem justiça social.

A história brasileira é lotada de exemplos. Toda vez que se ergue uma cruzada anti-corrupção, o que se busca, na verdade, é cercear a abordagem, mesmo que tímida, do nosso verdadeiro problema fundador, a desigualdade, sustentáculo da (in)civilidade nacional.

PROGNÓSTICO

O juiz Sérgio Moro não terá votação expressiva em 2022. Jair Bolsonaro já esvaziou o dito cujo e representa a agenda reacionária cara aos militantes dos dois.

*É sociólogo e professor da UFRN.

Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o barreto269@hotmail.com e bruno.269@gmail.com.

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A democracia de Girão e a nova política com cheiro de mofo

General finalmente manda recado direto para intervencionistas ...
A democracia de Girão exclui o contraditório (Foto: Web/Autor não identificado)

“É democracia, não é patifaria”, foi com essa frase de efeito que o deputado federal General Girão (PSL) justificou ao Blog do Magnos (ver AQUI) a nomeação do professor Josué Moreira (PSL) como reitor pró-tempore do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN).

Ontem as críticas foram direcionadas a Josué pela perplexidade que causou o envolvimento do ex-candidato a prefeito de Mossoró de perfil moderado numa subversão da ordem democrática.

Mas não podemos deixar de lembrar que sem o General Girão não haveria a nomeação de um reitor sem votos para comandar o IFRN. Sem o líder do bolsonarismo no Rio Grande do Norte a votação não seria ignorada.

O deputado Girão tem uma visão bem peculiar da democracia. Manifestação só vale se for a que ele concorda. Posição política só se for a dele. Escola sem partido, mas o dos outros. Ideologia só se for a dele.

Girão é um saudosista do regime de 1964. Daí a sua nova política ter um forte cheiro de mofo.

Nos primeiros dias após o golpe militar centenas de políticos foram cassados. Aqui no Rio Grande do Norte o prefeito de Natal Djalma Maranhão foi tirado na marra do Palácio Felipe Camarão.

Qualquer motivo servia para cassar políticos adversários. Aluízio Alves, um entusiasta do golpe, foi cassado.

Como nos anos de chumbo ontem a sociedade potiguar assistiu um golpe ser dado no IFRN impedindo a posse do reitor eleito democraticamente José Arnóbio de Araújo Filho. A desculpa é que ele responde a um processo administrativo por causa de uma banquinha Lula Livre colocada por alunos num evento realizado pela Igreja Católica nas dependências do Campus de Natal.

Não me venham com a desculpa foi essa. A questão é que o reitor escolhido pela comunidade acadêmica não era o do agrado do bolsonarismo.

A questão é política! Os frágeis argumentos jurídicos são apenas uma cortina de fumaça.

Desde que assumiu a presidência Jair Bolsonaro, um notório defensor da Ditadura Militar, passou a não respeitar a ordem de votação dos reitores das universidades federais. No IF de Santa Catarina foi feito algo semelhante ao que aconteceu no Rio Grande do Norte, mas o escolhido recusou o convite e defendeu a nomeação do mais votado.

O que aconteceu nas terras de Poti não foi uma exceção provocada por algum entrave jurídico como alegam, mas a regra do bolsonarismo para eliminar a tradição democrática do nosso ensino superior.

A democracia de Girão é peculiar como a dos generais da ditadura que discursavam em favor da democracia enquanto tomavam atitudes autoritárias e estimulavam a tortura. A nova política do deputado tem o mofo do autoritarismo.