Categorias
Matéria

Em momento de superlotação, RN tem 300 novos casos de Covid e baixo índice de isolamento

Secretário adjunto de Saúde do RN, Petrônio Spinelli, falou sobre ocupação dos hospitais do Estado – Foto: Elisa Elsie

 

O Rio Grande do Norte tem 3.483 pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus. Os dados foram divulgados nesta terça-feira, 19, pelo secretário adjunto de Saúde, Petrônio Spinelli, em entrevista coletiva realizada em Natal. São 300 novos casos confirmados de Covid em relação ao boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (SESAP-RN) ontem, 18.

Mais de 150 mortes com confirmação da doença foram registradas e 52 óbitos estão em investigação.

O Estado atinge as tristes marcas em um momento de grande pressão por leitos de UTI para tratamento de pacientes com sintomas de Covid e de baixos índices de isolamento social.

“Nesse momento a nossa luta, realmente, é pra diminuir a superlotação dos hospitais”, afirmou o secretário adjunto de Saúde, Petrônio Spinelli. “A não ser o Seridó, todos os nossos leitos de UTI estão ocupados. Surpreendentemente, inclusive Pau dos Ferros”, acrescentou, lembrando a gravidade de um inimigo invisível e traiçoeiro.

Durante alguns dias, a cidade de Pau dos Ferros chegou a ter todos os leitos vagos, levantando, como afirmou o secretário, questionamentos sobre o porquê de não deslocar os respiradores do Hospital Cleodon Carlos de Andrade para outra região. Agora a realidade é outra. “Na verdade, nós vamos precisar é de mais respiradores em Pau dos Ferros, mas já chegaram seis respiradores lá e no momento nós estamos na transição para viabilizar que esses respiradores fechem uma UTI de dez leitos em Pau dos Ferros”, disse Petrônio Spinelli.

Com base em dados extraídos do sistema antes da coletiva de imprensa, o secretário informou que a taxa de ocupação dos leitos para tratamento de pacientes com sintomas do novo coronavírus na região do Seridó é de 61% e afirmou que, mesmo assim, a Sesap está expandindo o número de leitos.

Em Natal e Mossoró, onde a pressão tem sido maior desde o início da pandemia a situação ainda é preocupante. A taxa de ocupação em Mossoró era de 94% e na Região Metropolitana de Natal de 97% no momento da extração dos dados. “Esses números não representam de verdade vagas. Por quê? Porque nós teríamos uma quantidade de vagas muito pequenas, mais ou menos, em torno de três vagas somente e nós temos, só de prioridade 1, quatro pacientes. Então, fica muito claro que, nesse momento, nós encontramos 100% das nossas UTIs ocupadas. Pelo menos, na Região Metropolitana, no Alto Oeste e na Região do Oeste”, disse o secretário.

Com relação à fila de espera, 58 pacientes atendidos em pronto-socorro que esperam regulação para um hospital com leitos voltados aos sintomas de Covid. Antes do anúncio da taxa de ocupação, ele já havia informado que entre os que esperam pela transferência, quatro pacientes são classificados como ‘prioridade 1’ e dez como ‘prioridade 2’. 44 pacientes recebem classificação de prioridade 3 ou 4 que, mesmo sendo pacientes menos graves, precisam ser transferidos para aliviar a situação de UPAs e hospitais.

“Nós precisamos abrir, pelo menos, dez leitos hoje a nível de Estado, sem contar com o apoio que nós estamos dando para as prefeituras abrirem unidades, inclusive, se for o caso, abrir unidades assistenciais também. Não só ajudando a montagem de UPAs, mas os hospitais municipais”, afirmou o secretário.

Segundo ele, o Estado está avançado com relação às negociações com cidades para abrir leitos de estabilização nos próximos dias. “Estamos otimistas que isso vai acontecer. A expectativa é que a próxima semana a gente tenha, pelo menos em cada região desse Estado, cinco leitos de estabilização para que os pacientes possam aguardar a regulação sobre uma segurança maior, em tratamento adequado e quando necessário e com respiradores”, afirmou Spinelli.

Número de internamentos continua aumentando

395 pessoas internadas no momento, sendo 266 em leitos públicos e 129 em leitos privados, incluindo pacientes com suspeita ou confirmação do Covid-19.

De acordo com o secretário adjunto de Saúde, na fase atual existe ajuste para abertura de leitos possíveis de serem colocados em funcionamento em curto prazo. “Particularmente nos hospitais do Estado e no Hospital Municipal de Natal. Esses leitos, eles têm respiradores, estão faltando alguns ajustes, mas eles precisam desses pequenos ajustes para serem abertos”, afirmou.

Petrônio Spinelli afirmou que a segunda fase diz respeito a abertura de novos leitos que ainda não tem respiradores. “São leitos que vão depender ou da aquisição dos equipamentos ou da contratação, que é o caso do João Machado e de Macaíba, de uma empresa, que foi contratada já, que vai equipar esses hospitais. Então, você tem uma parte dos hospitais que estão sendo equipados por uma empresa e que vão funcionar em, no máximo, dez dias”, acrescentou.

A outra situação diz respeito a locais como a Liga Norte Riograndense de Combate ao Câncer, que está em processo de aquisição de equipamentos para que os leitos sejam abertos.

“Existe a possibilidade ainda, que o Estado está tentando, de alugar equipamentos, de contratar empresas com equipamentos”, disse Petrônio Spinelli.

Um problema exposto por ele para a abertura de leitos diz respeito à região Oeste. É a falta de profissionais especializados para atuar nesse tipo de assistência. “Por isso que não tem atalho. O isolamento social continua sendo a única maneira que nós temos de controlar o fluxo assistência e que está sendo muito difícil em função dessa ressaca e dias sem isolamento adequado”, enfatizou o secretário.

Ele pediu para que a ida das pessoas às ruas só ocorra se for imprescindível e com a adoção das medidas de proteção, como o uso de máscaras.

Casos suspeitos

Em todo o Rio Grande do Norte há 10.699 casos notificados como suspeitos de Covid-19 e 7.988 casos foram descartados, o que, para o secretário adjunto de Saúde, mostra o aumento da realização dos testes. 992 pessoas estão recuperadas do Covid-19.

Isolamento social

Dados do Inloco referentes a essa segunda-feira, 18, revelam que a taxa de isolamento social no Rio Grande do Norte foi de apenas 41,06%. Esse é o menor índice entre os estados do Nordeste e a décima pior taxa de isolamento entre todos os estados brasileiros.

RN tem menor taxa de pessoas isoladas do Nordeste (Imagem: Reprodução/Inloco)

 

Nota do blog: Segundo boletim epidemiológico da Sesap, o RN registrou 160 mortes com confirmação do Covid. Um dos doze óbitos informados no boletim desta terça-feira, 19, teria ocorrido em Mossoró, no sábado passado. No entanto, o blog observou que o perfil da vítima coincide com um perfil que já havia sido informado anteriormente e está buscando informações sobre o assunto junto à Sesap.

Categorias
Matéria

Representante da SEAP fala sobre situação de servidores e internos do sistema penitenciário

Secretário de Administração Penitenciária do RN, Pedro Florêncio, falou sobre objetivo de implantar atendimentos remotos – Foto: Elisa Elsie

O responsável pela Secretaria de Administração Penitenciária do Rio Grande do Norte (SEAP-RN), Pedro Florêncio, falou hoje, 19, sobre a situação do sistema prisional do Estado em meio à pandemia, durante coletiva de imprensa realizada em Natal.

Segundo ele, hoje o sistema prisional do Estado tem 14 servidores diagnosticados com Covid e um interno e, de acordo com o relatório médico desta terça-feira, o interno se encontra estável, consciente, orientado, não apresenta dispneia, apenas tosse seca e estão sendo tomados os cuidados com isolamento.

Pedro Florêncio informou que as outras pessoas que estavam presas com ele estão isoladas e passaram por teste com equipe médica da unidade e os resultados deram negativo.

Com relação aos servidores que testaram positivo para Covid, o responsável pela Seap afirmou que todos estão em casa e alguns em processo final de tratamento, aguardando novos exames para diagnosticar a recuperação e voltar ao trabalho.

Outros 74 servidores com suspeita do novo coronavírus estão afastados. De acordo com Pedro Florêncio, são servidores em estado gripal com algum sintoma do Covid ou servidores com algum familiar que foi diagnosticado com o novo coronavírus.

47 servidores do grupo de risco estão afastados. Aqueles que fazem parte da área administrativa estão realizando teletrabalho, no caso daqueles que fazem da área operacional, eles estão apenas afastados. Esses servidores afastados e os suspeitos estão sendo substituídos por outros servidores com pagamento da diária operacional.

Com relação às medidas adotadas dentro das unidades prisionais, Pedro Florêncio afirmou que diariamente é feita a lavagem das áreas comuns da cela, todas as vezes que um preso é transportado de um lugar para outro ele usa máscara e que o tempo do banho de sol dos presos foi prorrogado. Além disso, os colchões também estão sendo expostos ao sol.

Segundo ele, a situação no sistema prisional é preocupante como é preocupante em todo o País e o reflexo da pandemia no sistema é o mesmo da sociedade, onde estão os servidores. Ele afirma que hoje o único contato dos presos é com os servidores.

Pedro Florêncio disse que é impossível imaginar que o coronavírus não entraria no sistema prisional, uma vez que todos os dias há entrada de presos. Ele explicou que, conforme o protocolo de entrada do preso, ao entrar no sistema ele toma banho, corta o cabelo, recebe uniforme, faz o exame médico e passa pela equipe de saúde da unidade prisional.

A porta de entrada é da Central de Recebimento e Triagem em Parnamirim, onde uma equipe faz, diariamente, a avaliação e colhe material para exames de todos os presos que entram no sistema prisional. Após isso, presos direcionados para unidade prisional de Parnamirim, onde existe uma ala somente para quarentena dos presos novos que entram no sistema.

“Com isso, não se misturam os presos novos com os antigos”, disse Pedro Florêncio, afirmando que isso diminui a possibilidade de contágio dos presos antigos.

Visitas

Desde o mês de março as visitas estão suspensas. O representante da SEAP contou que fez contato com o Comitê de Especialistas do Rio Grande do Norte para que eles opinem sobre possibilidade de permitir visitas de advogados, naquelas unidades onde o parlatório é fechado e o advogado não tem contato direto com o preso. Em paralelo, a SEAP está implantando dois outros programas, o programa de teleatendimento virtual, que permite ao interno falar com o seu advogado remotamente, através do sistema de videoconferência, e o cadastro para a televisita, para permitir o contato do preso com os familiares.

Categorias
Matéria

Subnotificação de covid-19 pode chegar a 655% em relação aos casos confirmados, aponta estudo da UERN

Um estudo feito pelos professores da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) Gutemberg Dias, Carlos Daniel Silva e Souza, Marisa Rocha Bezerra e Filipe da Silva Peixoto apontou que a subnotificação dos casos confirmados de covid-19 pode ser 655,64% superior ao número de casos oficialmente registrados da doença. Esse dado leva em consideração as estimativas para assintomáticos.

Isso significa que para cada caso notificado existem 6,5 não registrados no Rio Grande do Norte.

O estudo foi publicado na Revista Pensar Geografia do curso de mestrado em geografia da UERN.

Levando em consideração o dia 12 de maio, quando o estudo foi concluído, estima-se que 12.595 pessoas foram infectadas no Rio Grande do Norte.

O estudo estima também que a subnotificação levando em consideração apenas pacientes sintomáticos gira em torno de 15,09% a 31,12%.

Em relação aos óbitos a taxa de subnotificação é de quase 100%, ou seja, para cada óbito confirmado existe um subnotificado no Rio Grande do Norte.

“A pesquisa tem o intuito de alertar a sociedade e as autoridades sanitárias em relação a subnotificação no âmbito do estado do Rio Grande do Norte. Veja que os números mostram que para cada 1 uma morte por Covid-19 temos uma subnotificada e para cada caso confirmado temos 6,5 casos não confirmados já contabilizado a perspectiva dos casos assintomáticos. É importante aumentar a testagem da população e não só quem já é suspeito”, frisa Gutemberg Dias, um dos autores do estudo.

Ele lembra que Natal e Mossoró são epicentros da doença no Estado e alerta para os risco que a capital do Oeste sofre por estar próxima ao Ceará, um dos estados mais afetados pela covid-19 no país. “Ressalto que a doença no Estado se espalha pelos municípios acompanhando os principais eixos rodoviários, dessa forma, barreiras sanitárias no entorno das cidades com maior incidência de casos e nas divisas de estados como o Ceará, que tem alta criticidade,  precisam ser avaliadas pelas autoridades sanitárias”, recomendou.

Gutemberg ainda comenta que o quadro seria pior sem os decretos de isolamento social assinados pela governadora Fátima Bezerra (PT) e prefeitos potiguares. “Houve uma diminuição significativa após o decreto estadual”, frisa.

Confira o estudo sobre a covid-19 no RN

Categorias
Matéria

Mossoró tem 29 óbitos por Covid-19 e dez mortes em investigação

Boletim epidemiológico mostra também casos registrados no RN (Imagem: Reprodução)

Dois óbitos com confirmação do novo coronavírus foram registrados em Mossoró, conforme o boletim epidemiológico divulgado ontem, 1º, pela Secretaria da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (SESAP-RN). O município tem 29 mortes com confirmação de Covid e dez casos estão em investigação.

Os dois óbitos são referentes a um homem de 46 anos de idade, sem comorbidade confirmada, que faleceu no dia 14 de maio e a uma mulher de 38 anos, com comorbidades, que foi a óbito no dia 16.

De acordo com o boletim epidemiológico da Sesap, Mossoró tem 557 casos confirmados de Covid-19 e 623 casos suspeitos. A taxa de incidência de casos confirmados na cidade é de 187,3 por cada grupo de 100 mil habitantes.

Segundo o boletim, 150 pessoas estão recuperadas em Mossoró.

Em todo o Estado, os dados de ontem indicavam que havia 3.183 casos confirmados, 9.739 casos suspeitos e 872 pessoas recuperadas. O número de óbitos registrados no Estado com confirmação da doença foi de 148.

Categorias
Matéria

SEAP confirma caso de Covid no sistema prisional do RN

Por segurança, Seap não divulgou unidade em que caso foi confirmado – Foto: Reprodução: Web – autor não identificado

A Secretaria de Administração Penitenciária do Rio Grande do Norte (SEAP-RN) confirmou, através de sua assessoria de comunicação, o caso de um preso com coronavírus no sistema prisional do Estado.

Segundo a assessoria, o preso está isolado e recebe acompanhamento diário da equipe de saúde da unidade. A assessoria afirma que, por motivo de segurança, a unidade prisional em que o preso se encontra não será revelada, mas os protocolos previstos para esses casos foram aplicados, com o isolamento dos internos que conviviam com ele.

“Foram aplicados o teste rápido e teste de sorologia que acusou o vírus. O preso está bem e isolado em uma cela. Os demais presos estão em observação diária pela equipe de saúde da unidade. Não há mais nenhum preso com sintomas de Covid-19 no sistema prisional”, afirmou a assessoria da Seap.

No dia 13 de março a SEAP anunciou a suspensão das visitas sociais, serviço de assistência religiosa e de capelania e o acesso de pessoas externas que promovem atividades educacionais e sociais nas 17 unidades prisionais do Rio Grande do Norte. De acordo com a assessoria de comunicação, a medida atendeu recomendação do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) e considerou a necessidade de propor ações preventivas objetivando o enfrentamento do novo coronavírus. Posteriormente, o sistema prisional suspendeu também os atendimentos de advogados. A suspensão das medidas foi prorrogada duas vezes e, até agora, a medida é válida até 30 de maio.

Categorias
Matéria

Número de mortes com confirmação de Covid no RN chega a 148

Secretário adjunto de Saúde, Petrônio Spinelli, alerta sobre taxa de isolamento em semana de busca por segunda parcela de auxílio (Imagem: Reprodução)

O Rio Grande do Norte registrou 148 mortes com confirmação do novo coronavírus e outros 59 óbitos estão em investigação. As informações foram divulgadas nesta segunda-feira, 18, pelo secretário adjunto de Saúde, Petrônio Spinelli, em coletiva de imprensa realizada em Natal.

Outro dado preocupante diz respeito ao índice de isolamento social no Estado. Em pleno domingo, dia em que o nível de isolamento costuma ser mais alto que na semana, o Estado teve, segundo divulgado pelo secretário, menos de 50% de pessoas isoladas.

A preocupação se torna ainda maior, considerando que esta semana tem início o pagamento da segunda parcela do auxílio emergencial, que costuma levar muitas pessoas às ruas e provocar aglomerações.

“É um isolamento social que nós precisamos debater, precisamos conversar novamente, particularmente essa semana, que nós vamos ter, novamente, necessidades de ir ao banco, pela questão do auxílio”, disse Spinelli.

A segunda questão destacada pelo secretário e que, segundo ele, mostra ou não o nível de colapso ou a proximidade de colapso, diz respeito às pessoas atendidas em prontos-socorros, que tiveram solicitação, junto à regulação, de deslocamento para assistência hospitalar especializada.

No momento da coletiva a fila de espera por leitos especializados contava com 54 pessoas. Dessas, duas pessoas estavam classificadas como ‘prioridade 1’, que precisam de UTI; dez pessoas que receberam classificação ‘prioridade 2’, que também precisam de leitos críticos; e 42 pessoas consideradas ‘prioridade 3’.

Os números de casos confirmados, descartados, suspeitos e de pacientes recuperados ainda não foi divulgado e nem constava no Portal Covid-19.

Taxa de ocupação

Com relação à ocupação dos leitos destinados aos pacientes com sintomas do novo coronavírus, o secretário adjunto de Saúde, Petrônio Spinelli, informou que o índice de ocupação por regiões.

A região Oeste é a que apresenta maior pressão por leitos, com uma taxa de ocupação de 97% dos leitos críticos. Na Região Metropolitana a pressão também é grande e 91% dos leitos especializados destinados a pacientes adultos estão ocupados.

Em Pau dos Ferros, não há internações e o no Seridó a taxa de ocupação dos leitos é de 61%.

Ao todo, no momento da observação dos dados apresentados durante a coletiva, 352 pessoas estavam internadas com suspeita ou confirmação do novo coronavírus, sendo 176 em leitos críticos e 176 em leitos clínicos.

Apelo por isolamento social

Antes de concluir a coletiva, Petrônio Spinelli falou novamente sobre o isolamento social. “Essa semana é uma semana de grande desafio. Os isolamentos sociais, como todos nós sabemos, estão em taxas insuficientes. No entanto, nós temos essa semana o grande desafio, mais uma vez, de pagamento bancário”, disse Petrônio Spinelli, acrescentando que o número de óbitos e internamentos atuais respondem ao quantitativo de pessoas nas ruas, de dez a 14 dias atrás”, disse.

O secretário também fez um apelo à toda a população. “Eu quero fazer um apelo para as prefeituras, para todos os órgãos, para os bancos, para a sociedade. Vamos evitar transformar essa semana em uma semana potencializadora de novas contaminações. Vamos garantir que quem saia de casa, e só de forma imprescindível, saia com máscara. Vamos organizar as filas. Vamos envolver os órgãos das estruturas públicas, particularmente, a parte da assistência social, a parte da saúde e a parte da segurança pública, para garantir que essa semana não seja uma semana que possa levar a gente a lamentar muito daqui a alguns dias”, pediu o secretário adjunto de Saúde

Categorias
Foro de Moscow

Foro de Moscow 93 – SERÁ QUE JÁ TEMOS A VACINA DO CORONAVÍRUS?

Categorias
Matéria

Barreira sanitária orienta condutores sobre o novo coronavírus

Vários órgãos participaram da ação realizada em trecho da BR-304 – Foto: Cedida

Cerca de 240 pessoas foram abordadas durante a barreira sanitária realizada no sábado passado, 16, na BR-304, trecho que fica na saída para Fortaleza. Em duas horas de ação foram abordados 123 veículos, segundo informou a gerente da II Unidade Regional de Saúde Pública do Rio Grande do Norte (II URSAP), Emiliana Cavalcanti. A ação teve caráter educativo sobre o novo coronavírus.

A barreira sanitária foi realizada pela III URSAP, em parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Cruz vermelha e Município de Mossoró, entre outros órgãos.

De acordo com a gerente da II URSAP, durante as abordagens foi verificado que poucas pessoas vinham de Fortaleza e que a maioria estava se deslocando a Mossoró para visitar familiares ou fazer compras na cidade. Além disso, muitas pessoas que entravam na cidade pela BR-304 eram de comunidades rurais localizadas no entorno de Mossoró.

A maioria das pessoas observadas usava máscara, mas Emiliana Cavalcanti conta que durante a ação a equipe se deparou com um veículo com agentes de segurança pública e todos estavam sem máscaras.

Segundo a gerente da Unidade Regional, a barreira não teve caráter impeditivo, apenas educativo e serve como base de informação para a realização dos trabalhos. Durante a ação também foi realizada a entrega de máscaras de tecido enviadas pelo Governo do Estado, através do programa RN + Protegido.

“A avaliação nossa dessas barreiras é que nenhuma ação isoladamente vai conter essa curva”, pontua Emiliana Cavalcanti, acrescentando que a soma de várias ações terá um resultado satisfatório e citando, como uma das ações importantes o isolamento social.

A ideia inicial, segundo ela, era realizar a barreira na divisa com o Ceará e com a Paraíba, mas a chuva impediu a ação na divisa do RN com a Paraíba.

Amanhã, 19,  representantes dos órgãos que participaram da ação se reúnem para avaliar a iniciativa, observar a viabilidade e discutir os locais e dias em que é mais interessante desenvolver a ação.

Durante a ação que teve caráter educativo, vários condutores foram abordados – Foto: Cedida

Areia Branca

A gerente da II Unidade Regional de Saúde Pública, Emiliana Cavalcanti, informa que na tarde desta segunda-feira, 18, um técnico da II URSAP e um médico do Centros de Referências Especializados em Saúde do Trabalhador (CEREST) estarão em Areia Branca, junto com uma equipe do Município, para visitar salinas onde foi detectada a presença de pessoas com confirmação do Covid.

Ela comenta que a ação é inclusive, para a segurança do trabalhador e lembra que muitos não residem na cidade.

A situação de Areia Branca desperta preocupação. O município litorâneo tem 73 casos confirmados e oito pessoas que residiam na cidade já perderam a vida com confirmação do Covid-19, , segundo dados do boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria da Saúde Pública do RN (SESAP-RN), divulgado ontem, 17.

Categorias
Artigo

União para garantir a vida

Manifesto: pela união nacional de amplas forças heterogêneas - MBrasil

Por Fátima Bezerra*

A etimologia do termo pandemia diz: todo o povo. É o que vivemos nessa crise que afeta a humanidade, que já matou centenas de milhares de pessoas e impactou, mesmo que temporariamente, a economia mundial. Crise de dimensão sanitária, econômica e social, que em nosso país se soma a uma crise política e institucional.

Infelizmente, o Brasil parece estar se tornando o novo epicentro da pandemia. Temos figurado entre os países com maior quantidade de casos da Covid 19, mesmo sendo um dos países com menor volume de testagem, o que indica que os números reais são muito superiores aos apresentados.

A saída de dois ministros da saúde, em plena pandemia, escancara a falta de um comando único por parte do Governo Federal e um programa consistente de combate à Covid que, em parceria com os estados e os municípios, se voltaria para a aquisição de respiradores e EPIs, mais testes, habilitação de leitos de UTI, entre outras ações necessárias para esse enfrentamento.

Enquanto Governo do Estado, temos nos empenhado em enfrentar essa situação de forma séria, científica, equilibrada e ordenada. Dialogando com os vários segmentos da sociedade, em integração com os demais Poderes, temos adotado as medidas de restrição que nos orienta a ciência. Ao mesmo tempo, batalhamos dia a dia para a ampliação de leitos. Mesmo em meio a incomensuráveis dificuldades de aquisição de insumos já conseguimos ampliar nossa rede em mais 225 leitos, sendo 139 de UTI e 86 clínicos.

Sabemos que o distanciamento social exige o sacrifício de todos e traz implicações difíceis, as quais temos buscado mitigar com políticas de assistência social e de apoio às empresas, mas ele é o caminho mais rápido e seguro para que possamos preservar a vida, recuperar a nossa economia e o convívio social e familiar. As consequências do não distanciamento, por sua vez, não podem ser remediadas.

Ficar em casa, nesse momento, é um dever cívico e de respeito pela vida. As medidas que tomamos desde o início foram decisivas para que não entrássemos em colapso, mas é fundamental que esses regramentos tenham o engajamento das pessoas. De nada adiantam os decretos ou regramentos se não tivermos um bom nível de adesão às medidas. Os baixos índices de distanciamento social que temos registrado têm sido objeto de preocupação e análise por parte do comitê de especialistas e do governo.

Atualmente, temos ações judiciais em trâmite aqui no estado contrárias e favoráveis ao lockdown (ou confinamento), que é a medida mais extrema de distanciamento. Neste caso é preciso esclarecer: este é um Governo que dialoga com todos os setores da sociedade, mas em se tratando de medidas restritivas ou de retomada das atividades quem nos dá a linha é o nosso comitê científico, que é uma instância de decisão onde se encontra também a Secretaria de Estado da Saúde Pública, a Sesap.

Sabemos que a baixa adesão ao distanciamento pode acarretar uma aceleração na propagação da doença e pressionar o sistema de saúde público e privado do Estado acima de sua capacidade. Portanto, faço aqui mais um alerta e um apelo: para a fiscalização e o cumprimento das medidas de isolamento é imperativa a participação das Prefeituras para que façam aquilo que está na competência dos municípios. Queremos contar com as lideranças comunitárias, com as igrejas, com os parlamentares, com a imprensa, com os artistas, com todos que possam ajudar a convencer a população daquilo que é o mais efetivo no controle da pandemia: o isolamento.

Precisamos de todos para enfrentar esse inimigo comum que nos ameaça. E então poderemos, juntos, tirar lições importantes da pandemia, acreditando firmemente que vamos superar a guerra contra o vírus e garantir aquilo nós dispomos de mais sagrado: a vida!

*É governadora do Rio Grande do Norte.

Categorias
Artigo

Um diálogo sobre pessimismo e otimismo na pós-pandemia: Será a humanidade essencialmente desumana?

Por Robério Paulino*

Depois da minha última Reflexões sobre a Pandemia, publicada aqui, na qual discuti as possibilidades de avanço e os perigos de retrocesso que vive a civilização nessa grave crise, diversos amigos de várias partes do país e mesmo do exterior me fizeram chegar seus comentários. E a maioria deles com uma crítica de que, apesar de eu ter apontado no texto tanto as possibilidades de avanço quanto de retrocesso social na saída dessa pandemia, de fato meu texto seria exageradamente otimista e subestimaria os retrocessos que vêm ocorrendo no Brasil e no mundo.

Muitos criticaram também o texto que citei de Zizek (2020), onde ele prevê uma humanidade melhor e mais solidária depois dessa crise, visão que para esses amigos seria demasiadamente pragmática, ingênua e otimista. Por isso resolvi dar seguimento a esse debate, usando nesse novo texto mesmo a primeira pessoa, o que não costumo fazer.

Não só pela reação a meu último artigo, mas pelo que observamos nas redes sociais, nos comentários de muitos analistas, constata-se que existe no mundo nas últimas décadas uma onda geral de ceticismo, de desesperança em uma alternativa societária melhor, e isso também é visível durante a comoção pela qual passa no momento a humanidade. Esse sentimento é perceptível mesmo nos círculos de esquerda, que em tese acreditam e lutam pela construção de uma sociedade superior. Evidentemente, esse pensamento é potencializado pela pandemia, que isola milhões em suas casas e leva a um clima de impotência. Têm aumentado muito os casos de depressão e doenças neurológicas nessa quarentena.

No Brasil, a pandemia se combina com uma crise política, com a decepção de grande parte da população com o governo Bolsonaro e a constatação que o país está sob um governo de direita irracional, messiânico, negacionista, que agrava a emergência sanitária com suas atitudes. Muitos estão decepcionados também com a falta de reação da maioria da população às reformas, aos ataques aos direitos sociais no último período. Nesse momento, questionam por que, apesar dos arroubos do presidente, que solapa os esforços coletivos de combate ao vírus, na contramão de todas as recomendações da ciência médica e da OMS, 1/3 ou mais da população segue apoiando o governo e porque demora tanto um impeachment.

Nas redes sociais, muitos afirmam que as pessoas que apoiam Bolsonaro não o fazem enganadas, na verdade seriam más, iguais ao seu líder, o que implicaria colocar nessa categoria dezenas de milhões de pessoas. Alguns só veem retrocesso no país e no mundo e um futuro imediato pior. Descreem de qualquer lado bom da alma humana. Outros destacam a paralisia dos trabalhadores, mesmo os organizados em sindicatos. Estariam certos esses amigos? Alguns começam mesmo a desacreditar do ser humano, dos povos, dos trabalhadores, do futuro da civilização. Esse texto pretende dialogar com esse sentimento geral e discutir se devemos estar pessimistas ou otimistas com as possíveis saídas dessa crise.

De fato, se observarmos apenas o fim do século passado e as duas primeiras décadas do século que corre, não temos muitos motivos para otimismo. As tentativas de construção de uma sociedade socialista no Século XX se burocratizaram e depois colapsaram, com os países que a tentaram retornando ao capitalismo, como na Rússia e na China. No último período, temos visto a volta de governos de direita ao comando de países altamente escolarizados, como Trump. Partidos de extrema direita, alguns diretamente fascistas, vêm tendo votações maiores, mesmo na Europa. A xenofobia e a intolerância voltam com força mesmo nesse continente altamente escolarizado.

No terreno econômico e social, o neoliberalismo, apesar da grave crise financeira que gerou em 2008, segue à frente de muitos governos, suprimindo milhões de empregos e cortando salários e direitos sociais. A desigualdade social e a concentração de renda voltaram a patamares de antes de 1929. A pobreza revelada nesses poucos meses de pandemia vem chocando a muitos. Apesar do empobrecimento das populações, os sistemas de proteção social e de saúde pública vinham sendo corroídos, mesmo em países centrais. No caso dos EUA, na verdade quase já não existem.

No aspecto ambiental, a ação humana é destrutiva para a natureza e para as demais espécies. O clima do planeta vem sendo alterado de forma talvez irreversível. Muitas espécies estão em extinção pela ação humana. Rios e mares estão cada vez mais poluídos com todo tipo de detritos. Florestas imensas são queimadas. A atmosfera se aquece e pode ter sua temperatura média elevada em até 1 grau Celsius até o final do presente século, conforme previsões do IPCC. Secas, inundações, desertificação de muitas áreas, fomes severas, poderão ser algumas das consequências.

O risco de novas guerras arrasadoras segue latente. Vários países continuam com arsenais nucleares que podem destruir instantaneamente todas as grandes cidades do mundo. Nestes dias de pandemia, passou despercebido de muitos a ameaça da Rússia de retaliar diretamente com mísseis nucleares um possível lançamento de foguetes norte-americanos próximo ao seu território, lembrando os tempos da Guerra Fria. O Oriente Médio e a Palestina são barris de pólvora. Como consequência das guerras recentes no mundo, milhões vivem em campos de refugiados, em condições sub-humanas.

Na verdade, a história do sapiens não é só de avanços, progresso e coisas belas. Infelizmente, a saga humana também foi construída sobre um rastro de guerras, massacres, mortes, sangue, opressão, desigualdade, sofrimento, dor. Foi isso que procurei mostrar em meu último texto, apontando que mesmo depois dessa pandemia, os riscos de retrocesso civilizatório, de retorno ao caos, à barbárie, seguem presentes, não podem ser descartados, especialmente se o setor mais consciente de nossa espécie não agir enquanto é tempo.

Seria o sapiens essencialmente mau?

Frente às atrocidades e perversidades que observamos, muitas pessoas tendem a buscar a explicação da violência, da desigualdade, das barbáries que observamos, na natureza humana, que seria essencialmente má. Para elas, o ser humano seria egoísta, possesivo, violento contra os semelhantes, o que explicaria a história de guerras, massacres, opressões. Essa visão encontra respaldo no campo da Filosofia. Para o filósofo Thomas Hobbes, que viveu na virada entre os séculos XVI e XVII, o ser humano é essencialmente mau. Essa concepção pode ser encontrada na sua obra O Leviatã (1979). Como o homem não é um ser do bem e não saberia viver em sociedade, é preciso então que uma autoridade superior imponha a ele as regras de convivência, justificando-se assim um Estado absolutista. No sentido oposto, o filósofo Jean-Jacques Rousseau, em Do contrato social (1973) considerava que o homem tem uma natureza essencialmente boa, mas que seria corrompida pelo processo civilizador, ou seja, pela sociedade. O homem nasce bom e livre e ao crescer e viver, por todo lado é violentado, se corrompendo então.

Talvez uma das melhores discussões sobre a natureza humana tenha sido feita pela filósofa política alemã de origem judaica Hannah Arendt, em seu livro Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal (1999). Depois de sequestrado por um comando israelense, o carrasco nazista Eichmann é levado a julgamento em Jerusalém. No entanto, durante o julgamento, em vez de um monstro assassino que todos esperavam, o que surge é um funcionário nazista medíocre, um arrivista completamente incapaz de refletir sobre as atrocidades que havia praticado ao mandar milhões de seres humanos para a morte nos campos de concentração, repetindo clichês típicos de um funcionário obediente apenas.

Não é na natureza humana, no entanto, que devemos buscar as explicações para os acontecimentos humanos, os processos sociais, ainda que não sejam secundárias as diferenças de caráter adquiridas pelos indivíduos em sua vida. A formação das mentalidades e as personalidades dos indivíduos devem ser explicadas antes de tudo pelo seu meio social, a sociedade, com seus valores culturais, e pela família, no quais nasceram e vivem. É difícil acreditar que uma criança nasça má, com um “pecado original”. Uma criança nasce uma página em branco, pura. É a educação que recebem na família, na escola e na sociedade que vão moldar o seu comportamento posterior. Uma sociedade desigual, brutalizada, inculta, egoísta, gerará indivíduos igualmente brutos, com valores negativos, com óbvias exceções. Já uma família e uma sociedade com valores humanos mais elevados, formará indivíduos melhores.

É a condição social a que são submetidos, que divide os seres humanos em classes e perpetua a exploração e a desigualdade, que vai levar os indivíduos a tomarem consciência de sua situação e começarem a lutar por uma sociedade melhor, mais justa, igualitária e pacífica. Ao contrário do que prega a ideologia capitalista atual, de que a é saída para uma vida melhor é individual e isso pode levar ao engrandecimento social, o que se vê no mundo neste momento é um empobrecimento geral das populações, uma precarização das relações de trabalho, com grande elevação da desigualdade e da pobreza, mesmo nos países centrais. Para ser vitoriosa, a luta só pode ser coletiva.

Também temos motivos para otimismo

O que procurei mostrar em meu último texto, no entanto, é que nem tudo é motivo para pessimismo, nem tudo está perdido, que existem muitos traços da realidade que nos levam a crer em um futuro melhor para a civilização, apesar dos imensos perigos que moram ao lado. Dei vários exemplos e aqui retomo alguns.

Há apenas 80 anos não existiam sistemas de proteção social universais, mesmo na Europa; hoje eles existem, mesmo precarizados. O neoliberalismo, apesar de sua fúria depois de 1979/80, não conseguiu destruí-los em todos os lugares; alguns seguiram mesmo sendo ampliados de lá para cá. Nessa pandemia, eles demonstram toda sua essencialidade e muito provavelmente terão que ser reforçados, queiram os governos capitalistas ou não. Muito em breve os trabalhadores da saúde, por exemplo, sairão dos hospitais para a ruas, com uma imensa autoridade. Já veremos.

Hospitais públicos, como temos no Brasil atualmente, ainda que precários, sequer existiam há 100 anos. Médicos eram raros. Hoje, em todo mundo, poucas pessoas não estão vacinadas contra as doenças mais sérias. Até os séculos XVIII e mesmo XIX, mesmo a nobreza sequer escovava os dentes, nem sabia o que era um sabonete; hoje poucos seres humanos não têm acesso a um creme dental barato. Em 1800, um nobre ou um capitalista rico não tinham os remédios que hoje mesmo as populações mais pobres têm acesso, como os antibióticos. Por isso, apontei no meu último texto como se elevou muito a expectativa de vida em todo mundo nas últimas décadas.

Basta olhar a nossa volta, em nossas casas, nas ruas, e observar a quantidade de bens e serviços de que dispomos, mesmo nas residências mais pobres: geladeiras, fogões, televisores, móveis, energia elétrica, lâmpadas, água encanada, talheres de aço, copos, móveis, roupas industrializadas, tênis etc. A transformação pela qual passou a China em apenas 70 anos, saindo de um país eminentemente rural para um país industrial, escolarizado e moderno, dá a dimensão das transformações vividas nessas últimas décadas. Bastaria também comparar o Brasil rural e analfabeto de 1950 com o país de hoje, para entendermos do que falo.

Há apenas 70 anos, mais de 90% dos seres humanos eram praticamente analfabetos; hoje, felizmente, a imensa maioria das crianças, mesmo nos continentes mais pobres, como na África, estão na escola. Há 100 anos, as mulheres não votavam; hoje votam. Os analfabetos idem. No Brasil, até 1988 não existia aposentadoria rural; hoje milhões a recebem. Eu poderia seguir dando exemplos para mostrar que, apesar de tudo, de todas as guerras, atrocidades, desigualdade, a humanidade hoje está muito maior e melhor material e culturalmente do que em épocas anteriores. O prejuízo ficou com animais e plantas, que viram seu número e suas áreas vitais drasticamente suprimidas pelo sapiens.

Esses avanços não se deram por obra do capitalismo, com seu ímpeto avassalador, mas apesar dele. Ocorreram porque, apesar de tudo de ruim que vemos, as populações, os povos, as massas trabalhadoras exigem, lutam, conquistam. E porque a ciência e o conhecimento humano progridem cada vez mais rapidamente e permitem rápidos avanços na tecnologia, na produtividade, na medicina, na educação etc. Mas é inegável que, pelo medo das revoluções sociais, para não desaparecer do mundo enquanto sistema social, o capitalismo demonstrou-se de uma adaptabilidade imensa, de grande plasticidade.

No terreno da política, o mundo de até 400 anos atrás era um mundo de poderes absolutistas, um mundo de opressão, sem qualquer participação das massas populares. Foram necessárias muitas revoluções, mortes, muito sangue, para trazer ao mundo a limitada democracia burguesa representativa que temos hoje. Ela é uma conquista que hoje temos que defender contra os fascistas, que pregam regresso a ditaduras.

Os retrocessos que hoje observamos, seja no campo dos direitos sociais e civis ou da democracia, nos devem deixar alertas. Mas para avaliar se a humanidade tem avançado ou regredido, devemos ampliar nossos horizontes, olhar em perspectiva sobre vários séculos. E se assim o fizermos, a conclusão evidente é que a humanidade – apesar de tudo de negativo que citamos, guerras, massacres, violência, desigualdades, pobreza – está melhor, muito maior, mais longeva, mais rica, senhora do planeta sobre os demais animais e plantas.

O que tentei apontar no meu último artigo é que temos tanto motivo para temer um retrocesso sim, como para esperar e lutar por uma saída positiva após essa pandemia. Apesar de tudo de ruim que constatamos, a humanidade não tem vocação para suicida, soube achar o caminho até aqui, através de milhares de anos. Cientistas trabalham febrilmente para conseguir uma vacina ou um coquetel de remédios contra o vírus e em breve o conseguirão. Ademais, a maioria dos infectados desenvolve anticorpos contra a doença, pelo aprendizado de milhares de anos de nosso sistema imunológico.

Nesse momento, grande parte da humanidade está paralisada em casa, acuada por um inimigo perigoso e invisível. Mas, se não todos, pelo menos milhões de pessoas estão refletindo sobre as causas e lições desse cataclismo. Os jovens, as novas gerações, que terão o futuro em suas mãos, estão aprendendo, refletindo, sobre o atual curso equivocado das sociedades, e poderão dar um futuro diferente à civilização. Um mundo melhor, mais solidário, mais igualitário e de paz é possível.

Além disso, é só uma questão de tempo a volta de novas lutas sociais. A paralisia temporária que observamos no Brasil não será para sempre. O retrocesso que vivemos no país no último período e nas últimas eleições, que levou um fascista ao governo, poderá ser revertido. O desgaste, as divisões e o afastamento de Bolsonaro de vários de seus aliados de ontem, com menos de 1 ano e meio de governo, indica a dura dialética dos processos, de que nada dura muito em nossa época, tudo é passageiro, até as derrotas.

Miremo-nos no belíssimo exemplo recente do Chile, de uma explosão social que levou milhões às ruas no país onde o capital mais precocemente aplicou um duro plano neoliberal. Em 2019, a juventude e a população daquele país nos deram uma emocionante lição, de que avançar através da luta social, coletiva, nas ruas, é plenamente possível. Depende de cada um de nós. Depende de você que leu esse texto até aqui de fazer a coisa certa.

REFERÊNCIAS

 

ARENDT, Hannah, Eichmann em Jerusalém, Um relato sobre a banalidade do mal. Tradução José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural (Coleção Os Pensadores), 1979.

ROUSSEAU, J. J. Do contrato social. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Coleção Os Pensadores)

ZIZEK, Slavoj. Zizek: O nascimento de um novo comunismo. Entrevista ao jornal La Repubblica. Traduzido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Publicado no portal outraspalavras.net.  Disponível em: https://outraspalavras.net/outrasmidias/zizek-o-nascimento-de-um-novo-comunismo/. Acesso em: 08 de maio de 2020.   

*É professor da UFRN, no Departamento de Políticas Públicas, Natal.