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Bolsonaro continua sendo menosprezado

Jair Bolsonaro segue subestimado (Foto: Adriano Machado/REUTERS)

Por Alberto Carlos Almeida*

Bolsonaro em 2018 e Trump em 2016 foram menosprezados pela maioria das pessoas que têm valores universais e que compartilham os ideias de justiça e cidadania. Ambos chegaram à presidência falando barbaridades: frases racistas, machistas e homofóbicas, além de defenderem tratar de forma agressiva seus opositores. A simbologia que gravitava em torno dos dois levou a grande maioria dos analistas, justamente por terem valores muito diferentes, a considerar que não venceriam. O preconceito em relação a Bolsonaro e Trump, ao que eles representavam, contaminou a análise acerca de suas chances de vitória. Algo semelhante também aconteceu no plebiscito do Brexit.

Hoje, no Brasil, o menosprezo à capacidade de Bolsonaro representar a maioria dos brasileiros continua. Muitos afirmam que ele venceu por causa do antipetismo. Quem faz isso desconsidera os méritos de Bolsonaro e prevê que, no caso de um segundo turno em 2022 com um candidato do PT, ele será reeleito. Se apenas o antipetismo tivesse o condão de eleger Bolsonaro as coisas estariam resolvidas. Bastaria que um opositor não petista do Presidente passasse a atuar desde já atacando sem cessar o PT que ele começaria a retirar votos que hoje são de Bolsonaro. Todos sabem que muitos já tentaram este caminho sem sucesso.

É esse menosprezo que faz com que as pessoas não entendam porque na recente pesquisa do Datafolha apenas 8% dos brasileiros consideram Bolsonaro o principal culpado pelas mortes por Covid. Ele sabe representar a mentalidade fatalista do brasileiro. A grande maioria de nossa população acha que Deus controla parte do futuro, por outro lado, é pequena a proporção de quem acha que não há destino algum nas mãos de Deus. Vemos a predominância desta mentalidade toda vez que alguém comenta a morte de um amigo ou conhecido que já havia escapado de uma situação perigosa: “morreu porque tinha chegado a hora dele”.

Quando o Presidente afirmou que todos iriam morrer mesmo, ele nada mais fez do que representar a mentalidade fatalista do Brasil, ele representou o povo. Nós, pessoas com superior completo e razoavelmente céticas quanto ao destino nas mãos de Deus, achamos que a ação individual humana pode deter a escalada de mortes causadas por um vírus. Porém, vale registar o raciocínio de alguém que tem a visão oposta à nossa, ela pensa mais ou menos assim: “doenças e vírus irão surgir de tempos em tempos, e muitas pessoas acabam morrendo por causa disso. Se elas morrem, é porque chegou a hora ou porque não se cuidaram, ou simplesmente deram azar”. Ainda poderia ser adicionado nesta forma de pensar o vírus como punição divina pelo desregramento social.

Bolsonaro empolgou e foi eleito em 2018 não apenas por causa de um fator negativo, o antipetismo, mas certamente por conta de elementos positivos que o tornam próximo do povo. Bolsonaro conhece intuitivamente o seu país, e o representa – ao menos uma fatia considerável dele – quando age e fala da maneira que já conhecemos. Tudo isso continua nos escandalizando, porém, seria adequado que não mais alimentasse nosso menosprezo em relação a sua força eleitoral. Foi porque deixou de menosprezar Trump que o Partido Democrata o derrotou em 2020.

*É cientista político e autor de livros como “A Cabeça do Brasileiro” e “A Cabeça do Eleitor”.

Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.

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Confira as avaliações de Rosalba, Fátima e Bolsonaro na nova pesquisa Sensatus/Super TV

A nova pesquisa Sensatus/Super TV também perguntou a respeito da avaliação de governo nas três esferas de poder. Confira os números:

 

Rosalba Ciarlini:

 

Fátima Bezerra:

 

Jair Bolsonaro:

O Instituto Sensatus ouviu 781 pessoas nos dias 19, 20 e 21 de outubro. A margem de erro é de 3,5% para mais ou para menos com intervalo de confiança de 95%. A sondagem está registrada na Justiça Eleitoral com o número    RN-06076/2020.

 

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O Brasil começa a colocar Bolsonaro de joelhos?

Manifestante participa de protesto 'Stop Bolsonaro' em Lisboa, no último domingo.
Manifestante participa de protesto ‘Stop Bolsonaro’ em Lisboa, no último domingo (MIGUEL A. LOPES / EFE)

Por Juan Arias

Às vezes, a luz chega antes do amanhecer. Com Bolsonaro o Brasil começou a entrar no túnel escuro das ameaças à democracia. De repente, quase em um passe de mágica, o presidente que era como um novo ditador, esmurrando a cada instante os valores da democracia, zombando dela, parece ter se convertido em um pacífico Francisco de Assis.

Cálculo? Medo? Cansado de ser encurralado dentro e fora do país? Não importa. A verdade é que os presságios que se adensavam sobre a morte da democracia parecem ter se dissipado por um momento. Bolsonaro, pela primeira vez, fala de diálogo, de reconciliação e defende, assustem-se, a democracia.

Ainda não sabemos se essa aparente conversão de Bolsonaro será apenas um parêntese para recuperar forças e voltar à carga com suas armas de morte. Uma coisa é certa. Bolsonaro, neste momento, se viu de repente posto duplamente de joelhos. Pelos militares que parecem ter conseguido refrear seus ímpetos golpistas ameaçando sair do Governo e deixá-lo sozinho, e pela importante pesquisa do Datafolha, segundo a qual 75% dos brasileiros apostam hoje na democracia, enquanto esmagadores 91% consideram a política das fake news, tão queridas, usadas e abusadas pelas hostes de Bolsonaro, como contrárias e ofensivas à democracia.

Revelam também o desejo de derrotar o autoritarismo do presidente os diferentes e importantes movimentos a favor da democracia que, na linha das Diretas Já, estão aparecendo entre pessoas de todas as categorias culturais e sociais. E a isso se une ainda o medo de Bolsonaro dos fantasmas que assombram e ameaçam toda a sua família, desde o assassinato de Marielle até a recente prisão de Queiroz, aquele que guarda tantos segredos que devem estar tirando o seu sono.

Ao que parece, Bolsonaro teria confidenciado recentemente a alguns amigos que estava começando a se cansar de tantas brigas. Não sabemos se se trata de cansaço ou de medo. Dá na mesma. Não acredito realmente em uma conversão de um presidente incapaz de arrependimentos, pois seus delírios de autoritarismo e suas nostalgias de velhas ditaduras e práticas abomináveis de tortura ainda estão vivos nele. O importante é que parece que os astros estão se unindo para deter o braço suicida de suas loucuras de rupturas democráticas e que está pedindo diálogo até mesmo a seu inimigo mortal, o Supremo Tribunal Federal.

Os movimentos de resistência à barbárie e a união de todas as forças democráticas contra obscurantismos políticos, culturais e sociais foram muitas vezes vitoriosos na conturbada história da humanidade. E com todos os horrores e ameaças de hoje à democracia, o mundo está melhor do que ontem. É mentira o dito de que “os tempos passados eram melhores”. Pelo contrário, sempre foram piores do que hoje, embora nos custe admitir isso. Se não, digam o que eram os direitos das mulheres apenas 100 anos atrás. O que era a defesa dos direitos humanos, as guerras que assolavam a Europa, a miséria da maior parte do mundo, a pobreza da medicina e as mortes por fome e desnutrição.

Se o mundo de hoje ainda nos horroriza, é porque perdemos a memória do que foi a história. Isso não justifica a pobreza, a violência nem as violações dos direitos humanos ainda vivos em tantos lugares do mundo. Mas, na sua totalidade, o mundo é hoje, como nos lembram cientistas e sociólogos, mil vezes mais habitável do que no passado.

É verdade que a humanidade sempre caminhou aos tropeções entre luzes e trevas, mas nunca houve uma consciência maior do que hoje em favor das liberdades e dos direitos humanos. Não estamos no céu, mas também não estamos no inferno que um dia foi a Humanidade.

Tomara que o novo pesadelo que vive o Brasil, de ser governado por um presidente com nostalgia de um passado de horrores que queremos esquecer, acabe logo, e que este país possa retomar o caminho de paz que havia conquistado e que era aplaudido pelos países mais avançados. Tomara que os jovens brasileiros que não conheceram a barbárie das ditaduras, que no Brasil são milhões e que hoje apostam na democracia, sejam o novo fermento de esperança contra o obscurantismo em que o país tinha começado a entrar.

Demasiado otimista? Talvez, mas minha idade me permite sonhar para que meus netos possam desfrutar do Brasil que merecem e que ninguém tem o direito de lhes roubar. Deixem-me sonhar uma vez com as estrelas. Vivi quando criança uma terrível guerra civil e depois uma cruel ditadura de 40 anos. Deixem-me sonhar para as crianças e jovens brasileiros o que a vida me negou.

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