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Cubano que escolheu ficar em Mossoró relata angústia com futuro do Mais Médicos

Desde que o presidente eleito Jair Bolsonaro declarou que iria mudar as regras do Mais Médicos e o Governo cubano se adiantou e chamou os mais de 8 mil profissionais que atuam no país retomou a força do debate sobre a qualidade (duvidosa) do contrato entre Brasil e Cuba onde 70% dos R$ 10 mil pagos ficam a administração autoritária da ilha caribenha.

Mas enquanto milhares de médicos voltam para casa pelo menos três deles decidiram ficar trocando as belezas do Caribe pelo calorão de Mossoró. Do trio, um é o Dr. Yoanis Infante Rodríguez. Em conversa com o Blog do Barreto ele lamentou que a permanência dos médicos cubanos seja ignorada. “Hoje os jornais em geral só falam dos médicos cubanos que estão indo embora. Mas não se fala dos médicos cubanos que estão ficando aqui no Brasil”, declarou.

Ele segue atendendo os pacientes na Unidade Básica de Saúde (UBS) Raimundo Renê Carlos de Castro no Bairro Boa Vista.

Além dele, outros dois profissionais (Zuzel Ramos Rodríguez e Angel Alfredo Leyva Rodríguez) também escolheram ficar na cidade.

Eram 14 cubanos e do total 11 decidiram voltar.

Dr. Yoanis formou família em Mossoró e está com o contrato renovado com o Mais Médicos até 2020. Por esta condição ele está liberado pelo Ministério da Saúde de Cuba, mas demonstra preocupação com o futuro do projeto. “Somos casados com residência permanente e com contrato renovado até 2020, com famílias formadas. Ninguém se pronuncia com respeito a nós médicos cubanos que vamos ficar e que fomos liberados pelo Ministério da Saúde de Cuba?”, pergunta.

Ele relata um sentimento de angustia com a falta de informações a respeito da situação dos médicos cubanos que escolheram ficar no país. “Agora perguntamos qual é a resposta do Ministério da Saúde do Brasil. A gente vai continuar trabalhando nos postos de saúde onde estamos fazendo um trabalho com a população há mais de 4 anos, um trabalho aceito pela população?”, questiona.

São mais de 1.400 médicos cubanos casados no Brasil que decidiram ficar. Isso representa 17 % do total dos profissionais com residência permanente. “Cadê os direitos de igualdade? Isso é o que estamos esperando uma resposta por parte do Ministério da Saúde se a gente vai continuar trabalhando para poder sustentar a família formada no Brasil”, frisa.

Sobre o exame revalida, Yoanis disse que ele e os colegas que ficaram estão dispostos a fazer o teste, mas há outro ponto que gera mais angustia: “O problema é que só tem o exame em outubro e até lá como vamos nos manter no Brasil?”, questiona mais uma vez.

Por enquanto os médicos cubanos que ficaram estão como ativos no sistema do Ministério da Saúde.

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Matéria

RN ficará com 67 cidades desassistidas com saída de médicos cubanos

Wagner Guerra

Agora RN

A saída de Cuba do programa Mais Médicos do Brasil, anunciada nesta quarta-feira pelo governo do país caribenho, deixará 67 municípios do Rio Grande do Norte desassistidos, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap).

O Rio Grande do Norte tem, atualmente, 142 médicos cubanos distribuídos em 101 dos 167 municípios. Segundo a coordenadora da Comissão do Mais Médicos no Estado, Ivana Maria Queiroz, a saída dos profissionais caribenhos elevará de forma significativa o déficit de médicos existente.

As cidades mais afastadas da capital, Natal, devem sofrer as maiores consequências. Ivana Queiroz assinala que o Estado tem dificuldade de contratar médicos, sobretudo para atuar em localidades distantes.

Os municípios de maior porte também enfrentam problemas para fixar esses profissionais da saúde, já que a maioria opta em diluir a carga horária em regime de plantões nos serviços de urgência e emergência ou que não exijam o cumprimento de 40 horas semanais.

“Com a saída dos médicos cubanos, a Sesap vai se articular com o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do RN para discutir que estratégias serão criadas para cobrir esses vazios, justamente agora em que o Estado começa a entrar no período de mudanças climáticas, colocando os municípios potiguares em risco sanitário, diante do surgimento de doenças sazonais como dengue, gripe e outras que fragilizam a saúde das pessoas”, afirma a coordenadora potiguar do Mais Médicos.

Segundo a técnica da Atenção Básica e também membro da Comissão do Mais Médicos no RN Uiacy Nascimento de Alencar, os médicos intercambistas cooperados (dos quais 142 são cubanos) que atuam na atenção básica exercem a medicina de Saúde da Família e da Comunidade, desenvolvendo processos de trabalho nas áreas de promoção da saúde e prevenção de doenças e agravos sensíveis à atenção básica, bem como cuidados em saúde mental e reabilitação com apoio dos Núcleos de Apoio ao Saúde da Família.

“Eles procuram atuar no manejo das doenças e condições crônicas, em práticas que valorizam mudanças de estilos de vida e outras situações que demandam a produção de vínculos e apoio a autonomia dos usuários do SUS para práticas orientados de autocuidado”, observou.

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DESISTÊNCIA

O governo de Cuba anunciou, na manhã desta quarta-feira, que deixará de participar do programa Mais Médicos. A decisão vem após o presidente eleito, Jair Bolsonaro, afirmar que pretende modificar os termos de colaboração com o país caribenho.

Em vigor há cinco anos, o programa – criado na gestão da então presidente Dilma Rousseff – traz médicos de outros países para atuarem em regiões em que há déficit de profissionais de saúde. A maioria dos médicos do programa (51%) vem de Cuba, após acordo do Ministério da Saúde do Brasil com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).

Quando são abertos chamamentos de médicos para o programa, a seleção segue uma ordem de preferência: médicos com registro no Brasil (formados em território nacional ou no exterior, com revalidação do diploma no País); médicos brasileiros formados no exterior; e médicos estrangeiros formados fora do Brasil. Após as primeiras chamadas, caso sobrem vagas, os médicos cubanos são convocados.

Após Cuba anunciar a saída do programa, Bolsonaro disse via Twitter que condicionou a continuidade do programa “à aplicação de teste de capacidade, salário integral aos profissionais cubanos, hoje maior parte destinados à ditadura, e a liberdade para trazerem suas famílias” e que, “infelizmente, Cuba não aceitou”.

De acordo com o governo cubano, em cinco anos de trabalho no programa brasileiro, cerca de 20 mil médicos atenderam a 113.539 milhões de pacientes em mais de 3,6 mil municípios. “Mais de 700 municípios tiveram um médico pela primeira vez na história”, disse o governo.

Em nota, a Opas informou que Cuba comunicou ao órgão a decisão de não continuar participando do Mais Médicos. A Opas, por sua vez, comunicou a decisão ao Ministério da Saúde do Brasil. “Devemos ter mais detalhes nos próximos dias. Assim que os tivermos, divulgaremos”, informou o órgão internacional.