Com a ajuda precisa de um leitor infiltrado no grupo de Whatsapp dos “Patriotas” de Mossoró (que seguem acampados em frente ao Tiro de Guerra), o Blog do Barreto descobriu com exclusividade quem é o novo inimigo das forças armadas brasileiras.
Como já foi noticiado aqui anteriormente, os bolsonaristas são motivados por teorias conspiratórias das mais cabeludas (Veja mais AQUI) e a mais recente é de que a obra “Ressurreição da Paz”, do artista Guaraci Gabriel, instalada no Campus Central da UERN, seria uma demonstração do “esquerdismo” da universidade e de um ataque ao exército brasileiro. Em um áudio que circula no grupo “Patriotas Mossoró”, um dos “patriotas” afirma:
“Hoje eu dei uma ida ali na UERN e me deparei com esse coisa aí. Uma cruz com um tanque de guerra pedurado, com várias coisas destruídas ao redor. Eu fiquei me perguntando o que isso significava…”, questiona o rapaz.
Ele prossegue apresentando teorias que supostamente explicam a obra:
“Cara, eles colocaram na cruz, na mesma posição que Jesus Cristo ficou, um tanque de guerra. Então acho que o cara que fez essa coisa aí está querendo dizer que o cristianismo destrói o mundo. Outra interpretação também que eu vi é que eles podem estar querendo crucificar o exército brasileiro. Foram duas conclusões que eu cheguei (…) isso é um absurdo um negócio desse em uma faculdade, e lógico que é inconstitucional pois é um ataque religioso”, atesta o “patriota”.
Na sequência, outra “patriota” mossoroense, também por meio de áudios, apresenta uma complexa teoria sobre a obra:
“Gente, isso tá mais do que claro! O recado que eles estão querendo passar é que a esquerda vai passar por cima das forças armadas. A esquerda vai destruir as forças armadas! Isso tá mais do que claro, ele só não escreveu”, comenta.
A “patriota” segue sua análise com um argumento que desvela seu preconceito, falta de conhecimento e completa intolerância religiosa.
“Isso parece coisa de macumba, apesar de não ter galinha e farofa, mas isso é coisa satânica, como se fosse um trabalho de macumba. Eles estão querendo passar isso: que o exército vai ser destruído. Que as forças armadas não vão prevalecer. Está repreendido em nome de Jesus! (…) Eles estão vendo que a hora da verdade está chegando, que o povo não está desistindo e que Bolsonaro será recolocado no poder, então estão apelando para tudo. Mais coisas como essa irão aparecer”, finaliza.
No grupo, outros participantes seguiram se manifestando em tom crítico à obra de Guaraci Gabriel, denunciando o teor “esquerdaista” do trabalho. Confira os prints
Outro lado – Diretamente do outro lado da “Terra plana”, explicamos: a Obra de Guaraci Gabriel foi inaugurada na UERN em 4 de abril de 2022. Nomeada “Ressurreição da Paz”, inicialmente a escultura ficaria exposta por três meses, mas após enorme aceitação foi colocada permanentemente na instituição de ensino. A escolha da Universidade como local da instalação surgiu de uma conversa do artista com o secretário municipal de Cultura, Etevaldo Almeida, que é professor da Uern.
De acordo com o próprio Guaraci, a escultura propõe um pensamento crítico sobre a guerra pelo mundo e um chamado para a reflexão sobre a harmonia na sociedade.
“Fiquei muito feliz com a ideia e, quando cheguei à universidade e encontramos o espaço, foi o ideal. É motivo de alegria para mim instalar essa obra no espaço da Academia, do saber”, disse Guaraci.
À época de sua inauguração, a Reitora da UERN, Cicília Maia, comentou em suas redes sociais:
“Em tempos de guerra pelo mundo e de intolerância, estarmos unidos em pensamento e ações na construção da paz é urgente e extremamente necessário. Por isso fiquei tão honrada e alegre ao ser procurada por Guaraci Gabriel, um dos maiores artistas que temos no Rio Grande do Norte para que o Campus Central pudesse receber uma de suas mais recentes obras de arte, em um espaço que deve ser sempre aberto ao pensamento crítico, ao fomento da arte e à cidadania cultural, como deve ser a universidade. Receber o trabalho de Guaraci nos envaidece. Precisamos regenerar o mundo e tornar a busca pela paz uma missão diária e de todas as pessoas”.