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A truculência de sempre contra quem luta por direitos

O Blog do Barreto acompanhou dentro das suas limitações a ação da Polícia Militar contra os jovens manifestantes que lutam contra o aumento da passagem de ônibus em Mossoró.

Primeiro de tudo. A luta dos estudantes é justa. Aumentar a passagem em 50% foge a lógica do mercado. É preciso encontrar uma forma de manter o valor da passagem em R$ 2, que já é alta para a qualidade do serviço oferecido, e garantir o transporte.

A Prefeitura de Mossoró está entre a cruz e a espada. Se concede o aumento é alvo da ira do povo. Se não concede é mais ira do povo desta vez causada pelo cancelamento do contrato com a Ocimar Transporte.

Os estudantes não têm nada a ver com essa história. Eles querem os serviço e um valor de passagem justa. A Ocimar quer lucrar e os motoristas e despachantes querem receber os seus salários. São muitos conflitos de interesses que cabe ao prefeito Francisco José Junior (PSD) resolver.

A Ocimar tem o instrumento de pressão dela: ameaçar romper o contrato e deixar Mossoró sem transporte público. E os estudantes/povo?  A única forma deles agirem é protestar. Cada um luta com suas armas pelos seus interesses. Do ponto de vista social o dos estudantes é o mais justo. Afinal de contas eles são a parte mais frágil desse cabo de guerra que se tornou o transporte público em Mossoró.

Nada. Absolutamente nada justifica o que a Polícia Militar fez ontem. A manifestação era pacífica. “Ah, mas eles invadiram a Prefeitura!”, brada o leitor mais reacionário. Que invadam! O Palácio da Resistência é um espaço público e palco de qualquer ação política de quem quer se fazer ouvir. Ocupar esse prédio sem agredir os servidores que lá trabalham não tem nada demais.

O que é inadmissível é utilizar spray de pimenta e agressões físicas contra quem apenas luta por um preço justo nas passagens de ônibus. O vídeo acima mostra uma força desproporcional contra meninos que só queriam ser ouvidos.

Mossoró não precisa passar por isso. O prefeito Francisco José Junior tem que restabelecer o diálogo com os estudantes para se chegar a um acordo. Do jeito que está há o risco de acontecer uma tragédia numa próxima manifestação. Os ânimos estão acirrados.

A Polícia Militar mais uma vez mostrou que faz jus a fama de truculenta quando age contra cidadãos de bem. A presença da PM numa manifestação como a de ontem deve ser meramente de observação para intervir em caso de excessos.

Apelar ao militarismo é a pior forma de se resolver uma questão.

Créditos das fotos:

Foto 1: autor desconhecido.

Foto 2: Marcos Garcia/Jornal De Fato.

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Um problema com muitos culpados

A UTI pediátrica funciona atualmente no Hospital Wilson Rosado por força do bom senso do juiz Pedro Cordeiro Junior. A sentença dele impediu que o serviço fosse interrompido e bloqueou R$ 717 mil para garantir pagamento de parte da dívida da Prefeitura de Mossoró com o equipamento hospitalar privado.

O Blog do Barreto tenta colocar os pingos nos “is” para que o leitor separe o joio do trigo em meio a discursos políticos que mais confundem que explicam.

Quando acontece um fato como esse todo mundo quer apontar o dedo e ninguém assume a responsabilidade.

Mossoró não tem um hospital infantil. Isso é uma vergonha para uma cidade do porte da nossa. Culpa de todos os prefeitos que passaram pelo Palácio da Resistência. Nenhum. Absolutamente nenhum cogitou fazer um hospital infantil. Culpa de todos os parlamentares que elegemos para representar a cidade e nunca apresentaram uma emenda sugerindo essa obra. Se alguém apresentou (não me recordo nem localizei em pesquisa, não teve competência para liberar os recursos).

Qual a culpa do prefeito Francisco José Junior (PSD)? Ter deixado a conta atrasar no Hospital Wilson Rosado que nos tempos de Rosalba Cialrini, Fafá Rosado e Cláudia Regina tinha mais tolerância com a inadimplência do poder público (mas esse é um outro assunto que ainda vou abordar).

O leitor sabe dizer por que a UTI pediátrica pública está no Hospital Wilson Rosado? O Blog responde: porque em 2013 a obra do anexo que estava sendo construído no Hospital Regional Tarcísio Maia não ficava pronta. Uma criança morreu por falta do serviço. Em meio a pressão a então prefeita Cláudia Regina (DEM) assumiu o ônus e colocou os equipamentos lá. Muitas vidas foram salvas graças a isso.

A UTI pediátrica deveria funcionar provisoriamente no HWR até que a obra no HRTM ficasse pronta. A promessa era que o serviço seria prestado até o final de 2013. Não aconteceu, 2014 terminou, 2015 está terminando e nada. A culpa de Rosalba Cialrini (PP) foi repassada para Robinson Faria (PSD).

O noticiário foi dominado apenas pela ponta do iceberg. Está faltando alguém para pressionar o governador Robinson Faria a resolver o problema no anexo do Tarcísio Maia. Mas Mossoró não tem deputado estadual. Por outro lado tem um prefeito e presidente da Câmara Municipal aliados na cidade.

A oposição deve cobrar que o serviço no Wilson Rosado não sofra atrasos, mas não pode desviar o olhar da origem do problema.

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A força do imaginário

A passagem desastrosa de Rosalba Ciarlini (PP) pelo Governo do Estado avariou o capital político dela em Mossoró. Isso é fato. Como também é fato que ela ainda é a maior eleitora da cidade. Até 2 de outubro do ano que vem isso é ponto pacífico.

Rosalba não é mais mesma. Num cenário de crise administrativa era para ela estar folgada nas pesquisas se beneficiando da fama de maior prefeita da história de Mossoró. Na única pesquisa divulgada até o momento o cenário aponta a “Rosa” com  29,6% seguida pela ex-deputada estadual Larissa Rosado (PSB) com 21,6%. O atual prefeito, Francisco José Silveira Júnior (PSD) com 8,8%.

Muito pouco para quem é vista na cidade como um mito, uma candidata imbatível. O cenário é muito mais equilibrado do que se imagina. Mas no imaginário ela está “favoritaça”.

Os números divulgados em abril são do Instituto Consult. É a mesma pesquisa que apontou uma impopularidade de 77,9% para o atual prefeito.

Estamos na segunda perna de novembro e até aqui nenhuma pesquisa divulgada. Sinal que o quadro não é bom para ninguém. Por que afirmo isso? Simples. Estamos em ano não-eleitoral e não existe obrigatoriedade de registro de pesquisas na Justiça Eleitoral. Logo quem tivesse números melhores divulgaria.

Os grupos estão pesquisando. Não tenho dúvida. Mas como há um indicativo de cenário inalterado em relação a abril, a vantagem é de Rosalba. Afinal de contas no imaginário ela é imbatível. Ninguém lembra que ela apareceu com apenas 7% de vantagem sobre Larissa Rosado. É quase um empate técnico. Mas todos lembram dos 77,9%  de impopularidade do prefeito convertidos em 80% num arredondamento para cima de nossa “desmemorizada” população.

A ocultação dos números é uma mão na roda para a ex-governadora, o imaginário é dela.

 

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Mossoró precisa de um Hospital Pediátrico Público

O Hospital Wilson Rosado fechou 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica por atraso nos repasses da Prefeitura de Mossoró. A dívida ultrapassa R$ 700 mil. É muito dinheiro.

O problema não é só culpa da atual gestão. É das gestões. Mossoró teve uma prefeita médica e outra enfermeira. Nenhuma delas construiu um hospital público infantil. Era mais cômodo colocar um serviço que deveria ser estatal numa unidade de saúde privada. Se fosse uma situação provisória seria compreensível. Em quase dois anos (contando com a interinidade) Francisco José Junior (PSD) não mudou essa realidade.

Ele não tem afinidade política com a direção do  Wilson Rosado. Isso é fato. Ficam duas perguntas em aberto: o prefeito não paga por falta de afinidade política? Ou o Hospital Wilson Rosado seria mais complacente se na cadeira mais confortável do Palácio da Resistência estivesse um aliado?

As respostas caem na subjetividade. Prefiro entender que há uma crise gravíssima na Prefeitura de Mossoró. É algo asfixiante. Custo a acreditar que o prefeito atrasaria o pagamento ao Wilson Rosado por mera picuinha. Afinal de contas os atrasos existem em outros setores e nem tudo gira em torno de politicagem. Há atrasos como em outras áreas.

Na guerra da informação a Prefeitura de Mossoró reconhece a inadimplência e garante que o serviço não vai parar. O Hospital Wilson Rosado afirma que fecha porque perdeu a paciência com as tentativas de acordo.

O Hospital está errado? Não. É uma entidade privada com lógica capitalista que visa o lucro. Para o Wilson Rosado saúde é um negócio. Para o poder público é uma obrigação. São compromissos diferentes.

Em nota, a alternativa encontrada pela Prefeitura de Mossoró é acionar União e o Governo do Estado na Justiça “para que os dois entes também tenham participação no custeio do equipamento, processo que tramita na Justiça Federal”.

O melhor caminho era preparar um projeto e começar a buscar os recursos em Brasília para a construção de um Hospital Pediátrico. Já passou da hora de Mossoró ter um.

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O DIREITO DE IR E VIR, REALMENTE É PARA TODOS?

Paulo Frutuoso Machado

A Constituição Brasileira de 1988 garante a todo cidadão, o direito de ir e vir. Também a mesma, nos diz que: todos somos iguais perante a lei. Mas será que esses artigos da maior lei do nosso pais são realmente cumpridos?

O ser humano distingue-se dos outros animais pelo fato de haver muitas diferenças entre seus semelhantes. Infelizmente muitas pessoas tem mobilidade reduzida. Umas são deficientes, outros idosos, sem falar das gestantes, que durante a gravidez fica com dificuldade de locomoção. Para esses cidadãos se locomover é preciso. Tem uma coisa que muitos falaram, mais será que sabemos o que se necessita para tem acessibilidade? É impossível existir acessibilidade se não tivemos uma sociedade sensibilizada. Que cada um se coloque no lugar do outro! Por exemplos: podemos ajudar essas pessoas com pequenas atitudes, tais como: não estacionar em frente às rampas, nem nas vagas preferenciais, dotar nossas calçadas de rampas, com acesso às ruas como também às calçadas vizinhas.

Não adianta esperar somete pelo poder púbico, temos que fazer nossa parte, só assim teremos um mundo melhor. Nos últimos dias a prefeitura de Mossoró, que tem obrigação de promover e fiscalizar o cumprimento da lei de acessibilidade e o direito de igualdade a todos, está querendo tirar os ambulantes das calçadas para melhorar a mobilidade urbana. Mas será que o município tem condições morais para isto fazer? Termos na nossa cidade alguns pontos de vendas (calçadas) que mesmo com os comerciantes, tem espaço para todo e qualquer cidadão passar. Porém, infelizmente, temos prédios municipais aos quais os cadeirantes não têm acesso. É assim que se garante o direito de ir e vim a todos? Se todos somos iguais, por que os cadeirantes não podem pegar qualquer ônibus? Só teremos uma cidade acessível, quando a acessibilidade começar por quem tem o dever de cobrar.

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Câmara Municipal ultrapassa o fundo do poço e puxa a sociedade junto

A Câmara Municipal escreveu hoje uma de suas páginas mais vergonhosas. Aprovou o projeto de antecipação dos royalties do jeito que a população não queria: sem valores e plano de investimentos.

Desde que me entendo como jornalista político, lá se vão quase dez anos como diria o mestre Emery Costa, a Câmara Municipal de Mossoró sempre pagou o pato pelo comportamento submisso ao poder executivo.

De lá para cá quem passou pelo poder executivo sempre impôs seus caprichos. Culpa do comportamento subserviente dos vereadores? Não. Culpa do eleitor mossoroense que vota de forma passional e sequer analisa as qualidades de seus representantes. Sim, a Câmara Municipal representa Mossoró. Para ser franco é a cara da nossa sociedade: omissa, subserviente e governista.

Não por acaso os vereadores da oposição tradicionalmente são mais qualificados. Parece ser uma forma de equilibrar as coisas. A maioria vence no voto e a minoria esperneia com maestria.

Não adianta ir para redes sociais reclamar. É preciso refletir a respeito do tipo de representante que elegemos. Você ao menos lembra em quem votou para vereador? Faz ideia de como ele se comporta no parlamento?

Mossoró fosse uma sociedade politizada (gostar de política não te faz politizado) teria ocupado as galerias da Câmara hoje. Participo de mais de 30 grupos de Whatsapp e em menos de um terço deles vi alguém comentar a respeito do que estava sendo decidido hoje. Nem na comodidade das redes sociais o assunto foi discutido.

Minha crítica não vai aos vereadores. Fica para a nossa omissa sociedade. Ultrapassamos o fundo do poço. Pena que não foi para praticar arqueologia.

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Antecipação dos royalties é necessária e carece de detalhamento

Quem num momento de dificuldade financeira não recorreu a um empréstimo para sanar um problema? Poucos responderão negativamente. Fazer um empréstimo pode ser uma solução como também um ato que escancara o fundo do poço.

Em Mossoró, poucas vezes vi um assunto ser tão debatido em profundidade como a antecipação dos royalties da Petrobras. Nesse aspecto louve-se à Câmara Municipal. De um lado a oposição que tem quadros altamente qualificados e eloquentes. Do outro a bancada governista que tradicionalmente sofre (pelo menos do ponto de vista retórico) de bons debatedores. Hoje Izabel Montenegro (PMDB) e Soldado Jadson (SD) cumprem bem esse papel no plenário.

A antecipação dos royalties surgiu com a informação de que o financiamento deixaria Mossoró sem os recursos do petróleo por quatro anos. A Prefeitura negou essa informação. Os oposicionistas explicam que essa notícia surgiu de elementos do primeiro escalão municipal.

Vamos ao fato: a resolução aprovada no Senado só permite só permite comprometer 10% das receitas dos royalties. Em resumo: a cada cem reais arrecadados com royalties R$ 10 serão utilizados para o pagamento da dívida. Só por esse aspecto a antecipação dos royalties é plenamente aceitável.

Se realmente estivesse em discussão a utilização de 100% dos royalties seria um absurdo. Era assunto para o povo de Mossoró ir às ruas protestar. Mas utilizar os 10% é, repito, aceitável e compreensível.

A Prefeitura tem uma justificativa aceitável: a crise existe em todos os municípios. Faço uma ressalva que alguns se sobressaem. Alguém ouviu falar em crise em Natal? Ah mas é a capital. Em Pau dos Ferros, que é menor que o Grande Alto de São Manoel, não tem uma crise no tamanho da de Mossoró. Mas cada cidade tem seus problemas. Mossoró não é diferente e tem explicação histórica para isso.

Nos tempos de Rosalba os serviços ofertados pela Prefeitura de Mossoró eram infinitamente menores. Era apenas uma UPA (hoje são três), não tinha Guarda Municipal, Gerência de Trânsito nem muito menos as BICs. Proporcionalmente ela tinha um orçamento maior ao de hoje se comparado com a oferta de serviços.

Sobrava mais dinheiro para obras como a construção de praças e mais praças. Ela não resolveu o problema do transporte e do abastecimento de água na Zona Rural.

As demandas estouraram no colo de Fafá Rosado. Foi ela quem, por força do Ministério Público, fez concursos nas áreas de saúde e ação social. Também foi com Fafá que se criaram a Guarda Municipal e a Getran. No curto período de Cláudia Regina nasceram as BICs. Tudo isso deixou a máquina municipal pesada.

Na proporção que os serviços aumentaram a arrecadação diminuiu. Mas o leitor pode perguntar se Francisco José Junior (PSD) não tem culpa. Claro que tem. Embora possa dizer que a bomba estourou no colo dele, o prefeito tem a missão de minimizar o estrago. Só agora ele começou a fazer algo de concreto com esse pacote de cortes de gastos.

Mas o tempo urge. Até onde apurei os recursos da antecipação dos royalties seriam utilizados para reequilibrar as finanças com pagamentos a fornecedores e terceirizadas. A principal obra seria a construção do santuário de santa Luzia.

A antecipação dos royalties é necessária, mas precisa que tudo isso seja explicado à população. O povo tem o direito de saber o que vai ser feito com cada real desse dinheiro. O detalhamento é necessário.  Por sugestão de Izabel Montenegro teremos uma audiência para discutir o assunto. Boa oportunidade para que tudo seja explicado.

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Dia de Finados e a Religiosidade Sertaneja: Jararaca, nosso Santo popular

Por Thadeu Brandão

Hoje, dia de Finados, a cristandade católico-romana comemora a festa em honra à memória de seus fiéis defuntos. Momento de relembrar os que não mais estão aqui. Oportunidade de reencontro simbólico e espiritual com a saudade que eles deixaram para trás.
Em Mossoró, como em quase todo o Brasil, é dia de cemitérios lotados e muito vai-e-vem de fiéis e familiares. Dia também de visitar o túmulo de uma personagem mais do que inusitada: Jararaca, membro do bando de Virgulino Ferreira, o Lampião, que no já longínquo 1927 haviam tentado invadir Mossoró. Sem sucesso, foram recebidos por forte resistência organizada pelo então Intendente (espécie de prefeito à época) da cidade Rodolfo Fernandes à bala, o bando fora rechaçado e Jararaca, ferido e capturado, segundo a historiografia local, terminou sendo enterrado vivo.
Pela tradição do catolicismo popular, principalmente o cultivado por nossas bandas sertanejas, indivíduo que morre em suplício, mesmo bandido, tem suas penas perdoadas e, por direito divino, ascende aos céus em sua plenitude. Recebido por São Pedro e por Nossa Senhora, o ex-bandido, antes mau e irascível, além de perdoado seus inúmeros pecados, torna-se interventor das desgraças nossas aqui na terra.
Jararaca tornou-se, como tantos outros casos (o do bandido Baracho no Cemitério do Bom Pastor em Natal é outro exemplo), Santo. Bandido Santo ou Santo Bandido. Santificado pela fé popular. Santo popular, portanto, como presenciei em várias idas ao Cemitério São Sebastião em Mossoró, onde seus restos mortais estão depositados. Lá encontrei velas e flores, fotografias e peças de ex-votos e até despachos de alguma manifestação sincrética afro-brasileira.
Interessante é que, enquanto o túmulo do prefeito herói, está basicamente abandonado, sujo e sem visita alguma, o do seu algoz, o cangaceiro Jararaca encontra-se reformado, limpo e extremamente visitado. A lógica da religiosidade popular não segue a lógica da História ou da política oficial afinal.
Como nos lembrou o mestre Câmara Cascudo, a fé do povo baseia-se em uma lógica tradicional, onde o “tudo sempre foi assim” impera e onde não há espaços para as contestações da modernidade. Não tente racionalizar meu caro leitor. Jararaca é santo, porque assim o fez o povo.
Neste Finados, portanto, roguemos: Jararaca, que morreu por seus pecados, rogai por nós, desta Terra da Resistência que um dia ousastes tentar conquistar.
Bom Dia de Finados a todos.

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Advogado entende que manutenção de multa contra Rosalba somada à cassação de Cláudia no caso do avião pode deixar ex-governadora inelegível

Estimado Bruno,

Como seu fiel leitor, agora ainda mais com o blog do Barreto, um tema realizado em um dos seus post’s me chamou a atenção, e eu, como aprendiz e apaixonado pelo Direito Eleitoral, resolvi dar minha opinião sobre o tema que envolve o afastamento da inelegibilidade de Rosalba Ciarlini no TSE, mas que ainda assim poderia tornar seu pretenso registro de candidatura indeferido.

Acredito que depois da postagem de seu blog – o qual em que pese recente já é altamente renomado e recomendado, em virtude de seu profissionalismo, capacidade e ética – sobre o tema, grande parte da população mossoroense já se deu ao trabalho de pesquisar sobre o art. 1º, inciso I, alínea “j” da Lei Complementar n° 64/90, o qual foi alterado a partir da criação da Lei da Ficha Limpa (LC n° 135/2010).

Entretanto, não são poucas as polêmicas que a Lei da Ficha Limpa suscita no mundo jurídico, sendo aqui discutida mais uma. Tanto que respeito e busquei analisar com cuidado as teses suscitadas pelos Doutores Olavo Hamilton e Daniel Victor, que também contribuíram para discussão neste espaço, sempre firmes em seus posicionamentos e com argumentos plausíveis, apesar de, neste ponto, data vênia, discordar.

É que o art. 1°, I, “j” ora tratado assim versa:

Art. 1º São inelegíveis:

I – para qualquer cargo:

  1. j) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por doação, captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha ou por conduta vedada aos agentes públicos em campanhas eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diploma, pelo prazo de 8 (oito) anos a contar da eleição;

Eis que o famoso caso do avião parece ser um divisor de águas da eleição que se avizinha, isto no município de Mossoró. É que, ainda suspenso o julgamento, até o momento, a ex-governadora Rosalba Ciarlini está sofrendo condenação com aplicação de multa e afastada sua inelegibilidade, enquanto mantida cassação à ex-prefeita Cláudia Regina.

Assim, a meu parco ver, como amante do direito eleitoral, entendo que a – ainda bastante discutida – Lei da Ficha Limpa deverá ser aplicada com base na norma já transcrita acaso Rosalba Ciarlini venha a pleitear sua candidatura, se acaso assim mantido pelo TSE.

Ora, como muito bem dito em sua matéria, uma vez que Rosalba venha a ser CONDENADA pela prática de conduta vedada, ainda que com a aplicação de multa, e tal fato venha a gerar (manter) a cassação da ex-prefeita, beneficiária da conduta, tal fato a torna inelegível, o que não cabe ao TSE apreciar, mas sim ao juiz eleitoral que esteja respondendo pela zona eleitoral no momento do seu pleito de registro de candidatura.

Ademais, é entendimento do TSE que a inelegibilidade gerada a partir do art. 1º, inciso I, alínea j da LC n° 64/90, nos casos de conduta vedada se faz necessário somente que tenha havido cassação do registro ou do diploma, não sendo necessária que tal cassação tenha sido diretamente a quem pleiteia o registro. E mais, ainda que a condenação tenha sido somente por multa, ainda assim pode ser aplicada. Para tanto, demonstro precedente do Tribunal Superior Eleitoral no AgR-REspe nº 8125, rel. Min. Henrique Neves. Senão vejamos seu ementário:

“Registro. Inelegibilidade. Art. 1º, inciso I, alínea j, da Lei Complementar nº 64/90. Condenação por órgão colegiado. Representação. Captação ilícita de sufrágio. – Existindo decisão colegiada da Justiça Eleitoral, que assentou a caracterização da infração do art. 41-A da Lei das Eleições, é de se reconhecer a inelegibilidade da alínea j, mesmo em face da peculiaridade do caso concreto, em que foi imposta apenas a sanção pecuniária, devido ao fato de o ora candidato não ter disputado as eleições em que praticou o ilícito e, portanto, não haver registro ou diploma a ser cassado. […]”

E ao final de seu voto, assim versa o Min. Henrique Neves: Todavia, conforme afirmado na decisão agravada, de acordo com a jurisprudência deste Tribunal, tendo sido o candidato condenado, por decisão colegiada da Justiça Eleitoral oriunda do TRE/RJ, na qual se assentou a caracterização da infração do art. 41-A da Lei das Eleições, é de se reconhecer a inelegibilidade da alínea j, mesmo em face da peculiaridade do caso concreto, em que somente foi imposta apenas a sanção pecuniária pelo fato de o ora candidato não ter disputado as eleições em que praticou o ilícito e, portanto, não haver registro ou diploma a ser cassado.

Diante disto, e como não temos como descobrir os próximos capítulos dessa novela, nos resta ao momento aguardar, mas já sabendo da grande possibilidade de termos no “país de Mossoró” uma eleição fervente em 2016, com duas possíveis candidaturas sub judice, uma do atual prefeito, na qual se discute sua reeleição ou não, e outra, por enquanto, de Rosalba Ciarlini, que se encontra nas mãos do TSE. É aguardar para ver.

Luiz Antonio Pereira de Lira

Advogado

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Gestão municipal de Mossoró e a cooptação midiática

Por Thadeu Brandão

A associação entre mídia e política sempre foi um elemento crucial das democracias ocidentais (ou “burguesas”). A divulgação das ideias e a venda de certos perfis e elementos simbólicos sempre fizeram parte da construção das lideranças políticas e dos partidos. Com o advento da internet e da popularização do acesso à informação, isso se torna cada vez mais forte e definidor do contexto político.

Mossoró não fica fora desse quadro, com a decadência acentuada de sua mídia impressa e sua paulatina substituição por espaços virtuais, principalmente por portais e blogs noticiosos. Hoje, três jornais impressos teimam em sobreviver: o histórico “O Mossoroense”, a “Gazeta do Oeste” e o “Jornal DeFato”.

A relação entre a política e a mídia, supracitada, tem seu campo de luta bastante definido quando se trata dos veículos impressos. Para se ter ideia, no cenário político municipal, os jornais “O Mossoroense” e o Jornal “DeFato” fazem clara oposição à gestão do Prefeiro Francisco José Jr. O Jornal “Gazeta do Oeste” parece ser o único veículo tradicional a apoiar positivamente em suas matérias, a conturbada e insípida gestão citada.

Para contrabalançar o que pode ser considerado como um revés simbólico e propagandístico, o grupo ligado à atual gestão do Palácio da Resistência aposta na cooptação de blogs, portais e colunistas, de forma a construir o necessário capital simbólico tão fundamental. Afinal, com uma gestão considerada negativa por mais de dois terços da população, a construção de fatos positivos é sine qua non para uma seara de realizações “feijão com arroz”, que pouco animam a população.

Essa cooptação resolverá o problema grave de imagem da gestão atual? Acho pouco provável. Sem o surgimento de fatos políticos e administrativos efetivos, nada mudará na imagem atual do prefeito. Em uma cidade do porte de Mossoró, mais do que imagens artificialmente construídas, o que importa mesmo é como as redes de sociabilidade que transmitem a informação (que aqui, é ainda o “boca a boca”) racionalizam a gestão. E essas redes ainda vêm essa gestão como algo que não decolou e que dificilmente decolará.

Mais do que aposta em mídia, a gestão deveria apostar em uma realização efetiva. Esta porém, está longe de aparecer. Restam então as construções simbólicas via portais e blogs, tão aéreas quanto bonecos de vento, tão em moda em nossa época.