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Antibolsonarismo será a principal força política de 2022 no RN

Cientista social analisa peso do antibolsonarismo nas eleições 2022 (Foto: Web/autor não identificado)

Por Daniel Menezes*

Os agentes políticos começaram a fazer especulações típicas de ano pré-eleitoral no Rio Grande do Norte. Porém, pelo que circula, a principal força de 2022 vem sendo secundarizada. Isto é, são avaliações despojadas de realismo minimamente concreto.

Não há cálculo político válido para 2022, que desconsidere a força do antibolsonarismo. Pelas pesquisas, 2022 será Bolsonaro contra Fora Bolsonaro. Até o presente momento, os que querem que ele saia do poder estão em maior número.

E as perspectivas para 2022, porém, não permitem imaginar uma virada. A economia não se recuperará até lá. O contexto eleitoral será produzido em uma situação de desemprego e fome. E contra barriga vazia e desalento, caros leitores, não tem fake news que dê jeito.

Não que a base do presidente não tente. Ser militante do bolsonarismo hoje implica em se constituir como um mentiroso obstinado – o Brasil é exemplo em vacinação, a respeita brasileira é um show na pandemia, a economia se recupera, o presidente é um líder exemplar e por aí vai. Mas a realidade não é mero detalhe. Não terá como o presidente Jair Bolsonaro dizer que não tem nada a ver com nada, se comportando como oposição, porque ele está sentado na principal cadeira do país. Ele foi eleito para resolver e não para culpar o sistema durante quatro anos.

A base bolsonarista terá alguma força nos espaços das grandes cidades, em especial em Natal, grande Natal e Mossoró. Ainda assim, hoje ela segue se desmilinguindo. Diante dos interesses locais, qual o deputado federal ou estadual, que vinculará seu nome ao de um presidente mal avaliado? A maioria não colocará sua competitivdade em risco em face disso. Não é assim que funciona.

Pelas pesquisas recém publicadas, o que cresce, na verdade, é o pensamento retrospectivo. “No tempo de Lula” existia emprego e as pessoas tinham comida na mesa. E, cabe enfatizar, estamos no nordeste, reduto do ex-presidente, que agora tem os seus direitos políticos plenamente estabelecidos.

A estratégia de vincular a candidatura ao nome de Bolsonaro poderá funcionar nas proporcionais em situações específicas em que o postulante tem ligação com o bolsonarista raiz. Só que não terá a menor chance no âmbito das majoritárias, ou seja, governo e senado. Caminhar com o radical que nos comanda será, se a conjuntura não mudar da água para o vinho, garantia de derrota.

Portanto, muita calma nessa hora. O que temos, na verdade, é gente oferecendo gato por lebre numa valorização do próprio passe estabelecida em pura fumaça. E, ora, na medida em que a eleição se aproximar e o nevoeiro passar, a correlação de força será percebida pelos agentes em disputa. Se não há mais bobo no futebol, imagine na política.

Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.

*É cientista social.

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Que anti vai dar as cartas em 2022? E a falta que faz uma rua para a turma do terceiro turno

Ciro Gomes continua encarnando uma das opções eleitorais para se contrapor ao bolsonarismo. Frentes de esquerda e opções à direita e ao centro ainda não têm contorno programático definido (Foto: Sérgio Lima/Poder360)

Por Alon Feuerwerker*

Poder 360

A máxima “é a economia, estúpido”, universalizada a partir da vitória de Bill Clinton em 1992 contra George Bush Primeiro, deve enfrentar um bom teste ano que vem. Se as previsões de recessão americana não se confirmarem, Donald Trump vai às urnas surfando crescimento sólido e pleno emprego. Restará aos democratas navegar no antitrumpismo, uma convergência de rejeições variadas, com foco comportamental e ambiental. Que bicho vai dar?

E por aqui? Se a economia continuar mal, o bolsonarismo chega a 2022 capenga. E sua melhor aposta seria o antipetismo. Mas é ingênuo imaginar que o bolsonarismo vai assistir passivamente à perenização da mediocridade econômica, e caminhar mugindo para o matadouro eleitoral. Se é verdade que Paulo Guedes resta como o último dos ministros ainda com crachá de super, a esta altura o mundo já percebeu: quem acreditou em carta branca caiu no conto do vigário.

O seguro morreu de velho e, na dúvida, o bolsonarismo e o lavajatismo continuam batendo no PT. Mas o presidente parece ter um olho no peixe e outro no gato, também abre fogo regular contra um nascente antibolsonarismo antipetista que lança raízes na direita, no autodeclarado centrismo, e até numa fatia da esquerda, esta em busca da plástica que remova as rugas de quase duas décadas de governos PT, e lhe permita aparecer como novidade.

Não será fácil vertebrar esse antitudo. Em 2018 naufragou, apesar da torcida. Talvez porque sua melhor aposta fosse o PSDB, ele próprio atingido pela marcha do lavajatismo. Mas convém não subestimar. Agora são vários candidatos “contra os extremismos”, desde o ainda tucano João Doria até a franjinha do PT ansiosa por livrar-se da liderança de Lula. Passando por Luciano Huck e por um Ciro Gomes cada vez mais disposto a bater nos outrora aliados.

Diz a sabedoria política: mais que para eleger alguém, a pessoa sai de casa no dia da eleição principalmente para derrotar alguém. Principalmente num segundo turno. Daí a importância de monitorar em tempo real a temperatura dos vários anti. Dois parâmetros são úteis aqui: a taxa de rejeição de cada nome/partido e as simulações de segundo turno. É um erro achar que a distância das eleições diminui a importância dessa medição. É o contrário.

Que anti será hegemônico daqui a três anos? O vacilo na medição dessa variável costuma ser fatal. Ano passado, a campanha de Fernando Haddad parece ter acreditado por um momento que a ida de Bolsonaro ao segundo turno desencadearia a aglutinação de um amplo movimento democrático antibolsonarista. Não rolou. O antipetismo mostrou-se bem mais forte. Pelo menos, Haddad teve um final digno. Não foi o caso do massacrado centrismo antiextremista.

Registre-se que na história do Brasil frentes da esquerda com os liberais só existiram com sucesso quando os primeiros aceitaram a liderança dos segundos. #ficaadica

É corajoso, e curioso, que as mais animadas articulações políticas opositoras apostem exatamente no que deu errado na eleição. Na esquerda, a frente ampla não programática. Na direita e no autonomeado centro, a advertência contra o risco de supostos extremismos. Talvez essa coragem se pague, mas por enquanto é visível a dificuldade de os atores concordarem em qualquer coisa que não seja a vontade de chegar ao poder só surfando na rejeição alheia.

Mas, se isso deu certo para o presidente por que não daria certo contra ele? Aliás, o fato mais vistoso da conjuntura é a agitação dos que apoiaram Bolsonaro contra o PT e agora conspiram a céu aberto para tentar se livrar dele. Exibem músculos na opinião pública, mas falta-lhes rua. Quem poderia fornecer? A esquerda. Mas esta não parece especialmente motivada, ainda, a injetar o combustível político indispensável aos algozes de tão pouco tempo atrás.

Pode ser também a Lava Jato. Daí as piscadelas cada vez mais explícitas, a pretexto de não deixar morrer a luta contra a corrupção. A dificuldade? A relação íntima do bolsonarismo com o lavajatismo. E como Bolsonaro não nasceu ontem, vetou sem medo de ser feliz um monte de coisas na Lei de Abuso de Autoridade. E seu indicado à Procuradoria Geral da República já estendeu o tapete vermelho à turma de Curitiba, lato sensu.

*É jornalista e analista político e de comunicação na FSB Comunicação.

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O Brasil não pode se resumir ao antipetismo contra o antibolsonarismo

Surfando na polarização com o PT, Jair Bolsonaro vai crescer junto com Fernando Haddad

Leonardo Sakamoto*

O ex-capitão compensou o pouco tempo de rádio e TV de sua candidatura com a superexposição jornalística devido ao atentado que sofreu há 12 dias. Menos pela comoção por ter levado uma facada (a última pesquisa Datafolha aponta que apenas 2% dos eleitores se sensibilizaram a ponto de mudar de voto) e mais por garantir que seu nome tivesse exposição gratuita para além de sua militância nas redes sociais. Com o ataque, a artilharia de Geraldo Alckmin nos spots de rádio e TV, preparada para desidratar Bolsonaro, foi suspensa por um tempo – o que prejudicou a estratégia do tucano.

Isso ocorreu simultaneamente ao processo de substituição de Lula por Fernando Haddad após a rejeição da candidatura do ex-presidente pelo Tribunal Superior Eleitoral e, consequentemente, ao início da transferência de votos de seu estoque pessoal para o escolhido. Mas também da transferência de parte de sua rejeição, que cresce à medida em que a população percebe que Lula é Haddad e Haddad é Lula.

Geraldo Alckmin tem dito que é mais capaz de derrotar o PT, embasado em simulações de segundo turno entre ambos. Mas Bolsonaro, mesmo da cama de hospital, está sendo mais competente em se vender como aquele que pode derrotar o substituto de Lula. Não apenas isso: tenta conquistar um voto útil antipetista já no primeiro turno porque sabe que, no segundo, enfrentará não apenas políticos, mas parte barulhenta da sociedade civil organizada.

Afinal, se por um lado, venderá o embate como uma disputa contra a ”corrupção”, por outro, terá enfrentar uma possível frente ampla voltada a impedir a vitória da ”barbárie”.

Da mesma forma que Alckmin pela centro-direita contra Haddad, Ciro e Marina se afirmam como mais capazes de derrotar Bolsonaro e seu ”vice”, general Hamilton Mourão, pela centro-esquerda. O candidato do PDT está melhor posicionado e obtém melhores resultados contra a chapa PSL-PRTB considerando as simulações de segundo turno das pesquisas Ibope e Datafolha. Por um lado, poderia agregar votos de antipetistas que também são antibolsonaristas e votam no PSDB, na Rede ou em outros partidos. Mas, neste momento, não tem tempo de rádio e TV, nem estrutura partidária e conta com um adversário que tem a benção do principal cabo eleitoral do país, que se encontra preso em Curitiba.

O problema para Ciro, Alckmin e Marina é que o eleitorado está embarcando nessa aposta de polarização entre Bolsonaro e Haddad. E isso tende a tirar votos não apenas dos três, mas também dos outros candidatos e entregar a ambos de acordo com o campo ideológico de cada um.

Alguns defendem que uma disputa polarizada deixa claro diferentes projetos de país para que o eleitorado escolha aquele que melhor condiz com sua visão de mundo. Pois um eleito não vai governar com base no antipetismo ou no antibolsonarismo, e sim com um programa que, nesse caso, pode ser de extrema direita ou esquerda/centro-esquerda.

Mas esta tem sido uma eleição em que apresentar e aprofundar propostas para gerar postos de trabalho para 12,9 milhões de desempregados é menos importante do que desumanizar a imagem do adversário político e ignorar o que o outro lado diz, pensa e sente. Uma eleição mais guiada pelo ódio à diferença do que por encontrar formas de garantir que a vontade da maioria não passe por cima da dignidade das minorias, pressuposto básico da democracia.

Pois uma coisa é se colocar contra um projeto de país e buscar derrota-lo nas urnas, outra é cultivar o ódio ao adversário e, depois, nutrir-se dele por anos a fio – coisa que muitos brasileiros já mostraram que sabem fazer muito bem.

Diante disso, fica a dúvida: quando a poeira de outubro baixar, ainda teremos um país ou vamos ter que começar tudo de novo?

* É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo.