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Carreata da morte é um ritual sem (por enquanto) as oferendas para o “deus mercado”

TRIBUNA DA INTERNET | Charge do Duke
Charge: Duke

Está planejada para amanhã uma carreata de empresários bolsonaristas de Mossoró para cobrar das autoridades a reabertura do comércio. É uma pressão com catinga de morte.

Na pauta dos manifestante o slogan “O Brasil não Pode parar” (leia-se abra o comércio), defesa do emprego (leia-se abra o comércio) e a posição contra o PL 149 que garante recursos para Estados e Municípios. Tudo dentro do carro para evitar contágios da covid-19, claro.

Nenhuma autoridade de saúde recomenda rever as medidas que evitam a circulação de pessoas dentre elas o fechamento do comércio. Onde se insistiu em abrir em fazer o contrário do que diz a ciência o resultado foi trágico, vide Milão que alegava não poder parar.

Pondero que o poder público (estadual e municipal) está falhando na fiscalização que permite a aglomerações de pessoas em filas nas principais cidades do Rio Grande do Norte. Já escrevi: ou fiscaliza as ruas ou fechar o comércio será em vão.

A carreata da morte tem requintes de covardia com pitadas de hipocrisia.

Por que não uma passeata já que é somente uma “gripezinha”?

A carreata, se realmente ocorrer, lembrará um ritual pagão em que os pobres comerciários serão oferendas dadas ao “deus mercado”. São eles quem vão ter contato com o público, são eles que vão andar de ônibus e lotações. Os idosos e pessoas com comorbidades parentes desses trabalhadores serão a principais vítimas. São elas quem vão lotar os hospitais públicos.

Ninguém sentirá remorso porque a saída destes que estarão nos carros será a oração reunirá argumentos como culpar o PT, Lula, os esquerdistas, os sindicatos, as feministas e todos que caibam no discurso pronto de sempre que faz passar a impressão de que os sacerdotes do culto ao “deus mercado” não passam de papagaios.

Por enquanto, a única oferenda será a estupidez dos manifestantes que, espero eu, sejam poucos.

São os pobres que vão se expor ao viveiro de covid-19 que se tornará as ruas da cidade.

No Brasil está tudo de cabeça virada. Deveríamos neste momento estarmos de mãos dadas cobrando medidas mais efetivas do Governo. Ajuda mais significativa para as pequenas empresas e ações sociais mais amplas. Nos calamos com a prioridade dada aos mais favorecidos neste país: os bancos.

Mossoró é uma das cidades mais expostas ao covid-19. No momento em que escrevo este texto a capital do Oeste reúne um terço das mortes no Rio Grande do Norte mesmo tendo 8,5% da população. É consenso entre as autoridades de saúde de que isso é reflexo da proximidade com o Ceará onde se projeta 250 mortes por dia no mês de maio.

Muitas vidas estão sendo salvas graças ao isolamento social. As medidas compensatórias devem ser tomadas para ontem, mas os devotos do “deus mercado” acham que o mais importante salvar a economia e garantir as oferendas para as divindades.

Quanto mais mortes, menos consumidores e com uma tragédia de grandes proporções como a que vimos na Itália a economia vai demorar mais para se recuperar do que com a prevenção.

A mão invisível do “deus mercado” no fim das contas ficará nas nossas vistas com a cor vermelha do sangue e o peso da dor das famílias que nem puderam se despedir dos entes queridos.

Talvez só assim os adoradores entendam que o “deus mercado” é mortal como suas oferendas e a “divindade” morra empanzinada.

 

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Ação de Temer no RJ golpeia discurso de Bolsonaro

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Temer toma posse como secretário de segurança para abafar a crise após o massacre de Carandiru em 1992. A história se repetirá?

Impopular, desgastado e sonhando com uma inviável reeleição, Michel Temer tem uma muralha da China que o separa das demandas populares. Faz um governo capacho do mercado financeiro.

O “deus mercado” pode até ditar as cartas na gestão do “Vampirão”, mas não dita os anseios populares que seguem num sentido oposto aos interesses dos engravatados da Bovespa.

O maior problema do povo é a segurança e é este o fator primordial para Jair Bolsonaro ter se tornado um político popular deixando a condição de parlamentar obscuro para a de presidenciável competitivo.

Sem condições de ir além do que já foi feito pelo PT em programas sociais nem vocação política para assumir um projeto que melhore a vida do povão, resta a Michel Temer apelar para o combate à violência.

Ex-secretário de Segurança Pública do Governo de São Paulo (gestão de Luiz Antônio Fleury Filho), nomeado cinco dias após o massacre do Carandiru em 1992, Temer tenta na contenção da violência no Rio de Janeiro encontrar um fato que melhore sua popularidade e esconda aos olhos do mercado o fracasso na tentativa de reforma da previdência.

Se tudo der certo no principal cartão postal do país, Temer pode levar a iniciativa a outros Estados e quem sabe entrar no eleitorado bolsonarizado mostrando na prática que violência se resolve com violência como apregoa o histriônico discurso do capitão do exército. Ser o tiro sair pela culatra o bolsarismo sem Bolsonaro será um prato cheio para os opositores do capitão reformado.

A ação no Rio de Janeiro golpeia o discurso de Bolsonaro dentro da casa dele. Resta saber se será um ippon (que finaliza o adversário no judô) ou um Koka (menor pontuação).