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Atos pelo impeachment indicam que divisão entre petistas e não petistas permanece

Angela Alonso*

A contar pelo primeiro mês, a rua de 2021 promete. Nem os 16 graus negativos da beira do Ártico, nem a chuva de verão paulistana, nem mesmo a pandemia arrepiou manifestantes. Teve protesto nas democracias ditas sólidas como nas tidas por capengas, em todos os lados do espectro político, a pé, de carro, trator ou caminhão, com bandeiras e com armas.

Desde que o coronavírus começou a dar as cartas, a rua encheu em, ao menos, 23 países. Na pauta, a bola da vez, políticas que enfrentam a doença e as que a negligenciam, e a jogada de costume no século, a contestação ao governante ou às regras do jogo. Daí a ser tudo a mesma coisa vai um precipício.

Carreata de partidos e movimentos de esquerda pelo impeachment de Bolsonaro teve concentração na Alesp e depois seguiu fazendo retorno no Monumento às Bandeiras, seguindo pela avenida Brigadeiro Luiz Antônio, avenida Paulista e Consolação e terminando na Praça Roosevelt Bruno Santos/ Folhapress

Putin comparou os atos na sua Rússia à invasão do Congresso dos Estados Unidos. Sempre acusado de autoritário, posou de guardião das instituições. Mas os casos distam as léguas que separam direita e esquerda. Os russos protestam por acharem demais prisão de dissidente antes envenenado, tudo indica, a mando do governo. Demandam um Estado de Direito basiquinho, mais perto de democracia que de regime autocrático. Manifestaram-se aos milhões, foram presos aos milhares.

Do outro lado do Atlântico, ignição oposta. O amálgama de movimentos supremacistas, terraplanistas, armamentistas, anticiência e antivacina, que a internet uniu e Trump não separou, contestou o resultado eleitoral e as instituições democráticas. Isso no país que se vende, desde que nasceu escravista, como a pátria da liberdade.

A tragédia política norte-americana gerou protestos contra o protesto, inclusive de Turquia e Venezuela, que devolveram o “República de bananas”. Muitos caricaturaram os ativistas armados e associaram a violência política ao autoritarismo de direita. Mas não custa lembrar que esta faca corta dos dois lados, como o demonstra a história ocidental recente, povoada por ETA, IRA, Farcs e parentes.

Manifestante invadem prédio do Congresso americano em Washington WIN MCNAMEE/Win McNamee – 6.jan.2021/AFP

Também vale para qualquer oposição o manejo da rua contra o governo. Desde que o século começou, a senhora das marchas foi pega no contrapé. Movimentos liberais, conservadores e autoritários se tornaram useiros e vezeiros das técnicas de convocar, organizar e conduzir protestos que a esquerda julgava suas por usucapião.

Mas emular é diferente de aproximar. Os protestos antigoverno do fim de semana, em vez de se encavalar, se intercalaram. Duas frentes de movimentos repetiram os estilos de ativismo, as simbologias e os líderes que os separaram em dois cercados na votação do impeachment em 2016. Mesmo uníssonos no “Fora, Bolsonaro”, os atos duplicados esclareceram que a divisão do país em uma coalizão com e outra sem petistas continua valendo. Há tanto apartados em tudo, nem o inimigo comum de agora os agrega.

Menos ainda o sistema político. Simone Tebet esclareceu: falta base parlamentar para desempacar um dos cerca de 60 pedidos para “impichar” o presidente. Para a senadora, um processo só desembestaria com pressão da sociedade. Mas cadê?

A rua está desunida e o presidente segue firme onde mais conta: 58% dos empresários o veem, atesta o último Datafolha, como apto a liderar o país, e 71% se opõem a apeá-lo do governo. Os impeachments de Collor e Dilma se consolidaram quando a nata das elites social e econômica aderiu. E se viabilizou graças a coalizões nas ruas, nas instituições e, sobretudo, entre ambas. Nada disso assoma.

Mas, se despontar, é improvável que Bolsonaro repita a descida pacífica da rampa de Collor e Dilma. O presidente, que já mandou o país à “puta que pariu”, pode bem seguir Putin e mandar bala.

*É professora de sociologia da USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento.

Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.

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Sandálias da humildade para o PT e petistas

O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma agremiação política de base, com militância orgânica e uma capacidade impressionante de provocar paixões e ódios a partir de seu estandarte chamado Luís Inácio Lula da Silva.

Ontem o PT voltou a sentir o gosto da derrota em uma disputa presidencial após 20 anos e quatro vitórias consecutivas sobre o PSDB. Mas como em 1989, o adversário era outro partido e fora do sistema político.

Jair Bolsonaro, agora presidente eleito, travestiu-se de antissistema e galvanizou para si o eleitorado ressentido com as decepções provocadas pelo PT.

A legenda ama receber apoios em nível nacional, mas nunca aceita apoiar. O resultado da eleição mostrou que o partido sobreviveu a todo desgaste dos últimos quatro anos, mas fica a sensação ainda que questionável de que uma aliança com Ciro Gomes (PDT) lá atrás teria evitado o resultado de ontem.

O PT acreditou que dava e preferiu correr o risco de perder a presidência ao de abrir mão da hegemonia da esquerda.

O partido mostrou que tem força apesar dos passares.

Tem que ser muito forte para sobreviver a um processo de desconstrução e ainda assim eleger quatro governadores e a maior bancada da Câmara dos Deputados.

Mas o PT se perdeu no caminho em redutos importantes como o Rio Grande do Sul onde conquistou suas primeiras administrações relevantes e São Paulo onde sempre foi contraponto aos tucanos hegemônicos. O PT foi empurrado para o Nordeste onde cresceu compensando a diminuição nas outras regiões.

Mas é preciso recuperar o eleitorado do Sudeste e do Sul que criou aversão ao petismo para retomar o Palácio do Planalto em 2022.

Aqui mesmo no Nordeste existem setores da sociedade que estão ressentidos e a bronca vai além da corrupção. São mágoas dos debates nas redes sociais em que os militantes petistas os rebaixam a condição ignorantes ou iletrados. Além do uso vulgarizado do termo fascista usado para enquadrar o interlocutor.

Quando realmente a expressão tinha sentido foi olimpicamente ignorada pela maioria dos eleitores.

O monopólio da sugestão de autocrítica não cabe apenas ao PT, mas o petismo de fato precisa refletir. A legenda comandará a oposição Governo Bolsonaro, mas para fazer isso com credibilidade terá que trabalhar para se reencontrar com o eleitorado que abandonou nos últimos anos e não conseguiu atrair com o discurso em defesa da democracia.

A fala de Mano Brown na reta final da campanha é por demais realista. O PT precisa reaprender a falar a linguagem do povo. Para o bem ou para o mal Bolsonaro fez isso com maestria nos últimos anos a ponto de superar todos os rótulos negativos e chegar à presidência a partir de 1º de janeiro credenciado por uma votação consagradora.

O PT e o petismo terão que reaprender a conquistar corações e mentes, principalmente na classe média.

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Cid falou verdades inconvenientes na hora errada e antecipa reflexão pós-eleitoral

Cid fala verdades na hora errada

Ganhou o mundo o vídeo em que o senador eleito do Ceará Cid Gomes (PDT) desafiou a militância petista a fazer um mea culpa e cobrou autocrítica pelos erros do PT no poder.

As verdades inconvenientes proferidas por Cid foram antecipadas, por coincidência, por este operário da informação durante a live do diário das eleições no Facebook de ontem.

O problema é que Cid não escolheu o momento adequado fazendo um discurso de adversário que faz o favorito nas pesquisas Jair Bolsonaro (PSL) vibrar. Dá até para desconfiar que foi proposital.

Mas o que importa é que o petismo tem muito a aprender com a derrota que virá no dia 28. Vai ter que fazer autocrítica sim.

https://www.youtube.com/watch?v=0x2LuxFtIYc

Aqui pondero que não é só o PT que deve se autocriticar, mas os demais partidos. O PSDB afundou numa derrota humilhante no dia 7 de outubro. O MDB diminuiu de tamanho. O PP se esconde no ranço contra o PT, mas é o partido campeão no ranking da corrupção. O DEM deixou de ser partido grande faz tempo.

Poderia ficar o dia inteiro escrevendo sobre quem precisa fazer autocrítica, mas o foco é o PT. O partido é o mais cobrado pelo tamanho e representatividade que tem. Só os fanáticos bolsonaristas e antipetistas não conseguem enxergar avanços civilizatórios na era petista. Pegam 18 meses do governo Dilma cravam como se fosse o conjunto de uma obra de 13 anos.

É injusto.

O PT vai precisar rever a forma como se comunica para não repetir o erro tucano que não soube defender o legado de FHC. A vitória de Bolsonaro terá ele ocupando a mídia dia sim dia sim satanizando o PT como Lula fez com FHC.

Será um grande desafio encarar isso do outro lado balcão.

O PT terá que reorientar sua militância para que respeite quem pensa diferente no processo de reconquista da simpatia popular. A empáfia do esquerdista que se sente intelectualmente superior ao “jumentalizado” terá que ser revista.

É essa mágoa das discussões passadas que faz com que muitos topem arriscar conquistas trabalhistas, sociais e até mesmo pessoais votando em um candidato de perfil autoritário e imprevisível apenas pela satisfação de ver o PT derrotado.

Tem muita coisa a se refletir sobre o comportamento da esquerda nos próximos anos. Agora ela tem diante de si não um tucano sem base social, mas uma versão piorada de tudo que a direita poderia produzir e com algo inédito no outro lado do espectro político: base social.

O batido de Cid Gomes seria didático se não fosse na hora errada por favorecer o adversário.

 

 

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PT desiste de ser PT

Em 2016 o antipetismo estava no auge. Como bem lembrou hoje o jornalista Carlos Santos (ver AQUI) agremiação abriu mão do uso do vermelho e da estrela nas disputas municipais.

Após ressurgir das cinzas mesmo com seu maior líder preso por corrupção, o petismo conseguiu colocar no segundo turno um ex-prefeito fracassado no projeto de reeleição há dois anos.

É um feito e tanto, diga-se.

Foi Lula nestas condições que manteve o PT em condições de vencer as eleições presidenciais com uma tática que deu certo. Agora seu maior líder será escondido no segundo turno para que Haddad tenha mais identidade própria, mas o problema é que Lula e o PT são uma mesma entidade.

Mas como diz o sociólogo Jessé de Souza, a esquerda adora ser colonizada pela direita e o que faz o PT? Abre mão de sua própria identidade visual para se aproximar do centro como se cores e símbolos fossem determinantes na definição do voto.

O PT se deixou colonizar pelos bordões direitistas despejados nas redes sociais.

Não vai colar como não colou no fracasso eleitoral de 2016 que levou o agora candidato presidencial Fernando Haddad à derrota no primeiro turno em São Paulo.

O PT sucumbiu ao discurso daquele eleitor de Jair Bolsonaro que compartilha fake news no Whatsapp e adora bradar “a nossa bandeira jamais será vermelha”.

A maluquice do marketing do PT faz da chacota o assunto do dia quando na verdade o que realmente importa segue sem ser debatido deixando seu adversário já planejando o que fará quando sentar na cadeira de presidente.

Se o PT queria atender ao eleitor conservador deveria fazer o que ele exige há tempos: a moralidade na política e atender aos desejos da mídia de um pedido público de desculpas por escândalos de corrupção como mensalão e petrolão.

Escolher mudar de cor não vai resolver nada com um eleitorado que enxerga no petismo o inimigo a ser derrotado e encontrou em Jair Bolsonaro a representação do oposto ao que a agremiação prega, deixa de pregar ou o que dizem que ela prega.

O PT desistiu de ser PT sonhando em vencer a eleição, mas ganhou mesmo foi um motivo para servir de chacota.

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Leitores do Blog rechaçam oligarquias em enquete

Diante de limitadas alternativas que se convertem em falta de opções para o Governo do Estado para uma parcela expressiva do eleitorado, o Blog do Barreto perguntou aos leitores: “O que você rejeita mais na hora de decidir o voto no RN?”.

Foram dadas duas alternativas: 1) Candidato das oligarquias familiares Alves/Maia/Rosado; 2) Candidato petista ou ligado ao PT.

A rejeição maior foi a primeira alternativa. Para 83,1% dos leitores que votaram, as oligarquias familiares representam uma alternativa pior que o petismo. Para 16,9% é melhor votar nos grupos tradicionais que num candidato petista ou apoiado pelo PT.

Todas as terças-feiras o Blog do Barreto lança uma enquete para os leitores no grupo desta página no Facebook.

Entre no grupo e participe.

Nota do Blog: alguns leitores reclamaram de uma alternativa como “nenhum”. Mas aí seria dar ao leitor a opção cômoda e sem reflexão sobre o debate proposto.