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Prova de fogo para “terceira via”

Por Ney Lopes*

A tramitação da PEC dos precatórios no senado será prova de fogo para a viabilização como “terceira via legítima” da candidatura do senador Rodrigo Pacheco à presidência.

Caso ele seja cooptado por aqueles que se opõem a mudança constitucional estará inviabilizando o pagamento do auxílio mensal de R$ 400 reais aos excluídos sociais, sobretudo do Nordeste.

Em tais circunstancias perderá fôlego para decolagem do seu nome.

A quebra do teto de despesas pública não é novidade brasileira. Ocorreu no Reino Unido, Estados Unidos, França e vários países, não por irresponsabilidade fiscal, mas pelo aumento das carências sociais.

Sabe-se, que o pagamento do precatório é sagrado. Trata-se de ordem judicial que deve ser respeitada.

Porém, não impede ajustes à realidade de calamidade pública, que atravessa o país.

Os mais necessitados, com precatórios até 600 mil reais, receberão à vista.

O parcelamento será apenas para os precatórios de bancos e grandes empresas, inclusive os especuladores que com deságio de 40% adquirem esses créditos e fazem “lobbie” para receber na “boca” do cofre do Tesouro Nacional.

Na condição de presidente do Senado, ajudar na aprovação da PEC será prova do espírito público do senador Rodrigo Pacheco, independentemente de sua vinculação ao presidente da República.

Pior do que tentar evitar que Bolsonaro politicamente se beneficie com essa proposta, seria rejeitá-la e deixar ao relento milhões de miseráveis.

Note-se que, embora o PT tenha votado contra na Câmara, Lula se mantém em silêncio e não contesta a medida de emergência.

Na eleição presidencial de 2022 prevalecerá o discurso consistente, com propostas verdadeiras nas áreas política, econômica e social.

O senador Rodrigo Pacheco deve preocupar-se com a mensagem objetiva a ser oferecida ao povo brasileiro, que começaria com o gesto altivo de não prejudicar a nação por eventuais desacordos com o presidente Bolsonaro.

Com certeza, o verdadeiro eleitor da “terceira via” irá aplaudi-lo, por ser contra a  radicalização inconsequente da política,

A prioridade social do momento deve superar as divergências políticas e convergir para o atendimento das demandas coletivas daqueles que estão excluídos na sociedade.

Isto se chama ajudar a construir a paz social.

*É jornalista, advogado e ex-deputado federal – nl@neylopes.com.br.

Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o barreto269@hotmail.com e bruno.269@gmail.com.

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Fracasso das manifestações reflete indiferença à terceira via e falta de credibilidade do MBL

O branco neutro do MBL não convenceu (Foto: Rosana Cerqueira | GloboNews)

Vamos pontuar sem meias palavras e arrodeios que a mídia do mercado financeiro está fazendo: ninguém dá a mínima para a terceira via, apesar de toda forçada de barra todos os dias.

E nesse bolo eu nem incluo Ciro Gomes (PDT) que construiu uma base social, mas está longe tanto de ser a terceira via idealizada pelos adoradores do “deus mercado” como de ter capacidade de por gente na rua.

A terceira via desejada é um Bolsonaro com a boca limpa e que consiga segurar talheres.

As manifestações ignoradas pelo povo ontem refletem o desempenho dos candidatos da terceira via que não empolgam.

Ninguém liga para Doria, Mandetta, Eduardo Leite, Amoedo e qualquer nome forçado para ser o “nem Bolsonaro nem Lula”.

Some-se a isso a falta de credibilidade do MBL para puxar um movimento de rua. O grupo tem sua história marcada por páginas de fake news e ataques de baixo nível contra a esquerda. Quando decidiram abrir o movimento já era tarde demais e ainda tiveram a petulância de exigir que as pessoas fossem de branco.

A maior parta da esquerda viu tudo isso com desconfiança. Afinal o MBL sempre jogou sujo e desta vez não seria diferente. Não por acaso o “pixuleco” que associa Lula a um criminoso estava lá, o antipetismo estava presente no movimento.

Não tinha clima para o maior partido de esquerda do país se fazer presente. O MBL abriu o movimento sem dar condições de receber contrários em clima de paz.

Quem quer agregar age com altruísmo. Parte da imprensa que critica o PT por se ausentar do evento exige uma postura masoquista do petismo.

Faltou legitimidade ao MBL e votos para a terceira via ligada ao mercado financeiro.

Prova disso?

A pesquisa da USP com os manifestantes da Avenida Paulista que indicaram que 16% deles votavam em Ciro e 14% em Lula. Ainda 54% disseram que votariam no petista. Nem num protesto “nem Lula nem Bolsonaro” os queridinhos do mercado financeiro se deram bem. (Leia mais AQUI).

O bolsonarismo sem Bolsonaro não tem capacidade de colocar gente na rua. A esquerda sabe que num segundo turno esse pessoal vai apertar o número do partido em que o atual presidente esteja de passagem por considerar Lula ainda pior que o genocida.

O “Fora Bolsonaro” só vai juntar gente se for uma manifestação suprapartidária cujo foco seja apenas pedir o impeachment do presidente sem envolver disputas ideológicas e liberando todas as bandeiras e cores.

 

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A terceira via tem chance?

Por Ney Lopes*

Se haverá ou não “terceira via” é uma indagação habitual, quando se fala da eleição de 2022.

Há tempo pela frente. A previsão é que o último dia para filiação a um partido político seja 7 de abril de 2022, com as eleições em  2 de outubro (1° turno) e 30 de outubro (2° turno)

 Luiz Inácio Lula da Silva uniu-se a Jair Messias Bolsonaro e aguçam a polarização política entre os extremos, através da difusão de ressentimentos recíprocos.

Ambos levam no ridículo a hipótese de uma “terceira via”, por não lhes convir.

Enquanto isso, as pesquisas mostram mais de um terço do eleitorado sem candidato à presidente da República, prenunciando a viabilidade eleitoral de solução fora dos extremos.

Todavia, a terceira via para tornar-se realidade terá que dar urgentemente sinal de unidade e evitar a pulverização de pretensos candidatos.

A radicalização prejudica o debate amplo, promove a intolerância e reduz a confiança no diálogo e na construção de soluções negociadas para problemas coletivos.

Como bem afirmou o ex-presidente Michel Temer “o Brasil não pode continuar mais com esta guerra entre brasileiros e as próprias instituições”.

A candidatura alternativa exige a união em torno de “um nome”, que aglutine forças políticas e leve o eleitor a direcionar o seu voto para essa opção, se ele não quer votar em Bolsonaro, ou Lula.

Em momentos de crise política, os partidos sempre constroem pontes e coalizões entre grupos antagônicos.

Isso aconteceu na coalização formada por nacionalistas judeus e árabes-israelenses para derrubar o ex-premiê Benjamin Netanyahu, em Israel.

Joe Biden nos Estados Unidos, em 2020, juntou democratas e republicanos mais moderados.

No Brasil, na eleição de 1985 as forças democráticas se uniram em torno da candidatura de Tancredo Neves.

Em 2018, Bolsonaro ganhou uma eleição plebiscitária, que girou em torno de quem teria mais chances de tirar o PT do poder.

A eleição municipal de 2020 foi emblemática.

Não prevaleceu a polarização Lula e Bolsonaro.

Os maiores partidos  PT e PSL fizeram menos prefeitos, que as cinco legendas menores MDB (783), Progressistas (687), PSD (654), PSDB (521) e DEM (466).

Os resultados demonstram, campo aberto na formação de uma coligação ampla, que viabilize a terceira via, em 2022.

Há contradições, que merecem análise.

Frequentemente, Bolsonaro e Lula criticam o “centro”, mas tentam atraí-lo para alianças.

Lula ao recuperar a elegibilidade correu em busca de apoios junto a caciques do centro, como José Sarney, Eunício Oliveira e até mesmo seu velho concorrente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Insinuou que gostaria de ter como “vice” nomes como Alexandre Kalil, prefeito de BH (PSD), a empresária Luiza Trajano, dona da rede varejista Magazine Luiza, Josué Gomes, presidente da FIESP, ou o general Santos Cruz, ex-ministro do governo Bolsonaro.

Ultimamente, Bolsonaro faz o mesmo e levou o líder do “centrão” senador Ciro Nogueira para o núcleo do governo, mesmo após seu ministro Augusto Heleno ter cantarolado: “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”.

O general fez uma paródia do samba “Gente Bacana”, cujo refrão diz: “Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão”.

Vê-se, que cada candidato joga poeira nos próprios olhos, para desviar atenção do que realmente tem importância.

Visão pragmática do quadro político de 2022, não pode considerar a “terceira via” como a salvação nacional.

Será apenas assegurar o direito ao cidadão de ter alternativa e decidir na urna.

Bolsonaro e Lula não devem ser subestimados.

O presidente mantém percentual de apoio em torno de 25%. e Lula lidera as pesquisas, embora a sua candidatura possa ser afetada por algum processo judicial, a ponto de torná-lo novamente inelegível, com base na Lei da Ficha Limpa.

Já se percebe, que o debate da eleição não será em torno da pandemia, diante da possibilidade da vacinação em massa, nem tão pouco de questões econômicas abstratas para a maioria dos cidadãos, como teto de gastos, PIB, câmbio etc.

O fator decisivo para levar o eleitor à urna será o “bolso da população”, não apenas dos mais pobres, mas também da classe média que definha, empregos, preços, saúde precária, condições de vida, além de um projeto político, social e econômico, que defenda a “união nacional”, a exemplo do que fizeram países como Chile, Espanha, Portugal, Polônia e outros.

Ninguém se engane: além de melhoria na qualidade de vida, o brasileiro quer paz.

Deseja uma nação unida, com menos tumultos.

Diante de quadro tão complexo, não se justifica cruzar os braços e simplesmente buscar o “mal menor”.

Nunca se deve esquecer a advertência do cientista político Luiz Felipe D’Ávila, ao lembrar a filosofa alemã Hannah Arendt, que disse:

“aqueles que escolhem o mal menor esquecem rapidamente de que escolheram o mal”.

*É jornalista, ex-deputado federal, professor de direito constitucional da UFRN e advogado.

Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o barreto269@hotmail.com e bruno.269@gmail.com.

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Brasil: esquerda, direita e terceira via

Por Ney Lopes*

A cada dia que se aproxima a eleição geral de 2022 desenha-se o confronto dos extremistas de direita e de esquerda.

O filósofo Norberto Bobbio assemelha esquerda e direita a uma ferradura, em cuja curvatura de ferro as pontas se juntam.

Nos confrontos políticos, os “extremos ideológicos” aproximam-se e defendem ideias comuns, como autoritarismo, culto ao Estado, protecionismo e isolacionismo

A polarização entre direita e esquerda vem do final da II Guerra Mundial.

A “terceira via” teve origem com o primeiro-ministro britânico Tony Blair ao reunir em Dublin (1980) personalidades políticas para discutir esse novo modelo, com o propósito de transformar-se em opção entre esquerda e direita.

Entretanto, teve vida curta e perdeu força.

Em meados da década de 90, com o advento da globalização, o neoliberalismo tornou­-se a doutrina ideológica hegemônica, através do Consenso de Washington, patrocinado pelas principais agências econômicas mundiais.

Nos últimos 20 anos ocorreram acontecimentos globais, como fracasso das reformas neoliberais, o 11 de setembro, a crise financeira internacional de 2008, a pandemia e o crescimento dos extremismos políticos em diversos continentes.

No Brasil, vivemos cerca de duas décadas de polarização entre o PT e o PSDB, sem jamais ter ocorrido a intensidade do confronto atual, com Bolsonaro e Lula se digladiando, em céu aberto.

Inegavelmente, os dois são os mais fortes candidatos no momento e já se escolheram como adversários, por acharem que radicalizar é a melhor forma de ganhar a eleição.

Enquanto isso, o futuro traz o desafio da reconstrução do país, no após pandemia, com sinais de grandes mudanças nas funções prioritárias do Estado,

Quando se fala em terceira via, argumenta-se não existir mais tempo.

Lembro a máxima de Marco Maciel: “havendo prazo, há tempo”.

A dificuldade é a pulverização de nomes, que viabilize uma candidatura única, deixando de lado o estilo belicoso dos insultos e ataques pessoais e convocando à Nação ao “diálogo”, onde todos se sentem à mesa, a exemplo do que fizeram no passado Espanha, Chile, Portugal, Colômbia, Polônia e outros países.

A tarefa de punir os desvios e crimes porventura praticados é competência do STF, MP e PF.

O que interessa para 2022 resume-se na reconstrução do país na urna. Se alguma penalidade política tiver de ser aplicada, será dever do cidadão, na hora da escolha livre.

Hoje, Lula e Bolsonaro dizem o que o povo quer ouvir.

A terceira via, para tornar-se competitiva, teria que colocar em debate “projeto nacional”, em linguagem acessível à população, capaz de transmitir credibilidade e fazer com que o Brasil volte a acreditar em si próprio.

A visão política do nome indicado é pré-requisito para o sucesso, independente da atvidade, ou profissão que exerça.

Sem a política, não haverá solução e a consequência serão as portas abertas para populistas, oportunistas e pregações autoritárias.

A história brasileira tem precedente, que encoraja a hipótese da Terceira Via.

Em 1994, as eleições tinham como objetivo consolidar o processo de renovação institucional, com base na democracia representativa.

O candidato favorito era Luís Inácio da Silva, que vinha fortalecido com o segundo lugar nas eleições de 1989.

Surgiu na reta final, o senador FHC, que viera de derrota para prefeito de SP. Ele trouxe consigo o “projeto nacional” do Plano real, como alternativa de recuperar a economia. Ganhou no primeiro turno.

O exemplo mostra, que ideias consistentes e nome competitivo, derrotam extremismos.

Não se pode negar as diferenças políticas entre 1994 e 2022.

Hoje, o país está dividido em grupos fanatizados, que não raciocinam e agem por impulso.

Antes, era o favoritismo de Lula.

Hoje, há descrença com a classe política.

Antes, o desejo era volta à democracia.

Hoje, verifica-se deserto de líderes.

Antes, a disputa envolveu nomes expressivos de Leonel Brizola, o ex-governador de SP, Orestes Quércia e o senador, Espiridião Amim.

Encontrar em 2022 o caminho da terceira via não será fácil.

Mas, não é impossível.

Em tempo:  arrisco palpite: Tasso Jereissati, Rodrigo Pacheco ou Sérgio Moro.

O critério teria que ser a competência de governar o Brasil e acreditar no julgamento direto do eleitor.

A “cabeça do eleitor” está mudando e a credibilidade do candidato vale mais do que a sua tradição de liderança, ou peso político-eleitoral.

Bom relembrar que FHC elegeu-se Presidente em 1994, sem nunca ter ganho uma eleição, exerceu o Senado como suplente e perdeu para prefeito de SP.

Caso não se concretize a tentativa de nova alternativa para 2022,  a solução será optar por nomes indicados pelas coligações.

Fatalmente, na liderança estarão Bolsonaro e Lula.

*É jornalista, ex-deputado federal, professor de direito constitucional da UFRN e advogado.

Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o barreto269@hotmail.com e bruno.269@gmail.com.

*É procurador da República com atuação no RN aposentado.