O PT foi o grande vitorioso nas duas últimas eleições gerais no Rio Grande do Norte. Já a família Alves vem acumulando derrotas e hoje não ocupa espaços nem no Governo nem no Senado.
Os Alves não estão politicamente acabados por causa das duas eleições, mas estão em processo de declínio. Ainda assim a cúpula do PT potiguar seguindo a cartilha de Lula quer reconciliar com a velha oligarquia.
O processo em curso parece mais uma adesão do PT aos Alves do que o inverso, o que neste caso seria o mais natural.
A governadora Fátima Bezerra (PT) faz a melhor gestão no Rio Grande do Norte desde Wilma de Faria (2003/10) e lidera as pesquisas, um feito que nenhum governador ao final do terceiro ano de mandato conseguiu aqui no Estado neste primeiro quarto de século.
Ainda assim, o PT se coloca numa situação de fragilidade exagerada em relação aos Alves que via MDB reivindicam a vaga de vice para o deputado federal Walter Alves e através do PDT o Senado para o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PDT).
Um exagero.
Não que não seja importante uma aliança com os Alves. O MDB tem quase um terço dos prefeitos potiguares e Carlos Eduardo é ainda o maior eleitor de Natal.
Mas as eleições de 2014 e 2018 mostraram que ter o maior número de prefeitos não garante vitória e a transferência de votos de Carlos Eduardo em Natal teria um efeito limitado porque Fátima é 100% conhecida na capital.
Então porque o PT está tão submisso aos Alves?
A resposta passa pela alta desaprovação de Fátima que ainda que inferior a aprovação está na casa dos 40%. A estratégia é usar os Alves como escudo.
Ainda assim os Alves até aqui não tem demonstrado qualquer entusiasmo em defender a governadora e o PT. No Foro de Moscow da quinta-feira o ex-senador Garibldi Alves (MDB) se absteve de dizer se está arrependido do impeachment, defendeu uma candidatura da terceira via a presidente e disse que só dialoga com o PT porque foi procurado por Lula.
De quebra, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Henrique Alves, reclamou publicamente da declaração da deputada estadual Isolda Dantas (PT) que admitiu engolir uma aliança com o MDB para cuspir depois.
O secretário chefe do gabinete civil Raimundo Dantas classificou a declaração como infeliz e saiu em defesa da aliança.
O episódio escancara a falta de reciprocidade do MDB em relação ao PT. O deputado estadual Nelter Queiroz ataca a governadora toda semana e não há qualquer reação contrária do partido.
Ontem o ex-senador Fernando Bezerra (MDB) concedeu entrevista enaltecendo os ministros bolsonaristas e criticando o foco de Fátima em colocar os salários em dia.
Mais uma vez passividade do PT e comodismo no MDB.
Ainda está viva na memória da militância petista os ataques desferidos nos últimos anos por Carlos Eduardo e sua esposa Andrea Ramalho.
A falta de reciprocidade escancara não um processo de construção de aliança, mas de submissão de um partido que está mais forte a uma oligarquia que vive o seu pior momento político.
A prova do que escrevo é de que o entendimento nas análises políticas é de que o PT está ressuscitando os Alves e não que a oligarquia será decisiva para a reeleição de Fátima.
A sensação que fica é a de quem realmente está engolindo para cuspir depois são os Alves e eles nem sequer disfarçam.
Encerro com a pergunta do título: é para tanto?