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Álvaro Dias e o bolsonarismo sem Bolsonaro

Álvaro Dias adota estratégia bolsonarista e se assusta com o resultado (Foto: reprodução)

O prefeito de Natal Álvaro Dias (PSDB) se apegou a estratégia negacionista do bolsonarismo para se diferenciar da governadora Fátima Bezerra (PT) e atrair o eleitorado antipetista para si. No jogo de xadrez com peças humanas ele se movimentou a favor da ivermectina como medida de prevenção ao novo coronavírus.

Na boca do prefeito, que é médico, o remédio virou vacina:

“Podemos usar a ivermectina como tratamento preventivo. Estamos disponibilizando em grande quantidade. Vamos também providenciar outros medicamentos, que fazem o tratamento, que colaboram, que resolvem o coronavírus, destroem o vírus” *, disse à TV Tropical. O discurso foi mantido nas semanas seguintes.

A medicação não tem comprovação científica (ver AQUI). O prefeito chegou a passar por uma situação constrangedora em entrevista ao defender a eficácia da medicação in vitro, o que necessariamente significa que aconteça o mesmo em seres humanos.

Tanto que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária não recomenda a prescrição do medicamento para tratamento de covid-19 (ver AQUI).

Dias vez da ivermectina a versão potiguar da cloroquina. Seguia a linha do medicamento “milagroso” adotada pelo presidente em sua luta para a retomada da economia de qualquer jeito.

Depois disso, ele entrou em desacordo com a governadora antecipando o plano de retomada da economia na capital do Estado, inclusive anunciando a desativação de leitos num cenário em que a capital do Estado ainda não tinha estabilizado a redução da ocupação de leitos conforme as atualizações do Regula RN. “Estamos desativando leitos de coronavírus nas UPAs, no Hospital Municipal. No Hospital de Campanha, hoje, de 100 leitos, devemos ter 50 ocupados e 50 disponíveis para ofertar a quem precisar. E UTIs, de 20, devemos ter 12 ocupadas e o restante disponível. Estamos virando o jogo contra o coronavírus”**, disse ao Bom Dia RN na semana passada.

Além disso, o prefeito distribuiu a Ivermectina como se fosse vacina em Natal. Inclusive, o assunto está sendo investigado pelo Ministério Público.

Com o clima criado pela estratégia bolsonarista do prefeito de Natal não deu outra: domingo as praias da capital estavam lotadas com grande número de pessoas circulando sem máscaras (vídeo abaixo).

Logo o prefeito correu para as redes sociais para anunciar que intensificaria a fiscalização. Entidades empresariais como a Fecomercio emitiram nota mostrando preocupação.

Culparam um povo que estava doido para ter um lazer e se apegou a uma crendice popularizada por um prefeito bem avaliado.

O prefeito apostou no bolsonarismo sem Bolsonaro. O presidente sabe o que quer com a estratégia dele, Álvaria Dias também. O problema é que o burgomestre de Natal se assustou com o resultado.

 

*Aspas extraídas do Portal Agora RN.

**Aspas extraídas do G1RN

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Ação de Temer no RJ golpeia discurso de Bolsonaro

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Temer toma posse como secretário de segurança para abafar a crise após o massacre de Carandiru em 1992. A história se repetirá?

Impopular, desgastado e sonhando com uma inviável reeleição, Michel Temer tem uma muralha da China que o separa das demandas populares. Faz um governo capacho do mercado financeiro.

O “deus mercado” pode até ditar as cartas na gestão do “Vampirão”, mas não dita os anseios populares que seguem num sentido oposto aos interesses dos engravatados da Bovespa.

O maior problema do povo é a segurança e é este o fator primordial para Jair Bolsonaro ter se tornado um político popular deixando a condição de parlamentar obscuro para a de presidenciável competitivo.

Sem condições de ir além do que já foi feito pelo PT em programas sociais nem vocação política para assumir um projeto que melhore a vida do povão, resta a Michel Temer apelar para o combate à violência.

Ex-secretário de Segurança Pública do Governo de São Paulo (gestão de Luiz Antônio Fleury Filho), nomeado cinco dias após o massacre do Carandiru em 1992, Temer tenta na contenção da violência no Rio de Janeiro encontrar um fato que melhore sua popularidade e esconda aos olhos do mercado o fracasso na tentativa de reforma da previdência.

Se tudo der certo no principal cartão postal do país, Temer pode levar a iniciativa a outros Estados e quem sabe entrar no eleitorado bolsonarizado mostrando na prática que violência se resolve com violência como apregoa o histriônico discurso do capitão do exército. Ser o tiro sair pela culatra o bolsarismo sem Bolsonaro será um prato cheio para os opositores do capitão reformado.

A ação no Rio de Janeiro golpeia o discurso de Bolsonaro dentro da casa dele. Resta saber se será um ippon (que finaliza o adversário no judô) ou um Koka (menor pontuação).