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UTI do São Luiz para pacientes do covid-19 lota em 72 horas

Hospital São Luiz deve ter mais dez leitos (Imagem: Reprodução/ Vídeo Assessoria APAMIM)

Disponibilizados na sexta-feira, 1º de maio, dez os leitos de UTI do Hospital São Luiz lotaram em 72 horas.

Segundo a assessoria da Associação de Proteção e Apoio a Maternidade e à Infância de Mossoró (APAMIM) que administra os leitos a lotação se deu porque o Hospital Regional Tarcísio Maia teve que transferir três pacientes que lá estavam por falta de insumos.

A previsão é de que até quarta-feira dez leitos sejam liberados no Hospital São Luiz.

Constam no Hospital São Luiz 25 respiradores, leitos de Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) e enfermaria disponíveis.

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Rosalba aposta no antipetismo para se blindar

Rosalba tem no antipetismo um trunfo na guerra de narrativas (Foto: autor não identificado)

A situação da prefeita Rosalba Ciarlini (PP) em relação aos problemas com a covid-19 é muito cômoda. Se acontecer algo de positivo ela tenta capitalizar como na última quinta-feira quando deu entrevista ao Bom Dia RN dizendo que graças a ela saíram os leitos do Hospital São Luiz.

A declaração foi prontamente desmentida pelo promotor da saúde Rodrigo Pessoa em entrevista ao Blog do Barreto, diga-se de passagem.

Se tudo der errado a prefeita jogará a culpa na governadora Fátima Bezerra (PT). Rosalba sabe que tem um bom espantalho a seu favor: o antipetismo predominante na classe média local.

As últimas declarações e movimentos da mídia rosalbista indicam isso. A ideia é mostrar que a prefeita tem feito de tudo para proteger os mossoroenses e a governadora tem sido negligente e virado as costas para Mossoró.

A realidade mostra que nem uma coisa nem outra. As medidas tomadas por ambas gestoras são bem semelhantes, mas aposta será no antipetismo visceral.

O colapso do sistema de saúde provocado pela covid-19 é uma realidade. A prefeita sabe disso e duas movimentações dela indicam a estratégia: 1) dizer na Intertv que a cidade só terá problemas por causa dos pacientes que virão das cidades vizinhas jogando a culpa na governadora; 2) a ampliação do Cemitério Novo Tempo.

No momento em que finalizo este texto sou informado que já não existem mais vagas nos leitos do Hospital São Luiz que foi instalado graças a um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pelo Ministério Público, Governo do Estado e Prefeitura de Mossoró. Isso mostra que o quadro de crescimento da covid-19 aqui é preocupante.

A prefeita joga com o antipetismo na manga. Sabe que qualquer versão que for espalhada contra a governadora cola e é abraçada integralmente pela classe média conservadora e barulhenta das redes sociais de Mossoró.

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Reportagem

Veja a comparação entre as projeções da Sesap, dados oficiais e estimativas de subnotificação para mortos e infectados por covid-19

 

As polêmicas projeções divulgadas pela Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) no dia 7 de abril seguem sendo motivo de chacota nas redes sociais seja por má fé ou incompreensão do estudo feito com auxílio de professores renomados da Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Norte (UFRN).

Uma das explicações dadas na época eram de que os números não eram fixos e poderiam se alterar ao longo do mês. Tudo dependeria das medidas a serem tomadas pelo Governo do Estado e prefeituras. Falta fazer essa atualização.

A projeção apontava no cenário mais otimista 1,2 milhão de infectados e mais de 10 mil óbitos no Rio Grande do Norte se o quadro daquela data fosse mantido até 15 de maio. Os números levam em conta dados como as subnotificações.

Sabe-se, com base em estudo da Universidade de São Paulo (USP), que a subnotificação no Brasil gira em torno de 12 a 15 vezes os dados oficiais (confira AQUI).

A projeção apontava para 2 de maio 769 mortes. Nesta data os números oficiais indicaram 61 óbitos  no boletim da Sesap. No cálculo mais conservador que multiplica 61×12 chega-se a 732 óbitos levando em conta a subnotificação.

Mas é em relação ao quadro de infectados que reside a maior diferença. A projeção apontava para 92.678 infectados em 2 de maio. Com 1.392 infectados naquela data segundo o boletim da Sesap fizemos a conta mais pessimista (15 infectados para cada caso notificado) e teríamos 20.880 contaminados por covid-19 no Rio Grande do Norte.

A projeção apontava para 2.810 recuperados em 2 de maio. No boletim relativo esta data eram 415. No calculo mais conservador (415×12) seriam 4.980 e no cenário de maior subnotificação (415×15) seriam 6.225 curados.

 

Números relativos a 2 de maio

Casos Dados oficiais Projeção Estimativa de subnotificação mínima (x12) Estimativa de subnotificação

(x15)

Óbitos 61 769 732 915
Infectados 1.392 92.678 16.704 20.880
Recuperados 415 2.810 4.980 6.225

 

Entenda os estudos da Sesap clicando nos links abaixo:

Projeções indicam que mais de um milhão de potiguares podem pegar coronavírus até 15 de maio

Exclusivo: autores das projeções explicam estudo que estima 1,2 milhão de infectados no RN até 15 de maio

Você também pode assistir a entrevista dos professores José Dias do Nascimento e Ion Andrade ao Foro de Moscow:

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Artigo

O impacto da Covid-19 nas decisões dos gestores públicos

Jardinópolis confirma primeira morte pela covid-19 - cotidiano ...

Por Gutemberg Dias*

Não vejo muitos gestores públicos preparados para conviver com tomadas de decisões que possam sacrificar seu prestígio político com certas comadas da sociedade em detrimento de ações mais duras de combate a Covid-19. São vários exemplos pelo Brasil, começando pelo presidente Jair Bolsonaro, obviamente esse último foge a qualquer racionalidade e, até compará-lo com alguns gestores estaduais e municipais é uma tarefa difícil.

Mas, vamos lá. Os políticos tradicionais e até mesmo alguns que aparentemente se vendem como paladinos da nova política, não tem estrutura psicológica para tomar decisões em crises que possam impactar sua imagem perante certos grupos, como por exemplo, evangélicos e empresários.

Se olharmos para a grande maioria dos políticos do nosso sofrido Rio Grande do Norte, a partir da análise de suas redes sociais, não vemos palavras mais enfáticas sobre temas como a manutenção do fechamento dos templos religiosos e o comércio. Na maioria das vezes, suas falas são em tom superficial, apenas para não ficarem à margem da problemática discutida, por vezes, pelos seus próprios eleitores. É bom frisar que essa visão vai de chefes de executivos, a parlamentares de todos os níveis.

Se observarmos as decisões tomadas por alguns prefeitos, em especial a prefeita de Mossoró e, também, a governadora do estado, ambas mulheres de fibra e garra, mas que ante a pressão empresarial tomaram medidas de afrouxamento do isolamento social que já causam aglomerações nos principais núcleos urbanos. Sei que ambas dizem que tomaram a decisão de acordo com assessoramento de equipes técnicas. Não tenho dúvida dessa verdade, mas não deixa de ser uma forma de tomar decisões se escondendo por trás de um véu.

As escolhas para quem é gestor nunca é fácil. Administrei diretamente uma empresa durante 18 anos e sei que muitas vezes tive que tomar decisões que contrariavam meus ideários políticos. Não nego que algumas vezes tergiversei, mas sabia que estava fazendo algo que seria prejudicial a minha organização. Vocês podem dizer, no privado é tudo mais fácil. E certamente é, mas os modelos de gestão são aplicados ao privado e público, obviamente, em escalas diferentes.

Quando tratamos do público e, sobretudo, do cuidado com as pessoas, a decisão de um gestor tem sua importância quintuplicada. Estamos falando, muitas das vezes, de salvar vidas, ou dito de outra forma, impedir que pessoas morram. AÍ é que entra a coragem do político, pois para garantir o direito a vida, e a Covid-19 está mostrando, o gestor terá que decidir entre cuidar efetivamente do ser humano ou agradar a grupos organizados da sociedade.

Talvez, seja mais fácil para mim, que estou despido de um cargo na gestão pública, dizer que o certo é enfrentar as adversidades e trabalhar para salvar vidas. Talvez se estivesse no lugar deles até pudesse ver de forma diferente, mas tenho a convicção que não se negocia vida com seu ninguém, principalmente, com o capital.

A maioria dos gestores resolveram liberar as atividades econômicas no momento que se observa o aumento dos casos e óbitos. Já temos mais de 500 pessoas morrendo oficialmente por Covid-19 no Brasil e estudos dizem que a subnotificação é mais de 10x os casos já diagnosticados. Trazendo para Mossoró, já temos 15 óbitos e mais de 170 casos confirmados com taxa de letalidade maior que a média do Brasil.

Diante dos números os gestores precisarão rever seus decretos? Eu acredito que sim. Haja vista que as ruas estão cheias e as determinações para uso de máscaras não são acatadas por todos. O resultado certamente virá após 12 ou 15 dias e aí, a decisão que poderia ser tomada hoje terá que ser inexoravelmente tomada nos próximos dias. Porém, com um agravante, muitos já terão sucumbido a Covid-19.

Temos que usar como exemplos cidades como o Manaus, São Paulo, Rio de Janeiro e São Luiz que já enfrentam colapso na rede atendimento a saúde. Aqui não será diferente se as medidas se mantiverem no campo das amenidades. Para mim ou é ou não é! Um outro exemplo, só que positivo, a ser seguido é o da Bélgica, que trata todos os casos de morte por insuficiência respiratória como casos de Covid-19, assim eles conseguem trabalhar mais próximos da realidade do acometimento da doença e estruturar ações em saúde com maior eficácia.

É isso, minha gente. Esse momento é muito complicado para todos nós. Por enquanto não existe outro remédio ou tratamento que não seja se manter longe de aglomerações e em isolamento social no que for possível. Que nossos gestores tomem as melhores decisões para resguardar o povo dessa terrível pandemia.

*É professor do Departamento de Geografia da UERN, empresário e ex-candidato a prefeito de Mossoró.

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E daí? O suicídio coletivo de um país desgovernado

Presidente tosse em público (Foto: Gabriela Bilo)

Por Ricardo Kotscho

Brasil bate recordes após recordes de mortos e contaminados pela Covid-19, o sistema de saúde está entrando em colapso e, a cada dia, mais gente rompe o isolamento social, aumentando o risco de contágio, bem no momento em que entramos na fase mais aguda da pandemia.

“E daí?”, pergunta Bolsonaro, como quem diz que não tem nada com isso. “Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres”.

Tal presidente, tal povo. Difícil saber o que veio primeiro, o que é causa e o que é efeito.

Esta manhã, ao sair do Alvorada, acompanhado de uma tropa de choque de deputados, disposto a afrontar os jornalistas, o presidente lavou as mãos.

“Não adianta a imprensa querer colocar na minha conta essas questões que não cabem a mim”.

Cabem a quem, então? Ao Papa, ao Exército da Salvação, ao presidente do Flamengo, à ONU?

“Relatores da ONU denunciam o governo brasileiro diante do que chamam de políticas econômicas e sociais irresponsáveis que colocam milhões de vidas em risco”, informa Jamil Chade, correspondente do UOL na Europa.

Rompida a porteira, enquanto o sinistro ministro da Saúde, sempre vigiado por um general, governadores e prefeitos discutem “medidas de afrouxamento para a vida voltar ao normal”, o gado bolsonarista saiu atropelando o que viu pela frente para invadir lojas e shoppings, como se fosse véspera de Natal, depois do fim da guerra contra a pandemia.

Só que ainda estamos no meio dessa guerra e, segundo o Datafolha, 46% dos brasileiros já são a favor do relaxamento das regras. Em São Paulo, só 48% estão ficando em casa.

Ou seja, quase metade da população apoia o suicídio coletivo deste país desgovernado por um mentecapto, cercado por filhos dementes e generais de pijama, dançando à beira do abismo.

No país que já conta com mais de 5 mil mortos e 73 mil casos confirmados, passando a China, assiste-se a uma verdadeira farra do boi, e Bolsonaro ainda tem a coragem de culpar a quarentena por essa tragédia anunciada.

Viraram tudo do avesso do avesso do avesso e ninguém sabe mais o que é certo e o que é errado, o que deve ou não fazer, o que é mentira e o que é verdade, com autoridades acusando umas às outras.

Se acusarem a população pela própria desgraça, não estarão tão errados. Afinal, ninguém é obrigado a seguir o líder, correr para o matadouro e achar bonito.

Vida que segue.

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Crônica

O Homo Deus, de joelhos, precisará repensar sua ação sobre o planeta

Por Robério Paulino*

 

2020: O ANO EM QUE O MUNDO PAROU

O mundo vive um cataclismo, um choque monumental, um momento sem precedentes na história humana. Apesar de a COVID-19 não ter matado até agora mais que as grandes guerras e outras pandemias, nunca tantos foram afetados por um evento global simultaneamente, em tão curto espaço de tempo, em tantos lugares do planeta. Milhões foram infectados pelo vírus em menos de 3 meses em mais de 180 países, com dezenas de milhares de mortos até agora. O medo paralisa grande parte das atividades humanas. As TVs e redes sociais mostram todo o tempo hospitais colapsados mesmo em países centrais, com filas de ambulâncias. Países constroem hospitais de campanha às pressas, se preparando para o pior, como em tempos de guerra.

Cenas chocantes de enterros de indigentes em valas comuns nos cemitérios em algumas cidades ou de mortos abandonados nas ruas no Equador, vistas por todo o mundo, lembram tempos de guerra e horrorizam a todos. Bilhões estão presos dentro de suas casas em quarentena, pela exigência de isolamento social, enquanto não existe qualquer vacina contra vírus tão contagiante. Famílias estão separadas, sem poder ter contato com seus parentes ou até mesmo enterrar seus mortos. Problemas de abastecimento podem agravar a situação nos próximos meses.

Os centros e avenidas de grandes cidades mundiais, com seus monumentos, antes lotados de turistas, de repente estão quase desertos; os metrôs das maiores metrópoles aparecem quase vazios, mesmo em dias de semana. Nem na II GM foi assim, já que, durante aquele conflito, as pessoas se protegiam dos bombardeios nos subterrâneos, mas logo as cidades voltavam ao seu ritmo frenético. Grandes aeroportos estão parados e milhares de aviões no chão.

Parte considerável dos navios estão ancorados nos portos; o comércio internacional cairá em porcentagem ainda não previsível com segurança. Milhões de empresas estão paradas em todo o mundo e já demitiram dezenas de milhões de trabalhadores, o que prenuncia uma recessão e uma crise social de magnitude ainda não calculável, que pode vir a ser talvez a maior depois de 1929. Tempos sombrios.

Uma mudança tão radical em tão pouco tempo era inimaginável até poucos meses, uma ruptura que entrará para a História e que será objeto de muita discussão e estudos. No futuro, professores dispensarão muitas aulas para explicar a pandemia de 2020. Esta série de crônicas pretende apresentar ideias sobre essa crise em andamento, ainda que saibamos que só poderemos entendê-la mais profundamente quando tomarmos distância no tempo. Conseguirá a humanidade repensar seu acionar destrutivo sobre o planeta, como seria desejável?

 

 

O HOMO-DEUS DE JOELHOS PERANTE UM MINÚSCULO VÍRUS

Nossa inteligência superior, nossa ciência, nossa avançada tecnologia, nossas máquinas, nossos Estados e sistemas políticos, nossos arsenais e armas de destruição em massa, capazes de arrasar cidades ou países inteiros em minutos, nossa medicina, nossas vacinas e antibióticos, nosso domínio quase total sobre todo o território, nos tornaram senhores absolutos do planeta, subjugando todos os demais animais, a ponto de nos considerarmos invencíveis. Mas eis que de repente, o animal que passou a ser considerar um deus, como cunhou Yuval Noah Harari (2015, 2016), é colocado de joelhos por um ser minúsculo, invisível, uma das formas de vida mais primitivas do planeta, sem qualquer inteligência complexa, mas de uma potência mortal ainda desconhecida pelos humanos, pelo menos desde a Gripe Espanhola, que matou dezenas de milhões ao fim da Primeira Guerra Mundial.

REPENSAR TODO O ACIONAR HUMANO SOBRE O PLANETA

Nunca mais a humanidade será a mesma depois dessa crise; nunca se sai de uma catástrofe com a mesma mentalidade, como apontou recentemente Lilia Schwarcz (2020). Essa tragédia talvez seja uma grande oportunidade de levar a humanidade a refletir se temos o direito de fazer o que estamos fazendo com nossa casa comum, nosso habitat, de exterminar anualmente centenas de espécies animais e vegetais que habitam o planeta há milhares de anos conosco, de exaurir, contaminar, poluir o planeta para nossa satisfação exclusiva, comprometendo inclusive o futuro das futuras gerações humanas.

Obviamente, essa crise questiona o próprio sistema capitalista, pela forma frenética e irracional com que revolve e explora os ambientes do mundo. Põe em xeque também sua forma mais brutal, o neoliberalismo. Os países onde a face social do Estado foi reduzida ao mínimo e inexiste qualquer sistema de saúde pública, como por exemplo os EUA, têm tido o maior número de mortos. Analisaremos numa próxima crônica como essa crise tem o potencial de enfraquecer o ímpeto neoliberal, a depender da reação das populações, dos movimentos sociais e da compreensão sobre seu real significado por parte da inteligência do mundo. Mas não podemos culpar apenas o capitalismo, uma forma específica de organização econômica e social, por toda essa crise. Talvez esse choque tenha muito a nos ensinar sobre a necessidade de repensar o próprio acionar humano sobre o planeta, enquanto espécie.

Nossa agricultura em larga escala, nossa mineração, nossas estradas, extinguem e empurram para espaços minúsculos outros animais. Na verdade, o ser humano tem sido o verdadeiro vírus, absolutamente mortal, brutal, para a maioria das espécies animais e vegetais, a quem temos tirado o direito de viver e se reproduzir. Grandes animais desapareceram de repente do continente americano por volta de 20.000 anos atrás, coincidindo com a nossa chegada ao continente a partir do Estreito de Bering, entre a Ásia e o Alasca. Suspeita-se que pela mão do sapiens (DIAMOND, 2018). Enquanto nossos rebanhos crescem a bilhões, extinguimos ou reduzimos a poucos sobreviventes em reservas espécies de animais que não nos servem de alimento, como leões, elefantes, rinocerontes, enquanto continuamos a desmatar e destruir o espaço vital de muitos outros, para ampliar nossa agricultura, como na Amazônia.

Após confiná-los, industrializamos a morte diária de outros animais que nos servem de comida, como bovinos, caprinos e aves, mortos às centenas de milhões diariamente para produzir nossos bifes, nossos hamburgueres, nosso bacon. Subtraímos o leite destinado aos bezerros que choram, para produzir nossos finos queijos, nosso iogurte. A população mundial só pôde chegar a quase 8 bilhões quitando espaço vital a milhões de animais e plantas.

 

OUTRO PADRÃO CIVILIZATÓRIO

Alguns analistas apontam que essa pandemia seria de certa forma uma vingança da Natureza contra a ação humana destruidora sobre o planeta, o que é uma explicação questionável, pois a humanidade sempre esteve sujeita a ação de outras pestes no passado. O que podemos sim aprender dessa crise é que, apesar de todo nosso conhecimento, nosso desenvolvimento tecnológico, não somos deuses e sim um animal como outro qualquer do planeta, vulnerável, que precisa aprender a conviver no mundo sem destruir as demais formas de vida. Se temos direito sim de exterminar os vírus, não o temos em relação aos demais seres viventes.

Três das principais religiões monoteístas do mundo, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, colocaram o ser humano como o centro de toda existência no planeta, como um animal divino, filho de deuses, o que nos leva a achar que temos direito de explorar todos os recursos naturais para a satisfação exclusiva de nossa espécie, mesmo ao custo da extinção das demais espécies, do desequilíbrio total do meio ambiente e da destruição do futuro de nossas futuras gerações, como se antevê hoje. A Bíblia disse: “crescei e multiplicai-vos”, o que tem que ser repensado. Precisamos discutir mesmo uma marcha a ré no tamanho da população mundial. A volta de animais silvestres às ruas de nossas cidades quase desertas nessa pandemia talvez seja um convite a nos fazer refletir sobre como seria o planeta sem nossa presença ou com o ser humano respeitando as demais formas de vida.

O número de mortes nessa crise nos assusta e nenhuma delas se justifica, ao contrário do que defendem os negacionistas. Todas as medidas de contenção, como o isolamento social, estão justificadas, para poupar cada vida, pois todas importam. Felizmente, essa pandemia não vai destruir a civilização humana. Ao longo de milhares de anos, passando por tantas outras pestes, nosso sistema imunológico evoluiu, aprendeu, e preparou a maioria de nós para nos defendermos mesmo de um vírus potente como a COVID-19. Os números de recuperados confirmam isso. Apesar de todo horror que causa, em termos percentuais essa pandemia provavelmente vai matar muito menos que a Gripe Espanhola, que levou em torno de 50 milhões de vidas, quase 1/20 da população da época.

Essa crise e todo choque que vêm gerando podem ser, no entanto, um alerta, uma grande oportunidade de repensarmos nosso modo de vida, nossos valores, nosso acionar sobre o planeta. Refletirmos sobre se tudo que produzimos e consumimos é realmente necessário, útil, ou dispensável e supérfluo. Uma oportunidade de reavaliar todo o sistema econômico atual, hoje baseado na busca do lucro a qualquer preço, na ganância, no individualismo, num consumismo compulsivo e insustentável. Pode ser uma grande chance de pensarmos se temos o direito de destruir todo meio ambiente para nossa satisfação imediata e exclusiva, comprometendo a continuidade das demais formas de vida que nos acompanham no planeta há milhares de anos e o futuro de nossa própria civilização.

Quem sabe esse minúsculo vírus, que coloca de joelhos o de repente frágil Homo Deus, tenha muito a nos ensinar, levando-nos a começar a construir um outro padrão civilizatório, alicerçado em valores como coletivismo, igualdade, solidariedade, simplicidade, respeito às diferenças entre nós e às demais formas de vida do planeta e sustentabilidade. Os exemplos de ajuda humanitária entre países nessa crise, as muitas ações de solidariedade que vemos,  as cenas de vizinhos que nunca se conheceram antes, de repente cantando juntos, consternados e solidários nas janelas de prédios na Itália durante o isolamento, nos enchem de otimismo quanto ao lado bom do ser humano. Talvez sejam uma sinalização sobre o outro caminho a seguir, uma luz no fim do túnel, um sopro de esperança dentro de um mundo tão conturbado e ameaçador.

Natal, 29/04/2020

DIAMOND, Jared. Armas, germes e aço: os destinos das sociedades humanas. Rio de Janeiro: Record, 2018.

HARARI, Yuval Noah. Sapiens: Uma Breve História da Humanidade. Porto Alegre: L&PM, 2015.

______ HOMO-DEUS: Uma breve história do amanhã. Brasil: Companhia das Letras, 2016.

SCHWARCZ, Lilia. 100 dias que mudaram o mundo. UOL/Universa, 09/abr/2020. Disponível em: https://www.uol.com.br/universa/reportagens-especiais/coronavirus-100-dias-que-mudaram-o-mundo/#100-dias-que-mudaram-o-mundo

* É Professor da UFRN, no Departamento de Políticas Públicas, Natal.

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A imprensa como um agente essencial no combate à pandemia

Por Cibele Cardoso*

Desde os primórdios da comunicação, como a Pedra de Roseta, ou o marco da prensa de Gutenberg e o início dos jornais na Europa, que o jornalismo desempenha um papel importante no processo de informação da sociedade. A imprensa sempre foi responsável por transmitir as notícias, de grandes ou pequenos acontecimentos, nacionais ou internacionais, com o objetivo de manter a população informada sobre o que está ocorrendo e deixar que todos façam suas próprias análises.

Atualmente, essa responsabilidade está ainda mais ampliada, devido a tecnologia envolvida e necessidade de atualização e acompanhamento simultâneo. Com o intuito de acompanhar as mudanças e levar informação relevante, os veículos de comunicação formulam suas pautas de acordo com a agenda setting que, basicamente, está fundamentada na influência social. E, levando em consideração o momento que estamos passando, a metodologia utiliza as dúvidas a respeito da pandemia Covid-19 e demais interesses, como quais os efeitos da pandemia no país, as ações dos órgãos públicos e atualização dos casos, para manter a população atualizada.

É nítido que todos os noticiários estão pautados no assunto e que a maioria da programação também, contudo, temos visto críticas a respeito da quantidade de criação de conteúdo sobre o assunto, que indicam, às vezes, a sensação de sufocamento por parte do leitor, telespectador e ouvinte, além dos internautas que se dizem bombardeados diariamente com materiais semelhantes. A partir dessa observação, é comum que as pessoas digam que não aguentam mais ver tantas notícias ruins.

O contraponto dessa fala é o próprio exercício da profissão, o jornalismo tem a responsabilidade de retratar fatos, se eles são negativos, pelo menos por enquanto, não há para onde fugir. Obviamente que em meio à essa realidade dura e preocupante existem notícias pautadas em acontecimentos positivos, as quais ganham espaço no noticiário e são tão importantes quanto as outras, pois a imprensa, com seu papel social, também pode levar esperança.

Assim como em outros momentos que a humanidade já viveu, como guerras, a queda das torres gêmeas e outros conflitos, o jornalismo foi e é necessário. Levando em consideração a atual crise humanitária, em que todos os setores são atingidos, desde a saúde até a economia, educação e segurança, a imprensa se torna um serviço social necessário de atualização e até mesmo instrução das pessoas com menor nível intelectual, permitindo o acesso à informação, que muitas vezes ocorre gratuitamente. Essa pulverização de dados também serve como divulgação de oportunidades e descobertas animadoras, que promovem um acalento.

Ao contrário do que se pensa, o jornalismo também entrega notícias positivas, conforme ocorrem, obviamente, pois a profissão é realizada a partir da realidade, ou seja, acontecimentos verdadeiros, dessa forma, se não houver informações caracterizadas “boas”, também não haverá notícia do mesmo cunho. Não se pode noticiar o que não aconteceu. E, partir desse compromisso com a verdade e imparcialidade, a imprensa brasileira se dispõe a desmentir Fake News e reforçar a checagem de fatos, com o objetivo de não passar falsas informações.

Durante uma pandemia e crise humanitária, é importante que a sociedade se mantenha informada, que consuma conteúdo de fontes confiáveis e de especialistas no assunto. Manter-se longe de dados errôneos também é uma forma de combater o vírus, proteger a si mesmo e ao restante das pessoas, além de preservar a saúde mental.

 

*É jornalista pela Universidade São Judas Tadeu, pós-graduanda em jornalismo contemporâneo e digital na Universidade Anhembi Morumbi.

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Sesap alerta para risco de esgotamento de leitos no RN

Secretário faz alerta para falta de leitos (Foto: Elisa Elsie)

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesap) registrou crescimento de internações na rede pública e privada em todo o estado, com 199 pessoas internadas, sendo 105 internações em leitos críticos e 94 em leitos clínicos. Os dados relativos à pandemia foram apresentados à imprensa em coletiva neste sábado, 02, e ainda revelaram que a rede estadual atende, atualmente, 54 casos em leitos críticos, um crescimento de 11%.
“Isso acende o sinal de alerta para risco de esgotamento de leitos, visto que a ativação das vagas que realizamos nos últimos dias pode não ser suficiente para os que necessitam de assistência em situação crítica que demanda assistência ventilatória, casos de UTI. E as pessoas mais contaminadas são aquelas em idade produtiva, que precisam reforçar os cuidados”, enfatizou o secretário estadual de Saúde, Cipriano Maia.
Atualmente, na região metropolitana de Natal há 52 leitos em funcionamento e novas 40 vagas em UTIs serão efetivadas nos próximos dias. Em Mossoró, há 67 leitos em funcionamento e outros 75 estão em fase de implantação.
Ainda de acordo com Cipriano, “As aglomerações em frente aos prédios da Caixa Econômica preocupam o Governo do Estado. Por isso estamos intensificando junto ao banco medidas para evitar as aglomerações e agilizar os atendimentos. Esse contato das pessoas nas filas sem o distanciamento e sem o uso de máscaras vai eclodir entre 7 e 15 dias, quando os casos de contaminados aumentarão. Todo o esforço que o Estado tem feito há mais de um mês é para evitar as projeções catastróficas”.
Os dados da Sesap deste sábado mostram que há 1.359 casos confirmados, presentes em 71 municípios. Há 4.834 casos suspeitos, outros 4.254 foram descartados, 415 já foram recuperados (pessoas que tiveram alta nos hospitais), 60 óbitos foram notificados e há 18 casos de morte em investigação.
De acordo com Cipriano Maia, “Estamos com casos confirmados em quase metade do Estado, com maior incidência em regiões como Oeste, Assú e do Alto Oeste, polarizada em Pau dos Ferros. Os casos de óbitos já ocorreram em 22 municípios mostrando que a letalidade está distribuída em todo o Rio Grande do Norte. São números que chamam a atenção e nos mostram que toda a sociedade deve manter cuidados como o uso das máscaras, distanciamento social e evitar aglomerações”, disse o titular da Sesap.
Segundo o órgão, os municípios têm colaborado com o Governo do Estado ao adotarem o uso obrigatório de máscaras pela população. Nas cidades do interior, onde as feiras livres são importantes pontos de abastecimento, deve ser obedecido o distanciamento entre barracas e entre transeuntes, que devem sempre estar usando máscaras. No RN, o índice de contágio está próximo a três – quando uma pessoa contaminada pode contaminar até outras três.
“Portanto, a atitude de cada um é decisiva para controlarmos a progressão de casos. Toda atenção e cuidado é necessário, de forma responsável. Já temos regiões onde não há mais leitos disponíveis. Na região de Mossoró, realizamos uma expansão com novos leitos no Hospital São Luiz e no Tarcísio Maia. Também estamos ampliando leitos em Pau dos Ferros. Devemos lembrar que necessitamos de vagas, ainda, para outros tipos de doenças e a sociedade deve colaborar com as mediadas de proteção e isolamento social”, lembrou Cipriano.
Com a evolução dos dados epidemiológicos, o Governo do Estado deve prorrogar as medidas de saúde para o enfrentamento do novo coronavírus (Covid-19), adotadas no âmbito do RN, de acordo com o decreto publicado no dia 22 de abril com validade até o dia 5 de maio. Novas ações deverão ser discutidas com setores da sociedade, como os de comércio e serviços, visando reduzir os impactos causados pela pandemia.

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Servidor municipal é mais uma vítima da covid-19 em Mossoró

Rio Grande do Norte chega a 60 mortes por Covid-19 (Imagem: Reprodução)

Por meio de nota a Prefeitura de Mossoró anunciou que o coodenador da limpeza pública do setor da região sul servidor  Luiz Alvaci Gomes faleceu vítima da covid-19. Ele havia testado positivo para doença.

Ele foi a 60ª vítima da doença no Rio Grande do Norte e a 16ª em Mossoró.

Confira a nota:

É com profundo  pesar que comunicamos o falecimento do servidor  Luiz Alvaci Gomes,  coodenador da limpeza pública do setor da região sul.

Alvaci havia dado positivo para Covid-19 e teve seu quadro agravado ontem, vindo a falecer na madrugada deste sábado.

Trabalhando há mais de  30 anos anos na Secretaria de Serviços Urbanos, Alvaci depois de aposentado continuou prestando serviço ao município, por ser um funcionário exemplar. Era considerado por seus colegas uma pessoa sempre disponível, determinada, bem humorada e de coração gigante. 

Fica o agradecimento pelo competente trabalho em sua jornada na Prefeitura Municipal de Mossoró e como incentivador do futebol amador da cidade.

Que Deus o acolha e traga conforto à família e amigos.

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Agência Moscow

Especial – PARA SEMPRE, EMERY COSTA