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Como saber quem está mais perto de ganhar a guerra entre a LavaJato e a VazaJato

Imagem de ícones da Lava Jato está em xeque (Foto: autor não identificado)

Por Alon Feuerwerker*

A propaganda e a guerra psicológica têm seu papel nos conflitos, mas só podem ser declaradas decisivas quando um lado decide capitular apesar de ainda ter recursos suficientes para virar o jogo. Outro jeito de ganhar guerras é eliminar o inimigo. Outro desfecho é o armistício sem capitulação. A Alemanha perdeu a Primeira Guerra Mundial do primeiro jeito, e a Segunda do segundo. A Guerra da Coreia terminou do terceiro jeito.

Ganhar ou perder depende também, e muito, do objetivo proposto. Se a meta é eliminar o inimigo mas ao final ele foi apenas contido, fica aquele gostinho ruim. Tipo a Guerra do Golfo contra Saddam Hussein. Também por isso, ninguém deveria começar uma guerra sem ter ideia de como acabar a dita cuja. Às vezes dá zebra. Só olhar as invasões inglesa, soviética e americana no Afeganistão. Errar a conta do custo de ganhar uma guerra é sempre complicado.

A leitura das manchetes e #hashtags na disputa da LavaJato contra a VazaJato é divertida de ver, pois diz algo sobre quem ganha e quem perde cada batalha, mas infelizmente diz quase nada sobre quem vai ganhar a guerra. O que é preciso olhar? O objetivo de cada um, e que lado tem mais recursos, ou recursos suficientes, para atingir o objetivo proposto. Na Segunda Guerra morreram na Europa duas vezes mais militares soviéticos do que alemães. E todo mundo sabe quem ganhou no fim. #FicaaDica.

A LavaJato vinha em vantagem havia cinco anos, principalmente por causa da superioridade esmagadora em recursos. Um essencial, como a operação sempre fez questão de enfatizar, era a aliança com a imprensa. Com o controle quase absoluto dos instrumentos policiais e judiciais, a LavaJato vinha voando este tempo todo em céu de brigadeiro, navegando em mar de almirante. Mas a realidade mudou.

A LavaJato foi arrastada agora a uma guerra de atrito contra uma tropa irregular aliada a parte dos antigos aliados da LavaJato na imprensa. O que a LavaJato precisa para declarar vitória? Interromper as revelações da VazaJato e impedir eventuais efeitos judiciais. Esta segunda coisa ainda está à mão. Já a primeira, não. E do que a VazaJato precisa? Apenas sobreviver. Isso está totalmente ao alcance dela, também por a disputa envolver a liberdade de imprensa.

A linha de “caça ao hacker” faz sentido para a construção de uma narrativa, mas não mata a VazaJato. Até agora, ao contrário, apenas reforçou a autenticidade das revelações. Mesmo que as autoridades consigam levar os hackeadores a admitir algum ilícito em associação com Glenn Greenwald, isso não implicará os demais jornalistas do TheInterceptBR ou o próprio veículo, uma pessoa jurídica, em qualquer crime.

Mesmo que as autoridades conseguissem fechar o TheIntercepBR, isso não impediria os demais veículos parceiros de continuar publicando reportagens a partir do vasto material. E se a Justiça brasileira decretasse, numa hipótese hoje alucinada, a censura, a coisa poderia continuar a ser divulgada a partir do exterior. Aí a proibição teria de partir, por exemplo, do governo ou da Justiça nos Estados Unidos. Mas ali a liberdade de imprensa é ainda mais protegida do que aqui.

Onde está a brecha das defesas até agora erguidas pela LavaJato contra a VazaJato? Para matar a divulgação, a LavaJato precisa atacar e derrotar seu principal aliado dos últimos cinco anos e meio: a imprensa. E se é verdade que a imprensa gosta da LavaJato, é natural que goste ainda mais de preservar seu próprio poder. Pois ninguém sabe o dia de amanhã. Por isso a imprensa está dividida. E também por isso o objetivo da LavaJato na guerra contra a VazaJato é tão difícil de alcançar.

Claro que há sempre a hipótese de a LavaJato recooptar toda a imprensa. Mas esse haraquiri do jornalismo ainda não está no radar.

E um detalhe: se a VazaJato é uma ameaça para Sergio Moro, Deltan Dallagnol e outros menos visíveis, não chega a ser um problema relevante para Jair Bolsonaro ou Paulo Guedes. E à medida que os personagens principais vão se enrolando, as instituições a que pertencem são estimuladas a ir se distanciando, mesmo que esse distanciamento seja disfarçado por grandiloquentes declarações de apoio e solidariedade.

*É jornalista e analista político/FSB Comunicação

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Operação Uruguai-Tabajara revela os hackers de instituições

Veja as possíveis consequências do vazamento de mensagens entre Moro e Deltan

Por Reinaldo Azevedo

Qual é o resultado de uma nova Operação Uruguai executada pelas Organizações Tabajara? A prisão de quatro hackers que teriam invadido os celulares de Sergio Moro, Deltan Dallagnol e de mais uma penca de autoridades e entregado o conteúdo ao site The Intercept Brasil.

Estão querendo usar hackers de celulares para proteger hackers de instituições. Não vai funcionar.

Os mais jovens devem pesquisar. A “Operação Uruguai” foi uma trapalhada em que Fernando Collor e aliados se meteram para tentar impedir o impeachment. Deu errado. As Organizações Tabajara são uma criação da turma do “Casseta & Planeta”. Vendiam o impossível com notável incompetência.

Saber se os presos de agora são ou não a fonte anônima que entregou o material ao The Intercept Brasil é de uma irrelevância danada no que concerne à Lava Jato e ao devido processo legal.

Não serei eu aqui a dizer que um ex-DJ ou um ex-motorista de Uber que faz curso de eletricista não possam montar uma terrível organização criminosa para hackear autoridades e abalar a República. A Polícia Federal está aí para investigar.

Recomendo apenas cuidado com o ridículo histórico. Depois de o tal “Pavão Misterioso” ter inventando a “Conspiração Russa”, que alimentou a imaginação de idiotas e serviu à narrativa de pilantras, cumpre que a PF não estimule as fantasias dos hackers de “Araraquarovski e Ribeirão Pretogrado”.

Sergio Moro, da Lava Jato ao Ministério da Justiça

Quem quer que tenha acompanhado as redes sociais na quarta (24) e nesta quinta (25) pode ter ficado com a impressão de que os jornalistas do The Intercept Brasil estavam com um pé na cadeia e de que só a glória contemplava Moro, Deltan e alguns outros da Lava Jato. E, no entanto, o desespero dos que violaram o devido processo legal sob o pretexto de caçar corruptos nunca foi tão grande.

Que a PF apure a ação de hackers nesse e em outros casos, mas é bom saber o que dizer na frente de pessoas que não perderam o senso de ridículo. Quanto tempo demora para que desmorone a tentativa de transformar os vazamentos numa tramoia política? O objetivo dos hackers seria vender as informações para… o PT! É mesmo?

Esse tipo de raciocínio é sempre encantador porque os que o adotam transformam em bandidos aqueles a quem pretendem proteger. Quer dizer que os hackers de Araraquara, sabedores de que a Lava Jato havia feito lambança, tomaram a decisão de invadir os celulares dos protagonistas da operação para vender informações à legenda?

Mas por que o PT poderia ter a intenção de comprá-las se não houvesse nelas, então, a confissão de irregularidades e de crimes que poderiam ser úteis ao partido? Ou por outra: aquilo que só teria sido descoberto depois da invasão foi a causa do que se fez antes? É lógica para convencer os asnos.

Veja frases de Moro durante sessão no Senado

Moro e Deltan, de todo modo, sempre me comovem. Os vazamentos ilegais ao longo de cinco anos da Lava Jato eram só “liberdade de imprensa”. Os de agora, qualquer que seja a origem, são crimes em favor de corruptos.

Entendo. No mundo ideal dessa dupla, há os que vazam e são enforcados e os que vazam e enforcam. Faço plágio assumido de Padre Vieira. Eu não tenho nem crimes nem criminosos de estimação.

Qualquer que seja a origem das informações divulgadas pelo site The Intercept Brasil, em parceria com outros veículos, pergunta-se: muda o conteúdo do que transitava entre os porões, a baixa política e as contas bancárias?

A propósito: se os hackers que foram presos são mesmo a fonte anônima do The Intercept Brasil, dada a variedade e a abrangência de interesses da turma, tanto pior para a teoria conspiratória inventada por Moro. Então não se trata de um complô de alvos da Lava Jato para destruir a operação, certo?

Ainda na quarta, no Twitter, o ministro se referia a “supostas mensagens obtidas por crime”. Entendi aquilo que ele chama “crime”: é a invasão. Mas como é que se invadem “mensagens supostas”?

E aqui uma ironia da história: à diferença de Moro e Deltan, eu estou entre os que atacaram duramente quatro das “Dez Medidas Contra a Corrupção”, muito especialmente a admissão em juízo de provas ilícitas. Eu as classifiquei de fascistoides.

Porque Moro e Deltan perderam aquela batalha e porque os que pensam como eu a venceram, não há chance de a dupla responder na esfera penal por aquilo que fizeram.

Vejam que coisa: os que os combateram, o tempo dirá, acabaram por protegê-los de si mesmos. O que não quer dizer que não devamos começar a punir os hackers de instituições.

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Caso dos Hackers exige cautela

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Os fins justificam os meios?

Por Antônio David e Lincoln Secco

El País

A mais recente pesquisa de opinião do Instituto Datafolha, realizada nos dias 4 e 5 de julho, apresenta um dado à primeira vista paradoxal: embora reprove a conduta de Sérgio Moro como juiz em razão das conversas divulgadas pelo portal The Intercept, a maioria vê como justa prisão do ex-presidente Lula. A opinião segundo a qual a conduta de Moro é reprovável implica que houve vícios no processo no qual Lula foi condenado. Ora, se um processo judicial é viciado, de que forma o resultado desse mesmo processo pode ser considerado justo? Estaríamos aqui diante da máxima de que os fins justificam os meios?

Não há dúvida de que uma parte da opinião pública segue o ditame atribuído a Maquiavel. No entanto, um exame atento dos dados aferidos pelo Datafolha revela um quadro muito mais complexo.

Entre os entrevistados situados na faixa de renda familiar até 2 salários mínimos, 60% consideram inadequada a atuação do então juiz e atual ministro da justiça Sérgio Moro, e 66% responderam serem elas graves e merecedoras de revisão (26% e 20% pensam o contrário, respectivamente). Nessa faixa de renda, 44% acham justa a prisão de Lula, enquanto 51% consideram-na injusta.

No outro extremo da pirâmide, entre os eleitores situados na faixa de renda familiar acima de 10 salários mínimos, enquanto 49% consideram inadequada a atuação de Moro contra 48% que a consideram adequada, 57% responderam que “eventuais irregularidades cometidas pelo juiz Sérgio Moro durante a operação Lava-Jato não têm importância diante dos resultados da Lava-Jato no combate à corrupção”, contra 37% que disseram serem as irregularidades graves e que, por isso, as decisões de Moro devem ser revistas. Nesse estrato, 67% consideram justa a prisão de Lula, enquanto 30% responderam ser injusta a prisão.

A pesquisa contém outros recortes além da renda familiar. No entanto, o essencial está nos dados aqui apresentados. A reação da opinião pública diante das conversas entre o juiz e procuradores envolvidos na Lava-Jato exprime a polarização política do país desde pelo menos o segundo mandato de Lula. Em última instância, uma polarização entre ricos e pobres.

A opinião aferida entre os entrevistados situados na faixa de renda entre 2 a 5 salários mínimos torna esse quadro ainda mais complexo. Apesar de a maioria considerar justa a prisão de Lula (63%), ao mesmo tempo considera inadequada a conduta de Moro (58%) e afirma que suas decisões devem ser revistas (56%). É essa faixa de renda que produz o paradoxal efeito enunciado na referida manchete.

As razões disso só poderão ser conhecidas mediante pesquisas qualitativas. Mas um dado da pesquisa Datafolha é revelador. Nessa faixa de renda, apenas 24% dos entrevistados declararam ter tomado conhecimento das conversas e estar bem informados. O que ocorreria se parcela majoritária desse segmento tomasse conhecimento e estivesse bem informada das incestuosas conversas?

Duas conclusões podem ser tiradas. Em primeiro lugar, muito embora não se possa concluir que a maioria dentre os mais pobres não comunguem da máxima de que os fins justificam os meios, o oposto é verdadeiro quando se trata do outro extremo da renda e da riqueza. Entre os mais ricos, a maioria reconhece vícios no processo e, mesmo assim, considera justa a prisão do ex-presidente Lula. Uma parte certamente por crer na culpa do ex-mandatário dos crimes a ele imputados, uma parte pelo simples fato de Lula ser Lula. Talvez a maioria por ambos os motivos – o que a torna predisposta a acreditar na culpa. As notícias que dão conta da casuística não aceitação da soltura de Lula por parte de militares de alta patente apenas alimentam essa segunda motivação.

Em segundo lugar, apesar de uma parcela da classe trabalhadora (2 a 5 salários mínimos) ter migrado para a posição político-ideológica da camada mais rica da sociedade – o que ocorreu, ao que tudo indica, entre a eleição de Dilma em 2014 e os primeiros meses de governo, como resposta ao ajuste fiscal realizado naquele período -, há fissuras nessa adesão. Tendo apoiado o impeachment em 2016, ainda que sem o protagonismo, e tendo garantido a vitória de Bolsonaro em 2018, suportará essa parcela da sociedade o peso da recessão prolongada e da reforma da previdência? Manterá a opinião atual a respeito da prisão do ex-presidente Lula?

Em um caso e no outro, da perspectiva da maioria da opinião pública, a dimensão jurídica parece ter menos importância do que a dimensão política do problema. Por isso, não surpreende a conduta de Moro face às acusações. O ex-juiz assumiu o cargo de ministro de justiça afirmando não ser um político e que exerceria função técnica. Agora, diante das graves acusações que contra ele pesam, Moro adotou como estratégia de defesa aparecer ao lado de Bolsonaro na tribuna de honra em jogos da Copa América.

Em certos países que atingiram um grau de desenvolvimento socioeconômico, vigor das instituições democráticas e respeito aos Direitos Humanos almejados entre nós, alguém na atual situação de Moro já teria renunciado ao cargo de ministro, e os promotores envolvidos nas conversas já teriam sido afastados da operação. E mesmo que por vezes isso ocorra no Brasil, nosso peculiar republicanismo de conveniência os dispensa de sair do lugar onde estão.

Maquiavel nunca disse que os fins justificam os meios, nem “aos amigos os favores, aos inimigos a lei”, outra frase a ele atribuída de forma maliciosa e ainda hoje repetida por desconhecimento do autor. O chamado maquiavelismo é uma tradição inventada pelos inimigos de Maquiavel em razão do caráter republicano das ideias do florentino, consideradas extravagantes em seu tempo e nos séculos seguintes. Ironicamente, no Brasil pretensamente republicano da Lava-Jato, as conversas divulgadas pelo portal The Intercept revelam a presença, nas entranhas da operação, da máxima atribuída a Maquiavel. Essa presença é tão mais eloquente quando se constata o tom informal e jocoso das conversas, próprias não de relações entre membros de instituições públicas, mas de relações privadas.

A ideia de que os fins justificam os meios, em matéria penal, peca porque pressupõe que os fins são conhecidos: prender o criminoso pressupõe que o indivíduo acusado é culpado. Ora, se a culpa é pressuposta, de que serve o processo? O que os defensores da prisão do ex-presidente Lula ignoram é que um indivíduo só deve ser considerado culpado ao fim e ao cabo de um processo judicial sem vícios, pois é apenas e tão somente pela lisura do processo que a culpa é comprovada. É público e notório que a culpa de Lula foi construída, com intensa exposição midiática, antes da sentença condenatória. Antes dos vazamentos, sabíamos que o juiz participava dessa construção de forma passiva, pela imagem que construiu de si e da Lava-Jato, valendo-se dos mesmos canais que atacavam Lula. Agora, sabemos que sua participação foi ativa.

Não reconhecer que o processo no qual Lula foi condenado possuiu vícios é fechar os olhos para a realidade revelada nos últimos dias. Reconhecer que o processo possuiu vícios e, ainda assim, considerar justa sua prisão, mais do que uma incoerência, representa a cumplicidade com uma ideia e uma prática que, historicamente, produz quase sempre o exato oposto daquilo que promete.

Asseverando que ninguém está acima da lei e prometendo fazer valer o preceito da igualdade de todos perante a lei, a Lava-Jato mostrou seu avesso na Vaza-Jato. A lei foi sistematicamente infringida para que, oportunamente, Lula fosse preso: todos são iguais perante a lei, mas há exceções. Agora, diante dos vazamentos, aqueles que atribuíam a si mesmos o papel de bastiões do máximo rigor na aplicação da lei colocam-se acima dela ao unirem-se em torno de uma defesa corporativista do primus inter pares, ignorando solenemente, com surpreendente cinismo, o conteúdo do que foi vazado. Não tardou para que, no tenentismo de toga, nosso peculiar republicanismo de ocasião se revelasse.

A crença de que o combate à corrupção justifica irregularidades graves no processo é expediente típico de tribunais de exceção – e se não for a corrupção, sempre haverá uma justificativa para o abuso. Se as observamos historicamente, crenças como essa comumente vêm acompanhadas do conluio entre acusação e juízo e do vil pretexto de que a justiça é feita atendendo ao “clamor da opinião pública” ou “da sociedade”, mas que, na prática, é sempre de uma parte dela, e, no caso aqui discutido, da parte melhor situada na pirâmide socioeconômica. A corrupção, essa sistêmica, segue intocada.

No espelho, a Lava-Jato se enxergava mais bonita do que era, mas o vazamento de conversas secretas revelou uma dura realidade. Não é apenas a liberdade de um homem que está em questão, mas o quão republicanos (ou antirrepublicanos) somos, para além das conveniências e aparências.

Antônio David é doutor em filosofia pela USP.

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Sérgio Moro pede licença do cargo

Revista Exame

 

São Paulo – O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, solicitou afastamento do cargo por uma semana “para tratar de assuntos particulares”.

A licença do ministro será tirada no período de 15 a 19 de julho e foi autorizada por despacho presidencial publicado no Diário Oficial da União (DOU) desta segunda-feira (08).

O Ministério da Justiça e Segurança Pública explicou, por meio de sua assessoria, que o afastamento de Moro se trata de uma licença não remunerada prevista em lei.

“Por ter começado a trabalhar em janeiro, o ministro não tem ainda direito a gozar férias. Então está tirando uma licença não remunerada, com base na Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990”, informou a assessoria.

Segundo um auxiliar da pasta, a licença já estava sendo planejada desde que o ministro assumiu, e não tem a ver com o cenário atual de pressão sobre Moro relacionada a uma suposta troca de mensagens com procuradores.

Na ausência de Moro, assume a pasta o número dois do Ministério, Luiz Pontel de Souza.

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Moro e MPF: O jokenpô (pedra-papel-tesoura) da “lava jato”!

Campeonato de jokenpô no Japão é coisa séria

Por Lenio Luiz Streck

O Direito brasileiro inventou um novo conceito de “imparcialidade”, pelo qual tudo é/será permitido nesse novo jokenpô. Explicarei na sequência. Deus morreu… e agora tudo pode(?).

Pensemos em coisas que, em circunstâncias de democracia plena, causariam enorme indignação pelo menos no meio jurídico, em que qualquer livro de quinta categoria ensina o conceito de imparcialidade.

Pensemos em processos judiciais em que se descobre que um conjunto de protagonistas (no caso, a acusação) conversa entre si. Nos diálogos, lê-se coisas como “esse acordo não é moral” (o resto você já deve ter lido).

Pensemos em processos judiciais em que o juiz dá dicas ao Ministério Público em termos de provas. E fica comprovado que o MP seguiu a dica… só não deu certo.

Pois os diálogos publicados no dia 29.6.2019 pelo Intercept Brasil e Folha de S.Paulo, aliados aos anteriores já divulgados, apontam para uma espécie de anomia, terra sem lei ou estado de natureza delacionista que vem sendo praticado no interior da “lava jato”. Uma verdadeira waste land de T.S. Eliot. Enterremos os mortos!

Nas novas revelações, tem-se diálogos que mostram a normalidade com que os procuradores tratavam da necessidade de trocar anexos que não lhes pareciam interessantes. O trecho em que o procurador Athayde fala de versões que comprometem várias investigações é muito forte. É escabroso.

A falta de imparcialidade está demonstrada à saciedade e à sociedade. Dizer que os tais diálogos são produto de crime pode (até) livrar os protagonistas de processos, como parece que já fez o CNMP. Porém, não retira o fato de que a demonstração da falta de imparcialidade tem o condão de beneficiar réu(s).

No tocante aos acordos, fixemo-nos no caso Leo Pinheiro e o que diz o procurador Athayde. Qual é o busílis de tudo isso? Simples. O grande problema é a falta de accountability (como buscar a prestação de contas desses atos?) representada pela ausência de registro dos anexos entregues, o que, por óbvio, pode levar a uma manipulação dos fatos delatados por pressão do MP. E accountability, lembremos, é condição de possibilidade em uma democracia. Circunstâncias, afinal, em que certas condutas dariam azo a reviravoltas no modo de aplicar o Direito, além de anular processos em que essas “coisas” ocorreram.

Observe-se que a necessidade de formalização do procedimento só surge com uma portaria de 2018. A partir de então, todos os MPFs passaram a formalizar Procedimento Administrativo em que os anexos entregues são registrados. Ora, se antes da portaria nada se fazia em termos de formalização, isso não quer dizer que não era necessária. Quer dizer apenas que estavam agindo à margem da Constituição.

A Portaria 1/2018 não garante, por si, a lisura do procedimento. Mas ajuda. De novo, vem o grave problema de não adotarmos salvaguardas, e continuarmos a permitir que o MP investigue apenas para si e no modo como quer, sem que seja obrigado a mostrar (trazer aos autos) as provas encontradas que possam beneficiar ao acusado.

Tenho alertado a comunidade jurídica sobre isso de há muito. O Ministério Público — e os diálogos mostram isso — age estrategicamente, sem a necessária isenção que se exige de um órgão que possui as mesmas garantias da magistratura. Parece que o Ministério Público não se importa com isso — tanto é que nada fez em relação ao item 9 do acórdão do TRF na AC 5046512-94.2016.4.04.7000/PR, em que ficou assentado que não se pode exigir isenção do Ministério Público. É legítimo isso?

Claro que não. E ainda que fosse, isso gera o paradoxo. Digamos que, ok, o MP não precisa ser isento; penso que todos concordam que pelo menos o juiz tem de ser isento. Certo? Como pode, então, ser legítimo que um então juiz-que-tem-de-ser-isento dê pitaco em ordem de operação e indique testemunhas pra acusação-que-não-precisa-ser-isenta? Quem responde? Se disserem que “isso é normal”, minha resposta é: às montanhas!

Como evitar o fator pedra-papel-tesoura no processo penal?
Com minha chatice epistêmica, venho por meio desta, pela enésima vez, insistir para que o Parlamento faça o que tem de fazer. Legisle. Para isso, até o gabinete do Tiririca resolve, na base do recorte e cola (afinal, isso está na moda até em sentenças judiciais), bastando pegar o artigo 54, “a”, do Estatuto de Roma — que está, aliás, incorporado desde 2002 ao Direito brasileiro, e adaptar (agora, é só copiar):

O Ministério Público deverá, a fim de estabelecer a verdade dos fatos, alargar o inquérito a todos os fatos e provas pertinentes para a determinação da responsabilidade criminal, em conformidade com o devido processo legal e as garantias constitucionais e, para esse efeito, investigar, de igual modo, as circunstâncias que interessam quer à acusação, quer à defesa.

É o mesmo que exige a US Supreme Court desde 1963 (não gostam tanto do Direito dos Isteites?): por uma questão de due process, a promotoria de lá tem um dever constitucional de trazer aos autos tudo que puder inocentar o réu. Ah, vejam o alerta feito até em editorial pelo NY Times: não basta reconhecer a obrigação; se a regra não for imposta, se não houver responsabilização a quem não a seguir, o negócio não funciona.

Detalhe. O Estatuto de Roma copiou esse mecanismo “anti-agir-estratégico do MP” lá da Alemanha. Querem ver? Leiamos o que diz o parágrafo segundo da seção 160 do CPP da Alemanha. O dispositivo diz, e traduzo livremente, que

“[o] ‘Ministério Público deve buscar [no sentido de investigar] não apenas as circunstâncias incriminatórias como também as que exoneram[o réu].” („Die Staatsanwaltschaft hat nicht nur die zur Belastung, sondern auch die zur Entlastung dienenden Umstände zu ermitteln und für die Erhebung der Beweise Sorge zu tragen, deren Verlust zu besorgen ist.“

Está aqui, e já falei sobre isso aqui. Aqui está a maior salvaguarda, para evitar o que se vê nas revelações do Intercept.

Portanto, trazendo às claras: uma das medidas de accountability seria, além da exigência de que qualquer investigação do MP também deva ser feita para buscar a verdade inclusive a favor da defesaseria a de punir ao agente que, de algum modo, deixasse de apresentar elementos objetivos a favor do réu.

Isto também se aplica aos casos de delação, mormente aos delatados, que ficam à mercê dos delatores, cujos acordos são de difícil fiscalização.

Vejam: Imagine um caso em que, havendo elementos a favor do indiciado, este aceita o acordo porque desconhece os elementos que poderiam levar ao arquivamento ou à sua absolvição. Deu para entender? Nem vou falar do que diz o Código Penal alemão sobre a falta de parcialidade e o não trazer à lume todas as provas. Já discorri, exercitando minha chatice ortodoxa, muitas vezes sobre isso (ver aqui, por muitas vezes).

Portanto, parafraseando o poeta, delatar deve ser preciso (correto, certo, transparente, fiscalizável); o que não tem sido preciso (no sentido de precisão) é justamente o agir estratégico do Estado-acusação.

Isso tudo, no caso da “lava jato”, misturado com a parcialidade do juiz, dá uma receita para uma tempestade perfeita: Juiz-que-devia-ser-isento + conversa fora dos autos + MP-que-não-precisa-ser-isento + espetacularização da justiça + punitivismo + democracia frágil. O resultado da equação?

Fácil. Parcialidade. Partidarismo. Postura incompatível com a de juiz. Juiz inquisitivo, que viola o sistema acusatório. Que só é tolerado por seus resultados. Quem diz isso não sou; são procuradores da República. É só clicar para ler.

Parece que estamos em face do  fator pedra-papel-tesouraA pedra que ganha da tesoura que ganha do papel é a conversa do juiz imparcial com o MP que é parcial que conversa com o juiz imparcial que conversou com o MP parcial e, portanto, não mais é imparcial. Jokenpô da “lava jato”. Qual é o busílis? Nessa “teoria dos jogos”, pra entrar na onda, o réu sempre perde. Talvez esteja aí a explicação do fascínio pelos EUA: em Vegas, a casa sempre vence.

Repito: quem insiste na tese de que isso é normal há que sair do paradoxo. Se o MP não precisa ser isento, e se o juiz precisa, como pode ser normal que o primeiro interfira diretamente na atuação do segundo?

Os três juntos não dá certo. Ou o MP tem de ser isento, ou assumimos de vez que o juiz pode ser parcial, ou os dois não conversam desse jeito. O curioso é que os protagonistas da “lava jato” insistem em sustentar as três teses concomitantemente. MP não precisa ser isento, o juiz é imparcial, não há nada de errado nos diálogos. Desculpem minha sinceridade, mas quem diz isso está insultando a inteligência do interlocutor.

Peguemos nosso dinheiro de volta das faculdades que cursamos. Ou vamos devolver os livros. E processar, buscando dano moral coletivo, os autores que gastaram rios de tinta ensinando o conceito de imparcialidade.

Uma pergunta final: nesse jokenpô, o que sobra para os réus e os advogados? Principalmente em um país em que o exercício da advocacia se transformou em um exercício de humilhação e corrida de obstáculos, como já (d)escrevi tantas vezes.

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A Vaza Jato é um abalo na extrema direita: só se derrota o autoritarismo desnudando suas entranhas

Por Rosana Pinheiro-Machado

The Intercept

A VAZA JATO TEM TRAZIDO à tona a falta de ética e a parcialidade presentes na mais importante operação anticorrupção da história do Brasil. Não é novidade para ninguém que conchavos e relações corruptas institucionais atravessam o sistema político e legal brasileiro. O que surpreende, contudo, é até onde uma parte da população e da sociedade civil está disposta a compactuar com a imoralidade. Como disse recentemente o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro em seu Twitter, é a tragédia da verdade: “ainda que eles não possam impedir que a verdade seja revelada, eles podem fazer com que ela tenha pouca ou nenhuma consequência”.

A Vaza Jato atua como um divisor de águas no plano moral. Se por algum tempo foi possível se apegar a um verniz de honestidade e às boas intenções da operação, as conversas vazadas não deixam dúvidas de que houve conluio na prisão de Lula. Aqueles que ainda sustentam o argumento de que a atuação de Sergio Moro no processo se deu dentro da normalidade – ou que compram a tese do ex-juiz de que toda a repercussão das conversas é puro “sensacionalismo” – estão fazendo uma opção ética e política de não abandonar o barco.

Minhas lições diárias sobre como um tipo de brasileiro mediano reage diante das informações Vaza Jato vem do grupo de WhatsApp do meu condomínio. Diferentemente de outros grupos bolsonaristas que participei no passado para fins acadêmicos, o grupo do prédio me parece um bom termômetro, pois reúne pessoas de camadas médias de vários posicionamentos políticos.

No grupo, parece persistir um acordo tácito da imoralidade, que ignora o conteúdo das conversas e defende Sergio Moro a qualquer preço. A lógica desses fiéis escudeiros é totalmente contraditória: os mesmos que dizem que os fins justificam os meios (tudo bem fazer uns acordos por Telegram para prender “uma organização criminosa” – o PT) não dão credibilidade à Vaza Jato e ao conteúdo nefasto por ela revelado justamente por acreditar que os “meios” são ilegais e criminosos – mesmo que o Intercept nunca tenha revelado sua fonte.

Os fins justificam os meios sujos da Lava Jato porque, há tempos, a questão em jogo não é a justiça, mas um comportamento de torcida marcado pelo fanatismo em uma cruzada do “bem” contra o “mal”.

No grupo, abundam mensagens de Moro como justiceiro que fez o que tinha que fazer para detonar “a quadrilha”. No país em que linchamentos ainda ocorrem com frequência e que execuções da polícia são aplaudidas pelo presidente eleito, não deveria surpreender que a Lava Jato seja vista por muitos como um aparato justiceiro personalista. Na sanha antipetista, quanto mais vazam conversas que demonstram a parcialidade de Moro, mais se admira o herói que age sozinho contra o PT e o Lula desenhados, nos últimos anos, como os responsáveis por todos os males do país.

No livro “Como Morrem as Democracias”, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt nos lembram que quando demagogos e autoritários governam um país o que resta das instituições democráticas é apenas uma carcaça: por dentro foi tudo corroído por políticos que intimidam a imprensa, rejeitam o resultado das eleições e tratam rivais como terroristas a serem eliminados.

Por fora, a atuação de Sérgio Moro na Lava Jato é instrumento democrático anticorrupção de transparência política, mas, por dentro, se revela como um mecanismo de erosão da democracia, do esgotamento dos parâmetros legais, do ataque à imprensa livre e da justaposição de valores ideológicos que visam punir oponentes e proteger aliados.

Mas a casa caiu. E até a carcaça democrática – na qual boa parte da imprensa hegemônica se apegava para defender a operação – colapsou. Por muito tempo, o Jornal Nacional, por exemplo, podia alegar neutralidade na cobertura da operação, cuja lisura se colocava acima de qualquer suspeita. Sob o ponto de vista político e legal, sempre houve reivindicações de que o processo de Lula era ideológico, mas é igualmente verdade que juristas estavam divididos na interpretação de evidências do caso. Tal suposta postura de imparcialidade agora não é mais possível de ser mantida porque os diálogos estão acessíveis a todos. E os espectadores podem ver com mais clareza as opções editoriais, o que é dito, como é dito e, principalmente, o que não é dito.

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Lula segue preso

Lula ficará preso (Foto: Ricardo Stuckert)

A segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou os dois pedidos de habeas corpus em favor do ex-presidente Lula.

O primeiro pedido tinha como base decisão monocrática do ministro Félix Fischer, relator da Lava Jato no Superior Tribunal de Justiça (STJ), e foi rejeitado por 4×1.

O segundo foi rejeitado por 3×2 e tinha como mote a alegação de suspeição de Sérgio Moro como julgador de Lula conforme apontou o vazamento de conversas do The Intercept Brasil.

Ainda cabe recurso da defesa nos dois casos.

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Sobre Moro: veneno da vaidade é a overdose da perda de credibilidade

O super-héroi da Lava Jato está desmoralizado

Já dizia minha saudosa avó Dona Darquinha “que tudo demais é veneno”. Outra pessoa sábia, o poeta Cazuza, dizia que os heróis dele morreram de overdose.

As duas frases casam bem com a desmoralização que aparece para o idolatrado ex-juiz Sérgio Moro que se travestiu de político e envaidecido com a imagem de herói do combate à corrupção tomou uma overdose de vaidade.

O veneno da vaidade levou Moro a misturar a magistratura com atuação política levando-o a overdose da perda de credibilidade do magistrado com vários setores da sociedade.

Ao desrespeitar as leis em nome do combate à corrupção, Moro foi sendo envenenado pela mídia, pelos antipetistas mais viscerais e pela gritaria insana da Internet.

O então magistrado foi se achando acima do bem e do mal e a mistura de política e justiça foi se tornando uma overdose que levou a achar normal cobrar do procurador Deltan Dallagnol pela demora entre as operações ou a festejar manifestações de apoio na rua.

No imaginário de parcela importante da sociedade se tornou normal achar que Moro investigava os casos como se isso fosse possível.

Lembrando: quem investiga é o Ministério Público e a polícia. O juiz conduz as audiências e julga.

Moro deixou que isso virasse assunto porque gostava do papel de investigar e julgar ao mesmo tempo.

O que muita gente não imaginava era que ele realmente estava envolvido com as investigações a ponto de orientar a Força Tarefa da Lava Jato.

Moro é um herói para muita gente. Agora ele prova do próprio veneno: o vazamento de informações sigilosas.

Como todo político ele trata a retórica ao sabor das conveniências. Quem tem respeito pelo devido processo legal, defende a ética em qualquer atividade profissional ou social sabe que Moro está desmoralizado.

Seria manifestação de vontade dizer o que acho que vem pela frente. O site The Intercept tem mais documentos. A reportagem é coordenada Glenn Greenwald, vencedor do prêmio Pulitzer, o mais importante do jornalismo mundial. Ele é um americano radicado no Brasil após revelar as denúncias de Edward Snowden sobre as espionagens ilegais do Governo dos EUA.

Sobre Lula é preciso ter calma se tudo isso vai resultar na libertação do ex-presidente porque a condenação no controverso processo do Triplex do Guarujá já foi referendada em duas outras instâncias.

Mas uma coisa é certa: após a overdose de vaidade, Moro prova do próprio veneno.

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Bancada do RN se divide sobre lugar do COAF

Por 228 x 210 a Câmara dos Deputados devolveu o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para a área econômica. A decisão é encarada como uma derrota do Governo, principalmente do ministro da justiça Sérgio Moro.

Como votou a bancada do Rio Grande do Norte? A bancada de oito parlamentares se dividiu.

A favor da manutenção do COAF nas mãos de Sérgio Moro votaram Walter Alves (MDB), Eliezer Girão (PSL) e Benes Leocádio (PRB).

Ficaram contra Beto Rosado (PP) e Natália Bonavides (PT).

Se ausentaram da votação Fábio Faria (PSD), João Maia (PR) e Rafael Motta (PSB).

O COAF é o órgão que monitora as movimentações financeiras e ao perceber indícios de irregularidades comunica aos órgãos fiscalização como Receita Federal ou Ministério Público.

Nas principais democracias do planeta este tipo de órgão fica na esfera administrativa e não na área policial.