O prefeito de Natal Álvaro Dias (PSDB) em entrevista à 98 FM da capital do Rio Grande do Norte declarou ter abraçado pacientes infectados pela covid-19 se cofiando na proteção da ivermectina.
Confira no vídeo abaixo:
O prefeito declara ter certeza que a eficácia do medicamento usado para tratamento contra vermes e piolhos será reabilitada em relação à covid-19. ““Eu não tenho nenhuma dúvida que a ivermectina vai ser reconhecida cientificamente como uma droga que diminui a carga viral, que é imunomoduladora, que fortalece o sistema de defesa do organismo e que impede a replicação viral, a replicação do vírus. Como ela não atua, não protege? Protege e foi eficaz”, disse em outro trecho da entrevista.
Reeleito em 15 de novembro com 194.764 (56,58%) votos, ele teve na distribuição em massa da ivermectina um de seus principais carros chefes de campanha.
A Agência A Pública apurou que o Ministério das Comunicações, atualmente sob o comando de Fábio Faria, tem feito pouco caso da necessidade de campanhas publicitárias de incentivo à vacinação e priorizado assuntos como o “tratamento precoce” na hora de aplicar recursos.O levantamento feito graças à Lei de Acesso à Informação mostrou que somente em abril, três meses após o inicio da vacinação, foi feita a primeira campanha publicitária relacionada ao tema.
A reportagem mostra que foram aplicados apenas R$ 5 milhões enquanto que o “tratamento precoce” que promove uso de medicamentos cuja eficácia contra a covid-19 não foram comprovadas pela ciência consumiram R$ 19,5 milhões em recursos públicos entre 17 de outubro e 30 de dezembro.
Outra campanha publicitária que recebeu muita atenção do Ministério das Comunicações foi o incentivo à retomada da economia que custou R$ 30 milhões aos cofres públicos veiculada de 20 de julho a 16 de agosto. A estratégia política aí é clara coloca o presidente Jair Bolsonaro em confronto com prefeitos e, principalmente, governadores.
A campanha do Ministério das Comunicações mais cara no contexto da pandemia custou R$ 35 milhões na divulgação de “medidas de cuidados com Estados e Municípios” que, apesar do título, tratou da divulgação auxílio emergencial, envio de recursos para unidades federativas, aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e distribuição de medicamentos (sem especificar quais). A campanha foi realizada entre 22 de junho 10 de julho do ano passado e não tratou de orientações preventivas contra a covid-19.
Você pode conferir a reportagem completa acessando o link abaixo:
Reportagem da Agência A Pública apontou que o deputado estadual Albert Dickson (PROS) utiliza grupos de WhatsApp para promover o “tratamento precoce” contra a covid-19 como panaceia contra a doença.
A investigação mostrou que ele administra cinco grupos:
“Ivermectina é Vida”, “Ivermectina Salva”, “Trat Precoce VS RS” e dois com o mesmo nome: “Covid/Tratamento Precoce”.
Os grupos somam 850 membros.
A reportagem foi repercutida pelo Portal UOL.
Recentemente Albert Dickson teve 12 vídeos removidos do Youtube por propagar informações falsas sobre medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19.
Ele também foi denunciado pela BBC Brasil por oferecer consultas em troca de likes e inscrições no canal do Youtube que mantém com a deputada federal Karla Dicksn (PROS), sua esposa e também médica.
Em outra matéria, do Estado de S. Paulo, ele foi denunciado por mentir dizendo que a covid-19 ataca o fígado.
Leia a reportagem da Agência e Pública e as demais que citamos acima:
A Assessoria de Imprensa do Youtube respondeu a questionamentos do Blog do Barreto sobre a versão do deputado estadual Albert Dickson (PROS) de que o canal dele na plataforma tinha sido derrubado por invasão de hackers estadunidenses.
O Youtube confirmou que o canal “Carla e Albert Dickson” violou as regras com a veiculação de vídeos sobre criptomoedas. O caso foi investigado e a conclusão é de que houve a invasão de hackers. O canal foi restabelecido hoje.
O Youtube também confirmou que 12 vídeos do canal “Carla e Albert Dickson” foram removidos por propagar que a ivermectina serve para tratamento da covid-19, apesar da ausência de comprovação científica.
O canal retornou com apenas três vídeos, dois deles relacionados à covid-19.
Por meio da Assessoria de Comunicação o deputado estadual Albert Dickson (PROS) enviou nota de esclarecimento sobre a notícia que aponta a derrubada do canal dele no Youtube.
Dickson diz ter sido vítima de hackers americanos. Confira a nota:
Nota de esclarecimento
O deputado Albert Dickson esclarece que, diferente do que vem sendo divulgado em alguns blogues, o motivo da retirada do seu canal do YouTube do ar, não tem haver com conteúdos relacionados ao tratamento precoce da COVID-19. A retirada de seu canal do ar, se deu em função de uma invasão de hackers americanos na plataforma, fato ocorrido na quinta-feira feira (30), da semana passada.
O deputado esclarece ainda, que seu trabalho em relação a orientação ao tratamento precoce que ocorre através de lives, ocorre há mais de um ano, e sobre esses conteúdos nunca foi notificado pelo YouTube.
A administração do YouTube está analisando a invasão para adotar todas as medida de segurança e em breve reativar o canal.
Atenciosamente
Assessoria do Deputado Albert Dickson
O Youtube anunciou que removeria vídeos que pregam o uso do tratamento precoce, mas segundo a assessoria do deputado os hackers estavam cobrando as pessoas a terem acesso ao canal.
Confira nos prints:
Nota do Blog: estamos checando junto ao Youtube se a informação repassada pelo deputado se sustenta.
Estudo divulgado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) apontou que Natal, epicentro d covid-19 no Estado, tem uma taxa de letalidade da doença acima da média estadual e nacional.
No Brasil a taxa de letalidade é de 2,42, no Rio Grande do Norte é de 2,1 enquanto que em Natal esse número é de 2,97. Um dado curioso é que excluindo a capital o índice no Estado cai para 1,82.
Os números foram apresentados à Tribuna do Norte pelo o professor do Departamento de Infectologia (DNIF/UFRN), o infectologista Ion Mascarenhas de Andrade.
Natal apostou pesado no “tratamento” precoce, principalmente em relação à ivermectina, remédio para piolho e verme, sugerido pelo prefeito Álvaro Dias (PSDB) como eficaz contra a doença. As “maravilhas” do medicamento foram amplamente propagadas pela mídia natalense. O resultado é que pesquisa do Instituto Consult divulgada pela própria Tribuna do Norte mostrou que 70,13% dos moradores da capital acreditam na eficácia do “tratamento” precoce.
Para Ion Andrade, o índice de letalidade mostra que os medicamentos indicados não funcionam. “Os dados mostram que o que nós esperaríamos em termos de números melhores em função do uso amplo de terapêuticas do tratamento precoce não se constatam na epidemiologia. Inclusive, os números da capital são mais preocupantes do que os índices do restante do Estado. Não dá para dizer se são os medicamentos usados para tratamento precoce que estão provocando o aumento desses números. Mas o que eu quero dizer é que, quando se utiliza uma terapêutica que funciona, esse fator deve ecoar na epidemiologia como uma melhora do contexto geral e isso não acontecendo”, explicou à Tribuna.
Outro professor do DNIF, Henio Lacerda, reforça que essa confusão em torno de um tratamento sem comprovação científica ajuda piorar os números. “Em nenhum país do mundo há recomendação de tratamento precoce contra a covid-19, porque não há comprovação científica para isso. Mas o que a gente percebe é: praticamente todos os pacientes que nós estamos recebendo nas unidades hospitalares para internação e que evoluem para quadros graves e óbitos, fizeram uso de medicamentos de forma preventiva ou tratamento precoce”, relatou.
Ele reforça que a ilusão mais atrapalha que ajuda: “Na Europa e nos EUA já existe consenso sobre as recomendações. Para pacientes que não precisam ser internados, o tratamento é padrão, com medicamentos apenas para controlar sintomas como febre e dor de cabeça, por exemplo. Aqui no Brasil e em algumas partes do mundo e que não são utilizadas como referência nossa é que essas recomendações destoam. E, coincidentemente ou não, nós somos um dos poucos países que está com a pandemia fora de controle”.
Com a ajuda de Jair Bolsonaro, remédios sem eficácia comprovada contra covid-19 têm sido empurrados para “tratamento precoce”. E médicos, que recitaram o juramento de Hipócrates, prometendo não causar mal, agem como charlatães ao prescrever produtos enganosos, ajudando a construir o caos que temos hoje.
O Brasil registrou, nesta quarta (17), uma média móvel de mais de 2 mil mortes por dia pela primeira vez – para ser exato, 2.031. Foram 2.736 óbitos apenas hoje, totalizando 285.136, segundo dados do consórcio dos veículos de imprensa.
Médicos charlatães que empurram vermífugo também são responsáveis por esse recorde e os outros que estamos quebrando dia após dia. Pois sentindo-se protegidos pela existência de um (falso) “elixir mágico” que promete resolver a pereba logo no início e que, ainda por cima, tem como garoto-propaganda o próprio presidente da República, cidadãos rompem o isolamento social, se contaminam e contaminam os outros.
Afinal, acreditam que se pegar é só tomar o remédio e correr para o abraço.
Conversei com dois médicos que estão na linha de frente, um de um hospital público do interior de São Paulo e outro de um hospital particular na capital paulista. Ambos, que pediram para não serem identificados, falaram de pacientes que chegaram ao pronto-socorro com baixa oxigenação e pulmões parcialmente comprometidos após terem se automedicado por dias.
Em comum nas histórias, o fato de que chegavam dizendo que não sabiam a razão de terem ficado tão doentes. “Fiz tudo direitinho, tomei o kit covid desde cedo”, ouviu um deles.
O conteúdo desse pacote de remédios varia de local para local, mas normalmente contém hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, zinco, vitaminas, analgésicos, entre outros.
Alguns dos pacientes desses dois médicos sobreviveram para ter a chance de reclamar com os médicos e os governos que fizeram eles acreditarem em uma mentira. Outros, infelizmente, não tiveram tanta sorte.
Pessoas estão morrendo por causa de remédios sem eficácia
O repórter Hygino Vasconcellos trouxe, nesta terça (16), no UOL, a história dos irmãos gêmeos Genilton e Jailson Rodrigues, de 47 anos, que morreram de covid-19 com uma diferença de dois dias em Ponta Grossa (PR).
Quando procuraram atendimento médico, receberam um kit covid e voltaram para casa. A situação deles piorou e tiveram que ser internados.
Mas já era tarde.
Outra reportagem do UOL, de Leonardo Martins, traz relato de médicos e enfermeiros com pacientes internados em leitos de UTI que confessaram terem tomado vermífugo (ivermectina) de forma preventiva ou diante dos primeiros sintomas. O próprio fabricante desse produto diz que não encontrou resultados que comprovassem a eficácia dele contra a doença.
“Quando vou intubar a pessoa, ela reclama: ‘doutor, eu tomei ivermectina em casa, não é possível’. Eu tento explicar que ele não tem verme, mas não ajuda em nada na covid”, afirmou um dos enfermeiros ouvidos por Martins.
A infectologista Marise Reis, membro do comitê científico do Rio Grande do Norte, afirmou, em entrevista à TV Globo, que mais de 90% dos pacientes internados nas UTIs com covid-19 no estado tomaram remédio sem eficácia comprovada para a doença.
“Não adianta as pessoas se esconderem por trás de um comprimido de ivermectina, achando que ele vai te proteger. Não vai”, afirmou.
Isso sem contar as tristes ironias que vão ficando pelo caminho. No último sábado (13), o deputado estadual mato-grossense Silvio Antônio Fávero (PSL) morreu por complicações da covid-19 após nove dias internado. Ele havia defendido na Assembleia Legislativa a distribuição do kit covid por parte do poder público.
E em fevereiro deste ano, apresentou projeto de lei “para assegurar o direito de o cidadão escolher ou não pela vacinação”.
Em um dos lances mais bizarros desde que começou a pandemia, terraplanistas biológicos do Ministério da Saúde, sob o comando de Eduardo Pazuello, pressionaram a Prefeitura de Manaus a distribuir hidroxicloroquina e ivermectina como tratamento precoce para a covid em janeiro.
Enquanto isso, manauaras com covid morriam sufocados nos hospitais por falta de fornecimento de oxigênio.
Remédios, como a ivermectina, são uma ilusão contra a covid
Na esmagadora maioria dos casos, nosso sistema imunológico é capaz de dar conta da doença, produzindo anticorpos e eliminando o coronavírus de forma eficaz. Ao apontar um remédio ineficaz como solução para casos leves, políticos e médicos estão, na verdade, tentando roubar o mérito por algo que o organismo já faria por conta própria.
E isso cola em uma parte da população. Afinal, o que tem mais a cara de ser responsável por vencer uma guerra contra uma doença mortal: estruturas microscópicas que cada um tem dentro de si, os glóbulos brancos, ou um produto milagroso distribuído com pompa e circunstância e que é alvo de elogios semanais do presidente em suas lives?
E nos casos em que a doença evolui para a morte? Daí é a estratégia discursiva adotada por Bolsonaro tem sido a do “eu lamento todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”, como afirmou em 2 de junho.
Sem rodeios, o médico sanitarista e fundador da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Gonzalo Vecina, afirmou à TV Cultura: “na minha área tem muito médico burro, que ainda dá cloroquina”.
Deveríamos estar distribuindo auxílio emergencial no valor suficiente para as famílias sobreviverem com dignidade e não a miséria que o governo Bolsonaro vai começar a pagar. E fechando o que for possível no país para garantir que o vírus pare sua escalada, garantindo o máximo de proteção possível para os trabalhadores que tiverem que continuar usando transporte público, por exemplo. Distribuindo máscaras PFF2/N95, por exemplo. Há médicos guiados pela ciência que salvam vidas.
E há aqueles guiados por Bolsonaro, que as colocam em risco.
*É jornalista e doutor em ciência política pela USP.
Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.