Favoritaço para as eleições de 6 de outubro, Allyson Bezerra (UB) não quer apenas vencer, ele quer trucidar os adversários nas urnas e sair do pleito com status de candidato a governador.
Para isso, ele não mede esforços na construção de narrativas até mesmo em contextos negativos. É o caso do debate da TCM em que ele faltou para não responder perguntas incômodas como os valores altíssimos do IPTU, os gastos exorbitantes com coleta de lixo, os escândalos da gestão, as obras atrasadas, caos na saúde, dentre outros.
Principal alvo dos adversários, Allyson utilizou os parceiros da mídia para instrumentalizar o candidato a prefeito de Mossoró Victor Hugo (UP) a seu favor contra os principais adversários, Genivan Vale (PL) e Lawrence Amorim (PSDB).
Victor teve lampejos no debate, mas a mídia governista tentou passar a impressão de que ele roubou a cena. Não, não roubou. O assunto principal foi a ausência de Allyson e as críticas à gestão.
Como escrevi há uma semana: foi um debate de perguntas sem respostas.
Victor Hugo é um sujeito esperto, não caiu na armadilha e segue fazendo a campanha no estilo que vem mantendo desde o início.
As pesquisas indicam uma vitória acachapante de Allyson, mas essa estratégia aí não emplacou. Não dá para vencer todas.
A semana eleitoral em Mossoró começou com a divulgação da pesquisa TS2 pela TCM trazendo números que confirmam dados semelhantes de outros institutos: o prefeito Allyson Bezerra (UB) lidera com folga a corrida ao Palácio da Resistência.
O prefeito tem vantagem de 60,2 pontos percentuais sobre o presidente da Câmara Municipal Lawrence Amorim (PSDB).
Allyson tem 67,6% seguido por Lawrence com 6,4%. Genivan Vale (PL) está em terceiro com 4,9%. Victor Hugo (UP) tem 0,4%. Irmã Ceicão (PTB) tem 0,1%.
Não sabem/não responderam tem 13,2% e Branco/nulo/nenhum 7,4%.
Confira os números:
Confira os números do cenário espontâneo:
Já o item rejeição é liderado por Genivan Vale e Lawrence Amorim com praticamente a mesma quantidade de citações.
Confira os números:
Dados
A pesquisa TS2 contratada pela TCM entrevistou 781 eleitores de Mossoró entre os dias 14 e 15 de agosto. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais para mais ou para menos com intervalo de confiança de 95%. O registro está sob o número RN-07586/2024.
A partir de hoje a rotina do eleitor vai mudar por 45 dias com uma intensa disputa por corações e mentes em que emoção e razão estarão em permanente conflito entre candidatos pelo seu voto.
Em Mossoró, há claro favoritismo do prefeito Allyson Bezerra (UB) que vai para a reeleição com folga superior a 60 pontos percentuais em relação aos principais adversários que disputam a segunda colocação: o ex-vereador Genivan Vale (PL) e o presidente da Câmara Municipal Lawrence Amorim (PSDB).
Some-se a isso, o fato de a popularidade de Allyson variar numa aprovação entre 76% e 86% a depender do instituto de pesquisa.
Ainda assim Allyson não perdeu e às 00h04 já iniciou a campanha com um adesivaço de carros planejando inundar Mossoró com propaganda logo na largada.
Quem também começa com tudo é Genivan Vale. Focado na luta para atrair o voto ideológico do bolsonarismo, apesar dos esforços para parecer mais moderado que os líderes de seu grupo político, o ex-vereador vai dar largada na campanha com descida do Alto de São Manoel ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), líder da extrema direita nacional.
Por outro lado, Lawrence Amorim desenha uma campanha mais franciscana. Não gerado fatos políticos relevantes desde que conquistou o apoio do PT. Não tem feito o discurso necessário para atrair o eleitor progressista que desconfia do tucano pelo apoio dado a Bolsonaro no segundo turno de 2022 nem dado sinais de grandes movimentações.
O pontapé da campanha de Lawrence foi com adesivaço seguido de visita a comerciantes dos conjuntos Abolição 1 e 2 (Centro Comercial e a lojas de veículos. À tarde faz caminhada no bairro Santo Antônio. A agenda do primeiro dia de campanha encerra com reunião no comitê do pré-candidato a vereador Miranda.
Os candidatos Victor Hugo (UP) e Irmã Ceição (PTB) serão coadjuvantes que devem ter seus melhores momentos nos debates e entrevistas atuando como franco atiradores.
Proporcional
São 223 candidatos a vereador nas eleições de 2024 em Mossoró. Eles estão distribuídos em 12 nominatas. O Blog ainda produzirá uma matéria especial sobre a eleição proporcional em Mossoró.
Victor-Marie Hugo (1802-1885) está no Panteão dos franceses. Literalmente, descansando no famoso edifício mausoléu, sito no Quartier Latin de Paris, cujo frontispício reconhece: “Aux grands hommes, la patrie reconnaissante” (“Aos grandes homens, a pátria é grata”). E literariamente, como um dos maiores escritores – de ensaios, de teatro, de poesia e, sobretudo, de romances – nascidos em França, no caso dele, na belíssima Besançon, capital do Franche-Comté. Quem já leu ou ouviu falar de “O corcunda de Notre-Dame” ou “Nossa Senhora de Paris” (“Notre-Dame de Paris”, 1831), “Os Miseráveis” (“Les Misérables”, 1862) e “Os trabalhadores do mar” (“Les Travailleurs de la mer”, 1866) há de concordar comigo.
Todavia, para além de escritor, Victor Hugo foi sobretudo um “sage” (leia-se “sábio”). Mais do que muita sabedoria encontramos na fábula de Esmeralda, Quasímodo e Clode Frollo, que se antagonizam na “Notre-Dame de Paris”. Em “Les Misérables”, aprendemos, até demasiadamente, com a saga de Jean Valjean, a rigidez religiosa de Javert, a miséria de Fantine, o exemplo-exceção de bondade do Bispo de Digne, a malevolência de Gravoche e a infelicidade de Cosette, só no final redimida nos braços de Marius. Com “Les Travailleurs de la mer” eu aprendi algo que nunca esqueci: não podemos vencer a natureza.
Mas, hoje, para confirmar a minha tese sobre a “sagesse” (leia-se “sabedoria”) de Victor Hugo, eu gostaria de chamar a atenção para um título específico de sua vasta obra, aquele provavelmente mais relacionado ao direito, que é “O último dia de um condenado” (“Le dernier jour d’un condamné”, 1829).
Com “Le dernier jour d’un condamné”, o escritor e também homme politique Victor Hugo aparenta-se a Dostoiévski (“Recordações da Casa dos Mortos”, 1862), John Howard (“O estado das prisões”, 1777), Oscar Wilde (“A balada da prisão de Reading”, 1898) ou com os nossos Graciliano Ramos (“Memórias do Cárcere”, 1953), Plínio Marcos (“Barrela”, 1958) e Assis Brasil (“Os que bebem como os cães”, 1975), que tão bem relataram a vida carcerária e a dos seus condenados, cada um com as suas especificações, evidentemente. Sob os pontos de vista filosófico, sociológico, psicológico e jurídico, o romance de Hugo cruamente nos apresenta o diário de um condenado à morte, anônimo, que não é herói nem vilão, nas últimas 24 horas anteriores a sua execução. Mas como se julga o ato do homem (ou do seu agrupamento em forma de Estado) que decide e impõe a morte a um outro homem? É o que procura fazer o autor. Trata-se do que os franceses chamam de “roman à thèse”. Serve de libelo contra a pena de morte, tema tão importante para o direito (e aqui já deixo minha assertiva oposição à pena capital imposta pelo Estado). É verdade que a pena de morte, depois de muita luta, está hoje abolida na grande maioria dos países ditos “civilizados”. Mas, com Hugo e seu livro, na França e por onde a sua literatura se irradia, a luta por essa abolição atingiu consciências e sensibilidades. Poucos fizeram tanto para abolir a “maldita” como o bom reformista/ativista Victor Hugo (e penhoradamente agradecemos!). Até porque, as maiores batalhas da humanidade foram ganhas não só com a razão/inteligência, mas, também, empregando-se a alma e o coração.
Aliás, na edição que possuo de “Le dernier jour d’un condamné” (Le Livre de Poche, 1989), na contracapa, consta: “V. Hugo escreveu admiráveis poemas, ele escreveu admiráveis romances e admiráveis dramas; mas, para nós, sua obra capital – quando a guilhotina tiver sido definitivamente abolida – será ter ajudado a abolir essa guilhotina. Há algo maior que um grande poeta ou um grande romancista. É um sábio. E há algo mais belo, mais invejável, que a imaginação. É o coração”.
Bom, Victor Hugo redirecionou sua arte para servir a uma das mais nobres causas da humanidade. Quem é mesmo sábio, e não apenas inteligente, tende a ter um bom coração. Podem ter certeza.
*É Procurador Regional da República e Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL.