Nesta semana, a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) alcançou sua 12ª patente com o produto “Filmes biodegradáveis à base de quitosana, incorporados com nanopartículas de óxido de grafeno e cera de abelha”, uma inovação voltada para a preservação de alimentos. Segundo a professora Edna Aroucha, da Ufersa, o filme biopolimérico é obtido a partir do polissacarídeo quitosana, combinado com nanopartículas de óxido de grafeno. A novidade é que pode ser aplicado como cobertura ou usado na produção de sacolas biodegradáveis, destinadas à conservação de frutas e hortaliças.
A patente é resultado do projeto “Qualidade e conservação de produtos agrícolas: impacto do manejo agronômico (déficit hídrico e salinidade) e embalagem biopolimérica”, financiado pelo CNPq, sob a coordenação da professora Edna Aroucha, juntamente com o projeto “Biopolímeros, ambiente e sociedade”, coordenado pelo professor Ricardo Leite. Ambos são registrados no Diretório do CNPq “Inovação e Tecnologia de Qualidade de Alimentos do Semiárido Tropical”.
“Essa inovação oferece uma solução eficiente e sustentável para exportadores de frutas da região semiárida, onde os resíduos plásticos de embalagens sintéticas representam um grande desafio”, explica a professora Edna Aroucha, ressaltando a importância do invento. O filme biopolimérico se destaca por ser uma alternativa ecológica, já que é produzido com materiais naturais e se degrada rapidamente, sem causar danos ao ecossistema, que atualmente sofre com a contaminação por micro e nanoplásticos.
A pesquisa, orientada pelos professores Edna Aroucha e Ricardo Leite, também faz parte da tese de doutorado de Wedson Aleff. As propriedades dos filmes de quitosana, como permeabilidade ao vapor d’água e solubilidade, foram aprimoradas com a incorporação de óxido de grafeno e cera de abelha. Além disso, Wedson Aleff e o bolsista de Iniciação Científica Arthur Lira de Sousa testaram a aplicação dos filmes em frutos de maracujá, obtendo maior vida útil do produto em comparação ao controle. O trabalho foi publicado na revista Horticulturae 10, destacando o impacto dessa tecnologia no setor agrícola.
Os professores argumentam que a pesquisa do seu grupo, tem se alinhado à vertente mundial de pesquisa, que visa desenvolver solução sustentável para diminuir a dependência de embalagens plásticas (fontes não renováveis), que promova a conservação de alimentos sem gerar impacto negativo ao meio ambiente.
Já confessei outras vezes a minha paixão por alguns livros que são o resultado da adaptação, para o papel, de séries/documentários de TV: “Civilização” (“Civilisation”, 1969), “A escalada do homem” (“The Ascent of Man”, 1973), “A era da incerteza” (“The Age of Uncertainty”, 1977), “A música do homem” (“The Music of Man”, 1979) e “Cosmos” (“Cosmos: a Personal Voyage”, 1980). Esses livros, sob a batuta de especialistas nas respectivas áreas do conhecimento – Kenneth Clark (1903-1983), Jacob Bronowski (1908-1974), John Kenneth Galbraith (1908-2006), Yehudi Menuhin (1916-1999) e Carl Sagan (1934-1996) –, nos contam a história da humanidade através das artes, das ciências, da economia/sociologia, da música e do universo/cosmos. Eu os li algumas vezes, sem falar que vivo xeretando-os ou mesmo reassistindo a capítulos das respectivas séries.
Outro dia, meditando sobre essa minha paixão, acho que descobri as suas causas/motivos.
Primeiramente, relaciono essa paixão com o que esses livros realmente são: exemplos de “divulgação científica”, aqui entendida em sentido amplo para englobar todas as artes. E de altíssimo nível, tanto quanto ao conteúdo como – e sobretudo – ao estilo/qualidade literária.
Sou um curioso (a maioria de nós o é, nem que seja sobre fofocas quanto à vida alheia…). Para além da minha suposta especialização (o direito), no que toca às ciências, sempre me interesso em saber mais um pouco, para interdisciplinarmente poder interagir ou para, pelo menos, quando for o caso, saber raciocinar dentro do respectivo sistema. Acredito que a aprendizagem de qualquer ciência, nos seus diversos níveis de conhecimento, é uma questão de desenvolvimento do senso comum aplicado à respectiva área. O etnólogo e arqueólogo Augustus Pitt Rivers (1827-1900) já dizia que a ciência era “senso comum organizado”. E, mais recentemente, o economista formado em direito Gunnar Myrdal (1898-1987) sentenciou: “a ciência nada mais é que o senso comum refinado e disciplinado”. Esse potencial mínimo de refinamento do senso comum, nos seus variados níveis (desde o raciocínio do agricultor sobre a meteorologia do sertão às elucubrações dos físicos teóricos), é comum a todos nós.
Possuo inclusive um livro – “Scientifica Historica: how the world’s great science books chart the history of knowledge” (Ivy Press, 2019) – cujo autor, Brian Clegg, nos leva exatamente “a uma jornada bibliográfica através do tempo/história e examina como a literatura científica redirecionou seu foco da elite acadêmica para uma audiência generalizada ansiosa para se educar. Essa transformação demonstra como os livros têm sido um condutor para a promoção do nosso conhecimento do universo e de nós mesmos”.
Mas também acredito que há uma razão mais simples para a minha paixão pelos livros acima citados. Trivial mesmo. Para explicá-la, talvez bastasse uma releitura do ditado “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Lembremos que os livros aqui referidos têm algo de inusitado em comum. Se, em regra, livros é que são transformados/adaptados, embora quase sempre resumidos, em filmes ou séries de TV, os livros acima citados são o resultado expandido de um percurso inverso, da tela para a página. Penso que isso faz serem eles livros muito visuais. E posso até dizer que eles são perfeitamente visuais no sentido de agradar aos olhos, ao nosso importantíssimo sentido da visão.
Sempre fui – e ainda sou hoje – mais um homem da página do que da tela. Mas não custa nada misturarmos as coisas, letras, imagens e até sons. Estou ficando mais velho – estamos todos, não? –, e intercalar a leitura de alguns parágrafos com uma bela fotografia vai muito bem. Para não termos, como disse o Pessoa, “um supremíssimo cansaço / Íssimo, íssimo, íssimo / Cansaço…”.
*É Procurador Regional da República, Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL e Membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras – ANRL.
Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o bruno.269@gmail.com.
O plenário da Assembleia Legislativa do RN aprovou na manhã desta terça-feira (24), a Política Estadual do Desenvolvimento Científico Tecnológico e de Inovação do RN (PEDCTI/RN), que organiza o Sistema Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação do RN (SECTI/RN), define procedimentos, normas e incentivos à inovação e a pesquisa científica e tecnológica no Estado. Conhecido como novo marco legal para a ciência no RN, o projeto de autoria do Poder Executivo tem como objetivo tornar o Estado moderno e eficiente em leis e normas relacionadas à ciência com vistas a garantir segurança jurídica nessa área.
“Esse projeto é um divisor de águas para o desenvolvimento do RN”, destacou o deputado estadual Hermano Morais (PV). A deputada Isolda Dantas (PT) afirmou que “hoje temos um estado que está mais do que pronto para se desenvolver na sua tecnologia”. Finalizando as manifestações favoráveis a matéria, Getúlio Rego (PSDB) classificou como “indispensável para que projetos sejam alavancados, a fim de aportar recursos para um instrumento de crescimento do estado”.
Outras duas matérias de autoria do Governo do Estado foram aprovadas na votação desta terça-feira. Uma que autoriza a doação de bem público estadual em favor do município de Angicos para construção e instalação de uma unidade básica de saúde e dá outras providências e outra que cria a Política Estadual de Segurança Pública e Defesa Social do RN (PESPDS) e institui o Sistema de Segurança Pública do RN (SISPRN).
Com galerias lotadas, os deputados apreciaram e aprovaram, à unanimidade dos presentes, o projeto de lei que autoriza o Poder Executivo a convocar os candidatos aprovados remanescentes do concurso para admissão ao curso de formação de soldados da Polícia Militar do RN, de acordo com o edital 007/2015 (CFSD/DP/PMRN). “É um projeto revestido de interesse público. Bom para os aprovados e ótimo para a população do RN que terá o problema da escassez de efetivo atenuada”, disse o deputado Subtenente Eliabe (SDD). Para Francisco do PT, “existe uma situação de muita injustiça relativa a esse grupo”, mas destacou que o projeto é autorizativo. “É bom lembrar que tem uma ação judicial tramitando em relação a essa situação”, frisou.
Dando continuidade à votação, duas matérias de iniciativa do Ministério Público Estadual foram aprovadas: a que dispõe sobre a estrutura administrativa do órgão e a que dispõe sobre a instituição de gratificações especiais no âmbito do Ministério Público do RN.
O deputado Francisco do PT teve seis matérias de sua autoria aprovadas na tarde desta terça-feira (24). Em ordem: a que denomina “Rodovia Arnaud Macêdo de Oliveira” a RN 086, na extensão que liga o entroncamento da BR-427, em Carnaúba dos Dantas, até a divisa com o estado da Paraíba; a que Institui, no calendário oficial do estado, o Dia Estadual do Teatro, a ser celebrado aos 11 de abril; a que institui a Política Estadual de Apoio ao Cooperativismo no RN; a que reconhece como patrimônio cultural imaterial e histórico do Estado a Dança do Espontão; finalizando, a criação da carteira de identificação da pessoa com fibromialgia e a criação do Cred Moto – Programa de Crédito Especial para Motoboys e Mototaxistas no RN.
A deputada estadual Isolda Dantas (PT) realizou na tarde desta quinta-feira, 28, o primeiro Seminário de estímulo à pesquisa sobre uso medicinal e industrial da cannabis no RN.
Mais de 300 pessoas participaram presencialmente do debate que aconteceu na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, sobre uso medicinal da cannabis que é benéfico para diversos tratamentos, mas ainda é de difícil acesso.
Isolda é a autora da lei estadual 11.055 que valida o tratamento e estimula estudos e a divulgação da cannabis medicinal. O RN é o 5º estado do país a aprovar uma legislação sobre o tema. Tanto a lei como os recursos para pesquisa são reivindicações históricas de entidades, movimentos e familiares de pacientes com problemas neurológicos que lutam pelo acesso ao remédio.
Na oportunidade, a deputada anunciou o valor de R$ 300 mil em recurso para a Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Norte (Fapern) lançar edital e promover pesquisas sobre o uso terapêutico da cannabis no RN, fazendo assim com que o debate possa avançar e promover informação.
“Só tenho a agradecer a todo mundo que participou e vamos seguir na luta para derrubar o preconceito e as barreiras que ainda existem. Quem necessita ter acesso ao remédio que salva tantas vidas não pode esperar”, afirmou Isolda Dantas.
O seminário foi realizado em parceria com parlamentares também sensíveis à causa, como a deputada federal Natália Bonavides e a vereadora Brisa Bracchi, ambas do PT.
No debate, o Professor do Instituto do Cérebro da UFRN, Sidarta Ribeiro, Jucirema Ferreira, representante da FAPERN, Mariana Muniz, Psiquiatra e Pesquisadora do Instituto do Cérebro e o especialista Felipe Farias, da Associação Reconstruir Cannabis de Natal/RN. Mais de 30 movimentos sociais e organizações que defendem o uso terapêutico da cannabis, além da jornalista Juliana Lobo, mãe de uma criança que melhorou suas condições de vida com o uso medicinal da cannabis.
A iniciativa da lei é inédita no Estado potiguar. E o edital que será lançado pela Fapern fortalecerá o debate na sociedade.
A governadora Fátima Bezerra encaminhou à Assembleia Legislativa projeto de lei complementar que institui a Política Estadual de Desenvolvimento Científico, Tecnológico e de Inovação do Rio Grande do Norte (PEDCTI/RN), organiza o Sistema Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI/RN), define procedimentos, normas e incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no âmbito estadual.
Mais do que tornar o Estado moderno e eficiente em leis e normas relacionadas à ciência com vistas a garantir segurança jurídica nessa área, o projeto propõe o fortalecimento do Fundo Estadual de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Fundet), criado pela Constituição do Estado de 1989 e regido pela Lei Complementar 118/1993 e alterações promovidas posteriormente. A gestão da nova política será feita pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico (Sedec), que passará a se denominar Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, da Ciência, da Tecnologia e da Inovação.
Para o secretário da Sedec, Jaime Calado, a proposta do governo é fundamental para o desenvolvimento sustentável do Rio Grande do Norte porque, além de promover a integração de tudo o que existe nessa área, cria um fundo específico para o financiamento da pesquisa. “Existia um fundo de ciência e tecnologia desde a promulgação da constituição estadual (em 1989), mas nunca funcionou como devia. “Agora, sim, com essa proposta da governadora Fátima Bezerra, pela primeira vez vai ter dinheiro”, assegurou.
Jaime esclarece que toda a linha de inovação, inclusive na governança, será impactada positivamente: “Com isso, todo o sistema se abre para que empresas, prefeituras, estado, instituição participem do processo. Tudo nessa lei é no sentido de aproximar governo, empresas, academia e a sociedade, um compromisso da governadora”, explicou.
O projeto de lei passou pelo processo de consulta pública e ampla discussão com atores e entidades do ecossistema estadual de inovação, Fórum dos Reitores das Universidades Públicas do Rio Grande do Norte e entidades de representação empresarial do Estado, bem como foi aprovado pelo Conselho Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Conecit/RN).
“A busca pelo desenvolvimento econômico e social tem apresentado como pontos fundamentais a ciência, a tecnologia e a inovação. A pandemia deixou isso muito claro e esta política é o reconhecimento do Governo do Estado à ciência. Com ela, a governadora Fátima Bezerra reconhece que o desenvolvimento do Rio Grande do Norte está diretamente relacionado ao investimento em inovação, pesquisa, tecnologia e capacitação científica. Não há outro caminho”, avaliou a professora-doutora Cicília Maia, reitora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
Também será alterado o nome da Fapern, que passará a ser denominada Fundação de Amparo e Promoção à Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio Grande do Norte, sendo a instituição estratégica em todo o processo, pois é o órgão executor do Fundet, em articulação com todo o Sistema Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, que também será regulamentando.
De acordo com o diretor-presidente da Fapern, Gilton Sampaio de Souza, a nova legislação agrega o que há de mais moderno na área da inovação, pesquisas ambientais, o aparato ligado às startups e às incubadoras, leis modernas que o RN não tinha. Além disso, ressalta ele, cria as unidades setoriais de ciência, tecnologia e inovação, aproxima as universidades públicas das empresas, define a questão do parque científico e tecnológico, entre outras iniciativas importantes e fundamentais para o Rio Grande do Norte.
“Este Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação tornará o RN mais ágil e mais eficiente nas tramitações processuais e ações de sua área, dando um grande salto de qualidade, modernização e civilização. Esse projeto de lei se configura, em última instância, como um marco civilizatório para o Rio Grande do Norte. É algo muito grandioso para nosso Estado e simbólico nesse momento em que [o governo federal] tenta detonar o Fundo Nacional de Ciência. O RN, ao contrário, está fortalecendo, regularizando e destinando recursos”, observou Sampaio.
Ele citou quatro iniciativas que comprovam o compromisso do governo Fátima com a ciência: 1) na lei que transformou o Proadi em Proedi há um artigo estimulando as empresas beneficiadas a apoiarem pesquisas em ciência e colocando recursos para a Fapern; 2) retomada do parque científico e tecnológico do Estado, que estava parado, e agora vai funcionar em Macaíba; 3) além da Universidade Estadual (UERN) e do Instituto Kennedy, foi criado um braço profissional-tecnológico com o Instituto Estadual de Educação Profissional, Ciência, Tecnologia e Inovação (IERN); 4) o novo marco regulatório deixa o Estado moderno e eficiente em legislação.
“Essa lei enviada para apreciação da Assembleia Legislativa atende a uma das metas do programa de governo da atual gestão e marca um posicionamento claro do governo da professora Fátima Bezerra, que tem na ciência sua maior base para o desenvolvimento social e econômico do Rio Grande do Norte”, reforçou Gilton Sampaio.
A história foi especialmente irônica com quem alçou médicos defensores de remédio para piolho contra covid durante a pandemia no RN. Agora parte desses médicos é antivacina. Eles gastam o seu tempo a repercutir notícias falsas sobre imunizantes e estudos inexistentes. Aliás, nada muito distinto do que fizeram com a ivermectina. A diferença é que eles estavam andando de mãos dadas com a cultura do curandeirismo anticiência e auto-medicação nacional. Também foram aproveitados em nível local por quem queria a reeleição do prefeito, que surfou na onda do populismo sanitário. Só que agora é diferente. O brasileiro gosta de vacina e, ao contrário do vermífugo, ela fez despencar o número de casos, internações e óbitos.
Não foi suficiente botar o povo para morrer na rua, enganando com uma falsa proteção. Não bastou lotar, conforme as pesquisas, os hospitais de pessoas que, ao se acharem imunizadas com a ivermectina seguindo os conselhos de médicos sem o menor conhecimento do que é a ciência, terminaram num leito de UTI e, não raro, num caixão. A tragédia virou uma escancarada farsa bizarra. Agora pintam as vacinas em suas redes sociais, quando elas não são derrubadas pelo espalhamento de conteúdo falso, como experimentais e perigosas. Grand finale.
Antes estrelas com presença constante na maioria dos veículos de comunicação, foram sumidos pois são a prova viva do que foi a pandemia por aqui. Quem foi o responsável objetivo por propagar informações mentirosas que levaram milhares à óbito jamais vai admitir. Mas basta ler o que escrevem e defendem agora médicos condenados ao ostracismo, diante daquilo que já ocuparam de espaço na esfera pública estadual, para saber a verdade.
*É sociólogo e professor da UFRN.
Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o barreto269@hotmail.com e bruno.269@gmail.com.
Por Carlos Eduardo*
Para a presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos temos hoje no país um cenário em que se consolida o desmonte progressivo da ciência. Entendo assim que vivenciamos um cenário de completo apagão da ciência, com reflexos altamente nocivos num futuro bem próximo. Isso advém da atuação pífia do governo federal. A nova lei do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) recebeu dois vetos do Presidente da República por influência e a mais absurda ignorância do setor econômico do governo. Tais vetos tirariam até R$ 9 bilhões de fomento à atividade. O canetaço ocorreu durante a sanção presidencial à Lei Complementar 177, que regula o uso dos recursos destinados ao Fundo.
Por isso, mais de 90 entidades científicas, acadêmicas e tecnológicas estão mobilizadas no intuito de reverter esse ato nefando. A petição do grupo, surgida logo em janeiro deste ano, já atingiu mais de 70 mil assinaturas de pessoas sérias, engajadas e verdadeiramente patriotas, que anteveem o desastre que se abaterá sobre nossas instituições ligadas ao exercício do desenvolvimento brasileiro.
Com o veto, o governo federal retirou do texto a proibição de que recursos do Fundo fossem alocados em recursos de contingência. Assim, R$ 4,8 bilhões podem ser desviados para outras finalidades já no próximo ano de 2021. O segundo veto riscou do mapa o artigo que pretendia liberar outros R$ 4,2 bilhões colocados em reserva de contingência ainda em 2020. Desse modo, o orçamento de fomento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações previsto para este ano é de apenas R$ 2,8 bilhões. O agora depenado FNDCT é uma das principais fontes de recursos orçamentários e financeiros para custear ações do Tesouro Nacional nessa área. Por isso, se tal orçamento for aprovado, o Brasil só poderia pagar bolsistas por apenas 4 meses, segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Nesse prosseguir, laboratórios seriam fechados e o país deixaria de contar com um sistema de cooperação internacional. Na esteira, as universidades federais perderiam cérebros, de acordo com a SBPC.
Uma informação a se pensar: dez anos atrás, o orçamento de fomento à ciência e tecnologia no Brasil era o triplo do que o governo federal propõe agora para o ano de 2021, Pense no atraso!
Ciência e tecnologia. Este é um assunto que me é caríssimo. Como deputado estadual, aprovei projeto de criação do Fundo Estadual de Ciência e Tecnologia, atraindo importantes recursos de órgãos como CNPq, Finep, Sudene e Banco do Nordeste. Assim, em pouco menos de 6 anos, o RN captou aplicações superiores a R$ 20 milhões. Como Prefeito de Natal, lancei o Plano Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação e a lei municipal de reformulação do Fundo de Ciência e Tecnologia. Nossa gestão também lançou o Natal Cidade Inteligente e Humana em parceria com o Instituto Metrópole Digital da UFRN, interligando por uma rede de fibra ótica escolas de educação básica, universidades, escolas técnicas, laboratórios de ensino, hospitais e centros de segurança pública. Também lançamos o Projeto Educonexão, atendendo 71% da rede municipal de ensino com internet banda larga e serviço de tv a cabo para canais educativos e filmes infantis. Nossa rede foi a segunda a ser criada em todo o país.
Em 2017, criamos o Parque Tecnológico de Natal, em parceria com a UFRN, visando atender empresas da área da tecnologia da informação (TI). Dois anos depois já tínhamos 46 negócios em operação, sendo 29 do mercado externo e 17 oriundos de incubações aqui no RN. Em dois anos, triplicamos o número de empresas no Parque, tal o potencial da iniciativa.
Por tudo aqui exposto, convoco nossa bancada política, nossos homens e mulheres da ciência, os dirigentes das universidades públicas e privadas, empresários do setor da alta tecnologia, estudantes, governantes e o povo em geral para combater com veemência esses vetos deletérios e nefastos ao desenvolvimento científico e tecnológico em nosso Brasil. Vamos à luta! *É ex-Prefeito de Natal.
Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o barreto269@hotmail.com e bruno.269@gmail.com.
Dos tipos políticos mais extravagantes encontrados no fundo desse abismo em que nos encontramos, o “médico bolsonarista” é um dos mais intrigantes. O enigma começa com as duas palavras que o designam: ele é médico por substantivo, quer dizer que exerce um ofício considerado nobre em qualquer sociedade, que consiste em curar e salvar vidas; mas é também bolsonarista, por adjetivo, portanto filiado a uma atitude política que, como sobejamente demonstrado a este ponto da nossa odisseia pandêmica, coloca a identidade tribal e o fanatismo em um lugar infinitamente superior ao apreço por vidas humanas e à missão de cuidar e curar. A tensão entre o substantivo e o adjetivo parece indicar um paradoxo. Na verdade, trata-se de um oximoro, como em “claro enigma”, “som do silêncio” ou “instante eterno”. Também neste caso, o adjetivo devora, anula ou contradiz o substantivo. O “médico bolsonarista” é, portanto, uma contradição ambulante, que só a singularidade da fauna dos abismos poderia comportar.
Não se enganem supondo a superioridade do substantivo sobre o adjetivo. O “médico bolsonarista” não é um médico que também é bolsonarista, mas um bolsonarista que ganha a vida exercendo a medicina. O bolsonarismo é que o define, posto que a ele se subordina tudo o mais o que a pessoa é, como pai, amigo, vizinho e, naturalmente, profissional da área de saúde. Não terá escrúpulos de usar, por exemplo, o prestígio, a distinção e a autoridade que a sociedade lhe concede por ser médico para fazer propaganda para a sua facção política mesmo em matérias e posições que violem francamente o seu juramento e ponham em risco a saúde dos seus pacientes, pois ele é primeiro um missionário de uma crença e o soldado de uma causa. A medicina vem depois disso, para ser usada como argumento de autoridade e facilitar a inoculação desta subespécie de bolsonarismo que surgiu na pandemia, o bolsonarismo clínico.
Chegou-se ao ponto que as mídias sociais estão cheias de exemplos de médicos autoconcedendo-se um upgrade ao status de cientista, mas não para ajudar as pessoas e as autoridades neste momento em que mais se precisaria deles, e sim para neutralizar o que prescreve e recomendam as autoridades de saúde mundo afora e para desqualificar os poucos consensos que a comunidade científica internacional tem conseguido sobre os modos corretos de se enfrentar o vírus. Ele não descobre nem cria conhecimento, ele os sabota, exorbitando da sua autoridade.
Médicos não são cientistas, são graduados e, eventualmente, pós-graduados em medicina, e não pesquisadores com anos de laboratório, publicações científicas e um título de PhD para início de conversa. O “médico bolsonarista”, contudo, não reconhece a distinção e pontifica em vídeos no WhatsApp, no Instagram ou no YouTube “desmascarando” a ciência e “revelando” a verdade sobre a Covid-19 que, por coincidência, é a mesma do bolsonarismo e dos negacionistas e e dos militantes antivacinas pelo mundo. Baseados em quê? Em ciência não é, porque o campo científico da saúde, nos dias que correm, publica diariamente centenas de estudos clínicos sobre Covid-19, que o profissional médico que está atendendo não tem a mínima condição de revisar. Mas o “médico bolsonarista” não se baseia na ponta de lança da ciência nem nas deontologias básicas da sua área, e sim nos embustes tribais da extrema-direita sobre o comunismo e o globalismo, mas, também, sobre epidemiologia, virologia e farmacologia e medicina.
Médicos não são cidadãos e, portanto, não podem ter sua própria ideologia política? Bem, para começar, é certamente superestimar o estágio atual do bolsonarismo considerá-lo uma ideologia. Seria supor algum sistema, um conjunto de valores coerentes, uma visão de mundo e de país. Como ouvi esta semana do embaixador Marcos Azambuja, pensar o bolsonarismo como ideologia é tentar encontrar algum método nessa loucura. A posição antivacina, a insistência em pseudomedicamentos, a negação e minimização da doença tem qualquer coisa a ver com ser de esquerda ou direita, conservador ou liberal? Nada. Não há um por quê nem para quê nesse comportamento e nessa convicção, como é claro neste momento para qualquer pessoa lúcida. Não se trata, portanto, de ideologia, de uma perspectiva minimamente coerente, mas de uma atitude e de umas concepções avulsas e avessas à racionalidade que, per se, são claramente incompatíveis com a visão de mundo da própria medicina.
Além disso, embora muitos médicos tenham se recuperado da patologia bolsonarista com o choque de realidade que tomaram com a pandemia, ainda há mais médicos no bolsonarismo do que qualquer outra classe profissional, exceto talvez policiais, milicianos e profissionais da área de segurança em geral. O que é de causar perplexidade, pois os médicos e os profissionais da área de saúde estão dentre os que pagaram o preço mais alto em vida e sacrifícios pessoais pela pandemia que nos assola há um ano. E são estes mesmo médicos os que sabem por experiência pessoal, nos plantões excruciantes, na experiência da morte e da doença do pessoal da linha de frente bem como de seus colegas e amigos, o quanto a mais completa falta de atuação produtiva do governo levou a este morticínio. Por que insistem em ficar do lado da peste em vez de lutar contra ela?
Infelizmente, o bolsonarismo não infectou a classe médica com tal intensidade e velocidade por acaso. Lastimavelmente, há uma cultura da classe médica brasileira – quer dizer, um conjunto de significados, mentalidades e valores compartilhados coletivamente – que é majoritariamente conservadora e elitista.
E não me venham com corporativismos, pois disso sabem muito melhor que eu os médicos e profissionais de saúde que, por sorte, são dissidentes e reativos a esses valores dominantes. Foi esse elemento conservador e elitista do DNA da classe médica que serviu como porta de entrada do vírus do bolsonarismo no organismo da corporação e dos seus profissionais. E é o que tanto dificulta a recuperação dos pacientes.
A história da simbiose entre médicos e a extrema-direita pode ser registrada em vários momentos dos oitos anos que nos trouxeram ao abismo. Assim, em 2013, vimos o médico protobolsonarista assediando médicos cubanos nos aeroportos, enquanto, em 2015, assistimos ao médico antipetista em manifestações, com seus jalecos brancos, gritando “Dilma Vaca” e denunciando a infiltração comunista por meio do Programa Mais Médicos. Em 2018, fomos finalmente apresentados ao médico bolsonarista declarando não atender filhos de petistas, desejando malignamente que petistas importantes viessem parar no seu plantão, e compartilhando fake news (“até cair o dedo”) sobre kit gay, a grana de Lulinha e o perigo comunista em seus grupos de WhatsApp. Sim, as nossas pesquisas constataram que os grupos de médicos são das mais importantes correias de transmissão de fake news bolsonaristas no Brasil.
Durante todo o ano de 2020 vimos o médico bolsonarista, sob o olhar silente ou cúmplice do Conselho Federal de Medicina, sabotando as medidas da OMS, promovendo e prescrevendo falsos medicamentos, negando a pandemia e minimizando as mortes dela decorrentes. Muitos o fazem até hoje. Não temos mais, em 2021, contudo, o benefício da ignorância com respeito a de que lado está o bolsonarismo no morticínio a que assistimos, estarrecidos, todos os dias.
Os médicos e outros agentes da área de saúde não podem mais honestamente alegar desconhecimento ou dúvida. Os doutores que continuam desafiando a OMS e o senso comum mundial prescrevendo ivermectina e cloroquina como se tivesse cabimento fazer de uma prescrição a um paciente enfermo um statement político, os doutores que gravam e postam vídeos de WhatsApp negando a letalidade da pandemia ou atacando o isolamento social e o lockdown, esses doutores já não são mais apenas um constrangimento moral, como os que insultaram cubanos ou gritavam palavras de baixo calão contra a ex-presidente. São a negação de tudo o que a medicina deve ser para as pessoas. Quando estamos morrendo à razão de mais de 4 mil brasileiros por dia, a quem recorreremos se o médico que nos atender pode estar mais interessado em defender sua facção política e suas crenças tribais do que em nos tratar?
O bolsonarismo na classe médica, além de uma patologia moral, virou uma doença intelectual e uma moléstia profissional que leva o acometido a sacrificar tudo – toda e cada uma das crenças da medicina e do seu sublime contrato com a humanidade – no altar do seu fanatismo ideológico. Hoje, depois de tudo o que sabemos sobre a doença e a sua letalidade, quando os erros cometidos são cristalinos e ninguém pode alegar ignorância ou inocência, o “médico bolsonarista”, essa triste entidade, é basicamente um colaboracionista, um dócil e empenhado soldadinho de jaleco branco do bolsonarismo e da sua Solução Final.
*É doutor em Filosofia, professor titular da Faculdade de Comunicação da UFBA e autor de A democracia no mundo digital: história, problemas e temas (Edições Sesc SP).
Estudo realizado entre os dias 2 e 27 de março pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LAIS/UFERN) apontou que 766 pessoas que buscaram internação acometidas pela covid-19 recorreram ao “tratamento precoce” que utiliza medicamentos cuja eficácia não tem embasamento científico.
Destes 716 usaram ivermectina, 27 hidroxiclocoquina e 23 cloroquina.
A maior parte dos pacientes que embarcaram na onda do “tratamento precoce” e terminaram internados são moradores dos três maiores municípios do Estado: Natal, Mossoró e Parnamirim, totalizando 52,3%. A título de curiosidade as três cidades juntas correspondem a 41,2% da população do RN.
Outro dado importante é que pacientes de 140 municípios solicitaram internações. Destes 100 cidades tiveram pacientes que usaram os medicamentos do “tratamento precoce”.
Isso corresponde a 71% dos municípios que tiveram pacientes que precisaram de internação.
O relatório aponta preocupação com o uso indiscriminado dos medicamentos sem comprovação científica para tratamento da covid-19. “A situação é realmente preocupante, pois muitas pessoas podem estar fazendo uso desses medicamentos sem qualquer acompanhamento médico, se automedicando. Outro fator preocupante é a venda indiscriminada em farmácias que, muitas vezes, oferecem o medicamento aos clientes como alternativa contra a covid-19, mesmo quando essa indicação não consta na bula do remédio, ou sem a prescrição médica para covid-19 (off-label)”, declarou.
Nota do Blog: o estudo é importante, mas ele peca por omitir o total de pacientes que pediram internação no período e isso deveria inclui os que não usaram os medicamentos mais famosos do “tratamento precoce”. Passamos o dia inteiro tentando os números abordados pelos autores para cruzar a informação. No entanto, a Assessoria de Imprensa do LAIS/UFRN não nos entregou.
Estudo divulgado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) apontou que Natal, epicentro d covid-19 no Estado, tem uma taxa de letalidade da doença acima da média estadual e nacional.
No Brasil a taxa de letalidade é de 2,42, no Rio Grande do Norte é de 2,1 enquanto que em Natal esse número é de 2,97. Um dado curioso é que excluindo a capital o índice no Estado cai para 1,82.
Os números foram apresentados à Tribuna do Norte pelo o professor do Departamento de Infectologia (DNIF/UFRN), o infectologista Ion Mascarenhas de Andrade.
Natal apostou pesado no “tratamento” precoce, principalmente em relação à ivermectina, remédio para piolho e verme, sugerido pelo prefeito Álvaro Dias (PSDB) como eficaz contra a doença. As “maravilhas” do medicamento foram amplamente propagadas pela mídia natalense. O resultado é que pesquisa do Instituto Consult divulgada pela própria Tribuna do Norte mostrou que 70,13% dos moradores da capital acreditam na eficácia do “tratamento” precoce.
Para Ion Andrade, o índice de letalidade mostra que os medicamentos indicados não funcionam. “Os dados mostram que o que nós esperaríamos em termos de números melhores em função do uso amplo de terapêuticas do tratamento precoce não se constatam na epidemiologia. Inclusive, os números da capital são mais preocupantes do que os índices do restante do Estado. Não dá para dizer se são os medicamentos usados para tratamento precoce que estão provocando o aumento desses números. Mas o que eu quero dizer é que, quando se utiliza uma terapêutica que funciona, esse fator deve ecoar na epidemiologia como uma melhora do contexto geral e isso não acontecendo”, explicou à Tribuna.
Outro professor do DNIF, Henio Lacerda, reforça que essa confusão em torno de um tratamento sem comprovação científica ajuda piorar os números. “Em nenhum país do mundo há recomendação de tratamento precoce contra a covid-19, porque não há comprovação científica para isso. Mas o que a gente percebe é: praticamente todos os pacientes que nós estamos recebendo nas unidades hospitalares para internação e que evoluem para quadros graves e óbitos, fizeram uso de medicamentos de forma preventiva ou tratamento precoce”, relatou.
Ele reforça que a ilusão mais atrapalha que ajuda: “Na Europa e nos EUA já existe consenso sobre as recomendações. Para pacientes que não precisam ser internados, o tratamento é padrão, com medicamentos apenas para controlar sintomas como febre e dor de cabeça, por exemplo. Aqui no Brasil e em algumas partes do mundo e que não são utilizadas como referência nossa é que essas recomendações destoam. E, coincidentemente ou não, nós somos um dos poucos países que está com a pandemia fora de controle”.