O líder da minoria, senador Jean Paul Prates (PT-RN), solicitou, nesta terça-feira (4), que o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta fizesse uma rápida avaliação conceitual, em graus de 0 a 10, sobre testagens, medidas de isolamentos, tratamento precoce ou preventivo, protocolos sanitários e busca por vacinas implantadas no país.
“Essas medidas foram bem aplicadas ou não? Faço isso diante da relevância do seu depoimento. Não apenas como ministro que ocupou o cargo por 1 ano e três meses, sendo dois meses nos piores momentos da pandemia, com choque de informações, medo e ignorância sobre o tema. No seu critério e na sua experiência como médico, gestor e ex-parlamentar, qual foi a efetividade dessas ações? ”, arguiu.
Ao responder, o ministro declarou que em relação à testagem o país perdeu muito. “O PCR é padrão ouro. Com ele não temos falso positivo, ou é ou não é. O Brasil perdeu por não ter usado esses kits. Eles perderam o prazo de validade. Seriam 24 milhões de testes, para serem utilizados em usinas de exames. Queríamos coletar e entregar o resultado em 24h. Se fosse implementado isso teríamos um impacto muito alto”, afirmou.
*Saída *
Jean Paul perguntou ainda sobre os obstáculos que fizeram o ministro deixar a pasta. “Qual foi o maior obstáculo que o ministro Mandetta enfrentou e o fez sair do governo Bolsonaro. Foram recursos humanos, recursos financeiros para trabalhar ou o superior hierárquico?”, questionou.
Mandetta reforçou que nunca pediu para sair do ministério. “ Médico não abandona paciente. No dia da minha exoneração, depois que ele me comunicou, eu disse ‘ok’ e dei conselhos pela última vez”, esclareceu. “Ele queria que minha exoneração fosse a pedido, mas disse que queria ser exonerado por ele. Se não tivesse feito isso, provavelmente, estaria numa CPI como essa e as pessoas estariam falando assim: o senhor desistiu ou o senhor não quis mais continuar”, finalizou.
Depoimento
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid iniciou, nesta terça-feira, a fase de oitivas dos ex-ministros da saúde. O primeiro depoente foi o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Mandetta afirmou que uma das maiores divergências entre ele o presidente Jair Bolsonaro foi sobre a condução do enfrentamento da pandemia. Em vários momentos, o ex-ministro declarou que todas as recomendações feitas durante a sua gestão à frente da pasta foram baseadas na “ciência, na vida e na proteção”. “ As decisões tomadas por mim tiveram os maiores zelos que podia tomar”, disse.
Ele confirmou que o presidente Jair Bolsonaro queria que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alterasse a bula da cloroquina para que o medicamento fosse indicado no tratamento da Covid-19. Alegou ainda que a orientação para produção de cloroquina pelo Exército não partiu do Ministério da Saúde. “Eu estive dentro do Palácio do Planalto quando fui informado, após uma reunião, que era para eu subir para o terceiro andar porque tinha lá uma reunião de vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina, que eu não tinha conhecimento. Quer dizer, ele tinha um assessoramento paralelo. Nesse dia, havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não timbrado de um decreto presidencial para que fosse sugerido, a partir daquela reunião, que se mudasse a bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação de cloroquina para coronavírus. E foi, inclusive, o próprio Presidente da Anvisa Barra Torres, que estava lá, que falou: Isso não”, disse.
O ex-ministro da saúde revelou também que era ‘constrangedor’ explicar suas divergências com o presidente sobre as medidas de isolamento social. “ Falamos que não podia aglomerar e era importante fazer o uso de máscaras e do álcool em gel. O presidente concordava! Mas, passados dois ou três dias, ele voltava a fazer aglomerações”, declarou. “ Ele negou a compra de vacinas, negou a testagem e fez uma série de outras negações”, completou.