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Prefeito confessa crime em entrevista
Pouca gente se deu conta, mas além da polêmica sobre a defesa de um remédio para vermes e piolhos sem eficácia comprovada para covid-19 o prefeito de Natal Álvaro Dias (PSDB) em entrevista à 98 FM da capital confessou praticar um crime ao relatar que saiu abraçando pessoas infectadas pela doença contagiosa se confiando na ivermectina.
Ele se arriscou a pegar a doença e passar para outras pessoas com o agravante de além de ser prefeito de Natal também ser médico.
Ele infringiu os artigos 267 e 268 do Código Penal:
Art. 267 – Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos:
Pena – reclusão, de cinco a quinze anos.
(Revogado)
Pena – reclusão, de dez a quinze anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
- 1º – Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro.
- 2º – No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro anos.
Infração de medida sanitária preventiva
Art. 268 – Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa:
Pena – detenção, de um mês a um ano, e multa.
Parágrafo único – A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.
Omissão de notificação de doença
Se você ainda não assistiu a declaração de Álvaro Dias eis aí uma nova oportunidade:
Nota do Blog: Álvaro há tempos samba na cara do Ministério Público e até mesmo da oposição natalense que são incapazes de impor qualquer reação.
No final de semana pipocaram fotos e vídeos de festas, principalmente em Natal e Mossoró, que foram tudo menos clandestinas. Ambientes lotados com protocolos mandados às favas.
De nada adiantou o apelo às autoridades da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL) para que o poder público arrochasse na fiscalização para evitar que quem trabalha direito fosse prejudicado.
Do bar chique ao boteco da periferia as aglomerações tomaram conta como se estivéssemos com leitos de UTI/covid-19 para dar e vender.
Enquanto algumas famílias choram por seus mortos, outras podem escolher celebrar a vida no conforto do lar sem correr o risco desnecessário de ser o próximo a disputar uma vaga de UTI num fila que somente na primeira semana de junho já ceifou a vida de 33 potiguares.
Isso mesmo.
Reforço: na primeira semana de junho 33 potiguares morreram enquanto aguardando uma vaga uma transferência para um leito crítico.
Há duas semanas a ABRASEL tentou se movimentar em Mossoró no sentido de pedir que Prefeitura e Governo intensifiquem a fiscalização sobre o cumprimento dos protocolos.
Nada aconteceu.
Os barzinhos viraram covidários em que as fiscalizações ficam na promessa porque os gestores temem serem acusados de perseguir trabalhadores.
Todo mundo quer abrir. Quando fecha prometem cumprir os protocolos, quando abre nem todos cumprem a promessa. Quando volta a fechar reclamam que estão sendo perseguidos.
Se os protocolos fossem cumpridos, a fiscalização não seria um problema. Como não são ela não é feita para evitar crises políticas para os comerciantes.
O povo também é culpado. Não se controla. É incapaz de se conter e compreender a gravidade da situação em que estamos.
Na hora que a coisa aperta sobra para quem cumpriu os protocolos de biossegurança e para os que não cumpriram.
Falta autocrítica a todos.
Por Gutemberg Dias*
A pandemia da Covid-19 se transformou num grande divisor de águas no mundo e, sobretudo, no Brasil. As mudanças que fomos submetidos passam por transformações no campo social, econômico e político que segue redefinindo todas a relações interpessoais e diplomáticas quando falamos de mundo.
O Brasil, a partir de um governo que segue na contramão do mundo, optou em não travar uma luta séria contra a pandemia e embarcou numa narrativa negacionista, apostando numa falsa imunidade de rebanho e na criação de um protocolo de tratamento precoce com drogas que, cientificamente, foram descartadas como eficaz no tratamento da Covid-19. Esse caminho colocou o país numa situação extremamente difícil no cenário internacional, tornando-se um pária quando o assunto é a pandemia, e internamente, por todos os equívocos, entrou na rota de países com alta incidência de morte.
Além das mais de 430 mil mortes de brasileiros e brasileiras pela Covid-19, a pandemia e, sobretudo, a falta de tato do governo federal, gerou um ambiente de animosidade política de grande monta. E isso contaminou deveras as ações de combate a pandemia, chegando ao ponto de o governo federal dificultar, através da ANVISA, a compra direta de vacinas por parte dos estados do nordeste, como foi o caso da Sputnik V.
No Rio Grande do Norte a pandemia já ceifou a vida de 5.980 potiguares (dados do LAIS) e, também, gerou disputadas políticas quanto a questão dos decretos de restrições. De um lado o governo do estado, assessorado por um Comitê Científico de alto nível, que propõe restrições mais acentuadas, e do outro, alguns prefeitos, em especial da capital, que optou por duelar com o governo estadual adotando a linha de atuação do Presidente da República e com respaldo de grande parte das entidades empresariais.
O certo é que não estamos vencendo a luta contra a pandemia, nem no campo da saúde e muito menos no da política. Veja o caso do nosso estado, chegamos a poucos dias a ter a maior taxa de redução de casos no Brasil, mas de uma hora para outra, em função da diminuição das restrições, o estado volta a ter superlotação dos leitos Covid-19 e conviver com a elevação dos casos.
Mossoró, leia-se o povo, na última semana deu um grande exemplo de como ajudar na proliferação da doença. Bares e restaurantes lotados após a liberação de bebidas alcoólicas e encerramento do toque de recolher. Infelizmente as autoridades sanitárias locais fizeram olhos e ouvidos de mercador, tudo normal dentro de uma anormalidade.
A disputa precisa ser travada no campo da saúde pública e no combate à pandemia, utilizando tudo que for necessário, inclusive o tão temido “lockdown”. A classe política e empresarial precisa ter em mente que a defesa da vida tem que vir antes de qualquer outra ação, mesmo que ela gere dessabores econômicos a curto e médio prazo. Lembro que a economia tem perspectiva de recuperação, já para uma vida perdida não existe reparo.
Os especialistas em epidemiologia da Covid-19 já apontam que o país pode estar entrando na terceira onda da doença. Nesse caso, com maior perigo devido as novas cepas, com a indiana, que foi recentemente identificada no Maranhão. Será que vamos fazer de conta que nada está acontecendo e aceitar a banalização da morte e embarcarmos na narrativa de que o mundo não pode parar?
Sinto uma angústia danada quando vejo que sozinho não conseguirei resolver esse problema generalizado. Mas, também, sei que ficar calado e omisso não ajudará em nada na mudança de rumo que precisamos impor. Já é hora de todos que acreditam na vida se levantar contra o que estamos vivendo e lutar por uma política eficaz de controle da pandemia.
*É professor universitário.
Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o barreto269@hotmail.com e bruno.269@gmail.com.
Jana Sá
Agência Saiba Mais
Em entrevista ao programa Balbúrdia nesta quarta-feira, 12, o secretário de saúde do Rio Grande do Norte, Cipriano Maia, disse que desde o momento inicial das ações de vigilância não houve unidade na ação. “Eu creio que em boa medida pela postura do prefeito em querer demarcar com o governo (estadual) o tempo todo”.
A afirmação foi feita quando questionado sobre a relação do Governo do Estado com o município de Natal na condução do enfrentamento à pandemia.
“Não foi colaborativa em nenhum momento”.
Com experiência em planejamento e gestão em saúde, a marca característica de Cipriano Maia é da pacificação em todos os cargos públicos que exerceu, a exemplo da titularidade de uma secretaria no Ministério da Saúde, entre os anos de 2003 e 2004. Segundo o secretário de saúde do RN, como autoridade sanitária que conduz o SUS no estado e que tem se relacionado com todos os municípios, independentemente de sua atuação política, sempre atuou no sentido de chegar a entendimentos.
Mas em entrevista ao Balbúrdia, o gestor disse que “em determinados momentos precisamos repor a verdade quando a mentira passa a prevalecer”.
Logo que se confirmaram os primeiros casos da doença no Rio Grande do Norte, o secretário contou que “estava na casa da governadora Fátima, no início de março, quando a governadora chamou o prefeito para a unidade, para construção de ações conjuntas, afirmando que a disputa eleitoral não podia atravessar a condução da pandemia, que a vida das pessoas tinha que ser prioridade”. O encontro foi registrado e divulgado nas redes do Governo do Estado. “Nós buscamos isso, mas essa atitude colaborativa nunca aconteceu”.
Cipriano fez críticas ainda ao comitê constituído a nível municipal, “em que as pessoas estavam mais voltadas em orientar usos de medicamentos do que orientar a pandemia”.
As dificuldades no relacionamento com a capital potiguar se estenderam à implementação e utilização do sistema de regulação Lais/ UFRN, que gerencia a distribuição e aplicação das vacinas no Estado. “No RN + Vacinas o município de Natal é o que tem mais atraso na alimentação de dados”.
O secretário de saúde do RN também falou sobre a situação da pandemia no Rio Grande do Norte e sobre o novo decreto estadual que flexibiliza algumas medidas de isolamento social. “Vivemos um paradoxo”, afirmou Cipriano, ao reconhecer que o quadro é crítico, mas há uma pressão pela abertura fruto do cansaço da população que se soma ao negacionismo e à falta de assistência do governo federal aos setores mais vulneráveis socioeconomicamente.
Cipriano também fez críticas ao negacionismo do presidente Jair Bolsonaro. Para ele, a falta de unidade de uma ação governamental à nível nacional na condução do enfrentamento à pandemia é a maior tragédia do Brasil.
Preocupado com os atrasos na produção de vacinas no Brasil por falta de insumos, Cipriano afirmou que “as declarações do presidente e dos ministros confrontando a China não são gratuitas, cada país faz seu jogo de interesse”. Preocupação do secretário é que possa comprometer ainda mais o lento processo de imunização.
O presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, deputado Ezequiel Ferreira (PSDB), apresenta ao Governo do Estado uma série de propostas e sugestões a serem adotadas como medidas de socorro ao setor empresarial. A iniciativa tem como objetivo amenizar a crise econômica, que deverá se agravar ainda mais com as novas restrições que serão adotadas a partir deste sábado (20), na tentativa de conter o avanço da pandemia do coronavírus.
“Nossa expectativa é contribuir com o Governo do Estado no sentido de ajudar a classe produtiva do RN, vendedores ambulantes e as famílias a conseguirem vencer mais este momento difícil que a economia potiguar enfrentará. Para isso será preciso que o Estado possa socorrer de todas as formas aos empreendedores e pequenos comerciantes para que, passada a pandemia, possamos retomar o desenvolvimento e a geração de emprego e renda para o povo potiguar”, disse Ezequiel, que fará encaminhamento das sugestões via requerimento legislativo.
Ezequiel defende que o Governo possa isentar de ICMS para as pequenas empresas optantes do Simples; a redução de 50% do ICMS para as empresas de alimentação optantes do regime especial; a isenção de tarifas de água e esgoto por seis meses para o setor de comércio e serviços, famílias de baixa renda; parcelamento em até 60 vezes (5 anos) do pagamento de ICMS devidos e parcelamentos em geral; descontou ou possibilidade de parcelamento do gás da Potigás; isenção de IPVA para veículos das empresas e dos pequenos comerciantes.
Outra medida seria a isenção do IPVA de 2021 para veículos que estejam registrados em nome dos estabelecimentos ou do pequeno trabalhador desempregado. Ezequiel propôs ainda o perdão dos débitos abertos desde o início da pandemia no país, em março de 2020, até o mês passado. Além disso, Ezequiel sugere a compra e distribuição de forma imediata de cestas básicas para a população menos favorecida, que sofrerá já desde o primeiro momento com as restrições impostas.
Famílias em situação de vulnerabilidade social
Para as famílias de baixa renda e vendedores ambulantes, Ezequiel sugere que as contas de água dos meses de março, abril e maio, deveriam ser isentas. A medida seria estabelecida em acordo com a Companhia de Água e Esgoto do Rio Grande do Norte (Caern).
Com o objetivo de ajudar o agricultor familiar para geração de renda e de doar alimentos para quem precisa, o Governo do Estado nos próximos meses da pandemia da Covid-19, compraria da agricultura familiar alimentos produzidos pelos homens e mulheres do campo, visando a montagem de cestas básicas. “Então arroz, feijão, farinha de mandioca, mel, azeite, óleo e massas do Seridó e outras regiões se transformariam em cestas básicas beneficiando mais famílias em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar no estado”, exemplifica.
Por José Dias do Nascimento*
Na briga do mar com as pedras, quem morre são os aratus
Não existe nenhuma novidade ou dúvida que a forma mais comum de contrair o vírus corona é através das reuniões sociais, — a infecção acontece por gotículas e o contato físico. A infecção por gotículas pode se espalhar de uma pessoa infectada para uma pessoa saudável, pela inalação de microgotas contendo vírus, liberadas pelos infectados por meio de tosse e espirro. A infecção por gotículas pode ocorrer até uma distância de 1–1,5 metros em média. Seus sintomas, (tosse, falta de ar ou dificuldade em respirar, febre ou calafrios) entre 1 — 11 dias de infecção (5–6 em média).
Portanto, sem vacina e com diversas cepas, e em situação de calamidade, o bloqueio (ou lockdown ) é muito eficaz em termos de assegurar o distanciamento social e colocar uma barreira entre o vírus e os indivíduos saudáveis, evitando assim a primeira etapa do ciclo, ou seja, a infecção direta.
Pois bem, em 5 de março de 2021 o Rio Grande recebe cedo a notícia aguardada sobre o novo decreto da Governadora sobre as novas medidas de isolamento social. Estas deveriam ser mais restritivas, à principio. No entanto, antes da coletiva a imprensa já circulava por interlocutores (autorizados?) a notícia de quais medidas seriam adotadas. Claramente o veiculo apresentava que o comitê científico da SESAP-RN descartava o lockdown no Rio Grande do Norte e modificada somente os horários do toque de recolher (abaixo).
A utilização desonesta do termo “comitê científico” fere à ciência, ainda mais sabendo que falas por lá, nestes comitês nem sempre são consensuais, e quando expostas assim na mídia, têm um efeito de pressão, o que pareceu oportunista. Nesta fala acima, não é dito nada sobre quais parâmetros científicos esta decisão foi tomada. Nada sobre quais os indicadores que apontaram para isto. É rude, grosseiro e desonesto camuflar este ponto e se esconder em falas personalíssimas e falácias não científicas. Não cabe a um comitê científico autorizar ou não um Lockdown baseado nas questões financeiras, fiscais de uma população e seu auxílio emergencial, mas na análise das questões epidemiológicas, técnicas e dinâmicas do espalhamento da doença. O Gestor político pode até não aceitar e seguir uma decisão política CONSIDERANDO OUTRO mérito, mas é inaceitável colocar a responsabilidade, desta forma, na bagagem de um comitê científico que não usa sequer um modelo de dinâmica de população para as projeções no estado do Rio Grande do Norte. Além do mais, este posicionamento vai de encontro frontal ao que preconiza, por exemplo, o Subcomitê 9 do C4NE (Cientistas do Nordeste) de especialistas, no qual o parecer sobre a situação atual e projeções numéricas para o Rio Grande do Norte, avaliadas em 6/03/2021 é pelo lockdown urgente. Segue logo abaixo.
A pergunta que fica é: QUEM SE RESPONSABILIZARÁ PELAS MORTES QUE CONTABILIZAREMOS NO PÓS 05.03.21 SEM LOCKDOWN? Devem ser creditadas ao comitê científico? A seu interlocutor? Ao secretario? ou a Governadora? O fato de não ter recursos assistenciais não pode sustentar uma posição técnica de não-Lockdown. Isto é uma Falácia da Dispersão e Falsa Dicotomia, e ocorre sempre que alguém apresenta uma situação com apenas duas alternativas, quando de fato outras existem, existiram e podem existir.
Percebe-se que um sistema com uma fila de mais de 80 — 90 pacientes na espera por UTI’s e com requisições em 100% não tem sustentação científica nenhuma que desvie do mérito da solução “Lockdown imediato”. No dia 7 de março temos quase uma centena de pacientes esperando UTI’s. Mais de 15 óbitos/dia e uma situação caótica com baixíssimo nível de isolamento social (Figura 4, abaixo)
Ou seja, qualquer comitê minimante científico não descartaria o lockdown numa situação assim. A Figura 4, mostra nossos modelos que já apontavam para uma saturação dos leitos clínicos (curva verde claro) e leitos de UTI (curva verde escuro) mais tarde no início de março de 2021. Na figura 4b a comprovação observacional mostrando 100% em praticamente todos os hospitais. A leitura desta situação é clara. Se o gestor não escutar, por opção, que a conta não seja colocada no saco da ciência.
o Lockdown num “país” chamado CEARÁ?
No trecho acima, tenta-as novamente inserir um discurso nonsense e não científico sobre definições e epistemologia do termo. Que na verdade é o que menos interessa aqui. Como chamar um isolamento restrito? Seja como for chamado, ele é possível sim e foi feito no Ceará, nosso estado vizinho. Me parece ai na reportagem, no trecho acima, que temos mais uma vez uma tentativa de impor um posicionamento baseado em uma falácia. Desta vez do tipo Reductio ad absurdum (redução ao absurdo) onde se tenta averiguar uma hipótese, chegando a um resultado absurdo, para depois tentar invalidar essa hipótese.
OCE, com índice de isolamento médio de 40% (no RN 35.5% em média) baseado em dados da Inloco na data de 5 de março de 2021, é o maior índice de isolamento do Brasil no dia de hoje, como mostramos a Figura 6 acima. É ainda um índice baixo com relação ao que deveria ser em tempos de controle epidêmico. Ou seja, é o lockdown acontecendo sim. Ao contrario do que se “vende” no artigo da tribuna.
O CE mostra como se deve fazer e nos dá várias lições. Primeiramente por lá, usam os modelos SIR, como o nosso SEIR MOSAIC-UFRN [1]. Mesmo tendo modelos por lá, por diversas vezes os cearenses me pediram rodadas dos nosso modelos, segundo eles, são melhores e mais apropriados a COVID-19. No CE, entre maio e junho de 2020 o fortalezense viveu o seu primeiro Lockdown e agora mais um novo lockdown de 15 dias começando. Enquanto RN & Natal patina. Temos um negaciosismo científico, despreparo e discussões abstratos sobre “o que é um lockdown?”.
O resultado das atitudes no enfrestamento da COVID-19 no CE ao longo do tempo, assim como os efeitos deste índice recente de isolamento em torno de 40% mostrado na figura anterior, se refletem nos modelos epidemiológicos MOSAIC para evoluções da COVID-19 e baseados nos dados da Secretaria de saúde pública do CE. A Figura 9 abaixo faz um comparativo direto pari passo entre as duas realidades. A do CE e do RN. Curvas similares até, porém o RN apresenta “saltos”, referentes as aberturas pouco estratégicas, como por exemplo em Junho de 2020, sob pressão dos logistas e setembro de 2020 das escolas privadas, entre outros setores.
A comparação da curva epidemiológica do CE & RN nos diz muito sobre a evolução dos casos nos últimos 12 meses e aponta para os erros e acertos nas duas condutas científicas adotadas. É preciso dizer, que no CE, o Governo do estado e a municipalidade de Fortaleza trabalho em conjunto. Já a loucura da prefeitura de Natal interfere muito negativamente no enfreamento do RN, pois a maior parte da dinâmica é provenientes das capitais. Se o RN vai mal é devido à Natal que puxa a transmissibilidade pra cima (já bem conhecido por análise). Isto é um fato, porém erros da Gestão científica por parte do Governo do Rio Grande do Norte que fala em nome do seu comitê científico muitas vezes em dissintonia, se superpõem também ao negaciosismos que reina na gestão da capital norte riograndense. Falta de pulso forte em seguir a ciência por parte do Governo do Estado se junta com o negacionismo total da municipalidade de Natal e produz este caldo denso de muitas mortes.
Para dar um exemplo dos erros de gestão por parte do Governo do estado, vejam a Figura 9 acima. As curvas apesentadas para o RN e CE são similares em aspecto global, porém o CE não tem os picos locais provocados pelos decretos mal feitos de abertura precoce do Governo do RN, com pouco critério científico. Os pontos 1 e 2 na Figura 10, poderiam ter sido evitados. Ex: Se n tivesse acontecido superposição de retorno às aulas com as campanhas políticas (ponto 2).
O RN navega para onde?
Segundo as projeções dos modelos MOSAIC- UFRN, no cenário cenário sem vacinas e seguindo a situação atual dos decretos estabelecidos na última sexta feira 5 de março de 2020 (Comitê descarta lockdown no Rio Grande do Norte, TN 05.3.2021), teremos que no dia 30 de março 2021 o Rio Grande estará com 4497 óbitos (Figura 11) . Em 23 dias o (linha amarela) RN segue para o descarte de aproximadamente 800 vidas. São quase 20 óbitos diários daqui pra frente. Sem vacinas, estas mortes poderiam ter sido evitadas por um decreto de isolamento social realista e mais científico, como foi feito no CE.
E se tivéssemos feito Lockdown em 5.3.21 ?
Argumentos fiscais à parte, exponho aqui que seria mais econômico fazer um lockdown de 21 dias agora e abrir mais cedo, do que insistir nesta “abertura doente” que prolonga a COVID-19 no RN. Experiencias com dinâmica de seres vivos hoje em dia podem ser feitas in vivo, in vitro e em silício (computadores) e estas últimas mostram como os sistemas evoluem. Apresentamos aqui abaixo na Figura 12 e 13, a situação do que ocorreria se tivéssemos feito um lockdown no dia 5/03/2021 com extensão de 21 dias. Essa seria, em princípio a melhor saída neste momento, com base na própria experiência do Ceará.
Com esta ação, certamente sairíamos da péssima situação que se encontra o RN. O lado bom do momento, é que observando o Ceará, nosso estado vizinho, já temos a comprovação dos resultados como mostrado nas Figuras acima. Nesta situação, o modelo MOSAIC-UFRN apresentado na figura mostra claramente a realidade paralela do lockdow em 5 de março de 2021. Uma descida do número de expostos e uma de redução imediata de óbitos. Ao invés de termos 800 mortes, teríamos pouco mais de 200 em 23 dias do resto de mês de março (Figura 13). É uma diferença de 500 pessoas que estavam vivas e não precisariam morrer!
O que esta em jogo na verdade?
O Rio Grande do Norte vive uma situação extremamente complicada e, em parte, devido à correlação de forças entre o Governo do Estado e a Prefeitura de Natal. Sabendo que boa arte da dinâmica do RN é fruto da transmissibilidade na capital (os modelos já mostram e eu já disse isto várias vezes) vemos que a confusão gerada pela contradição entre os decretos do estado e ações do município só atrapalha as ações que têm sido feitas no âmbito estadual. O prefeito de Natal, Álvaro Dias, e sua conexão com a Associação Médica quebrou a bússola do consenso científico que deveria ser fundamental para frear a epidemia do COVID-19 no RN, como aconteceu no Ceará. Seria com vistas a 2022? Do ponto de vista político fica claro que Álvaro Dias torce para que o Governo declare lockdown e ele fique com a posição antagônica com relação à Governadora Fátima Bezerra. Já Fátima, que poderia ser clara e defender os aspectos científicos, deixa uma certa desarticulação terceirizada tomar conta. Diante de um cenário tão grave, não é possível haver espaço para exposições mal feitas ou titubeantes por interlocutores de fora do governo ou um comitê científico acuado, que não convence, como posicionamento recente exposto na matéria da Tribuna do Norte (5.3.2021). Neste aspecto, seria melhor falar claramente que os parâmetros epidêmicos mostram a necessidade de um lockdown URGENTE (que já defendemos semana passada) e os argumentos financeiros, que não permitem sua implementação, deveriam ser expostos pelo setor do finanças. Não é atribuição do comitê científico falar sobre isso. A Governadora Fátima Bezerra, entendeu que não tem como fazer um lockdown sem qualquer assistência financeira por parte do governo, ok, mas isso não é dito claramente e argumentos se misturam. Isto precisa ser dito claramente, sem utilizar desculpas baseadas em estudos do comitê científico, apresentados por um interlocutor único e sem fundamento técnico. Seria importantíssimo que todos soubessem a real situação. Se o Governo do Rio Grande do Norte fosse mais claro, sem atropelos em falas personalizadas e fracas do ponto de vista científico, as pessoas entrariam mais facilmente na lógica do Pacto pela Vida, se libertariam das narrativas malucas do curandeirismo, do setor produtivo em colapso, das mentiras sobre tratamento precoce tão presentes na municipalidade de Natal. Disso tudo se repete, que na briga do mar com as pedras, quem morre na verdade são os aratus.
SITUAÇÃO DO RN EM 7 DE MARÇO DE 2021:
- ~100 pacientes na fila aguardando uma UTI
- ~33 Pacientes aguardando leitos clínicos
- ~15 óbitos novos nas últimas 24h
- ~10 óbitos em média por dia nos últimos 6 meses.
O que vem por aí…
Possivelmente depois da publicação deste artigo, alguns vão defender o lockdown, outros vão deixar de ser meu amigo e por ai vai. A vida continua e termino dizendo o que já disse. Antes da pandemia eu era cientistas. Na pandemia eu fui cientistas e continuarei sendo depois.
Referências:
[1] Modelos MOSAIC — UFRN, W. Lyra, JD do Nascimento, L. de Almeida et al. (2020). “COVID-19 pandemics modeling with modified determinist SEIR, social distancing, and age stratification. The effect of vertical confinement and release in Brazil. PLoS One, v. 15, p. e0237627, 2020. doi: http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0237627. Repositório de modelos: http://astro.dfte.ufrn.br/html/Cliente/COVID19nor.php
[2] Houve influência da terapêutica preconizada pela prefeitura sobre a curva epidêmica do RN?
*É professor da UFRN
Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.