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Allysson entrega projeto de Reforma administrativa que vai diminuir 189 cargos comissionados na gestão municipal

Allyson apresentou projeto de reforma da previdência (Foto:reprodução/Youtube)

O Prefeito Allysson Bezerra (SDD) entregou ontem (9) à Câmara Municipal de Mossoró (CMM) o projeto de Lei Complementar nº 3/2021, que contém o texto-base da reforma administrativa da Prefeitura de Mossoró.

Um dos pontos também tratados pela reforma é a redução de cargos comissionados e funções gratificadas em 189. O projeto prevê a diminuição de 685 para 638 os cargos comissionados e de 186 para 44 o número de funções gratificadas.

De acordo com a lei complementar as mudanças na estrutura organizacional da Prefeitura visam otimizar o funcionamento da administração pública, racionalizar gastos e adequar a gestão ao modelo de desenvolvimento sustentável, no que se refere aos gastos com a máquina pública.

A lei complementar prevê que pelo menos 5% dos cargos comissionados deverão ser ocupados por servidores efetivos, integrantes do funcionalismo público municipal. Isso significa que dos 638 cargos comissionados pelo menos 32 obrigatoriamente devem ser ocupados por servidores públicos municipais.

A nova organização municipal terá 15 secretarias, duas a menos do que a estrutura atual, que tem 17. Confira como ficará a nova organização municipal caso a reforma administrativa seja aprovada: 

I – Gabinete do Prefeito – GP;
II – Gabinete do Vice-Prefeito – GVP;
III – Secretaria Municipal de Governo – Segov;
IV – Secretaria Municipal de Comunicação Social – Secom
V – Secretaria Municipal de Administração – Semad;
VI – Secretaria Municipal da Fazenda – Sefaz;
VII – Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão – Seplan;
VIII – Secretaria Municipal de Finanças – Sefin;
IX – Secretaria Municipal de Infraestrutura, Meio Ambiente, Urbanismo e Serviços Urbanos – Seimurb;
X – Secretaria Municipal de Segurança Pública, Defesa Civil, Mobilidade Urbana e Trânsito – Sesdem;
XI – Secretaria Municipal de Saúde – SMS;
XII – Secretaria Municipal de Educação – SME;
XIII – Secretaria Municipal de Cultura – SEC;
XIV – Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania – Semasc;
XV – Secretaria Municipal de Esporte e Juventude – Semej

atualizado no dia 10/08 às 17h11

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Rafael Motta assina emendas que visam manter direitos dos servidores na reforma administrativa

Motta é crítico da reforma administrativa (Foto Fábio Barros)

O Congresso Nacional deve apreciar, nos próximos dias, a reforma administrativa, objeto da PEC 32/2020. O deputado federal Rafael Motta (PSB) assinou emendas que objetivam assegurar a manutenção dos direitos dos atuais servidores.

Para ele, a proposta de mudança à Constituição “favorece o aparelhamento do Estado, esvazia o concurso público e retira direitos adquiridos”.

A estabilidade no serviço público é um dos direitos que conta com o apoio expresso do parlamentar.

“O atual momento político resultante da denúncia feita pelo servidor do Ministério da Saúde, Luís Ricardo Fernandes Miranda, no caso da Covaxin, ilustra bem a necessidade de manutenção dessa prerrogativa”, afirmou Rafael.

Ele também assinou a emenda que mantém as funções de confiança destinadas exclusivamente aos servidores concursados e a suprime dispositivo que propõe a execução de serviços públicos de forma generalizada pela iniciativa privada.

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Quem tem medo de um servidor indemissível?

Por Jean Paul Prates*

O Brasil, estarrecido, acompanhou a denúncia de superfaturamento na compra da vacina indiana Covaxin, que ganhou corpo na semana passada, com o depoimento de um servidor público de carreira à CPI da Covid, no Senado.

Para qualquer pessoa que não seja sociopata, é difícil digerir a constatação de que o governo Bolsonaro possa ter usado uma doença mortal e altamente infecciosa para fazer negócios — e a digestão fica ainda mais árdua com a descoberta de que cada uma das nossas vidas valia um dólar na tabela da propina para compra de imunizantes.

Em meio ao horror que nos assola, a denúncia feita pelo servidor de carreira do Ministério da Saúde confirma a podridão que está por trás da “gestão da pandemia” no governo Bolsonaro. Mas também nos chacoalha, cobrando atenção a outras tenebrosas transações em curso no País.

Por exemplo, a reforma administrativa.

Pronta para ser votada na Câmara, a proposta de Emenda Constitucional da reforma administrativa vem sendo vendida por seus apoiadores como mais uma panaceia para os “males do Brasil” — como já foram a reforma trabalhista uberizante e a reforma da Previdência.

Seria, dizem, o “fim dos privilégios” de uma suposta casta de príncipes sustentados pelo Estado brasileiro, os servidores públicos—categoria de trabalhadores cujo salário médio é de R$ 4 mil.

Mas a quem interessa desmontar a capacidade do Estado de oferecer serviços públicos à população? A quem interessa precarizar as garantias mínimas oferecidas a servidores de Estado, abrindo a porta para lotar as repartições com servidores de governos?

Uma pista: se não fosse servidor estável, será que Luís Ricardo Miranda, chefe de importação do Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde, teria tido condições de denunciar o esquema Covaxin à CPI da Covid? Os fiscais concursados do Ibama e o delegado concursado da Polícia Federal teriam podido denunciar o contrabando de madeira que derrubou o ministro Ricardo Salles?

Depreciar os serviços públicos e o funcionalismo não é novidade no Brasil. A surrada piadinha sobre o paletó pendurado no encosto da cadeira do funcionário ausente que o diga. O mito dos “marajás” sustentados por dinheiro público já ajudou a eleger muitos moralistas sem projeto.

No segundo país mais desigual do mundo, tem gente que não se incomoda com o lucro dos bancos, com os milionários que não pagam impostos ou com queira fixar em um dólar o valor da vida.

Revoltante, para essa gente, é pagar Bolsa Família a quem tem fome, assegurar um mínimo de assistência à saúde por meio do SUS e oferecer ao filho do pobre algum futuro com uma vaga na Universidade pública.

O segundo país mais desigual do mundo precisa muito de serviços públicos. E quem presta esse serviço são os servidores que o discurso ultraliberal não tem pudor de demonizar.

Para um país que precisa tanto de serviços públicos, estamos gastando menos do que outras nações. Em relação às despesas do Estado Brasileiro, o gasto com a folha de pagamento do funcionalismo público é de 20,82%, percentual inferior à média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 24%.

Além do mais, se a ideia é economizar, porque atacar os direitos dos servidores que ganham menos, ampliando o fosso entre a massa do funcionalismo e as categorias “aristocráticas” do serviço público, intocadas pela reforma?

Os entusiastas da reforma administrativa podem até falar de gastos, mas eles miram, de verdade, é na possibilidade de centralizar decisões em chefias nomeadas por governos.

Sonham com burocratas exorcizados do dever de servir às instituições, e desobrigados de obedecer os princípios da legalidade, da impessoalidade, da publicidade, da eficiência e da moralidade, que, diz a Constituição, devem pautar a atuação do servidor público.

*É senador pelo PT/RN.

Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o barreto269@hotmail.com e bruno.269@gmail.com.

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Policia Civil paralisa as atividades amanhã (23) em protesto contra a Reforma Administrativa

Delegacias estarão fechadas das 8h às 12h (Foto: PC RN)

Os policiais civis e servidores da segurança do Rio Grande do Norte se reuniram em Assembleia Geral Virtual, na noite de ontem (21) e deliberaram pela participação da categoria em uma mobilização nacional que será realizada amanhã (23) contra a Reforma Administrativa.

No Rio Grande do Norte a categoria decidiu, por unanimidade, realizar uma paralisação durante toda a manhã da quarta-feira, como forma de protesto e para chamar atenção da sociedade para os riscos que a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 32 trará não só para os servidores públicos como para toda a sociedade. Com isso, o atendimento nas delegacias será suspenso das 8h às 12h.

“Muita gente se engana ao pensar que uma possível reforma administrativa seria apenas para cortar privilégios de servidores públicos. Na verdade, se essa PEC 32 for aprovada trará grandes retrocessos para instituições, como as polícias, pois permitirá que políticos voltem a ter controle e poder de demissão, manipulação e até extinção de cargos sem justificativas legais e morais”, explica a Presidente do Sindicato dos Policiais Civis do RN (Sinpol – RN), Edilza Faustino.

De acordo com  Edilza, os defensores da reforma administrativa usam como argumento os possíveis privilégios dos servidores. “No entanto, eles não informaram à sociedade que os verdadeiros privilegiados, com integrantes do poder legislativo e judiciário, por exemplo, não estão incluídos na reforma. Ou seja, não há nada de combate a privilégios nessa PEC 32” afirma a dirigente sindical.

Ela ainda destaca que é diante deste cenário que os policiais civis e servidores da segurança do RN decidiram paralisar as atividades na quarta-feira, dentro da mobilização nacional que reúne servidores de vários segmentos.

“Nossas categorias já sofrem com efetivo reduzido, sobrecarga de trabalho, falta de ferramentas adequadas, risco constante de morte seja em serviço ou de folga e, nos últimos anos, têm sofrido com vários ataques aos direitos. Não podemos permitir mais retrocessos e ameaças a quem tanto se sacrifica”, completa Edilza Faustino.

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Audiência aponta riscos em reforma administrativa proposta pelo Governo Federal

Debate foi proposto pelo Deputado Francisco do PT (Imagem: AL/RN)

A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte discutiu no dia 17 deste mês os riscos que a reforma administrativa proposta pelo Governo Federal traz para o serviço público. A audiência pública, que foi realizada por iniciativa do deputado Francisco do PT, debateu pontos da PEC 32/2020, que está em tramitação no Congresso Nacional e, na opinião dos presentes, pode precarizar os serviços oferecidos pelo Poder Público à sociedade.

A Proposta de Emenda à Constituição, do Poder Executivo, altera dispositivos sobre servidores e empregados públicos e modifica a organização da administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. A ideia defendida pelo Governo Federal é dar início à ampla reforma administrativa com efeitos no futuro.

A proposta altera trechos da Constituição e introduz novos artigos inteiros, que tratam da contratação, da remuneração e do desligamento de pessoal, válidas somente para quem ingressar no setor público após a aprovação das mudanças. A PEC traz regras transitórias e prevê a eventual atuação dos entes federativos na regulamentação, já que alguns dispositivos – como exigência da criação de novos regimes jurídicos específicos para servidores –, se aprovados, dependerão de regulamentação posterior à promulgação das mudanças pelo Congresso Nacional.

Em uma das mudanças, a estabilidade no serviço público ficará restrita a carreiras típicas de Estado, que deverão ser definidas através de lei complementar futura. Os profissionais das demais carreiras serão contratados por tempo indeterminado ou determinado, mas também por concurso público ou processo seletivo simplificado.

No entendimento do deputado Francisco do PT, a PEC é uma tentativa de “destruir o serviço público”. Para o deputado, a proposta concentra poderes, afronta o Estado e contra aqueles que mais precisam do estado forte para atender a suas demandas, que são as pessoas que não podem arcar com os serviços privados.

“É indiscutível que a administração pública precisa de eficiência, racionalidade e controle social, mas essa PEC do Governo Federal é avessa a todos esses pontos mencionados. Ameaça a realização de novos concursos, a estabilidade, dos servidores, além de abrir caminho para demissões não justificadas e extinção de carreiras por simples canetada”, disse o parlamentar potiguar.

Também participando do encontro, a senadora Zenaide Maia (PROS), que é coordenadora da Frente Parlamentar Mista do Serviço Público no Senado, disse que o Governo Federal quer passar a impressão de que está tirando privilégios, mas é importante que a sociedade tenha a informação precisa sobre o que, de fato, está sendo discutido pelo Executivo. Para ela, é preciso parar de se estigmatizar os servidores públicos e cobrar dos parlamentares uma resposta à proposta, negando a aprovação.

“Nós temos que mostrar a verdade, desmontar o que o Governo mostra sobre os servidores. Ele dá a entender que a crise é culpa dos servidores. Quando a gente mostra que a maioria dos servidores ganha até R$ 5 mil. Eles não vão tirar privilégios. Essa história a gente já viu. Essa PEC 32 simplesmente destrói o serviço público brasileiro. Precisamos ficar atentos e mostrar à população que o Governo quer destruir o serviço público. Tem que cobrar os parlamentares para não colocarem a digital na destruição do serviço público”, disse a senadora.

O entendimento da parlamentar e de representantes do serviço público é o mesmo. Também no encontro, o presidente do Fenafisco, Charles Alcântara, e o representante da Associação de Juízes para a Democracia, Arthur Bonifácio, apontaram diversas falhas na proposta e cobraram um posicionamento firme por parte dos parlamentares da bancada federal.

“A PEC é uma brincadeira de mau gosto. O que se pretende é encolher o papel do Estado para expandir o mercado, com uma nova fronteira de exploração privada”, disse Charles Alcântara. “A PEC, em nível constitucional, fragiliza as instituições e desprestigia o serviço público, fere a ideia de carreira do estado. Fere, entre vários outros pontos, o princípio da isonomia e igualdade, quando permite a entrada por apadrinhamento”, explicou Bonifácio.

Para Francisco do PT, é preciso que a proposta seja derrubada. “Eles não dizem que os servidores existem para dar aos trabalhadores e aos mais pobres serviços que eles não têm condições de comprar. Esperamos que ela (PEC) não passe”, disse o deputado. 

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PEC da Reforma Administrativa ou o desmonte do serviço público

Por Ricardo Prado Pires de Campos*

O Congresso Nacional brasileiro tem em pauta, neste ano, além das inúmeras propostas envolvendo o combate à pandemia da Covid-19, uma de muito relevo para toda a sociedade brasileira, embora seja percebida mais por alguns (o funcionalismo público) do que por outros (os trabalhadores e a população em geral).

Essa diferença de percepção decorre do fato de que, para os primeiros, os efeitos serão sentidos no contracheque, nos vencimentos, enquanto para os demais serão sentidos no serviço público ofertado, e essa diferença pode demorar um pouco para aparecer.

Grandes decisões possuem consequências no curto, mas também no médio prazo.

A Proposta de Emenda Constitucional nº 32, chamada de PEC da Reforma Administrativa, traz em seu cerne um projeto neoliberal que de “neo”, de novo, tem muito pouco, pois, em verdade, recupera ideias que já fizeram parte da história brasileira, no período chamado de velha República (1889-1930).

Ausência de concurso público para contratação dos servidores era a regra no Brasil de 1920. O impressionante é que isso volte a ser sugerido em 2020 (artigo 39-A da PEC 32/2020), e mais ainda como novidade.

O nepotismo, a contratação de parentes, foi a regra no Brasil por muitos séculos, o que começou a mudar com a Constituição de 1988, que passou a exigir o concurso público para quase todo o funcionalismo, e, mais recentemente, com a Súmula Vinculante nº 13 do Supremo Tribunal Federal, que passou a proibir o nepotismo.

“Enunciado:

A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal. Data de Aprovação Sessão Plenária de 21/08/2008″.

No entanto, os adeptos da contratação de parentes no setor público continuam ativos, e já deram um jeitinho de tentar reincluir essa prática nefasta na mencionada reforma administrativa.

Talvez isso se deva ao fato de que as pessoas que não trabalham no Estado não tenham noção do quanto isso é improdutivo e nocivo ao setor público e a toda a sociedade.

A exigência de concurso público é a exigência de profissionalismo no setor. Ingressar no serviço público por concurso é entrar pela porta da frente, e não arrombando janelas. A exigência de concurso público traz em si muitas razões, mas algumas são muito evidentes: primeiro, a igualdade na oportunidade de acesso para toda a população, e não apenas aos amigos do rei; segundo, a profissionalização do setor, os candidatos que quiserem trabalhar no serviço público devem demonstrar condições técnicas para fazê-lo, precisam demonstrar competência prévia. O funcionário concursado não entra como estagiário, mas, sim, na maioria dos casos, entra para prestar um determinado serviço na saúde, na cátedra, na área jurídica ou financeira, e deve reunir condições técnicas para o desempenho da função. O concurso público deve assegurar que os melhores candidatos sejam contratados.

Dispensar o certame para contratar pessoas sem qualificação, apenas porque são amigos ou parentes do político de plantão, por certo, não redunda em melhoria do serviço público, ao contrário, teremos, no médio prazo, uma queda de qualificação assustadora. Só não será percebida de imediato porque a troca dos profissionais não se fará de uma vez só, mas no decorrer de vários anos, e por isso, apenas por isso, levará algum tempo para ser percebida pela sociedade. Os profissionais do setor público, por estarem envolvidos no dia a dia da Administração, perceberão a queda com muita rapidez.

Chamar a dispensa de concurso público de ideia neoliberal, realmente, é empregar o termo neo em sentido decorativo, como fake, para dar aparência de novidade, a algo que remonta aos primórdios da formação do estado. No momento em que as grandes empresas privadas estão profissionalizando suas administrações incluindo pessoas de fora da família dos controladores nos conselhos de administração, no setor público querem fazer o inverso, voltar a incluir os parentes, trazendo-os pelas portas dos fundos.

Não é apenas na dispensa do concurso público que a PEC da Reforma Administrativa representa um grande retrocesso, mas também na ideia neoliberal de que o Estado deve ter caráter de subsidiariedade (nova redação proposta ao artigo 37 da CF) ao setor privado na vida econômica do país.

Não há dúvida de que o Estado não precisa estar em todos os setores da economia, que o liberalismo econômico traz algumas vantagens de eficiência em certos setores, mas daí a concluir que o Estado é quase dispensável. Restando-lhe atividade meramente residual no setor econômico é de uma falta de realismo impressionante.

Os Estados Unidos da América do Norte tiveram sua colonização mais marcada pela iniciativa privada; o Brasil, desde seu descobrimento, tem o estado no comando das ações. A primeira carta, redigida por Pero Vaz de Caminha, para noticiar a descoberta do Brasil vai para o rei de Portugal, ou seja, é endereçada ao Estado. O sistema de colonização, fundado em capitanias hereditárias, foi determinado pelo Estado. Na época, o Estado português se dizia o “proprietário” das terras brasileiras.

Nunca fomos um país exclusivamente estatal, a iniciativa privada sempre esteve presente nos negócios do reino, mas sempre muito atrelada ao poder do estado, em muitos setores sempre dependente do poder do estado. A República veio com a ideia de mudar essa realidade, e separar o Estado dos negócios privados, mas a prática não evoluiu da mesma forma que o discurso.

Na teoria, a atividade econômica é reservada a iniciativa privada, mas na prática, sem o Estado, a população fica à míngua.

Basta olhar alguns dados básicos da realidade. No setor de saúde cerca de dois terços da população dependem da saúde pública, do SUS. A iniciativa privada não chega a um terço da população. A maioria não tem condições de pagar planos de saúde, e sem recursos e sem o estado não terão assistência médica alguma, a prevalecer a referida proposta de emenda constitucional.

“A título de exemplos destacados da abrangência e do impacto do SUS, podem ser citados os seguintes marcos atingidos no período recente, sabendo-se que mais de 70% da população brasileira depende exclusivamente do SUS:

1) 87 milhões de brasileiros são acompanhados por 27 mil Equipes de Saúde da Família (ESF), presentes em 92% dos municípios, sendo a base para um novo modelo assistencial;

2) Cerca de 110 milhões de pessoas são atendidas por Agentes Comunitários de Saúde (ACS), que atuam em 95% dos municípios brasileiros.

3) O SUS realizou, em 2006, 2,3 bilhões de procedimentos ambulatoriais, mais de 300 milhões de consultas médicas e 2 milhões de partos;

4) Nas ações de maior complexidade, foram realizados 11 mil transplantes, 215 mil cirurgias cardíacas, 9 milhões de procedimentos de quimio e radioterapia e 11,3 milhões de internações” [1].

No setor educacional não é diferente. Cerca de 80% da população faz o ensino básico em escolas públicas. As escolas privadas representam menos de 20% da atividade educacional no país. Retirar o estado da educação levará a maior parte da população a ficar sem escola.

“No ano de 2019, foram registradas 47,9 milhões de matrículas nas 180,6 mil escolas de educação básica no Brasil.

Ao avaliar a distribuição das matrículas por dependência administrativa, percebe‐se uma maior dominância da rede municipal, que detém 48,1% das matrículas na educação básica, 0,4 ponto percentual (p.p.) a mais do que em 2018. A rede estadual, responsável por 32,0% das matrículas da educação básica em 2019, é a segunda maior. A rede privada obtém 19,1% e a federal tem uma participação inferior a 1% do total de matrículas nesse nível de ensino” (resumo técnico — “Censo da Educação 2019”, página 15) [2].

Como dizer que o Estado pode ser subsidiário em matéria educacional? Isso soa absolutamente fora da realidade.

Como alguém da maioria da população pode pretender fazer um curso superior numa grande universidade? No Brasil atual, as universidades federais, a USP, a Unicamp, a Unesp e uma série de outras universidades estaduais permitem esse acesso. E com a lei de cotas isso passou a ser mais efetivo para as classes pobres. Sem o Estado no ensino superior, uma vaga no ensino de ponta fica restrito às classes dominantes. A mobilidade social cai a quase zero nesse setor.

A renda média mensal da população brasileira não chega a US$ 1 mil, e esse valor é integramente consumido com alimentação, moradia e transporte. O que sobra para vestuário, lazer e despesas pessoais já é restrito para a maioria; pagar mensalidades escolares e plano de saúde pode ser o sonho de consumo da população, mas, nesse momento, apenas é acessível a uma parcela muito pequena.

No momento em que as redes privadas estiverem constituídas por todo o território nacional, no momento em que a população tiver um nível de renda que suporte essas despesas em seu orçamento, aí, sim, a realidade permitirá que o Estado possa encolher sua prestação de serviços médicos, educacionais e em inúmeras outras áreas.

Proposta de mudança na legislação precisa representar avanço na qualidade do serviço público, o que a dispensa de concurso está longe de ser, e estar amparada na possibilidade real de implantação, o que o tal caráter de subsidiariedade do setor público ainda está muito longe de ocorrer.

De resto, a proposta é muito ruim em inúmeros outros pontos, com destaque para a pretendida concentração de poderes no executivo. Prolixa, em muitos aspectos desnecessária e mal formulada, pede sua rejeição integral ou a formulação de substitutivo adequado que represente verdadeiro progresso e melhoria nos serviços públicos, e não apenas corte de salários para os servidores e corte dos serviços prestados para a população. Lembrando que hoje esses serviços públicos são gratuitos (ensino, saúde, segurança e outros), mas amanhã, a se aprovar a reforma, terão de ser pagos, pois o Estado irá deixar de prestá-los.

*É procurador de Justiça aposentado, presidente do Movimento do Ministério Público Democrático (MPD).

Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.

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Allyson vai discutir reforma administrativa com vereadores eleitos

Allyson foi o entrevistado de ontem no Telediálogos (Foto: reprodução)

Na entrevista de ontem ao jornalista William Robson dentro do programa Telediálogos da Agência Moscow o prefeito eleito Allyson Bezerra (SD) falou sobre o café da manhã que vai reunir os vereadores eleitos em 15 de novembro.

Na pauta dois assuntos: uma proposta de reforma administrativa e o plano de consórcio intermunicipal da saúde que ele discutiu com a governadora Fátima Bezerra (PT).

Confira o vídeo:

Inscreva-se na Agência Moscow AQUI.

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Basta, Paulo Guedes – Punir quem trabalha é tudo o que não se deve fazer

Exame aponta que Paulo Guedes não tem coronavírus, diz ministério ...
Guedes quer reduzir direitos dos servidores (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

Por Geraldo Seixas*

No momento em que você lê esta matéria, os servidores da saúde pública colocam suas vidas em risco para atender à população. As forças de segurança se mantêm em atividade para garantir a ordem e a paz. Nos portos, aeroportos e fronteiras, servidores da Receita, policiais federais, servidores das Agências Reguladoras, da agropecuária e dos órgãos de controle ambiental mantêm a vigilância sobre o contrabando e o tráfico de drogas e armas, aceleram o comércio de máquinas e produtos essenciais ao abastecimento do país. INSS e administração tributária se desdobram para criar canais de atendimento que mantenham a normalidade dos serviços, sem a necessidade da presença das pessoas nas repartições. O poder judiciário, o Ministério Público e a Advocacia da União se reinventam pela regularidade jurídica do país. Técnicos e assessores parlamentares criam condições para que o Congresso se mantenha ativo. As Forças Armadas erguem hospitais de campanha para que não reste nenhum brasileiro sem socorro no momento mais agudo da epidemia. E isso se replica nos Estados e Municípios de todo país.

Estamos todos servindo ao Brasil. Enquanto a política se preocupa com a política, são os servidores públicos, mais uma vez, que sustentam o Estado. Não queremos reconhecimento, queremos um mínimo de respeito. Mas parece haver uma obsessão do senhor Paulo Guedes e de parte de sua equipe econômica em liquidar com os servidores. Isso custará muito caro ao país.

É mentira que os servidores sejam um mal orçamentário crescente a ser combatido. A despesa com o pessoal ativo e inativo da União correspondeu, em 2019, a 3,95% do PIB. Em 2002, correspondia a 4,32%. Em relação à receita corrente líquida, a despesa com os servidores da União correspondeu, em 2019, a 31,63%, contra 38,49%, em 2000. Os salários dos servidores já estão arrochados. São dois, quatro, em alguns casos, seis anos sem reajuste. Somos descontados em até 27,5% de imposto de renda na fonte. A recente reforma previdenciária elevou nossa contribuição previdenciária de 11% para até 22%. O governo já nos toma a metade de tudo o que ganhamos com nosso trabalho honesto e dedicação integral ao Estado. O que querem mais? De onde vamos tirar mais 30% dessa metade que nos resta depois dos descontos?

É uma covardia, além de uma idiotice: o dinheiro tungado do servidor não sairá da poupança ou do investimento na bolsa. Sairá do plano de saúde, da escola particular, da demissão das diaristas e domésticas. Enfim, sairá do mercado, do consumo dos 60 milhões de brasileiras e brasileiros que dependem da renda dos servidores públicos.

Não chegamos até aqui por acaso. Paulo Guedes parece representar muito mais o setor econômico e o setor financeiro, que a cada dia lucra mais e emprega menos. O povo, o pobre, o trabalhador, na ótica de Paulo Guedes são um problema, nunca a solução.

Jogaram a legislação trabalhista na lata de lixo. Produziram uma reforma previdenciária baseada em números falsos e argumentos fantasiosos. Prometeram milhões e empregos, um crescimento econômico fantástico. Tudo mentira!

A verdade está aí para todo mundo ver: metade da população economicamente ativa desempregada ou na informalidade, recessão econômica, dólar a R$ 5. E a culpa não é do Coronavírus.

Enquanto o mundo todo defende e pratica políticas de garantia de renda e incentivo estatal às pessoas e empresas como mitigação dos efeitos econômicos da pandemia, o Brasil continua a produzir suas jabuticabas. Paulo Guedes e equipe pretendem fazer uma distribuição de renda inédita no mundo: tirar do trabalhador para dar ao miserável.

Estranhamente, o Ministério da Economia não cogita tributar a distribuição de lucros daqueles que ainda têm muito a lucrar, nem taxar as grandes fortunas que podem contribuir com um pouco mais. Esse é o país em que o pobre paga IPVA do Fusca e o rico não paga do iate e do avião particular. Um país onde quem tem um imóvel alugado paga 27,5% de imposto de renda e quem tem um fundo com milhares de imóveis é isento de pagamento. É o país onde o errado é o certo, e o certo é o errado.

Consertem o que é preciso consertar. Ajudem quem precisa de ajuda com os meios corretos. Cobrem de quem pode contribuir. Nós, servidores, já estamos fazendo a nossa parte.

Basta de injustiça, basta de covardia! O Brasil precisa de líderes justos e corajosos.

*É presidente do Sindicato Nacional dos Analistas-Tributários da Receita Federal do Brasil (Sindireceita).

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Zenaide defende carreiras dos servidores públicos

 

Zenaide afirma que é preciso preservar carreiras dos servidores (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

A Comissão de Direitos Humanos (CDH) promoveu nesta terça-feira (11), audiência pública para debater sobre “Direito do trabalho, com foco na reforma administrativa”. A proposta de reforma, a ser enviada pelo Executivo, deve reduzir o número de carreiras e as formas de progressão do servidor público, com o objetivo de diminuir os custos da máquina pública.

A senadora Zenaide Maia (PROS/RN) participou como presidente eventual da CDH e defendeu e acompanhou a posição do autor do requerimento, o presidente da CDH, o senador Paulo Paim (PT-RS), que afirma que os direitos trabalhistas estão ameaçados e podem piorar com a reforma administrativa que está para chegar ao Congresso.

“O Brasil precisa acordar. Estado mínimo não é a solução. O servidor público precisa ter seus direitos defendidos. Essa reforma administrativa é um desmonte grande para o serviço público e não existe política de estado sem servidor público”, declarou Zenaide Maia.

Durante a audiência e também no seu pronunciamento na sessão plenária, na tarde desta terça, Zenaide Maia voltou a cobrar dos senadores e do Governo Federal mais investimentos na educação (Fundeb), além de investimentos na construção civil, que na sua opinião é um dos setores que mais gera emprego no País.

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Reforma administrativa do Estado volta a ser alvo de diligências

Comissão faz diligência em projeto (Foto: Eduardo Maia/AL)

Para dar mais celeridade, sem acúmulo de matérias em sua pauta de reuniões ordinárias semanais, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) realizou na manhã desta quinta-feira (2) uma reunião extraordinária para análise e votação de relatórios de 15 projetos.

Da pauta foram aprovados oito proposituras, duas foram consideradas inconstitucionais, quatro baixaram em diligência e uma teve pedido de vista, motivado por uma emenda encartada na Comissão de Administração, Serviços Públicos e Trabalho (CASPT), no Projeto de Lei Complementar que dispõe sobre a Reorganização do Poder Executivo do Estado.

“Pedimos vista porque queremos analisar a emenda que foi feita na Comissão de Administração. O Governo do Estado mandou a matéria para esta Casa, mas até agora não temos informação sobre a redução de seus gastos. E isso é importante a gente ter conhecimento, porque o Rio Grande do Norte está atravessando uma calamidade financeira. É lamentável, mas o Governo não está cumprindo o seu papel”, afirmou o deputado coronel Azevedo (PSL) autor do pedido de vista.

No Projeto de Lei que dispõe sobre a implantação de estudos sobre a história, os costumes e tradições de cada município em suas escolas de ensino médio, embora considerado de grande importância pela relatora deputada Isolda Dantas, ela propôs um substitutivo com a colocação na redação que as atividades propostas são extracurriculares.

A matéria que trata da obrigatoriedade de equipe multidisciplinar na rede pública estadual de Educação Básica foi considerado inconstitucional, de acordo com o artigo 64 da Constituição Estadual por gerar despesa para o Executivo.

A outra considerada inconstitucional foi a que dispõe sobre normal para instalação e funcionamento de estacionamento privativo para carros fortes, por ser uma competência da União.

Participaram da reunião os deputados Raimundo Fernandes (PSDB), Kleber Rodrigues (Avante), Coronel Azevedo, Isolda Dantas, Allyson Bezerra (SDD) e Hermano Morais (MDB).

Nota do Blog: a reforma administrativa também foi alvo de diligências na Comissão de Finanças e Fiscalização.