Álvaro e Fátima estarão frente a frente hoje (Fotomontagem: Blog do Barreto)
Será hoje, às 14h30, que a governadora Fátima Bezerra (PT) e o prefeito de Natal Álvaro Dias (PSDB) estarão frente a frente em uma audiência de conciliação no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN).
Estarão frente a frente governadora e prefeito numa discussão sobre qual decreto deve prevalecer. O entendimento majoritário no meio jurídico é de que se impõe as medidas mais duras.
Na última sexta-feira a governadora assinou decreto estabelecendo medidas mais duras contra a propagação da covid-19 como o toque de recolher integral aos domingos, mas o prefeito de Natal decidiu amolecer as medidas num decreto posterior.
Bonavides reage contra prefeito (Foto: Demis Russo)
A deputada federal Natália Bonavides (PT/RN) entrou com representação no Ministério Público do Rio Grande do Norte (MP/RN) contra o último decreto (nº 12.179/2021) publicado pela Prefeitura de Natal, na sexta-feira (06), e contra o prefeito de Natal, Álvaro Dias. O decreto recomenda a realização de tratamento preventivo contra a Covid-19 sem que haja fundamentação científica para tal, além de retirar o direito à meia passagem estudantil e gratuidade para idosos no transporte público em Natal.
Para a deputada é inaceitável que Álvaro Dias continue com práticas negacionistas e anticiências. “Álvaro Dias há tempos tenta incentivar o uso de Ivermectina no combate à Covid-19, um remédio sem eficiência comprovada, isso não pode continuar. Além disso, o prefeito retirou o direito à gratuidade nos transportes públicos para idosos e estudantes nos horários de pico, alegando ser uma medida de combate à pandemia. O prefeito precisa urgentemente lidar com a pandemia de forma eficiente”, pontuou Bonavides.
Na ação é destacada a necessidade de responsabilização do prefeito da cidade por incentivar o uso de medicamentos sem comprovação científica e pede a responsabilização, na esfera penal, porque as condutas do chefe do executivo podem configurar charlatanismo (art. 283), como também improbidade, pela utilização da estrutura do Estado para prescrever medicamentos ineficazes.
Sobre a suspensão da gratuidade no transporte público para idosos e a meia passagem estudantil, a representação aponta uma provável violação da Constituição Estadual e da Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), que asseguram a gratuidade nos transportes coletivos urbanos à pessoas idosas a partir dos 65 anos. Como também, desrespeita a Constituição Federal que prevê, em seu art. 230, o direito de pessoas maiores de 65 anos à gratuidade nos transportes públicos.
Álvaro e Fátima estarão frente a frente (Fotomontagem: Blog do Barreto)
Amanhã o Tribunal de Justiça promove uma audiência de conciliação que colocará frente a frente a governadora Fátima Bezerra (PT) e o prefeito de Natal Álvaro Dias (PSDB).
A discussão girará em torno dos decretos editados em que o Governo do Estado endureceu as medidas de restrição social para prevenir a propagação da covid-19 e o prefeito de Natal afrouxou as decisões. A atitude do tucano gerou uma confissão na cabeça dos natelenses que não souberam qual decisão estava valendo.
Num ano sem eleições certamente será o embate político do ano. Fátima e Álvaro vêm tratando a questão da pandemia de formas opostas. A primeira tenta evitar a propagação do vírus e sacrifica a popularidade por isso. O segundo aposta em remédios cuja eficácia não foi comprovada pela ciência e faz de tudo para ficar bem na fita.
A governadora é candidata a reeleição e o prefeito almeja ser seu oponente em 2022.
Agora eles vão se encontrar num ambiente jurídico em que será confrontada as suas posições sobre a pandemia e os efeitos econômicos.
Fátima e Álvaro Dias estarão em audiência de conciliação (Foto: reprodução)
O corregedor geral de Justiça, desembargador Dilermando Mota, preside, nesta quarta-feira (10), audiência de conciliação entre o Estado do Rio Grande do Norte e o Município do Natal para que seja alcançado um denominador comum a respeito dos decretos estadual e municipal publicados, com medidas para deter o recrudescimento da pandemia causada pelo novo coronavírus, sobretudo no tocante à capital potiguar. A sessão pública será virtual e tem início previsto para às 14h30. A audiência será transmitida pelo canal do TJRN no YouTube.
A questão envolve o Decreto Estadual n° 30.383/2021, de 26 de fevereiro, e o Decreto Municipal nº 12.179/2021, de 6 de março, e os efeitos de medidas como o toque de recolher, entre outras. “Vamos ouvir as partes e a sociedade civil interessada, em seus mais diversos segmentos, e até o final da quarta-feira, teremos uma decisão, com definições pela Justiça, desta situação”, destaca o desembargador Dilermando Mota, que em paralelo analisa Mandado de Segurança Cível, impetrado pelo MPRN contra o Estado, que pede a suspensão da eficácia do art. 1º do Decreto Estadual 30.383/2021, bem como para “(…) impedir que as forças estaduais de segurança pública sejam empregadas na execução do ‘toque de recolher’ criado pelo art. 1º do Decreto Estadual nº 30.383, de 26 de fevereiro de 2021 (…) e, consequentemente, determinar que as Polícias Militar e Civil do Estado do Rio Grande do Norte se abstenham de prender cidadãos pelo simples fato de não cumprirem essa específica restrição ao direito de locomoção (toque de recolher noturno)”.
O corregedor geral de Justiça destaca que “a audiência está sendo aprazada, sem prejuízo do exame do Processo/ Pedido”, ressalta o magistrado de segunda instância. O Mandado enfatiza que em razão de fatos novos ocorridos após a impetração, ocorrida em 27 de fevereiro, bem como em face do confronto das disposições contidas entre o decreto estadual e o Decreto n.º 12.179, expedido pelo prefeito do Natal –, “impõe-se a reconsideração da decisão proferida pelo desembargador plantonista do dia 27 de fevereiro de 2021, pugnando pela concessão da liminar pretendida inicialmente”, acrescenta o MPRN.
O magistrado ressalta ser importante, neste caso, observar a contraposição entre direitos fundamentais e interesse público, com possíveis danos a direitos coletivos e individuais homogêneos, sobretudo à saúde pública e à ordem econômica; a garantia da jurisdição democrática; e a priorização da composição, conciliação, em qualquer grau de jurisdição. “Por isso, entendo pela necessidade de aprazamento de audiência de conciliação com participação ampla de todos os interessados”, ressalta o desembargador Dilermando Mota, em despacho.
“Esclareço, ademais, que o aprazamento de audiência com a participação do maior número de interessados (autoridades públicas e representantes da sociedade civil), tem o objetivo de proporcionar um ambiente favorável à autocomposição e se relaciona não apenas com o possível efeito multiplicador da demanda, que, no presente caso, pode gerar insegurança jurídica e interferir diretamente em medidas adotadas pelos gestores públicos no controle da disseminação da doença provocada pelo novo coronavírus (Covid-19) no âmbito do Estado do Rio Grande do Norte”, reforça o magistrado, observando a importância de se estimular o consenso entre Estado e Município “para convergirem em plano de regulamentação de medidas sanitárias que assegurem o interesse da coletividade e a contenção dos efeitos da pandemia sem excessiva e desmotivada ingerência nas liberdades individuais dos cidadãos”, pontua.
Dilermando Mota afirma que sob uma ótica moderna do processo judicial, “a fase conciliatória é uma etapa de notória importância, e diante da possibilidade de se inaugurar um processo de mediação neste feito capaz de ensejar um desfecho conciliatório célere e deveras proveitoso para o interesse público e, também, nacional”, foi determinada audiência de conciliação com todos os interessados.
E frisa:
“Dito isto, determino que se proceda, COM URGÊNCIA, à intimação para audiência de conciliação, a ser realizada em 10 de março de 2021, às 14h30, a ter lugar no Plenário do TJRN, em formato virtual (por webconferência), da Impetrada, Governadora do Estado, Prof. Maria de Fátima Bezerra; do Impetrante, Promotor de Justiça Wendell Beetoven Ribeiro Agra; bem como das seguintes autoridades: Prefeito do Município do Natal, Presidente da Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte (Femurn), Procurador-Geral do Estado do Rio Grande do Norte, Procurador-Geral de Justiça e Procurador-Geral do Município”, determina Dilermano Mota.
Álvaro Dias adota política que contribui para agravamento da pandemia (Foto: Web/autor não identificado)
Ele apostou na ivermectina a fez a distribuição em massa do medicamento usado para tratamento contra vermes e piolhos alegando uma milagrosa prevenção contra a covid-19.
Até hoje ele conta com o apoio de parte da classe médica da capital que ignora todas as recomendações das agências sanitárias e maioria esmagadora dos estudos que confirma a ineficácia do medicamento para covid-19.
O resultado é que a insistência de Álvaro no medicamento gerou uma acomodação dos natalenses que viram na Ivermectina uma solução para ir as ruas, tomar um banho na bela orla da capital e aglomerar sem culpa.
Resultado: dos 3.709 óbitos no Rio Grande do Norte 1.433 Natal (dados do Laboratório de Inovação em Saúde – Lais- às 11h36). A capital tem 24% da população do Estado e 38,6% dos óbitos por covid-19.
Estudo divulgado hoje pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) indica que a Grande Natal é o epicentro da pandemia.
Não foi por acaso que a relação capital x interior na saúde foi invertida. Natal precisou “exportar” pacientes acometidos por covid-19 para outras cidades do Rio Grande do Norte, dentre elas Mossoró. A medida emergencial ajudou a colapsar as redes de saúde em todo Estado.
O prefeito ignorou os convites da governadora Fátima Bezerra (PT) para discutir medidas de restrições sociais. Ela relatou a Agência Saiba Mais que teve mensagens ignoradas e ligou sem receber retorno de parte do prefeito.
Hoje Álvaro Dias virou manchete nacional por tentar afrouxar, sem base legal, os decretos do Governo do Estado provocando situações constrangedoras para os empresários durante o toque de recolher e num contexto em que mais de 80 pessoas aguardam uma vaga de UTI para se salvar da covid-19 na capital do Estado.
Quando a população reclamou da superlotação em ônibus em vez de trabalhar para aumentar a frota o tucano escolheu suspender nos horários de pico gratuidade para idosos e passe estudantil.
Se ele é entusiasta da ivermectina não podemos dizer o mesmo sobre a compra de vacinas. Ele se recusou a aderir ao consórcio da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) para aquisição dos imunizantes.
Álvaro Dias prioriza a popularidade porque sonha ser governador em 2022. Essa estratégia lhe garantiu uma reeleição fácil ano passado.
Falar que ele abriu Hospital de Campanha só reforça a tese do comportamento politiqueiro porque o prefeito omite que só fez isso graças a parceria com o Governo do Estado que garantiu kits de UTI com monitores, ventiladores e bombas de infusão, possibilitando a estruturação dos leitos, e o compartilhamento de insumos.
Álvaro escolheu fazer política em vez de cuidar dos natalenses.
Álvaro Dias comandou pessoalmente a distribuição de ivermectina em Natal (Foto: reprodução)
Por Daniel Menezes*
É o que está em jogo no caso da ivermerctina na cidade. Não é mais uma questão de dúvida sobre a validade do mata piolho contra a pandemia pelo novo coronavírus, pois após as manifestações de agências sanitárias do Brasil e do mundo, estudos, cientistas, revistas, etc, não há dois lados sobre a eficácia geradora de proteção contra covid pela ivermerctina. Todo o empenho do prefeito de Natal Álvaro Dias e seus apoiadores diz respeito a uma questão política e judicial.
(Se você ainda acha que há dúvida sobre o assunto, talvez impactado pelas fake news locais que circulam na cidade, favor ler apenas – não postarei tudo novamente – a recente proibição emitida pela fda – agência de saúde americana – sobre o uso da ivermectina contra covid. Está em inglês, mas você pode ligar o tradutor do Google: https://www.fda.gov/animal-veterinary/product-safety-information/faq-covid-19-and-ivermectin-intended-animals)
O prefeito de Natal Álvaro Dias alicerçou todo o seu discurso, diante da maior pandemia dos últimos 100 anos num pleito eleitoral, no sucesso da operação ivermerctina. Sucesso este falso. Em Junho, no pico da primeira onda, a cidade concentrou quase metade dos óbitos, tendo 24% da população do RN. Mas o discurso e toda euforia vieram e, sem contraponto local, a coisa engrenou. Com o arrefecimento da primeira onda, ele cuidou de dizer que foi por conta do tratamento preventivo, o que não foi porque a pandemia desacelerou (mas não desapareceu) em todo o RN e no restante do Brasil.
A distribuição massiva de ivermerctina o permitiu acessar milhares de eleitores e abocanhar politicamente a vitória imunológica dos doentes contra o vírus, dizendo que foi ação dele. Ora, 99,4% das pessoas que pegam covid ficam boas, conforme a organização mundial de saúde. Tomando um placebo sugestivo, elas imaginarão que foi o remédio e não o próprio corpo, agradecendo ao político pai da iniciativa.
O tratamento profilático era a contribuição da prefeitura do Natal contra a pandemia, disse em entrevista membro do comitê científico de Natal a um jornal da cidade. Álvaro Dias explodiu em avaliação positiva e ganhou em primeiro turno em sua reeleição em 2020.
O problema é que a realidade – sempre ela – se impôs e, com a segunda onda, novamente Natal voltou a sua condição crítica, lotando hospitais e exportando pacientes para outras regiões do RN. O rei ficou nu.
O desespero para manter uma dúvida inexistente no ar, usando representantes negacionistas de associações médicas locais que lhes apoiam, fake news, etc, é a forma para salvar o futuro político do prefeito, que é ventilado como possibilidade de concorrer ao governo do RN em 2022. Imagine se toda a população perceber que foi feita de boba? Se o natalense se tocar que a liberação do comércio aplicada pela prefeitura do Natal em pleno pico da primeira onda e as promessas de proteção contra covid pelo uso indiscriminado de mata piolho não passaram de pura enganação? O custo eleitoral será bastante elevado para ele e para os entusiastas também emaranhados nesta mentira coletiva.
Toda a operação montada em Natal pela prefeitura e seus apoiadores vai no caminho de tentar desovar uma narrativa que caiu de podre. O consenso científico é insofismável, mas o popular sobre o tal tratamento precoce também está se impondo. As pessoas estão acreditando menos na pseudociência do prefeito, as contestações crescem, o governo federal finalmente parou de falar em tratamento precoce e as associações médicas nacionais já se manifestaram sobre a ausência de validade científica da cloroquina e ivermectina.
O único caminho para o prefeito é dizer que há uma dúvida sincera e que, diante dela, ele preferiu não pecar por omissão. Só assim o maior estelionato eleitoral da história de Natal poderá ser esquecido. Do contrário, no próximo ano, sua imagem será a de quem enfrentou o principal problema da cidade em décadas, com politicagem voltada para a geração de dividendos eleitorais com um placebo.
Além disso, não será chamado a responder politicamente e do ponto de vista judicial porque fez defesa pública da automedicação com ivermerctina, incentivou seu uso sem qualquer base na ciência e nada no Brasil ampara tal prática. Mesmo na pandemia, os médicos só podem, por exemplo, receitar a panacéia com a autorização individual do paciente, nunca em programa de tv ou em outras declarações públicas como fez o gestor da cidade e seus apoiadores, a partir de falsas promessas.
A necessidade de desfazer tal operação não se relaciona com a perspectiva de inviabilizar o futuro do prefeito. Mas de impedir que a falsa informação novamente leve as pessoas a uma exposição ao vírus, imaginando se protegidas. Sim, esta é a consequência social mortal de uma fake news alimentada pelo poder público. E, por isso, qualquer titubeio diante da mentira é sinônimo de mais mortes. Não há como ficar em cima do muro, vendo o sangue bater na canela.
*É sociólogo e professor da UFRN.
Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.
Álvaro faz política com a pandemia (Foto: Aldair Dantas)
Não. Não é o deputado federal General Girão (PSL), principal liderança do bolsonarismo no Estado. Nem o senador Styvenson Valentim (PODE), equivocadamente associado à visão de mundo presidente.
O Bolsonaro do Rio Grande do Norte é o prefeito de Natal Álvaro Dias (PSDB). Ele propõe remédio ineficaz contra covid-19, insiste no erro mesmo com a realidade se impondo e ainda ganhou popularidade com isso sendo reeleito com folga no primeiro turno. Chegou a discutir rispidamente com a jornalista Emily Virgílio da InterTV Cabugi na defesa a ivermectina para tratar a doença mesmo sem comprovação científica.
Natal está com a saúde colapsada por causa da pandemia e o prefeito, como o presidente, transfere culpas (neste caso para a governadora Fátima Bezerra – PT).
Como Bolsonaro, Álvaro faz cálculos políticos com a vida alheia. Chegou a se recusar a participar de uma reunião envolvendo a governadora, prefeitos da Região Metropolitana de Natal e autoridades do judiciário e Ministério Público.
Após enfrentar um desgaste acabou seguindo a recomendação do Governo do Estado.
Ainda há um agravante: Álvaro recebe apoio da mídia local, diferente de Bolsonaro em nível nacional.
Em termos de pandemia é o Bolsonaro do RN. O pior é que ainda por cima é médico.
Dias é investigado por crime eleitoral (Foto: Reprodução/Facebook)
Ontem a Polícia Federal cumpriu mandato de busca e apreensão na Agência Base Propaganda sob ordem da juíza Fátima Maria Costa Soares de Lima da 69ª Zona Eleitoral de Natal. O alvo da investigação é o indício de crime eleitoral envolvendo a empresa que presta serviços à Secretaria Municipal de Comunicação da capital e o prefeito reeleito Álvaro Dias (PSDB).
Foram apreendidos três computadores e um HD externo.
A denúncia formulada pelo senador Jean Paul Prates (PT), segundo colocado nas eleições desse ano, aponta que a Base Propaganda foi usada na campanha de Álvaro Dias. A suspeita é que os serviços eleitorais tenha sido pagos com o dinheiro dos contratos de publicidade institucional, que totalizam R$ 2.234,603,24.
Somente o senador Jean Paul Prates se manifestou oficialmente sobre o assunto. Confira a nota:
Reunimos provas que evidenciam que a empresa Base Propaganda firmou contrato com a Prefeitura do Natal após vencer licitação e já recebeu cerca de R$ 2,2 milhões para prestação de serviços de propaganda e comunicação digital ao Município. Também juntamos evidências de que o mesmo material produzido nesse serviço foi usado na campanha eleitoral.
Isso configura crime eleitoral, a partir do uso inapropriado de recursos do próprio Município em benefício da campanha de reeleição do atual prefeito. Para nós não há dúvidas de que a empresa contratada pela prefeitura prestou serviços à campanha de Álvaro Dias.
Temos confiança na Justiça e no andamento correto do processo eleitoral. Seguimos vigilantes para garantir que essa situação seja julgada com retidão, para que os envolvidos no suposto crime sejam punidos.
Álvaro Dias (PSDB), atual prefeito de Natal (RN) e reeleito em 2020 (Imagem: Reprodução/Facebook)
Por Alan Lacerda*
A referência à calmaria no título é irônica, na medida em que denota o desinteresse do eleitorado natalense por novidades na gestão municipal. Pela segunda vez consecutiva, um prefeito é reeleito no primeiro turno sem ter realmente uma marca estruturante de gestão. Também pela segunda vez a vitória ocorre no primeiro turno, com relativa facilidade. Até os percentuais em votos válidos dos três candidatos (incluindo o titular no cargo) que obtiveram mais de 10% dos votos válidos foram parecidos com os da disputa de 2016 (ver tabela abaixo).
Não há anomalia entre o resultado eleitoral e a popularidade do ocupante do cargo. O prefeito Álvaro Dias (PSDB), o vice eleito em 2016 que assumiu o cargo em 2018, após a saída do titular para a disputa de governador, gozava de elevada taxa de aprovação (no indicador binário aprova/desaprova) do eleitorado, chegando a 66% na pesquisa Seta divulgada em 2 de novembro. O mesmo deu-se na competição de 2016 com Carlos Eduardo Alves (PDT), seu antecessor e integrante da família política Alves.
Há dois legados políticos, todavia, cujos efeitos não podem ser mensurados diretamente, que precisam ser mencionados aqui. A desastrosa gestão de Micarla de Sousa (PV), que apareceu como novidade em 2008 com uma campanha eficiente que a levou a vencer a atual governadora Fátima Bezerra (PT), então deputada federal, já no primeiro turno. No comentário político, é comum a constatação de que o eleitorado da capital potiguar tornou-se cauteloso a partir de então – o que pôde se verificar com o retorno de Carlos Eduardo à Prefeitura no pleito de 2012. Ele já havia ocupado o posto entre 2002 e 2008.
O segundo legado é o da fraqueza da oposição municipal, que não consegue estabelecer um contraponto persistente aos prefeitos na Câmara Municipal e no debate público. Os candidatos só aparecem como oposição estritamente municipal no ano da eleição, reforçando a já referida cautela do eleitor, que decide contra eles. Tais fatores são basicamente locais, não podendo ser atribuídos seja ao contexto potiguar seja ao nacional.
Candidatos a prefeitura de Natal em 2016 e 2020 Imagem: Elaboração própria
É possível detectar duas diferenças importantes entre as duas competições. Primeiro, houve maior dispersão no número de candidatos a prefeito neste ano, com o lançamento de dez aspirantes. Isso em nada dificultou, porém, a tarefa do prefeito em relação ao seu antecessor. Segundo, um candidato da direita radical atingiu o limiar de 10% dos votos, na figura de Sergio Leocadio (PSL), um delegado da Polícia Civil – ele concorreu, inclusive, pelo mesmo partido ao qual já pertenceu o presidente Jair Bolsonaro. O senador Jean-Paul Prates (PT) apenas amealhou alguns pontos a mais do que o seu correligionário, o hoje secretário estadual Fernando Mineiro (PT).
A fisionomia da campanha na capital foi marcadamente diferente dos eventos congêneres no interior. O uso de máscaras pelos políticos e por parte dos seus apoiadores parece ter sido maior em Natal, assim como foram menores o entusiasmo e as aglomerações nas ruas produzidos pela corrida eleitoral. Mesmo disputas pouco acirradas geraram maior interesse no interior potiguar.
Por fim, é bom registrar que a força ampliada do prefeito Álvaro Dias não significa necessariamente que ele está livre para a disputa de governador em 2022. Como parte do acerto entre PDT e PSDB, o ex-prefeito Carlos Alves, que cogita disputar novamente o pleito de governador, indicou como vice-prefeita Aila Cortez, pedetista e parente de sua esposa. Uma eventual saída de Dias implicaria o retorno do PDT à titularidade do cargo.
Disputa eleitoral em Mossoró segue padrão interiorano
Em contraste, a campanha na segunda maior cidade do estado, Mossoró (uma eleição ainda de maioria simples) seguiu o referido padrão interiorano, sendo bastante disputada entre a prefeita Rosalba Ciarlini (PP), uma integrante da família política Rosado, e o deputado estadual Allyson Bezerra (SD). A “Rosa”, como é conhecida no vocabulário político local, não havia perdido nenhuma eleição para a Prefeitura da cidade desde 1996, tendo apoiado candidaturas vitoriosas em 2004, 2008 e 2012. Nos demais pleitos, 1996, 2000 e 2016, ela própria logrou a vitória. Seu primeiro triunfo foi em 1988.
Em termos táticos, o objetivo central de Rosalba tinha que ser dividir o voto da oposição, em virtude do fato de sua avaliação positiva, a soma de ótimo e bom nas pesquisas, ser medíocre, variando entre 30% e 35% na maioria das sondagens. Bezerra, no entanto, tornou-se rapidamente o único candidato competitivo da oposição durante a campanha, canibalizando votos que poderiam ir para outros nomes oposicionistas.
A rigor, o pleito adquiriu uma polarização similar à observada em disputas de segundo turno, com a baixa avaliação da gestão sendo o limitador central do crescimento da prefeita. No fim, Allyson Bezerra obteve mais de 65 mil votos (47,52%), contra pouco mais de 59 mil (42,96%) da atual gestora. A derrota de Rosalba pode vir a marcar um declínio dos Rosado, que já chegaram a eleger dois governadores do estado, incluindo ela própria.
Finalmente, cumpre falar sobre eventuais efeitos da disputa sobre o âmbito estadual e a eleição de 2022. Espelhando de certa forma o resultado nacional do partido, o PT potiguar também teve desempenho insatisfatório no que toca às eleições de prefeito. A agremiação lançou candidatos em 26 dos 167 municípios do RN, tendo sido vitoriosa em apenas três cidades; um caso ainda está sub judice.
O resultado pode gerar certa perplexidade, dado o fato de que a atual governadora é uma petista. No entanto, Fátima Bezerra tem seu próprio ciclo político, que culminará com a tentativa de reeleição em 2022. Ela enfrentou queda generalizada de popularidade neste ano, em função da reforma previdenciária estadual e das medidas restritivas contra a pandemia. Fátima parece focada na área da segurança pública, com a contratação de mais de mil policiais militares, e na quitação de duas folhas salariais deixadas pelo governo anterior. É fato também que sua popularidade começa a melhorar em vários municípios. Na minha avaliação, não é possível inferir dos resultados das disputas municipais uma fraqueza eleitoral da gestora em 2022.
*É professor associado da UFRN e doutor em Ciência Política pelo (antigo) Iuperj. Texto extraído do UOL.
Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2020, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.com.br
Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.
Álvaro Dias venceu no primeiro turno (Foto: redes sociais/Álvaro Dias)
O prefeito reeleito de Natal Álvaro Dias (PSDB) tem lá seus méritos políticos para chegar a reeleição. Soube fazer o jogo político durante a pandemia.
Os números do Instituto Seta apresentados pelo cientista social Daniel Menezes são claros:
Antes da pandemia 43% aprovam a gestão e 37% desaprovam, outros 20% NS/NR. No final de outubro os números eram respectivamente 66.5%, 26.9% e 6.6%.
Sem histórico político em Natal a lógica previa uma eleição complicada ainda que com a máquina na mão. Álvaro se beneficiou da ausência de debates na TV e das poucas rodadas de entrevistas com os candidatos realizadas nas emissoras da capital.
Venceu de ponta a ponta sem permitir que nenhum adversário polarizasse.
Outra tática bem sucedida, que contou com o silêncio da oposição, foi a de esconder os oligarcas tão rejeitados pelo eleitorado potiguar. Todos apoiavam Álvaro, por sinal.
A oposição não explorou o assunto massivamente. O tucano agradeceu.