Tag: Datafolha
Resista, Brasil. Falta pouco
Por Jean Paul Prates*
Divulgada na última quinta-feira (26), a pesquisa DataFolha de intenção de voto para a Presidência da República aponta a possibilidade concreta do país encerrar o pesadelo em que está mergulhado já no primeiro turno da disputa.
Lula, a esperança de o Brasil retomar a sua caminhada civilizatória, tem 48% das intenções de voto, enquanto os demais candidatos, somados, ficam nos 40%. Considerando-se os votos válidos, excluídos brancos e nulos, Lula venceria no primeiro turno, com 53%.
Esse resultado da pesquisa não surpreende ninguém. Nas ruas, nas redes sociais, nos encontros com a família e os amigos ou na fila do caixa do supermercado, o que se ouve é o eco do mal-estar sufocante com a destruição das condições mínimas para se viver em paz no Brasil.
Estar submetido a um governo como o de Bolsonaro é permanentemente tentar esquivar-se da saraivada de violências que nos atingem coletiva e individualmente, de todas as direções.
Somos um país asfixiado pela fome — nunca é demais lembrar que metade da população não tem certeza de quando ou como fará a próxima refeição —, torturado pelo desemprego, ameaçado diuturnamente com a retirada de mais um pedaço de nossa carne já tão pouca—da Petrobrás à Universidade Pública.
Se já é duro, para os que ainda comem regularmente e moram sob um teto minimamente estruturado, a carnificina promovida pelo governo e seus acólitos vai muito além do sentido figurado para os que passam frio nas ruas, para os que vivem em áreas precárias e para os que carregam na pele a “cor da suspeita”.
Nesta semana, que encerramos com a esperança concreta de deixar esse tempo obscuro para trás, nos estarrecemos, mais uma vez, com o descaramento dos que acham que a maré não vira.
Na terça-feira (24), forças policiais entraram na comunidade da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, deixando para trás o contumaz rastro de mortos — desta vez, 25, a segunda chacina mais letal na história da cidade — e o cinismo das explicações de sempre.
No dia seguinte, integrantes da Polícia Rodoviária Federal mataram Genivaldo de Jesus Santos por asfixia, liberando gás lacrimogêneo no interior da viatura onde o trancafiaram, em Umbaúba, Sergipe.
Não há como escapar da sufocação. Mesmo quem vive a quilômetros — geográficos e simbólicos — da Vila Cruzeiro ou da vulnerabilidade social de Genivaldo compartilha a náusea de saber que essas foram ações de agentes do Estado, concursados, empossados e remunerados em nome de cada um de nós.
O Brasil não é um país de sociopatas. Não vamos mais permitir que um governo degenerado, capaz de elogiar as ações na Vila Cruzeiro, continue a cevar esse clima de extermínio.
Como a imensa maioria dos brasileiros, essa barbárie sem freio me deixa acabrunhado. Mas é preciso perseverar: resista, Brasil, falta pouco. A esperança vai vencer a sede de sangue.
*É senador pelo PT/RN.
Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o barreto269@hotmail.com e bruno.269@gmail.com.
Por Leonardo Sakamoto
Geraldo Alckmin conseguiu a façanha de estar em segundo lugar, atrás de Lula e empatado com Bolsonaro, na corrida presidencial se considerados apenas os eleitores de São Paulo, tanto no Datafolha, quanto no Ibope. Repito: São Paulo, meu Estado querido, epicentro do antipetismo, local onde trabalhadoras empregadas domésticas tem que se virar com as panelas amassadas pelos patrões e no qual um Pato Amarelo tem 19% das intenções de voto ao governo.
Parte disso deve ser creditado, claro, ao desgaste de ter administrado o Estado por cem anos. Bem, foi um pouco menos que isso, mas a população sente como se assim fosse.
Parte cai na conta da ”ajuda do caralho” que Aécio Neves pediu a Joesley Batista e outras histórias desabonadoras do senador mineiro. Em uma já icônica gravação, o então presidente do PSDB tratou o dono da JBS como um caixa eletrônico, solicitando um saque de R$ 2 milhões. E também mostrou que não tinha apreço algum pelo próprio primo – ao ser questionado sobre a ”mula” que transportaria o dinheiro, afirmou que tinha que ”ser um que a gente mata ele antes de fazer a delação”.
As tentativas públicas de salvar principalmente o pescoço de Aécio e de seu conterrâneo Eduardo Azeredo e, lateralmente, de afastar as investigações de José Serra e do próprio Alckmin, empurraram ainda mais uma parcela do eleitorado paulista que não vota no PT nem que a vaca tussa para o colo de outras opções.
Mas uma parte grande dessa situação de estagnação eleitoral é culpa de sua própria estratégia política. Se não tivesse forçado a barra para que o PSDB engolisse João Doria como candidato à prefeito de São Paulo, não teria gasto um tempo precioso, ao longo de 2017, lutando internamente contra o pupilo traidor para garantir (provisoriamente) o posto de concorrente tucano ao Palácio do Planalto.
A vontade incontrolável de Doria e seu afobamento visando à Presidência da República, que começou assim que ele assumiu a Prefeitura de São Paulo, fez com que o PSDB perdesse quase um ano em uma grande batalha fratricida. E olha que esse tipo de batalha é velha conhecida da legenda.
Perdeu-se não apenas precioso tempo que poderia ter sido gasto em organização e consolidação de alianças para a candidatura natural do governador paulista ao Palácio do Planalto, mas também criou focos de estresse entre Michel Temer e o próprio. O poeta de Tietê quer alguém que defenda seu legado e lhe garanta alguma guarida no ano que vem – que pode ser útil se o foro privilegiado não for derrubado pelo Supremo. O médico de Pindamonhangaba não se compromete, como sempre.
Para Alckmin, , melhor seria que sua candidatura tivesse decantado naturalmente, bem como o reassentamento do PSDB como a liderança eleitoral da centro-direita. E que, claro, não precisasse assumir como presidente do partido para preparar o terreno a si mesmo e, ao mesmo tempo, manejar as crises partidárias causadas por um ninho em que as aves, para cometer suicídio, sobem no próprio ego e saltam.
Ao invés de queimar energia para articular nos bastidores um freio a Doria, ele poderia ter se dedicado a uma agenda de construção de sua imagem no Nordeste e entre a população mais pobre – em que Lula segue soberano. E, principalmente, de reconstrução de si mesmo em seu Estado natal. Mas, atingido por fogo amigo, teve que resolver o problema doméstico primeiro.
Alckmin conseguiu desidratar Doria. Que na ânsia de mostrar que era capaz foi acusado de distribuir ”ração humana para pobres” em um país com histórico de insensibilidade de governantes com relação à fome.
Temer, o impopular, patrocinou reformas que afetam diretamente a qualidade de vida da população. Da expansão do trabalho intermitente à demissão em massa à possibilidade de grávidas e lactantes trabalharem em ambientes nocivos, as perdas trabalhistas que não vieram acompanhadas de queda acentuada do desemprego farão com o atual ocupante da Presidência seja um elemento radioativo na campanha eleitoral. Tudo em parceria com tucanos.
Dá para, agora, Alckmin negar o passado? Claro, Pedro fez isso três vezes e ainda assim foi a pedra sobre a qual edificou-se a igreja. Mas Cristo não tinha tempo de TV, nem influência com milhares de prefeitos, muito menos acesso ao fundo partidário.
Mesmo agora, o ex-governador não acredita que o ex-prefeito desistiu de seu sonho de disputar a Presidência da República em seu lugar. Ele está ali, à espreita, pronto para dizer que aceita a dura missão de representar o partido para o comando do país. Como Alckmin dorme à noite, eu gostaria de descobrir.
Por Juan Arias
Será verdade que, como injustamente se divulga no exterior, os brasileiros estão divididos em tudo? Que nada é capaz de unir os cidadãos de um lado e do outro do arco político? Há dois brasis irreconciliáveis em tudo? A julgar pelos resultados da última pesquisa nacional do Datafolha, a resposta é não.
De acordo com essa pesquisa, quem aposta em um Brasil dividido em tudo deve se sentir frustrado. Existe um tema que vem incendiando a opinião pública nos últimos anos e que se intensificou com a condenação e prisão de Lula: o apoio à Lava Jato, cuja continuidade é defendida por 84% dos brasileiros. Apenas insignificantes 12% acham que deve terminar. O Brasil todo parece unido na luta contra a corrupção e contra as tentativas de “estancar a sangria”, sonho de tantos políticos e poderosos e até mesmo de boa parte do Supremo Tribunal Federal. Entre esses 84% que querem que a Lava Jato continue estão, por exemplo, 77% dos eleitores de Lula, algo que o PT, que acusa a Justiça de ser seletiva com seu partido, deveria explicar, se de fato a grande maioria de seus eleitores também defende essa cruzada contra a corrupção.
Outro dado importante de uma pesquisa anterior do Datafolha confirma que os brasileiros concordam, quase unanimemente, que a Lava Jato deve seguir seu caminho: em 22 anos, é a primeira vez que a corrupção é a maior preocupação do país. Não é a violência? Não. A corrupção já preocupava quatro vezes mais em 2015. E a educação? Também não. Preocupa quatro vezes menos que a corrupção. Não seria economia, ou o desemprego, a maior preocupação dos brasileiros? Não, a corrupção preocupa cinco vezes mais. E a saúde, a angústia das filas nos hospitais? Nem isso. A corrupção interessa duas vezes mais que a saúde.
Será que os pré-candidatos à presidência tomaram consciência de que a sociedade como um todo, pobres e ricos, continua a favor da luta contra a corrupção? E os governadores, senadores e deputados que pretendem ser reeleitos? Terão percebido os excelentíssimos magistrados do Supremo que a única coisa que parece unir os brasileiros é a luta contra a corrupção, e quase 60% defendem a prisão após condenação em segunda instância sem esperar pelos recursos a instâncias superiores? E que a grande maioria é contra o foro privilegiado?
Sabemos que mais de um magistrado disse não entender o que significa a voz das ruas e que lhes interessa mais a letra da lei que no seu espírito, que é o que deve ser levado em conta quando se trata de julgar indivíduos de carne e osso. Não é segredo que, no Brasil, antes da Lava Jato, a Justiça procurava ser humana e respeitosa com os condenados importantes, para quem a presunção de inocência deveria ser sagrada. O condenado sem nome tornava-se, por outro lado, um número frio e sem alma.
Um povo que foi capaz de metabolizar sem dramas nem tumultos a prisão de Lula e dos grandes industriais do país acusados de corrupção talvez seja mais solidamente democrático e socialmente mais saudável do que uma minoria exaltada se esforça para negar. Se for esse o caso, é uma injustiça grave apresentar, no exterior, um Brasil à beira de um descarrilamento democrático, um golpe militar ou uma guerra civil, como vi escrito em jornais sérios. É injusto porque é falso. O que o mundo deve saber é que, no Brasil, até os mais pobres estão mais preocupados com a corrupção dos poderosos do que com a própria economia, algo que só seria concebível em países com velhas raízes democráticas.
Às vezes, chego a pensar que este país pode até dar uma reviravolta na teoria de Murphy, segundo a qual “se algo pode dar errado, dará”. Talvez seja capaz de interpretar essa lei pessimista mudando-a para o lado positivo: “se algo pode dar certo, dará”. E se nas próximas eleições, apesar de todo o pessimismo, acabar, por exemplo, acontecendo o melhor?