Um novo parecer técnico foi emito pela Justiça Eleitoral após um pedido de reconsideração ser acatado pelo juiz Vagnos Kelly, da 34ª Zona Eleitoral.
O trabalho elaborado pelo servidor Francisco Márcio de Oliveira apontou inconsistências na prestação de contas de emulsionamento de postagens no Facebook. Para ele, os vícios não foram sanados.
“Assim sendo, em face dos registros acima mencionados, entende este servidor que a falha/irregularidade não foi corrigida com a nova prestação de contas retificadora, mantendo-se a indicação de irregularidade, cabendo ao julgador avaliar e interpretar todas as questões associadas, tais como a boa fé e proporcionalidade”, declarou.
Sobre a divergência entre beneficiários e sacadores de cheques nos pagamentos da campanha, o servidor disse ser necessário uma investigação mais apurada que não cabe a Justiça Eleitoral fazer. “Em que pese remanescer dúvidas a este analista quanto à regularidade das operações, ressalto que certezas demandariam uma investigação mais aprofundadas dos beneficiários dos cheques, o que não é possível de se realizar no próprio processo de prestação de contas, seja pela limitação quanto à produção de provas pela própria Justiça eleitoral, seja pelo curto tempo que a análise dispõe para concluir todos os trabalhos”, explicou.
O parecer ainda apontou divergência nos saldos bancários nas contas da campanha, inconsistência nos valores das sobras de campanha e dívidas em aberto.
Apesar das falhas apontadas, o técnico opinou pela aprovação com ressalvas das contas de Allyson. “Em conclusão, em atendimento ao disposto no art. 69, §3º, da Res. TSE nº 23.607/2019, manifesta-se este órgão técnico pela parcial regularidade das contas, manifestando-se pela APROVAÇÃO DAS CONTAS COM AS RESSALVAS ACIMA APONTADAS, em face do que foi relatado no presente relatório em conjunto com o parecer conclusivo anteriormente emitido, por compreender que as falhas ainda remanescentes não são aptas a demandar a desaprovação”, declarou.
Por meio da Assessoria de Imprensa do prefeito, o advogado Caio Vitor Barbosa avaliou positivamente o resultado do parecer. “O parecer final do corpo técnico da Justiça Eleitoral foi no sentido de aprovar as contas de campanha do prefeito Allyson. Nossa expectativa é que o Ministério Público e o juiz sigam a orientação do corpo técnico e aprovem as contas, que foram todas prestadas dentro da licitude e da legalidade, observando todas as regras eleitorais”, disse.
O processo agora vai para análise do Ministério Público e depois para julgamento do juiz Vagnos Kelly.
Amanhã começa para valer a legislatura na Câmara Municipal de Mossoró. Os 23 vereadores, a maioria de novatos estreia no plenário.
Com base nas prestações de contas à Justiça Eleitoral feita pelos vereadores o custo médio do voto foi de R$ 14,63 para chegar a Câmara Municipal.
Mas quanto saiu a eleição desses parlamentares? Quem gastou mais? Quanto saiu em média o custo por voto dos vereadores de Mossoró?
A campanha mais cara entre os eleitos foi a de Larissa Rosado (PSDB) que gastou R$ 86.103,93. Foi ela também quem mais precisou gastar para cada voto recebido: R$ 34,22.
Quem menos gastou foi Omar Nogueira (PATRIOTAS). Ele usou R$3.573,00 para chegar aos 964 votos gastando em média R$ 3,70 por sufrágio recebido.
Mas quem teve a menor relação custo de campanha x votos foi Marckuty da Maísa (SD). Ele gastou R$ 2,37 em média para cada um dos seus 1.729 sufrágios.
Os 23 vereadores juntos somam 42.458 votos e gastaram somados R$ 621.200,97 para chegar ao Palácio Rodolfo Fernandes.
Abaixo a tabela do custo por voto dos vereadores de Mossoró:
Parecer técnico assinado chefe de cartório da 34ª Zona Eleitoral Francisco Márcio de Oliveira recomendou a reprovação das contas de campanha do prefeito Allyson Bezerra (SD).
Foram apontados os seguintes problemas:
Descumprimento da entrega dos relatórios dentro do prazo estabelecido pela legislação eleitoral;
Omissão de registro de gastos com posts patrocinados no Facebook num montante de R$ 18 mil. Sendo identificadas inconsistências com as notas fiscais apresentadas e o serviço realizado;
Divergências entre os beneficiários de cheques e o efetivo sacador que totalizam R$ 34,550;
Inconsistência nos valores das sobras de campanha;
Irregularidades em débitos de campanha que totalizam R$ 64 mil;
Foram detectados gastos eleitorais realizados em data anterior à data inicial de entrega da prestação de contas parcial, mas não informados à época totalizando R$ 16.294,14.
O juiz da 34ª Zona Eleitoral Vagnos Kelly abriu um prazo de três dias úteis para que o prefeito se defenda.
Por meio de nota a defesa de Allyson se manifestou. Confira abaixo:
NOTA
O processo de prestação de contas da campanha eleitoral de 2020 ainda está tramitando e estamos prestando os esclarecimentos e documentos necessários. Arrecadamos e realizamos os gastos dentro da legalidade. O parecer apresentado apontou formalidades que estão sendo respondidas. Entendemos como normal a manifestação técnica em epígrafe, mas não há o que temer quando se está dentro da lei.
Ontem o ministro Tarcísio Freitas visitou Natal onde inaugurou a 1ª etapa do Complexo Viário do Gancho de Igapó. Ele esteve acompanhado dos colegas potiguares Rogério Marinho (desenvolvimento regional) e Fábio Faria (comunicações).
Chamou a atenção do meio político além do já tradicional desprezo à governadora Fátima Bezerra (PT) por parte do Governo Federal, uma indelicadeza institucional, diga-se de passagem, a exclusão da maioria esmagadora da bancada federal do Estado.
Nenhum senador presente. Dos oito deputados somente General Girão (PSL), Walter Alves (MDB), Beto Rosado (PP) e João Maia (PL) estava presentes. Eis um fato que mostra o desdém que o Governo Bolsonaro trata os parlamentares do Rio Grande do Norte.
Eventos desta natureza costumavam reunir todos os membros da bancada federal independente do viés político.
Outro aspecto da visita que saltou aos olhos foi a estratégia de montagem de palanque para 2022. Com a governadora e os demais membros da bancada federal excluídos, o espaço ficou para Rogério Marinho (sem partido) e Fábio Faria (PSD) brilharem.
Marinho anunciou R$ 29,8 milhões para as barragens de Oiticica e Passagem das Traíras. Já Fábio inaugurou, de forma inusitada, um ponto de internet na Reta Tabajara.
A promoção de ambos parece despretensiosa, mas a exclusão dos membros da bancada federal da agenda tem foco nas eleições de 2022.
A denúncia de candidaturas laranjas de mulheres com o objetivo de burlar a regra de cota de gênero não deverá se limitar apenas a disputa entre partidos.
O Ministério Público Eleitoral com atuação em Mossoró está realizando uma série de oitivas com candidatas suspeitas de figurarem na disputa apenas para cumprimento da formalidade.
Os depoimentos estão sendo realizados e caso o parquet entenda que há indícios fortes de burla da lei também fará denúncia.
A eleição de 2020 não terminou com a decisão do eleitor no dia 15 de novembro. Na verdade estão se desenhando batalhas jurídicas que prometem agitar o noticiário político em 2021.
Uma sigla deve entrar no vocabulário mossoroense com muita força no alvorecer do ano que vem: AIJE que significa Ação de Investigação Judicial Eleitoral.
São muitos processos que vamos ter em curso. A ainda prefeita Rosalba Ciarlini (PP) é alvo de quatros AIJEs, sendo que uma delas transcorre em segredo de justiça.
O prefeito eleito Allyson Bezerra (SD) que assume dia 1° de janeiro, que conviveu com as comparações com o ex-prefeito Francisco José Junior (PSD) durante as eleições, vai ter que lutar nos tribunais para não ser a versão 2020 do que Cláudia Regina foi em 2012. Ele responde a três AIJEs.
Mas a judicialização não para por aqui. Pelo menos sete vereadores estão com problemas que podem lhe trazer dores de cabeça por. São 15 AIJEs que denunciam candidaturas laranjas de mulheres para preencher a cota de gênero.
Se todas as ações prosperarem Pablo Aires (PSB), Naldo Feitosa (PSC), Lamarque (PSC), Gideon Ismaias (Cidadania), Edson Carlos (Cidadania), Omar Nogueira (Patriotas) e Raério Araújo (PSD) podem perder os respectivos mandatos.
Outras AIJEs podem surgir. Investigações estão em curso. A política mossoroense vai ferver mesmo sem eleição.
A juíza Giulliana Silveira de Souza da 33ª Zona Eleitoral negou pedido de liminar formulada pelo suplente de vereador Marrom (DC) para impedir que o vereador eleito Pablo Aires (PSB) seja diplomado hoje.
O pedido tem como base a denúncia de que o PSB tenha recorrido a candidaturas laranjas para completar a cota de gênero.
A juíza entendeu que o caso ainda precisa ser melhor apurado e que seria temeroso reverter uma decisão das urnas na atual conjuntura.
Diz a juíza:
Não há, portanto, plausibilidade jurídica para a concessão da medida de urgência almejada, dada a sua manifesta desproporcionalidade, sobretudo para o momento, e tendo em vista os riscos que traria para a estabilidade democrática e das instituições. É de se esclarecer, na oportunidade, que, nada obstante, em eventualmente restando-se comprovada, após a devida apuração dos fatos e o exercício do contraditório e da ampla defesa, a prática dos supostos atos fraudulentos narrados na inicial, atentatórios que são à soberana vontade do eleitorado e à igualdade de oportunidades que deve vigorar no pleito, deverão os diplomas a serem expedidos na tarde de hoje, em sendo o caso, vir a serem cassados e, com isso, os respectivos mandatos desconstituídos, procedendo-se, então, ao novo cálculo dos quocientes eleitoral e partidário, conforme pretendido pelo autor.
Esse é um precedente que se repetirá em relação a pedidos semelhantes envolvendo as chapas do PSD, PSC, Cidadania e Patriotas.
A cota de gênero prevê que pelo menos 30% das candidaturas proporcionais sejam formadas por um mulheres se a maioria for de homens e vice e versa. Na prática é uma medida que visa estimular a participação feminina na política, esta dominada pelo sexo masculino.
Ainda assim, a regra não atinge o efeito esperado é se torna um problema na formação de nominatas para as disputas proporcionais.
Quem organiza a chapa acaba sendo obrigado a improvisar e é aí que a regra é burlada com candidatas laranjas que muitas vezes são colocadas apenas para dar uma satisfação à Justiça Eleitoral e garantir o registro das chapas.
Em Mossoró pelo menos sete vereadores correm risco de perder os mandatos conquistados nas eleições de 15 de novembro sob a suspeita de que as suas chapas teriam contado com candidaturas laranjas para cumprir a formalidade da cota de gênero.
São 15 Ações de Investigação Judicial Eleitoral (AIJEs) movidas pelo advogado Luiz Lira a serviço dos vereadores não reeleitos Aline Couto (PSDB) e Tony Cabelos (PP) e do suplente Marrom Lanches (DC).
As ações envolvem cinco partidos e sete eleitos a saber: Edson Carlos (Cidadania), Gideon Ismaias (Cidadania), Raério Araújo (PSD), Omar Nogueira (Patriota), Pablo Aires (PSB), Naldo Feitosa (PSC) e Lamarque (PSC).
Caso todas as ações prosperem ficariam com cadeiras na Câmara Municipal: Marrom (DC), Tony Cabelos (PP), Ozaniel Mesquita (DEM), Pluvia Oliveira (PT), Aline Couto (PSDB), Alex do Frango (PV) e Victor Carneiro (SD).
A lista acima está pela ordem. Se só uma ação prosperar a vaga é de Marrom, se duas derem resultado a vaga é de Marrom e Tony e assim por diante.
As ações tramitam na 33ª Zona Eleitoral.
Entenda no que se baseia a denúncia de candidaturas laranjas feita contra cinco partidos
O Blog do Barreto conferiu as denúncias feitas contra os cinco partidos e vai explicar uma por uma de forma topicalizada.
Cidadania: a investigação se baseia no uso do nome da candidata Ana Íris que obteve apenas cinco votos. Ela obteve apenas cinco votos. A investigação constatou que ela parca campanha nas redes sociais sem realizar pedido de voto e recebeu apenas R$ 490 do Fundo Eleitoral. O dinheiro foi usado para contratar o próprio filho para ajudar na divulgação da campanha. “Desse modo, é de clareza ímpar que o CIDADANIA fraudou a cota de gênero e com o deliberado intuito de viabilizar mais candidaturas masculinas, registrou candidaturas fictícias do sexo feminino, devendo esta Justiça Especializada atuar de forma severa para cassar os votos dados à todas as candidaturas do partido Investigado, dando um exemplo as demais siglas, devendo a cota de gênero ser utilizada como uma verdadeira forma de participação e garantia da isonomia no preenchimento das vagas no legislativo”, argumenta a denúncia.
Patriota: a denúncia envolvendo o Patriotas cita como exemplos de candidatas laranjas Teresa Cristina da Costa Alves, Maria Aparecida Santiago, Elineide Bandeira Dantas, Gênia Claudia da Silva, Maria Irani Felix de Souza, Edineide Silva Da Luz e Claudia Maria De Oliveira Fonseca. Juntas elas somaram 45 votos e não receberam um centavo do Fundo Eleitoral. Em comum a denúncia aponta que as candidatas do Patriotas estiveram ausentes na campanha o que indica que foram colocadas no sistema apenas para cumprir uma obrigação da legislação.
PSB: na ação contra o PSB, a AIJE indica que as candidaturas de Francisca das Chagas Evaristo da Silva e Luciene Felipe da Silva. A pesquisa apontou que elas não foram candidatas de fato por não fazerem campanha e cada uma recebeu R$ 555,55 de fundo partido. Juntas receberam 20 votos. “Veja-se que as candidatas investigadas como “laranjas” receberam a mesma quantia de recursos, sendo que nenhuma delas chegou a receber recursos de nenhuma outra fonte, nem mesmo de doações de amigos e familiares, e suas despesas são padronizadas nos valores e empresas contratadas, nada mais havendo”, argumenta a denúncia.
PSC: a denúncia contra a chapa do PSC aponta a existência de oito candidatas laranjas a saber: Mariza Sousa da Silva Figueiredo, Lidiane Michele Pereira da Silva, Fernanda Dulce de Castro Caldas, Karoline Inácio dos Santos Lima, Conceição Kaline Lima Silva, Nadja Micaelle Oliveira de Souza, Fabrícia Dantas da Silva e Jessica Emanoele Vieira da Rocha. De dez candidatas, apenas duas foram efetivamente para disputa. As oito candidaturas questionadas não usaram as redes sociais para pedir votos e juntas somaram 28 votos. Elas receberam R$ 3.750 cada de fundo partidária e tiveram despesas idênticas sempre R$ 3 mil com a S & S Gráfica e Editorial LTDA e R$ 750 com a ART7 Gráfica Digital LTDA. “A ideia nunca foi disputar o pleito eleitoral em si, mas somente para preenchimento da cota de gênero e, com isso possibilitando a participação do partido Investigado nas eleições proporcionais”, diz a denúncia. Outro dado no mínimo curioso é que a mãe de Conceição Kaline Lima Silva, Maria de Fátima Lima, foi candidata pelo MDB com o nome de urna “Fátima Tubaroa, recebendo 19 sufrágios. “Curiosamente a mãe da investigada também possuiu votação inexpressiva no pleito eleitoral”, reforça a denúncia.
PSD: a AIJE apontou como candidaturas laranjas no PSD de Bárbara Silva de Souza, Catarina Maria da Silva e Daniela Francisca da Silva. Juntas elas somaram 18 votos. Bárbara e Catarina receberam R$ 3.500 de Fundo Eleitoral e Daniela R$ 6.200. Mas nenhuma chegou a ter despesas de campanha nem sequer pediram votos nas redes sociais. “Como se sabe, as redes sociais seriam uma forma de demonstrar aos seus eleitores suas propostas, divulgação de campanha e, obviamente, de realizar pedido de votos”, alega a denúncia.
O conjunto das denúncias aponta em comum a caracterização das candidaturas como laranjas a partir das seguintes observações:
a) Ausência de gasto com material de propaganda ou serviço;
b) Inexistência de propaganda eleitoral;
c) Ausência na participação efetiva da candidata em prol de sua candidatura;
d) Votação zerada e/ou inexpressiva;
Além de:
não realizaram qualquer ato de campanha;
não produziram material eleitoral;
não distribuíram santinhos para panfletagem;
não distribuíram adesivos para bens particulares e veículos;
não veicularam anúncios em jornais;
não utilizaram de bandeiras ou mesas com distribuição de materiais de campanha;
não registraram qualquer pedido de realização de propaganda de rua junto ao juízo zonal;
não participaram de reuniões políticas;
não realizaram “live” com debate político/eleitoral;
não realizaram caminhadas, carreatas e passeatas;
não utilizaram de carro de som;
não produziram jingle;
e não pediram votos.
Denúncia cita matéria do Blog do Barreto
As 15 denúncias assinadas pelo advogado Luiz Lira cita matéria do Blog do Barreto que mostra que quase 80% dos candidatos que tiveram entre 1 e 10 votos eram mulheres. Um desempenho desproporcional à quantidade de candidaturas femininas.
Na matéria Confira a lista de candidatos que tiveram entre 1 e 10 votos para vereador em Mossoró. Quase 80% são mulheres mostramos que “das 40 candidaturas que tiveram entre 1 e 10 votos, 31 são de mulheres. Isso corresponde a 77,5% do total. Para se ter ideia da desproporcionalidade destes números estamos numa cidade onde 53,6% do eleitorado é feminino. Apesar disso só 34% das candidaturas eram de mulheres e apenas três foram eleitas para a Câmara Municipal”.
Um dos protagonistas do processo eleitoral de 2020 em Mossoró, o ex-prefeito Francisco José Junior quebrou o silêncio em um grupo de Whtasapp.
Ele comentou o processo eleitoral em Mossoró celebrando a derrota da prefeita Rosalba Ciarlini (PP) e admitindo ter na vaidade um pecado em sua gestão.
Outro ponto comentado diz respeito à permanência excessiva de rosalbistas na gestão.
Nota do Blog: esse áudio foi gravado alguns dias após o Blog do Barreto ter apontado dois erros cometidos pelo ex-prefeito que não poderia ser repetidos por Allyson Bezerra. Ambos eram a vaidade e a manutenção de rosalbistas na gestão. Leia AQUI.
A referência à calmaria no título é irônica, na medida em que denota o desinteresse do eleitorado natalense por novidades na gestão municipal. Pela segunda vez consecutiva, um prefeito é reeleito no primeiro turno sem ter realmente uma marca estruturante de gestão. Também pela segunda vez a vitória ocorre no primeiro turno, com relativa facilidade. Até os percentuais em votos válidos dos três candidatos (incluindo o titular no cargo) que obtiveram mais de 10% dos votos válidos foram parecidos com os da disputa de 2016 (ver tabela abaixo).
Não há anomalia entre o resultado eleitoral e a popularidade do ocupante do cargo. O prefeito Álvaro Dias (PSDB), o vice eleito em 2016 que assumiu o cargo em 2018, após a saída do titular para a disputa de governador, gozava de elevada taxa de aprovação (no indicador binário aprova/desaprova) do eleitorado, chegando a 66% na pesquisa Seta divulgada em 2 de novembro. O mesmo deu-se na competição de 2016 com Carlos Eduardo Alves (PDT), seu antecessor e integrante da família política Alves.
Há dois legados políticos, todavia, cujos efeitos não podem ser mensurados diretamente, que precisam ser mencionados aqui. A desastrosa gestão de Micarla de Sousa (PV), que apareceu como novidade em 2008 com uma campanha eficiente que a levou a vencer a atual governadora Fátima Bezerra (PT), então deputada federal, já no primeiro turno. No comentário político, é comum a constatação de que o eleitorado da capital potiguar tornou-se cauteloso a partir de então – o que pôde se verificar com o retorno de Carlos Eduardo à Prefeitura no pleito de 2012. Ele já havia ocupado o posto entre 2002 e 2008.
O segundo legado é o da fraqueza da oposição municipal, que não consegue estabelecer um contraponto persistente aos prefeitos na Câmara Municipal e no debate público. Os candidatos só aparecem como oposição estritamente municipal no ano da eleição, reforçando a já referida cautela do eleitor, que decide contra eles. Tais fatores são basicamente locais, não podendo ser atribuídos seja ao contexto potiguar seja ao nacional.
É possível detectar duas diferenças importantes entre as duas competições. Primeiro, houve maior dispersão no número de candidatos a prefeito neste ano, com o lançamento de dez aspirantes. Isso em nada dificultou, porém, a tarefa do prefeito em relação ao seu antecessor. Segundo, um candidato da direita radical atingiu o limiar de 10% dos votos, na figura de Sergio Leocadio (PSL), um delegado da Polícia Civil – ele concorreu, inclusive, pelo mesmo partido ao qual já pertenceu o presidente Jair Bolsonaro. O senador Jean-Paul Prates (PT) apenas amealhou alguns pontos a mais do que o seu correligionário, o hoje secretário estadual Fernando Mineiro (PT).
A fisionomia da campanha na capital foi marcadamente diferente dos eventos congêneres no interior. O uso de máscaras pelos políticos e por parte dos seus apoiadores parece ter sido maior em Natal, assim como foram menores o entusiasmo e as aglomerações nas ruas produzidos pela corrida eleitoral. Mesmo disputas pouco acirradas geraram maior interesse no interior potiguar.
Por fim, é bom registrar que a força ampliada do prefeito Álvaro Dias não significa necessariamente que ele está livre para a disputa de governador em 2022. Como parte do acerto entre PDT e PSDB, o ex-prefeito Carlos Alves, que cogita disputar novamente o pleito de governador, indicou como vice-prefeita Aila Cortez, pedetista e parente de sua esposa. Uma eventual saída de Dias implicaria o retorno do PDT à titularidade do cargo.
Disputa eleitoral em Mossoró segue padrão interiorano
Em contraste, a campanha na segunda maior cidade do estado, Mossoró (uma eleição ainda de maioria simples) seguiu o referido padrão interiorano, sendo bastante disputada entre a prefeita Rosalba Ciarlini (PP), uma integrante da família política Rosado, e o deputado estadual Allyson Bezerra (SD). A “Rosa”, como é conhecida no vocabulário político local, não havia perdido nenhuma eleição para a Prefeitura da cidade desde 1996, tendo apoiado candidaturas vitoriosas em 2004, 2008 e 2012. Nos demais pleitos, 1996, 2000 e 2016, ela própria logrou a vitória. Seu primeiro triunfo foi em 1988.
Em termos táticos, o objetivo central de Rosalba tinha que ser dividir o voto da oposição, em virtude do fato de sua avaliação positiva, a soma de ótimo e bom nas pesquisas, ser medíocre, variando entre 30% e 35% na maioria das sondagens. Bezerra, no entanto, tornou-se rapidamente o único candidato competitivo da oposição durante a campanha, canibalizando votos que poderiam ir para outros nomes oposicionistas.
A rigor, o pleito adquiriu uma polarização similar à observada em disputas de segundo turno, com a baixa avaliação da gestão sendo o limitador central do crescimento da prefeita. No fim, Allyson Bezerra obteve mais de 65 mil votos (47,52%), contra pouco mais de 59 mil (42,96%) da atual gestora. A derrota de Rosalba pode vir a marcar um declínio dos Rosado, que já chegaram a eleger dois governadores do estado, incluindo ela própria.
Finalmente, cumpre falar sobre eventuais efeitos da disputa sobre o âmbito estadual e a eleição de 2022. Espelhando de certa forma o resultado nacional do partido, o PT potiguar também teve desempenho insatisfatório no que toca às eleições de prefeito. A agremiação lançou candidatos em 26 dos 167 municípios do RN, tendo sido vitoriosa em apenas três cidades; um caso ainda está sub judice.
O resultado pode gerar certa perplexidade, dado o fato de que a atual governadora é uma petista. No entanto, Fátima Bezerra tem seu próprio ciclo político, que culminará com a tentativa de reeleição em 2022. Ela enfrentou queda generalizada de popularidade neste ano, em função da reforma previdenciária estadual e das medidas restritivas contra a pandemia. Fátima parece focada na área da segurança pública, com a contratação de mais de mil policiais militares, e na quitação de duas folhas salariais deixadas pelo governo anterior. É fato também que sua popularidade começa a melhorar em vários municípios. Na minha avaliação, não é possível inferir dos resultados das disputas municipais uma fraqueza eleitoral da gestora em 2022.
*É professor associado da UFRN e doutor em Ciência Política pelo (antigo) Iuperj. Texto extraído do UOL.
Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2020, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.com.br
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