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Geringonça

Por Fernando Haddad

O governo parece uma geringonça. O termo soa impróprio à luz da experiência exitosa do governo português de centro-esquerda que adotou orgulhosamente o apelido sugerido pela direita em tom pejorativo.

Mas, se ele sugere uma engrenagem frágil, montada com o parafuso de uma máquina e a porca de outra, não temos melhor termo para nos referir ao governo Bolsonaro.

Nossa geringonça tem três componentes: autoritarismo, fundamentalismo e neoliberalismo. Ainda que um ministro possa tentar conciliar as três agendas em uma, existe uma certa divisão de trabalho na Esplanada.

Cerimônia de 200 dias de governo Bolsonaro

Moro e os generais respondem pelo autoritarismo. Trabalham para intimidar os Poderes da República, aparelhar os órgãos de fiscalização, ameaçar a imprensa, armar a população, sobretudo milicianos, etc.

O grupo não tem apreço pela democracia. Informado da intenção de Eduardo Bolsonaro de reeditar o AI-5, o general Heleno limitou-se a dizer que tinha dúvidas sobre como operacionalizar a ideia.

As pastas da Educação, do Meio Ambiente, dos Direitos Humanos e das Relações Exteriores formam o núcleo fundamentalista. Ciência, cultura, formação de crianças e jovens e multilateralismo são seus alvos prediletos. As armas adotadas são as clássicas: censura, subfinanciamento e subfilosofia.

Na briga com o PSL, Bolsonaro cogitou migrar para o partido de Edir Macedo, o bilionário que controla a Record, a Igreja Universal e o Republicanos (ex-PRB). A Justiça deixou prescrever processo contra Edir Macedo, pronto para julgamento, por lavagem de dinheiro e associação criminosa, o que desimpedia o movimento. Mas a impossibilidade de Bolsonaro levar consigo o dinheiro do milionário fundo partidário inviabilizou a operação.

O núcleo neoliberal é liderado por Guedes. A política econômica se apoia em algumas premissas: corte de direitos sociais, precarização do trabalho, privatização, liberalização unilateral do comércio etc.

Deve entregar crescimento econômico medíocre e mais desigualdade social. Quando isso acontecer os governistas certamente responsabilizarão o “ritmo” das reformas, limitado pela democracia (como sugeriu Carlos Bolsonaro), e os neoliberais democratas vão colocar a culpa do insucesso na agenda obscurantista.

Se, do ponto de vista civilizatório, estamos no pior dos mundos, cabe perguntar se politicamente a situação é sustentável.

O governo, por instinto, talvez pretenda contar com o apoio das minorias apaixonadas por cada uma dessas três agendas. Isso poderia garantir sustentação para concluir o mandato e a presença em eventual segundo turno. Aí, bastaria acionar a quarta engrenagem da geringonça brasileira: a máquina de fake news.

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A Operação Lava Jato, nem de longe, detém o monopólio da virtude

Por Fernando Haddad

Diante do desmonte de órgãos de Estado promovido pelo atual governo, um membro da força-tarefa da LavaJato disse numa entrevista à GloboNews que aquele grupo apoiou Bolsonaro para evitar o fim da operação que, segundo ele, eu patrocinaria se ganhasse a eleição.

Antes de tudo, não custa lembrar que Sergio Moro, quando condenou Lula, apontou o ex-presidente como aquele que fortaleceu como poucos as instituições de combate à corrupção, como a Receita Federal, a Polícia Federal, o Coaf, a CGU, a PGR etc., hoje enfraquecidas com sua complacência.

Esta Folha, diga-se, fez reportagem, bem antes das eleições, sobre a inexplicável evolução patrimonial do clã Bolsonaro, origem das investigações recém-paralisadas que tinham por alvo o milionário acervo de bens imóveis transacionados pelo senador Flávio Bolsonaro, para não falar de Fabricio Queiroz e seu “comércio” de veículos, tão ignorado quanto era o seu paradeiro até ontem.

No que me diz respeito, minhas iniciativas no combate à corrupção são bem anteriores ao início da Operação Lava Jato, e eu jamais deixaria de apoiar iniciativas de moralização do serviço público, como demonstra minha conduta à frente do MEC e da Prefeitura de São Paulo.

A criação da Controladoria-Geral do Município de São Paulo foi um marco histórico.

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 Fachada do condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, onde Jair Bolsonaro tem duas casas – Raquel Cunha – 28.jan.2018/Folhapress

Nos primeiros meses da minha administração, desbaratamos a máfia do ISS, que desviou quantia estimada em meio bilhão de reais dos cofres públicos. Recuperamos boa parte daquele dinheiro, punimos corruptores e afastamos dezenas de auditores fiscais, parte dos quais já processados e sentenciados.

Suspendemos a construção do túnel Roberto Marinho a partir da mera suspeita de que a obra estava superfaturada. Odebrecht, UTC e outras empreiteiras foram contrariadas, sendo que a primeira, em acordo de leniência firmado anos depois, confirmou a formação de cartel na licitação da obra, ocorrida muito antes da minha posse.

Tomamos todas as medidas necessárias para pôr fim à inspeção veicular. O Ministério Público tentou, por anos, questionar, sem sucesso, o contrato firmado ainda na gestão Pitta. Só no nosso governo, por determinação do Executivo municipal, o caça-níqueis da Controlar deixou de funcionar.

Tudo isso aconteceu antes da Lava Jato.

O que incomoda na Lava Jato é a sua seletividade e falta de transparência, sugerida, por exemplo, por esta mensagem de membro da força-tarefa captada pelo site The Intercept Brasil: “meus vazamentos objetivam sempre fazer com que pensem que as investigações são inevitáveis e incentivar a colaboração”.

Como se vê, a Lava Jato, nem de longe, detém o monopólio da virtude.

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Pesquisa Consult: Haddad e Bolsonaro estão tecnicamente empatados em Mossoró

Com 51,2% nos votos válidos Jair Bolsonaro (PSL) seria o candidato a presidente da República mais votado em Mossoró. É o que aponta o Instituto Consult em pesquisa encomendada pela 98 FM. Fernando Haddad (PT) ficaria em segundo com 48,8%.

Os dois estão tecnicamente empatados na margem de erro.

Nos votos totais o candidato do PSL tem 40,9% contra 38,3%. Brancos e nulos somam 18,3% e indecisos 2,5%.

A pesquisa foi realizada entre os dias 21 e 22 de outubro em 57 municípios de 12 regiões com margem de erro de 2,3 pontos percentuais para mais ou para menos. Foram ouvidos 1.700 eleitores sendo 120 em Mossoró. O protocolo na Justiça eleitoral é o: RN 04167/2018 e BR-00123/2018.

Primeiro turno

Em Mossoró o presidenciável mais votado foi Bolsonaro com 44.402 (34,17 %) votos. Já Haddad ficou em terceiro lugar com 39.212 (30,17 %) votos.

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Pesquisa IBOPE traz folga de Haddad sobre Bolsonaro no RN

A pesquisa do Instituto IBOPE realizada no Rio Grande do Norte também averiguou os números da corrida presidencial no Estado.

Fernando Haddad (PT) lidera nos votos válidos com  61% dos votos válidos contra 39% de Jair Bolsonaro (PSL).

Nos votos totais Haddad tem 56%, Bolsonaro 35%, brancos e nulos 7% e não sabe/não respondeu 3%.

Ficha técnica

Margem de erro: 3 pontos percentuais para mais ou para menos

Entrevistados: 812 pessoas em 38 cidades

Quando a pesquisa foi feita: 24 a 26 de outubro

Registro TSE: BR-05542/2018

Registro no TRE/RN: RN‐04531/2018

Nível de confiança: 95%

Contratantes da pesquisa: Inter TV Costa Branca

Informações extraídas do http://www.ibopeinteligencia.com/noticias-e-pesquisas/a-poucos-dias-da-eleicao-fatima-bezerra-lidera-com-10-pontos-de-vantagem-nos-votos-validos-no-rn/

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Bolsonaro lidera rejeição, mas chega a empate técnico com Haddad no RN

Nos votos válidos o candidato Fernando Haddad (PT) caiu de 56% para 52% nas intenções de votos entre os potiguares. É o que aponta a pesquisa Seta encomendada pelo Blog do BG. Na contramão disso, o candidato do PSL Jair Bolsonaro subiu de 44% para 48%.

A rejeição é liderada por Bolsonaro com 34% contra 30% de Haddad.

A pesquisa foi realizada entre 19 e 21 de outubro em todas as regiões do Estado e ouviu 1.300 eleitores. O índice de confiança é de 95% e a margem de erro, de 3%. O levantamento foi registrado sob o protocolo RN-0533/2018 e BR-04314/2018.

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Falta água e sabão à ‘frente democrática’ do PT

Por Josias de Souza

 

Numa entrevista de porta de cadeia, o grão-petista Jaques Wagner insinuou nesta quinta-feira (11) que todos os atores políticos comprometidos com a democracia têm a obrigação de aderir voluntariamente à “frente democrática” pró-Haddad. “A responsabilidade com o país nessa esquina da história brasileira é de voluntariado”, declarou Wagner. “Não acho que ninguém tenha que ser convidado. Quem tem responsabilidade tem que vir para dentro de uma plataforma democrática.”

A formulação de Jaques Wagner é tola e desonesta. Flerta com a tolice porque carrega nas entrelinhas a mensagem segundo a qual o PT faz ao país o favor de liderar uma cruzada anti-Bolsonaro. Roça a desonestidade porque o orador bem sabe que seu partido tornou-se um pedaço do problema, não da solução.

Ainda não se formou defronte do comitê de campanha de Fernando Haddad nenhuma fila de lideranças políticas ávidas por aderir à “frente democrática” do PT. Ao contrário. Ciro Gomes voou para a Europa. Marina Silva trancou-se em suas mágoas. Fernando Henrique Cardoso observa a movimentação de esguelha. Todos já foram vítimas de cotoveladas de Lula e do petismo.

Novo coordenador político do comitê de campanha de Haddad, Wagner encontrou os repórteres depois de conversar com Lula na cadeia. Era portador de um recado do presidiário. Ele mandara dizer que o PT, “com seus acertos e com seus erros”, sempre respeitou a democracia e as instituições. Conversa fiada.

A teoria da conspiração contra Lula, a “alma mais honesta desse país”, joga água no moinho antidemocrático do desrespeito às decisões judiciais e da fantasia de uma imprensa venal a serviço de uma elite invisível. As coisas seriam mais simples se pessoas como Lula, Wagner e Haddad admitissem que o PT operou como caixa registradora de propinas e que a cúpula partidária foi parar na cadeia porque cometeu crimes como corrupção e lavagem de dinheiro.

Em vez de autocrítica, Wagner despejou sobre os microfones autoelogios: “Continuo dizendo que o que a gente fez pela democracia brasileira e pelo povo é infinitamente maior do que os erros, que são públicos e eu não preciso relatar.” Os petistas têm dificuldades para chamar seus crimes pelo nome. Preferem classificar de “erros”, eufemismo para roubalheira.

Além de engordar patrimônios individuais, o mensalão e o petrolão não foram senão atentados contra a democracia, mecanismos de compra de apoio congressual com verbas surrupiadas do Estado. Quem acompanhou o processo de julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral, no ano passado, pôde perceber no voto do ministro Herman Benjamin que o mandato de 2014 foi comprado com verbas sujas da Odebrecht. Ao enterrar as ações por 4 votos contra 3, o TSE apenas piorou o soneto.

Com um pano de fundo assim, tão enodoado, a formação de uma frente anti-Bolsonaro encabeçada por Haddad seria vista como uma tentativa de enxaguar a roupa suja do petismo. Salvar-se-ia não a democracia, mas o PT. O petismo parece não ter percebido o que está se passando. Bolsonaro só chegou à antessala do gabinete presidencial porque representa os interesses da maior força política existente hoje no Brasil: o antipetismo. Falta água e sabão à proposta de “frente democrática” do PT.

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Entrevista

ENTREVISTA: ‘O Bolsonaro pegou um eleitor pobre do PT’, avalia cientista político

Luís Eduardo Gomes

Sul 21

O primeiro turno das eleições gerais brasileiras apresentaram o surgimento de uma grande onda pró-Jair Bolsonaro, que levaram o seu partido, o PSL, à segundo maior bancada na Câmara dos Deputados, sair de zero para quatro senadores e quase levar a disputa presidencial em primeiro turno. No final das contas, ele ficou em 46% e enfrentará no segundo turno o petista Fernando Haddad, que fez pouco mais de 29%. Para avaliar o cenário que emerge do pleito e se a disputa presidencial já está decidida ou pode ser revertida, o Sul21 conversou com o cientista político Alberto Almeida.

Almeida é o autor dos livros “A Cabeça do Brasileiro” e o “Voto do Brasileiro”, lançado em maio deste ano e que busca explicar, a partir de dados numéricos, porque o brasileiro vota como vota. Ele também é diretor da Brasilis, empresa especializada em análises e dados sobre a sociedade brasileira, informações sociais, políticas, econômicas e culturais.

Para o cientista político, o resultado das urnas é um reflexo da “rejeição a medalhões”, o que levou, por exemplo, à perda de mandato de 24 dos 32 atuais senadores que buscavam a reeleição. A respeito do segundo turno, ele destaca que a tendência é sim de favoritismo de Bolsonaro, mas ressalta que esta nova etapa elimina “ruídos”, como a presença de candidatos sem chances na disputa, a imporá um debate mais direto de ideias. Para ele, a questão chave para uma possível reversão do quadro por Haddad seria recuperar votos perdidos pelo PT no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, estados onde Dilma Rousseff (PT) venceu Aécio Neves (PSDB) no segundo turno de 2014 e agora deram ampla vantagem para Bolsonaro. Em 2014, Dilma fez 51% dos votos válidos nestes estados. Agora, no primeiro turno Bolsonaro alcançou 48% em Minas e 59% no Rio.

A seguir, confira a entrevista com Alberto Almeida.

Sul21 – Como o senhor recebeu o resultado do primeiro turno da eleição presidencial?

Alberto Almeida: É um resultado de rejeição a todos os medalhões da política, digamos assim. Dos 32 senadores que disputaram a reeleição, apenas oito foram reeleitos. Pega os nomes que não conseguiram, são nomes muito medalhões. Jorge Viana (PT-AC), Eunício Oliveira (MDB-CE), o presidente do Senado, Cristovam Buarque (PPS-DF), Ricardo Ferraço (PSDB-ES), considerado um bom senador, Magno Malta (PR-ES), Lúcia Vânia (PSB-GO), Edison Lobão (MDB-MA), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Roberto Requião (MDB-PR), Lindbergh Farias (PT-RJ), Romero Jucá (MDB-RR). E medalhões que não eram senadores tentaram ao Sanado e também não conseguiram. No Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, Sarney Filho (PV-PA), Marconi Perillo (PSDB-GO), Dilma (PT-MG), César Maia (DEM-RJ), Garibaldi Alves Filho (MDB-RN), Eduardo Suplicy (PT-SP). Todos eles são medalhões, eram nomes conhecidos, e não conseguiram a vaga no Senado. É claro que alguém que vai conseguir ser reeleito, justamente para confirmar a regra, mas a grande maioria não conseguiu. E essa grande maioria são de políticos medalhões. Isso mostra o desejo de dar uma lição grande no ‘establishment’ da política brasileira.

Sul21 – E o senhor avalia que essa é uma lição pelo lado conservador ou considera que o Congresso já era conservador e não mudou tanto o perfil?

AA: A gente vai ter que ver. Conservador em quê? Tem muitos policiais eleitos, esse pessoal acaba sendo, do ponto de vista econômico, gastador. E conservador nos hábitos, na coisa da repressão. Então, tem aí uma salada, uma determinada coisa que ainda precisa clarear. Mas, a princípio, por conta de recursos próprios para a campanha, a gente pode dizer que tem um conservadorismo maior sim.

Sul21 – Qual a projeção que o senhor faz para o segundo turno?

AA: É um segundo turno que vai dar mais clareza para o eleitor sobre as candidaturas. O primeiro turno tinha muito ruído. Só para pegar um exemplo importante, o do Meirelles (MDB). Um candidato que teve menos votos do que o Cabo Daciolo (Patriota) e que tinha o terceiro maior tempo de televisão. Então, para o eleitor, isso é uma confusão tremenda. ‘Como é que esse cara tem tanto tempo de televisão e ele é tão desimportante e defende um governo que eu rejeito e odeio?’ Então, confusões como essa vão deixar de existir no segundo turno. E aí, pro eleitor, a campanha é mais compreensível. Você vai confrontar duas pessoas, duas figuras, dois símbolos, muito claramente. Cada um se auto-elogiando, o que é normal, política é venda, e criticando o outro. Isso é uma coisa. A outra coisa que é importante olhar no resultado eleitoral é que, de fato, o Bolsonaro ficou próximo de ganhar no primeiro turno. Porém, a gente pode fazer uma conta e colocar a maior parte dos votos do Ciro Gomes (PDT), com o Haddad. Pensando em ontem, eu não estou pensando na primeira pesquisa pós-primeiro turno, que tem efeito de mídia e várias coisas, mas pensando em ontem. Se você pegar 12% do Ciro, diminui um pouco, 10%, o Haddad sai de 29% para 39%. Então, vamos dizer que, sem o Ciro, talvez o Haddad tivesse chegado a 40%. Seria 46% a 40%. Nesse aspecto, uma eleição não muito distante, apesar da proximidade do Bolsonaro em relação ao sarrafo dos 50%.

Sul21 – O senhor considera que esse primeiro turno já foi quase o segundo turno, no sentido de que tinha um lado do Bolsonaro e outro que era Haddad/Ciro, visto que os demais candidatos fizeram poucos votos?

AA: Sim. A votação do PSDB é impressionante do ponto de vista negativo. Menos de 5% para presidente. O PSDB, é algo impressionante. Aí depois você tem o Amoêdo e depois todo mundo com 1%. Então, grande parte do voto decidido, com exceção do voto em Ciro Gomes, evidentemente muito maior que os demais. Nesse aspecto, você tem uma quantidade de votos que tende a caminhar para o Haddad, mas creio que, de fato, você tem o favoritismo do Bolsonaro.

Sul21 – O que o Bolsonaro precisa fazer ou evitar para confirmar essa vantagem no segundo turno?

AA: As duas campanhas não têm muita alternativa. O marketing está mais ou menos encaminhado, definido. O Bolsonaro batendo no PT, mais ainda do que ele sempre bateu, colocando a culpa de todos os males do sistema no PT. O PT haveria uma novidade, porque não atacou ainda o Bolsonaro, colocando ele como o candidato da elite, que apoiou o governo Temer, caminhando por aí.

 

Sul21 – A estratégia que o Haddad tem para reverter o quadro passa por tentar vincular o Bolsonaro ao governo Temer?

AA: É difícil dizer, pode ser que sim. A gente vai ver em função dos pronunciamentos do Haddad antes de começar o programa de TV e depois que começar. Vamos ter que aguardar.

Sul21 – O que restou ao auto-intitulado “centro democrático” depois das votações de ontem? Seria bom para partidos como PSDB e MDB aderir ao Bolsonaro ou isso pode significar um encolhimento maior nas próximas eleições?

AA: Olha, o eleitor já vai definido, esses apoios não importam, essa coisa de fazer campanha para outro. Eu acho que isso aí já está definido. O eleitor desses partidos, se fizer uma pesquisa, já sabe em quem votar. Esse pessoal, no fundo, na prática, vão ser observadores do segundo turno, na minha visão. Porque um deputado não vai fazer campanha para um candidato a presidente, não vejo dessa forma. Você pode ter as máquinas estaduais, os governadores mobilizando as suas máquinas locais, aí sim.

Sul21 – Mas o senhor avalia que o Alckmin declarar apoio para alguém não interferiria?

AA: Eu acho que não muda nada, isso daí é um mito. Ah, o ‘Ciro declara apoio’, acho que não muda nem pouco. O eleitor do Ciro tem menos identidade com o Bolsonaro, obviamente.

Sul21 – Haveria um eleitor que votou em um lado e poderia fazer a migração para o outro no segundo turno? Há espaço nos votos do Bolsonaro para migrar para o PT, e vice-versa?

AA: Sim. O Bolsonaro pegou um eleitor pobre do PT, em particular no Rio de Janeiro e Minas Gerais, que foram estados bem desfavoráveis para o PT. O que aconteceu nessa eleição? MG e RJ não entregaram ao PT os votos que costumavam entregar. Aí o PT tem que ir lá tentar recuperar. Talvez não dê para recuperar, mas uma parte desses votos é possível.

Sul21 – Estes serão os principais palcos eleitorais que o PT tem para prestar atenção?

AA: Sim, não tenho a menor dúvida.

Sul21 – Falamos de apoio de candidatos nos estados a Bolsonaro ou Haddad. Por outro lado, o apoio deles a algum candidato a governador pode influenciar? A gente viu candidatos surgirem do nada no RJ e em MG.

AA: Isso aí é um mito. Ninguém vai apoiar um candidato porque ele apoiou o Bolsonaro. Se você pegar em Minas, tinha aquele Márcio Lacerda, que saiu no acordo do PT com o PSB. Todo mundo previa que o Lacerda ia ganhar, porque em Minas não iriam querer nem PT, nem PSDB. O Lacerda saiu e vai ganhar o outro, que não é nem PT, nem PSDB, mas não tem nada a ver com ele ter declarado voto no Bolsonaro, isso aí é um mito.

Sul21 – O senhor já consegue projetar como devem vir as primeiras pesquisas?

AA: Elas devem vir mais favoráveis ao Bolsonaro em função da mídia positiva que ele teve. Da surpresa relativa ao desempenho dele.

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UM OLHO NO GATO E OUTRO NO PEIXE

Por Francisco Carlos

Embora rejeite rótulos e patrulhamento ideológico, me declaro defensor da liberal democracia, do livre mercado e do meio-ambiente. Repudio a xenofobia, o racismo, a homofobia, a tortura, o preconceito religioso e de classe. Denuncio o maniqueísmo ideológico e condeno a forma majoritária de fazer campanha político-eleitoral. Defendo a liberdade política, científica e religiosa, como princípios para garantir igualdade de direitos e de oportunidades.

Em relação à eleição neste ano de 2018, rechaço as estratégias político-eleitorais dos dois principais candidatos à presidência da república e seus seguidores, que buscam demonizar adversários e construir cenários de medo, tensão e divisão entre os brasileiros. Com isso, esperam garantir plateia e eleitores. Apesar disso, o Brasil não está na iminência de uma guerra civil, nem se tornará o que cada candidato afirma, caso seu oponente seja eleito.

Partidos constroem discursos para representar e garantir espaços de apoio na sociedade, um pedaço (partido) da sociedade, que lhe garanta sustentação para alcançar o poder e mantê-lo. Para isso, esperam que o resultado da sua pregação seja expresso na forma de votos favoráveis.

Os partidos, por meio dos candidatos e da fé dos seus seguidores, procuram convencer os eleitores pela negação e desconstrução do oponente, em detrimento da valorização de ideias e propostas. Os candidatos buscam obter apoio social projetando características negativas no adversário, em detrimento da valorização da qualidade e viabilidade da sua agenda política, econômica, social e ambiental.

O candidato Jair Bolsonaro e seus seguidores propagam que, caso Fernando Haddad seja eleito, ocorreria uma fragilização da família e dos bons costumes cristãos, com disseminação da ideologia de gênero e do aborto, aconteceria uma ruína da economia devido ao viés estatizante e o crescente déficit público, ocorreria o avanço da violência, consequência da liberação do consumo de drogas, leniência com a bandidagem e a declarada libertação de 350 mil condenados a pequenas penas. Além disso, o Brasil passaria a ser governado por dirigentes corruptos, que levariam o país a uma ditadura socialista e ao caos social semelhante ao que ocorre na Venezuela.

O candidato Haddad e seus seguidores, por sua vez, propagam que uma eventual eleição de Bolsonaro, submeteria o país a uma ditadura fascista, na qual gays e negros seriam perseguidos e discriminados. Os pobres perderiam seus direitos, os trabalhadores seriam espoliados e as mulheres sofreriam ainda mais sob o jugo machista, diminuindo seu status humano e social. Além disso, a violência social cresceria porque o candidato defende a liberalização do porte de armas e apresenta um viés belicoso, propenso a soluções não democráticas.

De algum modo, os dois candidatos oferecem elementos que facilitam a adoção desses discursos. Contudo, afirmo que essa retórica está substancialmente equivocada e maculada pelo objetivo de poder ou, no mínimo, pela necessidade de garantir a fidelização de militantes políticos. As campanhas eleitorais não deveriam ser pautadas pela propaganda negativa e a rotulação dos adversários com adjetivos depreciativos.

Infelizmente, milhões de brasileiros reproduzem discursos construídos para servir a estratégias de poder, como verdades a qual todos devem se converter. Neologismos pejorativos são construídos para rotular e depreciar as qualidades do oponente: Eleitor de Haddad é petralha ou esquerdoparta, ou seja: esquerdista doentio, ativista gay, corrupto e/ou defensor de corruptos. Eleitor de Bolsonaro é bolsomínio ou facista, a saber: misógino, homofóbico e racista com tendências ditatoriais. Quem não assimila a propaganda politica automaticamente perde o respeito, sem direito a um cordial cumprimento.

Refuto esse maniqueísmo. Denuncio a insensatez e não aceito incentivar ou fazer parte desse tipo de política e alerto: minha posição é apenas uma entre outras possíveis. Acredito ser a melhor postura, mas não a defendo como uma verdade universal.

Acredito que não há santos ou demônios em nosso escopo político-partidário. Observando de perto, o mais santo guarda um tridente debaixo da túnica e o demônio projetado no outro, tem uma auréola. A política não é a luta do bem contra o mal, é um embate ideológico de verdades relativas, dinâmicas e passageiras. O que se quer, é alcançar e manter posições sociais.

A política sempre expressa verdades limitadas e provisórias, razão pela qual não é prudente assumir fervorosa e irremovível defesa de posições político-partidárias. Como não é um dogma, a política é fluída, sujeita a lentas alterações ou radicais mudanças de posição. Em condições democráticas, é um ambiente no qual se expressa o antagonismo de ideias e visões conflitantes sobre o mundo ideal.

A cada eleição, as imagens projetadas sofrem alterações, se invertem ou se misturam. Neste ano, partidos e candidatos rotulados de golpistas devido ao impeachment de Dilma Rousseff, apoiam ou são prazerosamente apoiados pelos golpeados, em nome de convenientes arranjos de curto prazo para obtenção de poder político. Com isso, o adversário que personifica o mal, recebe uma benção redentora.

Neste enredo, há os ideólogos e os propagadores de discursos e plataformas políticas. Os ideólogos elaboram estratégias e discursos, sempre sabem o que fazem e o que querem. Os propagadores estão divididos entre os disseminadores conscientes e os ignorantes. Alguns conhecem os equívocos e limitações do discurso, enquanto outros, movidos pela boa fé, não conseguem perceber o maniqueísmo ao qual estão sujeitados.

O Brasil não está dividido entre fascistas e comunistas, ou mesmo entre maquiavélicos ideólogos e alienada massa de manobra. Há outras divisões e alternativas. Embora o tema não esteja esgotado, está lançado o apelo em favor da moderação, da parcimônia e do equilíbrio e fica uma exortação: defenda firmemente suas crenças, sempre considerando a possibilidade do erro e o que pode aprender com seus oponentes. Escolha seu candidato, com um olho no gato e outro no peixe.

*É professor da UERN e vereador pelo PP em Mossoró/RN.

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Análise

Lula quer repetir Perón ao tentar transferência de votos

Haddad no desafio de “ser” Lula (Foto: RICARDO STUCKERT AFP)

FLÁVIO GAITÁN E FABIANO SANTOS*

EL PAÍS

A questão da transferência de votos tem, por justas razões, merecido espaço no Observatório das Eleições. Até o momento, a possibilidade de se ter nas eleições de outubro massiva transferência de votos de eleitores de Lula para a candidatura por ele indicado em sua substituição dada o virtual impedimento de sua própria tem sido examinada a luz da experiência brasileira, tanto recente, quanto mais remota. Não obstante, ao que tudo indica, a inspiração de onde o Lula extraiu a ideia de competir “através de sua ausência”, em nome do seu legado, não reside no Brasil, mas sim em nossos vizinhos, mais especificamente na Argentina, em inícios dos anos 70 do século passado.

Por ocasião das eleições de 1958 pela primeira vez ocorre uma espécie de transferência de votos do líder impedido de participar nas eleições, Juan Perón, para outro candidato, Arturo Frondizi, da Unión Cívica Radical Intransigente, um intelectual nacionalista representante dos setores mais moderados e abertos à possibilidade de acabar com a proscrição até então vigente ao peronismo. Há divergências sobre se houve ou não um pacto formal entre Perón e Frondizi, mas os fatos históricos indicam que os peronistas votaram no candidato da UCRI com a esperança de que, uma vez chegado ao poder, aquele legalizaria os sindicatos e acabaria com o veto à participação dos peronistas no jogo eleitoral. Essa aliança, real ou não, possibilitou a vitória de Frondizi sobre Ricardo Balbin, do setor radical menos propenso ao diálogo. O triunfo de Frondizi surpreendeu aos setores antiperonistas e mostrou que, apesar dos intentos do governo autoritário precedente, o peronismo continuava vivo.

A proscrição do peronismo, não obstante, perdurou até 1973, embora medidas de relaxamento da proibição tenham sido levadas a cabo por Arturo Frondizi (presidente entre 1958 e 1962), mediante a aprovação das leis de anistia e de liberdade sindical e a permissão para o movimento peronista disputar eleições através de nomes alternativos, o mesmo ocorrendo durante a presidência de Arturo Illía (entre 1963 e 1966). Para todos os efeitos práticos, contudo, o Partido Justicialista continuava impedido de participar do jogo eleitoral e Juan Perón, proibido de entrar no país.

Depois de novo período turbulento, eleições foram convocadas para 11 de março de 1973. Novo Estatuto Fundamental, embora temporário, foi aprovado em de 1972, estabelecendo o voto direto, período de governo de quatro anos com possibilidade de reeleição e segundo turno caso nenhum candidato obtivesse 50 por cento mais um dos votos válidos. Em teoria, o processo eleitoral representava o final de um longo ciclo de proscrição peronista. No entanto, o Estatuto, datado de 27 de julho, rezava que em 25 de agosto, menos de um mês depois, todos os candidatos deveriam ter seu domicílio consagrado na cidade de Buenos Aires. Perón, residente na Espanha àquela altura, obviamente ficara impedido de ser candidatar.

Agora sim, o fenômeno da transferência de votos ocorre em sua plenitude. De fato, em torno da figura de Perón se configura enorme coalizão eleitoral ao incluir a Frente de Esquerda Popular, o Movimento de Integração e Desenvolvimento, o Partido Conservador Popular e o Partido Democrata Cristão, coalizão denominada de Frente Justicialista de Libertação (FREJULI), com Hector Cámpora-Vicente Solano Lima como candidatos “nominais”.

Na campanha, utilizando-se do lema “Cámpora no governo, Perón no poder”, o peronismo buscou deixar bem claro que Cámpora no governo era, na verdade, um estratagema para que Perón retornasse ao governo. Mesmo em um contexto de grande hostilidade de vastos setores conservadores, de partidos políticos, do poder judiciário, parte do exército e do ex-ditador Lanusse, o FREJULI ganhou em todo o país, com pouco menos de 50 % dos votos, resultado que levou o segundo colocado, Ricardo Balbin, a abrir mão de participar no segundo turno. Em 25 de maio de 1973 Cámpora tomou posse, mas convoca novas eleições. Em setembro de 1973, 62% dos argentinos puderam, finalmente, votar em quem achavam a melhor opção para conduizir o país. Juan Perón foi eleito presidente pela terceira vez.

O que a experiência argentina nos ensina? Condições muito específicas permitiram que o fenômeno ocorresse. Mesmo assim, os desdobramentos não foram nem um pouco alvissareiros. Claro está que a morte de Perón e a assunção de sua então esposa, Isabel Perón, que havia concorrido em sua chapa como vice, foram ingredientes inesperados e importantes para o desastroso desenlace de 1976. De toda forma, ao se pensar no caso argentino e sua transplantação para a experiência brasileira contemporânea, com o provável deslocamento de votos de Lula para o candidato do PT, Fernando Haddad, não é possível esperar que um triunfo da estratégia cancele os elementos mais permanentes de resistência a um governo de perfil mais popular. Em uma palavra, não modificará o quadro de casuísmo judicial, ameaças autoritárias de setores militares, nem convencerá a grande mídia de seu óbvio viés.

Flávio Gaitán é professor na UNILA e Fabio Santos, do IESP e UERJ.