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Ataque raso

O mundo das redes sociais desvendou o mistério de uma das áreas mais difíceis de trabalhar na pesquisa em ciências sociais: os estudos sobre recepção das notícias.

A teoria da agulha hipodérmica não se confirma. O público não absorve as notícias como algo pronto e acabado. Pelo contrário duvida e muito do que nós jornalistas noticiamos.

A profissão que escolhi está em crise.

Mas essa reação não se dá por critérios como cidadania ou desejo de querer esclarecer os fatos. Numa sociedade politicamente polarizada como a nossa as versões são mais importantes.

A pós-verdade controla as mentes. As pessoas acreditam no que querem e não no que se impõe como fato. A cobrança por imparcialidade não é fruto do clamor por bom jornalismo, mas para que se denuncie os adversários e se cale contra os aliados.

Resumindo: ninguém é imparcial.

Essa postura é ruim porque empobrece qualquer debate. É péssimo porque a verdade é a maior vítima.

No meio disso, os argumentos desaparecem. É como se o público quisesse um jornalista moldado à sua corrente de pensamento. Enxergar qualidades em quem pensa diferente é um exercício de bom senso pouco usado.

O mais importante é “lacrar”, “mitar” ou coisa que o valha. O interesse maior não é travar o bom debate, mas deslegitimar quem está tentando propor uma discussão. É uma tática boa para o líder político que está se beneficiando com isso, mas ruim por ser autoritária. Trata-se de uma demonstração, também, de indigência intelectual de quem apela a este recurso. É preciso refletir sobre o que é escrito, diferenciar notícia de artigo de opinião.

Nas redes sociais, principalmente no Facebook, percebo um deserto de pobreza argumentativa. A maioria das pessoas aparecem para xingar quando discordam. “comunista”, “petista”, “assessor do PT”, “parcial” e tantos outros adjetivos fazem parte da minha rotina. Já sofri com isso, hoje dou boas risadas embora não seja tão paciente quanto dizem.

Antes de criticar um texto se pergunte: “por que discordo?”, “no lugar dele o que eu escreveria?”, “tem alguma mentira/omissão?” ou “o que faltou neste texto?”. É uma forma mais interessante de se debater os fatos.

As Redes Sociais viraram apenas um ponto para o julgamento inquisitorial de haters. Lidar com isso será um grande desafio para os jornalistas nos próximos anos. Uns preferem se ausentar do debate em nome da saúde mental, outros escolhem tentar argumentar dando murro em ponta de faca. Cada um reage dentro da sua visão de mundo e eu respeito quem prefere não se desgastar.

Gostaria mesmo era de que as pessoas rebatessem um artigo ou notícia que publico com argumentos. Para mim seria um exercício intelectual interessante porque me levaria a refletir sobre o que estou produzindo.

Pena que raramente acontece.

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Nem leu e já tem opinião formada sobre o assunto

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Por Alexsandro Ribeiro*

Para um bom entendedor, meia palavra precisa da outra metade para de fato dizer alguma coisa. Aliás, precisa do contexto. Estou me referindo ao que está por trás das reportagens, títulos e imagens compartilhadas nas redes sociais, que nem sempre condizem com o que está lá na página original da notícia. Isso mesmo. Tem muita gente formando opinião e debatendo na superficialidade da manchete da reportagem.

Não como referência científica, mas mais a título de ilustração, sou jornalista e tenho, junto com outros repórteres, uma agência de notícias. Toda matéria publicada no site ganha asas a partir das redes sociais digitais. Quando comparo os dados de tráfego e interação nas redes e no site, as contas não batem. O volumoso número de curtidas e compartilhamento no Twitter, Facebook, Linkedin e outros não condiz com o que o relatório de cliques no site aponta. Em certas matérias, mais de 90% passou para a frente um texto que não leu.

De fato, o mais curioso, é que ao compartilhar, alguns até comentaram criticando ou reafirmando a matéria. Justamente em um momento de análise e de recebimento de dados, o internauta inverte o processo e faz com que a emissão de opinião se sobreponha à etapa de leitura e de reflexão da informação. Agora sim, com um caráter mais científico, a Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, fez um experimento há três anos com usuários do Twitter. Links de reportagens foram compartilhados na rede a partir de encurtadores de URL, e o resultado foi revelador. Cerca de 60% dos usuários que compartilharam e comentaram não clicaram nos endereços.

Quando a leitura não ultrapassa a básica percepção do que o título da matéria e a imagem veiculada dizem, não se deve esperar que o debate ou a verborragia raivosa sejam mais profundos que uma poça d’água. Toma-se o livro pela capa, e é neste espaço que surge o problema da desinformação. O cenário que isso resulta pode ser o mais diverso possível, que vai desde uma discussão sem pé nem cabeça que não dará em nada, até o compartilhamento de fake news, mentiras, notícias desatualizadas e golpes. E vale destacar que quem compartilha assume a responsabilidade tanto quanto quem cria, afinal de contas, está dando o seu aval.

Ver o título e dar a matéria como lida a partir daí, ou ainda, nem ler o título e já ir comentando somente pelo tom da discussão revela uma parcela do comportamento de irresponsabilidade de internautas na rede, que ainda teimam em achar que estão navegando em um espaço sem regras e sem qualquer reflexo com a “vida real”.

Mas tem conexão, e as barreiras entre o on-line e o off-line já deixaram de existir, sobretudo quando efeitos práticos, como eleições presidenciais e decisões políticas são tomadas ao sabor dos ânimos e do fluxo de mensagens na rede. Não ler e achar que esse mundo digital é de brinquedo é o que nos faz por conta própria enviar uma foto para um aplicativo que vai usar nossa identidade facial para interesses privados, é o que nos motiva a clicar em contratos digitais que dão direito a terceiros acessarem nossos dados particulares, a nossa privacidade.

O principal agravante aqui é a falsa sensação de que para existir no ambiente digital as pessoas precisam manifestar sua presença a todo momento, como se somente o navegar não fosse o suficiente se não for acompanhado de ações concretas, como curtir e compartilhar. A vigilância mútua dos usuários, as cobranças diárias para que as pessoas tomem posição entre opções maniqueístas, a abominação e ojeriza aos “isentões”, e a ilusória sensação de que os outros estão produzindo algo e que, portanto, é obrigatório agir para não ficar para trás, são situações que pressionam o internauta a ignorar os fatos e conteúdos, e a seguir o comportamento de horda.

Não há dica aqui que substitua a sempre boa companheira “atenção”. A garantia de que você não está contribuindo para a desinformação está a um clique de distância. Ou seja, começa por se certificar que não está passando para frente uma informação sem qualidade ou falsa. Não adianta se esconder na desculpa de que curtiu ou compartilhou porque a informação veio de um amigo de muita estima e que dá o aval para tudo o que ele produzir.

Por isso, no combate ao debate raso e sobretudo à desinformação, é preciso ultrapassar a superficialidade do título e da imagem compartilhada. Antes de digitar, curtir, manifestar apoio ou passar para frente, certifique-se sempre de que leu o conteúdo original e de que ele não é falso. Existe um abismo entre o que está nas redes sociais e o conteúdo replicado. E tem muita gente caindo neste buraco sem fim e puxando muitos outros junto. A gratuidade do compartilhamento e dos comentários é tão perversa quanto a intenção de quem busca desinformar na rede. Portanto, é fundamental parcimônia, e sobretudo, navegar com a razão e menos com o coração.

*É professor nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Internacional Uninter. 

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Deputada tem foto e nome usado em perfil fake em rede social

No último sábado a deputada estadual Isolda Dantas (PT) tem foto e nome associado a um perfil fake no Facebook, trocando o sobrenome dela por “Carvalho” e usando uma foto da parlamentar.

Assim que tomou conhecimento ele usou o perfil dela no Twitter para informar o fato e pedir que os seguidores denunciassem.

“INFORME: criaram um perfil fake com meu nome e foto no Facebook. Escreveram um texto, tiraram print e saíram espalhando tal texto nas redes social. Tenho apenas uma conta no Twitter, Instagram e apenas uma conta no Facebook. Denunciem um perfil fake sempre que encontrarem”.

Em seguida ela foi a Delegacia de Plantão no Bairro Alto de São Manoel fazer um Boletim de Ocorrência.

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Comentários em vídeo e programa estreiam em nosso canal no Youtube

Estamos ultimando os preparativos para o retorno das análises em vídeo da política nacional e potiguar que serão feitas a partir da biblioteca do editor desta página.

Outra iniciativa do nosso canal vai ser o programa Cinco Perguntas quando vamos selecionar diariamente cinco perguntas feitas pelo público nas redes sociais e demais canais de comunicação e vamos comentar.

Até a próxima semana teremos a estreia do Cinco Perguntas. Os comentários começam ainda hoje ao vivo no canal.

Assine o Canal do Bruno Barreto AQUI e fique de olho nas novidades.

Interatividade é tudo!

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Bolsonaro bloqueia deputada do RN em rede social

A deputada federal Natália Bonavides (PT/RN) foi bloqueada no Twitter do Presidente Jair Bolsonaro, na noite de ontem (23). Em virtude das críticas feitas ao presidente sobre a falta de preocupação dele em lidar com a grave situação das queimadas na região Norte do país, a parlamentar potiguar não pode mais interagir nas postagens do Twitter de Bolsonaro, que tem sido um canal oficial de pronunciamento do presidente.

“Nossa página no Twitter ficou impedida de falar diretamente com o perfil do presidente, em mais uma demonstração da incapacidade que ele possui para lidar com críticas. No momento em que nossas florestas estão queimando, Bolsonaro prefere ignorar quem denuncia seu autoritarismo e seu entreguismo”,  declarou Natália.

Antes mesmo de tomar posse, Bolsonaro impediu o acesso de diversas pessoas ao seu perfil do Twitter. Esta mesma postura, que já foi tomada pelo presidente Donald Trump e considerada ilegal pela justiça americana, também não está de acordo com a legislação brasileira. Como Bolsonaro utiliza sua rede para anunciar ações do governo, ele precisa permitir o acesso das cidadãs e cidadãos ao seu perfil, sob pena de descumprir o princípio da publicidade e o direito de acesso à informação.

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Facebook é condenado pelo TJRN por manutenção de perfil falso

Os constrangimentos e os abalos de ordem moral causados por um perfil falso criado e mantido na rede social Facebook, receberam uma resposta da Justiça estadual com a condenação da empresa a excluir o perfil falso e a pagar a quantia de R$ 6 mil em favor de uma cidadã de Mossoró, vítima deste tipo de prática ilícita.

Desembargadores da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça, por unanimidade de votos, negaram recurso do Facebook e mantiveram a sentença condenatória da 5ª Vara Cível de Mossoró na Ação de Indenização por Danos Morais a rede social.

O Facebook Serviços On Line do Brasil Ltda. apelou da sentença proferida pela 5ª Vara Cível de Mossoró, que confirmou liminar de exclusão de perfis falsos intitulados como “Klara Hanna” e “Camila Lobato”, veiculados em seu sítio virtual e condenou a rede social a indenizar a autora, a título de compensação por danos morais, no valor de R$ 6 mil, mais juros e correção monetária.

O Facebook alegou no recurso a impositiva necessidade de aplicação do art. 19, “caput”, e § 1º, do Marco Civil da Internet, que exime os provedores de aplicação da responsabilidade subjetiva por conteúdos publicados por seus usuários, a qual somente se configura se descumprir ordem judicial a tanto, o que não se configura nos autos. Eventualmente, pediu pela redução do valor da indenização por danos morais.

Responsabilidade

Para o relator, desembargador Vivaldo Pinheiro, a sentença não merece qualquer retoque. Ele explicou que, diante da ausência de disposição legislativa específica, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), havia firme jurisprudência segundo a qual o provedor de aplicação passava a ser solidariamente responsável a partir do momento em que fosse de qualquer forma notificado pelo ofendido.

Com o advento da Lei 12.695/2014 (Lei do Marco Civil), publicada em 24 de abril de 2014, afastou-se a responsabilidade do provedor de conexão de internet dos dados gerados por terceiro, tornando-se responsável, apenas, quando houver omissão após determinação judicial. Todavia, o advento da lei se deu posteriormente ao fato descrito no processo analisado, isto é, a lei nova não retroagirá, não podendo ser aplicada a fatos constituídos em momento anterior a lei.

Para fatos ocorridos antes da entrada em vigor do “Marco Civil da Internet”, deve ser obedecida a jurisprudência então consolidada do STJ, no sentido de que o provedor do conteúdo reponde solidariamente com o autor direto do dano quando não providenciar a retirada do material do ar no prazo de 24 horas contados da notificação extrajudicial do ato ilícito. “Na hipótese dos autos, como o Marco Civil da Internet não se encontrava em vigor, não há que se falar em violação a seus dispositivos, tão pouco em insegurança jurídica como pretende o apelante”, assinalou.

Perfis falsos

E completou: “Na hipótese em questão, é incontroversa a criação, na plataforma Facebook, de perfis falsos, fazendo uso indevido da imagem da apelada para contatar homens, com intuito claramente sexual, demonstrando promiscuidade, e causando macula a imagem da requerente, que inclusive chegou a ser abordada da rua pelo nome de ‘Camila’ o que lhe causou grande constrangimento”, comentou.

De acordo com o relator, a inércia do Facebook fez com que as imagens da vítima continuassem na rede social sendo veiculada em perfis falsos, sendo retiradas somente em 28 de agosto de 2013, após determinação judicial. Assim, entendeu por configurada a conduta ilícita da empresa, ao manter o perfil falso na rede social, mesmo após a denúncia feita pela vítima e por terceiros.

“Assim, indiscutível o dano moral ao presente caso, restando plenamente configurado, uma vez que a recorrida teve sua imagem exposta perante diversas pessoas, em virtude de informações que lhe causaram constrangimentos e abalos de ordem moral”, concluiu.

Texto: Assessoria TJRN

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Mentes binárias: a infértil cobrança por tratamento igual para situações diferentes

O Facebook é a mais tóxicas das redes sociais. Comparada à “ilha de caras” do Instagram ou à objetividade do Twitter, o “face” se torna ainda mais doentio.

Em Mossoró, tenho visto muitas discussões inférteis e desonestas que matam de vergonha pessoas com o mínimo de bom senso.

Ter posição é importante. Cegar-se por ter posição é patético.

Salário atrasado é um tema recorrente nos debates. Segundo a presidente do Sindserpum Marleide Cunha desde o início da gestão a prefeita Rosalba Ciarlini (PP) não tem conseguido pagar a folha integralmente no mês trabalhado. Sempre falta alguma parte do salário.

Com mão de ferro nos bastidores e jogando com a desinformação ela anuncia que tudo é pago rigorosamente em dia.

Nem paga em dia muito menos com rigor.

Até alguns adversários caem nessa balela e quando provocados a citar um ponto positivo da gestão respondem: “paga em dia”. Não é nem nunca foi assim nesta gestão.

Ainda faltam os retroativos de maio, junho e julho de 2016 para quitar a folha da gestão anterior.

Denunciar isso é uma afronta a quem quer manter a enganação sobrepondo os fatos.

Logo aparece alguém apontando tratamento igual com a gestão da governadora Fátima Bezerra (PT). Implicitamente querem que a petista pague quatro folhas atrasadas em sete meses.

Impossível!

Uso em 2019 para Fátima a mesma lógica que utilizei para Rosalba em 2017. É preciso dar um tempo para que ela arrume a casa e ponha o salário em dia. Isso não é “passar pano” é ter bom senso.

Quando Fátima anunciou que pagaria os salários de 2019 antes de pagar os atrasados como fez Rosalba antes a crítica veio e virá se Fátima aparecer por aí dizendo que os salários em dia.

É preciso analisar que os assuntos podem ser parecidos, mas precisam ser tratados de forma diferente por uma questão de proporcionalidade. Deveria ser óbvio, mas num mundo de mentes binária o óbvio tem que ser explicado.

Fátima já quitou o que faltava do 13º de 2017, pelo menos é o que o Governo diz. Ainda restam três folhas. Minha crítica a esta situação é: a governadora precisa tomar medidas mais enérgicas e não esperar pelo Governo Federal.

A cada dia que passa ela se torna corresponsável pelo atraso como Rosalba se tornou por ainda não ter pago o restante da folha de 2016, dois anos e sete meses após o início da gestão.

Se Rosalba não quitou um volume de dívidas com os servidores proporcionalmente menor em dois anos e sete meses como cobrar que em sete meses a governadora pague três folhas? É honesto?

O Governo do Estado paga em atraso, mas anunciou o calendário de pagamento dos meses de agosto e setembro juntamente com julho, que já foi pago. A prefeita faz o inverso: anuncia que está quitando a folha “rigorosamente em dia”, mas na verdade paga fatiado e tira do servidor o direito de se planejar.

Quando um servidor do Estado atrasa uma conta na bodega o bodegueiro entende porque sabe dos atrasos salariais. Quando o mesmo acontece com o servidor municipal este corre o risco de passar por mentiroso porque na maior parte da mídia se omite o pagamento salarial fatiado.

Como dar tratamento igual para problemas parecidos, mas com contextos, tempos e circunstâncias diferentes?

Se você não consegue diferenciar (não quero que ache um atraso menos ruim que o outro, longe disso) as duas situações, lamento dizer, mas você é um sujeito (a) binário (a) que enxerga tudo preto ou branco sem perceber a longa camada cinza no meio.

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Do Blog

Com Whatsapp hackeado ou denunciado por SPAM, nossa página seguirá resistindo

O Whatsapp do Blog do Barreto foi banido da rede social ontem à noite. Ainda não temos 100% de certeza do que houve, mas tudo indica que algum desocupado denunciou nosso perfil como SPAM.

Pelo que apurei lendo sobre esta situação e gente que entende do assunto me explicou, fomos denunciados por SPAM.

Claro que quem fez isso tinha a intenção pura e simples de prejudicar o nosso trabalho. Não vou cair na leviandade de publicamente especular sobre de onde partiu essa iniciativa.

Vai atrapalhar bastante o nosso alcance porque estávamos em mais de 70 grupos.

Então se você é um dos administradores de algum desses grupos adicione o meu novo contato: 9.9848-2261. O mesmo vale para fontes e assessores.

O meu outro número continua ativado para receber ligações, mas não pode ser cadastrado no Whatsapp até segunda ordem.

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Carta

O 15m 2019 no Brasil e o desgaste precoce do governo Bolsonaro: como as redes sociais e o mundo em rede aceleram todas as experiências e encurtam o tempo histórico

Por Robério Paulino

Muitas vezes quando estamos imersos no turbilhão de um processo social não conseguimos compreender exatamente seu real significado e sua dimensão. Para isso, torna-se necessário parar, tomar distância, se elevar, ver de cima o que se passa, de forma panorâmica, ao mesmo tempo que recorrer à História, a processos passados, comparar. Além disso, se não queremos ser impressionistas, é importante levar em conta todos os elementos da realidade, não apenas alguns que nos afetam mais.

Recorrendo a um exemplo histórico para exemplificar a questão, historiadores apontam que os que viveram o tempo da Revolução Industrial aqui na Grã-Bretanha, iniciada por volta de 1760/80, não se deram conta em sua época da real dimensão do processo revolucionário que estavam vivendo. O termo Revolução Industrial só veio a entrar na literatura com esse nome já por volta de 1850, ex-post. Nem mesmo Marx e Engels o usaram no seu célebre Manifesto Comunista.

Em minha segunda carta daqui de Londres, escrita antes das manifestações de 15M no Brasil, afirmei que a Revolução Tecnológica que vivemos e as redes sociais estavam acelerando todos os processos e as experiências com governos, partidos, ideias, e que, portanto, o desgaste do governo Bolsonaro seria provavelmente rápido. Nenhum de nós, imaginava, no entanto, que tão rápido. Amigos de várias partes do Brasil que leram aquela carta entraram em contato comigo para dizer que eu estava muito otimista, que não estava vendo a dificílima situação pela qual passamos no Brasil com a ascensão de um radical de direita ao governo. Alguns me disseram mesmo que a vitória de Bolsonaro era uma derrota histórica dos trabalhadores e que tínhamos que nos preparar para um longo inverno, no que toca à situação política no Brasil.

Penso que as manifestações de 15/05 no Brasil – que nos enchem de ânimo e orgulho, especialmente por nossa juventude, e nos dão muitas esperanças de dias melhores – ajudam a esclarecer a questão e revermos juntos nossas visões, o que há de negativo e o que há de positivo na situação política do país. Lutas sociais e mesmo revoluções não acontecem quando os povos estão bem, mas exatamente quando os direitos sociais e as condições de vida das populações são fortemente atacados, quando a situação se torna insuportável. O tamanho do ataque às universidades públicas e à educação turbinou as mobilizações. A estupidez e inabilidade de Bolsonaro e seus ministros também.

As manifestações de junho de 2013 foram progressivas, porque, apesar de começarem lutando contra os aumentos das passagens, questionavam de certa forma também a farra da construção de gigantescos estádios com dinheiro público desviado para a corrupção, entre várias outras bandeiras que levavam ao descontentamento. Mas tiveram aquele caráter difuso e terminaram por serem aproveitadas mais ao final também por grupos de direita para engatarem o processo de impeachment de Dilma Rousseff depois.

O 15M 2019 é claramente diferente, é uma grande manifestação nitidamente política contra Bolsonaro e contra a direita, com uma potência que alterou um pouco a situação nacional a favor dos trabalhadores e da juventude, colocando na pauta inclusive a possibilidade de impeachment do presidente, ampliando a crise no campo conservador. O 15M está mais para um maio de 1968 do que para junho de 2013.

Não devemos de forma alguma menosprezar a séria derrota que sofremos nas últimas eleições, nem os ataques que estão por vir. O governo ainda não foi derrubado, a Reforma da Previdência continua tramitando no Congresso, os cortes nas universidades não foram suspensos. O movimento ainda é essencialmente limitado à juventude e aos trabalhadores da educação. Os demais trabalhadores ainda não se envolveram. O teste será dia 14/06. E mesmo que Bolsonaro caia, pode assumir um vice-presidente igualmente conservador e duro contra os movimentos sociais e os trabalhadores, talvez mais hábil, que vai tentar manter aquela reforma e os ataques às universidades e à educação. A grande burguesia liberal já se articula para essa substituição e começa a descartar Bolsonaro, porque já percebeu que ele pode incendiar os movimentos sociais e o país com seus arroubos.

Mas o fato é que a reação contra os ataques aos direitos do povo já começou, muito forte e muito rápida, depois de apenas 4 meses e meio da posse do novo governo. E pode contagiar outros setores da população e dos trabalhadores e mesmo derrubar Bolsonaro em pouco tempo, se as lideranças mais uma vez não vacilarem. Se a greve geral de 14 de junho for mantida e for forte, bastaria depois dela marcar uma nova paralisação nacional por um período maior ou por tempo indeterminado e governo estaria nas cordas. O que parece é que podemos estar vivendo apenas o prólogo de uma nova grande jornada de lutas no país, se algumas lideranças não se apropriarem e abortarem o movimento, tentando desvirtuar tudo apenas para o funil de um projeto eleitoral no próximo ano. Além disso, não podemos colocar a mão no fogo pela maioria de nossas centrais sindicais, pelo que já vimos de outras vezes. Mas agora trata-se de buscar toda unidade possível e preparar com força a greve geral para que ela se torne irreversível.

Eu havia escrito outra carta, sobre outro assunto, que envio nas próximas semanas, mas, em função dos acontecimentos no Brasil, optei por mais uma vez abordar a questão de como a Revolução Tecnológica vem acelerando todos os processos e experiência sociais, como se relacionam com o 15M 2019. A comunicação em tempo real e as redes sociais explicam em muito a velocidade da mudança da situação política no Brasil.

Muitos analistas sérios em todo mundo têm mostrado o lado ruim de como as redes sociais vêm servindo a governos, a mega-empresas e conglomerados de comunicação para o controle das massas populares e de dados, ao monitoramento de cidadãos do mundo inteiro pelo governo norte-americano e apontam a nossa desvantagem na capacidade no impulsionamento em relação aos grandes grupos econômicos etc. São conhecidos os casos de manipulação de eleições, com disparos em massa de mensagens, fake news, inclusive por robôs, o que pode ter, inclusive, alterado o resultado das eleições no Brasil em 2018. Outros apontam que as pessoas estão passando tempo demais ligados em seus smartphones ou computadores nas redes sociais, que isso vem afastando e até mesmo alienando as pessoas, viciando crianças e jovens.

Na última carta falei do pessimismo de Zygmunt Bauman com as redes sociais e que Umberto Eco chegou a dizer que elas têm dado voz a milhões de imbecis. Tudo isso é certo. Esse é o aspecto negativo desse processo, que não menosprezo. Mas é apenas um lado da questão. Todo fenômeno em geral é contraditório, tem dois lados. A Revolução Tecnológica que vivemos e as redes sociais também têm também um papel extremamente progressivo, revolucionário, sem que as vezes não nos demos conta.

Nunca na história humana a informação viajou tão rápido. Temos informação em tempo real sobre tudo. Um fato corre o globo em minutos. Veio na minha cabeça a lembrança de um vídeo gravado na escotilha da ISS, Estação Espacial Internacional, há alguns anos por astronautas orbitando sobre o Atlântico, quando cruzaram aquele oceano em poucos minutos. Que diferença de um veleiro, que, ainda em 1850, demorava semanas para levar as novidades de um continente a outro.

Andando aqui pelas ruas de Londres notei também que, com a disseminação dos smartphones, por toda cidade as cabines telefônicas vermelhinhas – que cumpriram a função de nossos antigos orelhões aí no Brasil – estão vazias, abandonadas. Nem sei porque não foram ainda retiradas da paisagem urbana ou revertidos para outros usos. No Museu de Londres, que visitei no último fim de semana, existem expostos um aparelho de telex e um dos primeiros microcomputadores da década de 1980, como parte da história da cidade. Estavam ali literalmente como peças de museus. Mas isso foi ontem. A velocidade estonteante das mudanças encurta o tempo de tudo.

Hoje, com a comunicação em tempo real pelas redes sociais e portais hospedeiros, possibilitados pela Revolução Tecnológica que vivemos, todas as pessoas que quiserem podem ter uma página com milhares de amigos com os quais se comunicam instantaneamente. Bilhões estão em aplicativos como FACEBOOK, WhatsApp, Twitter, etc. Essas páginas e milhões de blogs e sites independentes vinculam notícias antes das grandes redes de comunicação, quebrando de fato seu monopólio da informação, como já afirmei anteriormente. Toda cidadezinha perdida nos mais distantes rincões do globo tem suas páginas próprias, que reproduzem as notícias nacionais e internacionais em tempo real. Mesmo o rádio e a televisão têm que ecoar o movimento das redes.

Mas vai muito além disso. Hoje, universidades, cientistas, profissionais, empresas, grupos sociais de todo tipo mantém comunidades virtuais, muitas vezes com integrantes localizados em diferentes países do mundo. Isso vem acelerando, por exemplo, a disseminação dos resultados das pesquisas e do conhecimento, a ajuda mútua, a colaboração, de forma nunca antes imaginada. Museus trocam informações em tempo real. Universidades e acadêmicos organizam encontros nacionais e internacionais através de grupos. Médicos ajudam em cirurgias do outro lado do mundo. Comunidades de pessoas com doenças raras se encontram e se ajudam. Mesmo uma criança pode ter o conhecimento do mundo em suas mãos através dos mecanismos de busca. Repito que no terreno da tecnologia estamos vivendo uma revolução sem perceber.

Cheguei a Londres com receio de como iria me comunicar com o Brasil, já que minha empresa telefônica do Brasil não me dá acesso aqui. Temor desnecessário. Comprando um simples chip de uma operadora local por 10 libras podemos nos colocar em contato com todos no Brasil imediatamente. Mas nem era preciso, porque em qualquer lugar, residência, faculdade, restaurante ou café da cidade ou do planeta que tenha Wi-Fi hoje você se conecta ao mundo todo instantaneamente com seu celular ou computador, com vídeo, sem pagar ligação telefônica, pelo Skype ou WhatsApp. Vejo imigrantes e turistas falando com seus países de origem no meio da rua, nos museus, o tempo todo, enviando fotos, vídeos. A sociedade toda em rede, como disse Manuel Castells.

Daqui do meu cantinho na biblioteca da LSE (London School of Economics), onde passo a semana pesquisando e escrevendo e de onde comecei a redigir esta carta, a cada duas horas parei para descansar a cabeça e acompanhei em tempo real as mobilizações do 15M no Brasil e inclusive ajudei a mobilizar. Como o mundo ficou pequeno. O Brasil inteiro viu as manifestações do 15M pelas redes sociais em tempo real.

A Globo e demais emissoras já não têm jeito de esconder tudo. Não é só por sua postura de se afastar do governo Bolsonaro não, mas também porque já não podem ocultar os fatos para não perderem credibilidade e se desmoralizarem; as redes sociais os revelam antes. Alguns amigos acharam exagerado quando eu disse que o monopólio da informação está sendo quebrado. Pois está aí o novo tempo para todos que quiserem ver.

É verdade que as redes sociais podem ter dado voz a uma multidão de gente pouco letrada, que escrevem errado, muitos ignorantes, como reclamou Eco. Mas penso que não há qualquer problema nisso; o fato é que elas também deram voz a outras centenas de milhões de pessoas progressistas, esclarecidas, a milhões de jovens, que antes não tinha voz nenhuma e que hoje podem falar com outros bilhões, o que antes era muito mais difícil. As redes provocam o choque de visões, o debate, e isso é bom, apesar das provocações que vemos. Lembremos que as ideias erradas sempre existiram e se apoiaram na ignorância, na escuridão, na desinformação. Não foi à toa que um período da Idade Média foi chamado de Idade das Trevas. Por isso, governos autoritários têm tanto medo e censuram as redes sociais. Têm medo da informação.

Na minha tese de doutorado, mostrei como a ex-URSS começou a ficar para trás na corrida tecnológica no início da década de 1980 a partir do momento em que seus governos tentaram impedir a posse individual de microcomputadores e impressoras, para evitar a disseminação de informações. Um tiro no pé. Penso que nas próximas décadas teremos grandes e boas novidades políticas vindas da China contra seu regime autoritário. É só uma questão de tempo; o caldeirão está cozinhando. O governo chinês monitora e censura as redes, mas aquele país gigante se urbaniza e se escolariza rapidamente e se integra por mil vasos comunicantes. Nos EUA os governos monitoram dados de milhões de cidadãos no mundo através das redes sociais, mas enfrentam resistência a isso.

Os jovens, particularmente, têm sabido usar muito bem as redes sociais, já nasceram em seu tempo, não têm qualquer problema com isso. Lembro do banho que a juventude pobre, filha de imigrantes e discriminada nas periferias de Paris deu na polícia durante a Revolta de 2005, usando as redes sociais para enganá-la. A polícia ia para um local anunciado para as manifestações, mas elas irrompiam em outros bairros.

No Brasil, as manifestações do 15M 2019 foram convocadas essencialmente pelas redes. E a juventude esteve à frente delas. Governos sempre se aterrorizam quando veem milhares de jovens nas ruas, que têm o potencial de contagiar todo um país e iniciar grandes transformações, como foi em maio de 1968 na França, nas mobilizações contra ditadura no Brasil ou no Fora Collor.  Pela primeira vez em muitos meses, a direita perdeu a guerra nas redes sociais nestes dias do 15M, segundo diversos mecanismos de monitoramento.

Por isso, afirmei na última carta que a ascensão da direita no Brasil e no mundo não decorria do advento das redes sociais, mas também das experiências das populações com governos de esquerda. As redes sociais são inocentes. A direita tem sabido usá-las muito bem, talvez melhor que esquerda, porque tem muito dinheiro para impulsionar, para pagar funcionários e robôs, propagar fake news, que confundem as pessoas sem formação mais ampla, apelando aos preconceitos, aos demônios que assustam as cabeças de pensamento mais formalista, mobilizando os subterrâneos mais obscuros da mente humana, o medo, o ódio, a ignorância, a inveja.

Mas a mentira e as farsas têm pernas curtas e uma hora são desmascaradas. A esquerda tem a razão histórica, tem clareza e as melhores ideias. Mas não temos sabido explorar todo o potencial que as redes oferecem. É preciso ser mais ousados e dialogar, convencer, conquistar. Não é necessário insultar, humilhar, as pessoas mais fracas que votaram na direita. As pessoas pensam. Muitos jovens que apoiaram Bolsonaro já estão percebendo o erro e alguns até participaram do 15M. É por isso que eu disse na minha carta anterior que a Revolução Tecnológica, a comunicação em tempo real e as redes sociais poderiam tornar a experiência com Bolsonaro muito rápida, podendo mudar a situação política em pouco tempo.

Além disso, será difícil voltar a ganhar alguns setores populares e de classe média se esquerda não souber ser autocrítica. Porque quando ela chegou aos governos aplicou algumas das mesmas políticas que combatemos hoje, fez alianças com os que nos atacam hoje, teve as mesmas práticas que criticamos hoje. O ódio que vemos atualmente mesmo em setores da população tem a ver em grande medida com as decepções com governos de esquerda. É verdade que houve um golpe contra Dilma, a Lava Jato, contra o que lutamos. Estamos a favor da liberdade imediata de Lula, porque está patente a parcialidade. Mas foram também os erros, as práticas e alianças da esquerda nos governos anteriores que pavimentaram o caminho para o impeachment de Dilma e a subida de Bolsonaro.

Essa discussão vem sendo deixada de lado em função da necessidade de unidade do movimento social para enfrentar os ataques aos direitos sociais. Toda unidade na ação é preciso. Mas deixar de dizer as coisas como de fato foram é um erro. Unidade não pode significar veto ao debate. Afirmar isso que digo aqui com certeza é antipático. Martin Luther King dizia que para arranjar inimigos basta dizer a verdade. Mas é necessário. Não falo isso aqui com sentido de dividir, mas de nos fazer pensar sobre o passado recente para não cometer os mesmos erros.

Dizemos que os apoiadores da direita são alienados, não pensam, são sectários. Mas devemos nos perguntar se, quando está no governo, no controle de algum órgão, partido ou entidade, esquerda é menos intolerante, menos sectária, mais autocrítica, mais democrática. Infelizmente, há pouquíssimo sentimento autocrítico na esquerda sobre seus erros recentes e como eles pavimentaram a ascensão de Bolsonaro. A sociedade está embrutecida. E a esquerda, como parte desse meio, também. Digo isso porque sem uma avaliação autocritica do passado recente, de sua política e de suas práticas, a esquerda cometerá os mesmos erros se chegar novamente aos governos.

Para ir terminando essa carta, voltemos ao nosso assunto que é como entender a situação política atual e o potencial das redes sociais na aceleração do tempo histórico e das experiências com ideias e governos. Por muito tempo, usamos a fórmula de que para seguir adiante precisamos do pessimismo da razão e do otimismo da vontade. Essa formulação é um pouco subjetiva. Não podemos ver a situação através da lente do pessimismo ou do otimismo, mas objetivamente, como ela é de fato, com todas as suas tendências contraditórias em diferentes sentidos, em constante movimento e, como insistia Marx, voltar a estudar toda a história para, com as lições do passado, não repetir os erros no presente. Enquanto bebemos do vigor da juventude, cabe às gerações mais velhas passar essa experiência histórica aos jovens, numa grande troca. Não há nenhuma situação ruim para sempre, tudo é uma questão de tempo. E tudo se acelera.

Quero terminar dizendo de nossa imensa alegria com os últimos acontecimentos no Brasil, que nos enchem a todos o coração de esperança e confiança em que nossa luta não foi nem será em vão. É preciso acreditar que a humanidade tem futuro, acreditar que uma hora a inteligência humana superará a ignorância, a mentira, o egoísmo, a injustiça, o ódio, a maldade. Já fez isso antes em situações muito piores. E sabermos ser ousados, dialogar, empolgar, conquistar corações e mentes para a melhor alternativa.

Londres, 18/05/2019

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Democracia, redes sociais e representação

Democracia em crise (Imagem: web)

Elton Duarte Batalha

A evolução tecnológica produziu, entre outras coisas, o advento das redes sociais, as quais impactaram a forma como as pessoas se relacionam, inclusive politicamente. Tal panorama levanta questões relevantes quanto à compreensão atual da democracia e a forma de representação popular.

As últimas eleições foram marcadas pela comunicação direta dos candidatos com a população por meio da internet, sobretudo com o uso de Facebook e Whatsapp. A importância de tais instrumentos ficou mais clara durante os mandatos, com a sua utilização exaustiva pela equipe do presidente da República, Jair Bolsonaro, bem como pelo senador Jorge Kajuru, que votou na eleição para a presidência da casa da qual faz parte com base na declaração de vontade da sociedade por meio virtual.

Situações como essas permitem a reflexão acerca das novas formas de manifestação do povo. No caso de Bolsonaro, a comunicação direta com a população, sem a mediação da imprensa, pode parecer, em um primeiro momento, algo positivo, pois evitaria eventual distorção da mensagem que o mandatário busca passar para a comunidade, segundo visão negativa propalada em parte da sociedade a respeito de alguns componentes da imprensa. Tal situação, porém, além de demonstrar certa incompreensão quanto ao papel cumprido pelos jornalistas no âmbito democrático, potencializa a polarização política, reforçando a visão dicotômica presente no país desde o governo Lula, que recorrentemente dividia o país em discursos com base nos termos “nós” e “eles”. Ademais, a falta de mediação pode fazer com que a mensagem seja absorvida pelos seguidores (e refutada pelos adversários) sem maior reflexão, dada à animosidade criada a partir do viés, positivo ou negativo, com que a informação é recebida, respectivamente, pelos seguidores e detratores do presidente.

No caso de Kajuru, reflexões sérias são também colocadas, sobretudo sob o prisma da função do político eleito em uma democracia representativa. Definir o voto para a eleição da presidência do senado (bem como para outra finalidade) baseado em enquete feita em rede social diminui a responsabilidade do representante, ainda que seja com o objetivo teoricamente nobre de dar voz à população. Há riscos evidentes à autenticidade da vontade social nessa tentativa de concretização de democracia direta, dada a possibilidade de falseamento de tal manifestação volitiva. Além de questões técnicas relacionadas ao meio utilizado, cabe ressaltar que não é toda a população que tem acesso a tais votações, seja por motivos de informação ou de outra natureza. A realização de movimentos específicos em favor ou contra determinado tópico é apta a potencializar a vontade de minoria populacional tão somente pelo fato de ter mais informação ou maior grau de mobilização, desvirtuando os fundamentos democráticos. Por si só, a democracia direta não apresenta maior qualidade na aferição dos interesses dos cidadãos, como bem demonstram alguns conselhos populares criados em países nos quais as instituições democráticas foram solapadas, como é o caso venezuelano. É para evitar ou diminuir tais problemas que existe a eleição de representantes em sociedades modernas, marcadas por certo grau de complexidade.

Governar é termo que deriva do latim gubernum, que significa timão, palavra que designa o objeto utilizado para dirigir uma embarcação. A etimologia do vocábulo, portanto, evidencia a postura e a responsabilidade do representante eleito em um ambiente democrático. Por melhores que sejam as intenções, cabe ao político convencer a população, por meio da imprensa, das medidas requeridas para o bem da sociedade a longo prazo, mesmo que amargas em um primeiro momento, ousando e assumindo riscos. Falar preferencialmente com adeptos da própria visão de mundo e terceirizar decisões são posturas que não contribuem para o aperfeiçoamento democrático, podendo fazer com que, para permanecer com uma imagem do âmbito náutico, os passageiros do navio, devido à má condução do leme, sejam levados a um lugar indevido, em que não faltam águas revoltas.

* É professor de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, advogado e doutor em Direito pela USP.