Rogério Marinho tem desfrutado de notório prestígio junto ao Governo Federal, sendo publicamente elogiado e ungido pelo presidente Jair Bolsonaro como seu fiel escudeiro e candidato ao Senado pelo Partido Liberal do RN. Todo esse prestígio vem em razão do papel que desempenhou no Ministério do Desenvolvimento Regional como também por ter incorporado de forma brilhante os preceitos defendidos pelo bolsonarismo.
Sua carreira tem um misto de derrotas e vitórias, comuns a qualquer0 político, é claro. Conquistou mandato de vereador em 2004 e deputado federal em 2006, entretanto enfrentou insucessos em outras reeleições.
Marinho sempre sonhou em chegar à Prefeitura de Natal e alçou voo em duas tentativas. A primeira foi em 2008, quando teve sua candidatura preterida pelo PSB de Vilma de Faria e Carlos Eduardo que, a pedido de Lula, apoiara a então deputada Fátima Bezerra.
Naquela época um dos seus principais antagonistas, senão o principal, foi Carlos Eduardo Alves, prefeito da capital, que articulou com a governadora tanto o apoio local à postulação de Fátima Bezerra, como desarticulou qualquer chance de Marinho reverter seu veto no congresso nacional do PSB naquele ano. Marinho tentava junto à executiva nacional do partido reverter à decisão do diretório local, mas obteve uma dolorosa derrota tendo como fiador Carlos Eduardo Alves. Este fato ocasionou a sua saída do PSB e uma mágoa irrenunciável.
Nas eleições municipais de 2012, já no PSDB, ele se candidata e tem pela frente como adversário novamente Carlos Eduardo Alves. Naquele ano as condições políticas não eram favoráveis o que resultou numa tímida votação que o deixou no quarto lugar entre os concorrentes e restando como vitorioso no segundo turno seu carrasco de 2008.
Agora em 2022 a história de enfrentamento retorna à baila. Novamente Marinho e Alves estão em lados opostos em uma candidatura majoritária, desta feita para o Senado da República. Aliás, a história de disputas entre as duas famílias não começa em 2008, mas data de 1960, quando Djalma Marinho, avô de Rogério Marinho, enfrentou Aluízio Alves, tio de Carlos Eduardo, na disputa para o Governo do Estado do RN. Nesta eleição os Alves impuseram a primeira derrota aos Marinho.
De lá para cá, outras se sucedem, como em 1974 quando Djalma Marinho concorre ao Senado pelo ARENA (partido de sustentação da Ditadura Militar) com todo o apoio do governo federal, governo estadual e prefeituras, contra Agenor Maria, por sua vez apoiado pelos Alves. Contrariando todas as expectativas, Agenor Maria e os Alves vencem Djalma Marinho e mais uma derrota entra na conta.
O tempo passa, o mundo gira e as coincidências políticas ganham contornos que vão além de uma mera eleição. Para Marinho, lograr êxito neste pleito é mais do que vencer. É também uma redenção, uma vendeta que vem de 1960, passar por 1974, se agudiza em 2008, hiperboliza em 2012 e desemboca em 2022 com contornos de série televisiva.
O debate sobre frentes e alianças, que compõe a rotina da política nos momentos de relativa calmaria, acende-se verdadeiramente nas situações em que se percebem ameaças existenciais à convivência civil e à natureza democrática dos Estados, como é evidente no caso brasileiro, e não só nele. Já existe, a propósito, um amplo inventário de exemplos clássicos que de certa forma nos assediam teimosamente quando buscamos parâmetros e termos de comparação. Examinemos um deles.
Weimar e a corrosão da sua república estiveram, há um século, no cerne da vaga reacionária que levaria ao nazismo. A cisão na esquerda – a partir dos anos 1920, dilacerada entre o “reformismo” social-democrata e o “revolucionarismo” bolchevique – abriria as portas para o nacional-socialismo. Do ponto de vista dos comunistas, os social-democratas não passavam de linha auxiliar da extrema-direita. Eram, pura e simplesmente, “social-fascistas”, ainda piores do que os adeptos declarados do nazismo.
A catástrofe que se evidenciaria depois produziu uma reviravolta na política de alianças. Desta vez, a precisa definição do adversário comum permitiu agregar em frentes populares não só os “irmãos inimigos”, socialistas e comunistas, como também uma ampla gama de liberais e democratas. Uma operação virtuosa, que levaria à extraordinária luta comum contra o nazifascismo. Mas, convenhamos, não tinha virtude alguma o fato de o comunismo no poder não se abrir aos ventos democratizantes advindos da frente, instalando assim a contradição grave: uma clarividente política de alianças “para fora”, uma repressão ensandecida “para dentro”, como nos processos de Moscou e demais crimes do comunismo stalinista.
Trata-se de situações paradigmáticas que, com nomes e circunstâncias diversas, se repetiriam para a esquerda ao longo do século. No Brasil dos anos 1930, a política de frente – a “aliança nacional libertadora” – abdicaria do seu traço inicial de mobilização popular para se perder numa aventura militar em tardio molde tenentista. Algumas décadas depois, o partido-motor da “aliança nacional” leria em outros termos a conjuntura de desafio existencial inerente ao regime militar. De fato, o então PCB, mesmo clandestino, contribuiria para a definição da resistência ao regime segundo o modelo da frente única ou, o que é aproximadamente a mesma coisa, da frente democrática.
A História nem sempre – ou quase nunca – segue rotas e traçados predefinidos. A frente ampla aos poucos tomaria corpo no MDB e na programática valorização da sociedade civil, mas seu propositor à esquerda estava limitado pela marca de nascença: a relação com a União Soviética e seu “socialismo de Estado”, em vias de esgotamento. Mesmo assim, aquela frente inaugurava um novo modo de proceder e de pensar a política, a ser recolhido e levado adiante pelos outros atores. Em palavras sintéticas, a política como hegemonia em ambiente plural e democrático; como capacidade de influenciar os demais e, também, deixar-se influenciar. Afinal, segundo a frase famosa, o educador – o partido que inova e transforma – também precisa ser educado.
A exigência a ser feita ao PT, eixo principal da esquerda pós-comunista e novamente protagonista das eleições de 2022, nasce exatamente deste conjunto de problemas. Pode bem ser que não baste uma frente unicamente de esquerda para ganhar em outubro e, com toda a certeza, ela não bastará para reconstruir o País a partir de janeiro, em caso de vitória. A extensão e a profundidade dos danos trazidos por quatro anos de governo Bolsonaro à economia e à sociedade – e à própria ideia de bem comum – ainda não estão sequer delimitadas, mas já se sabe que não são de pouca monta. Este quadro sombrio é o que nos adverte contra uma visão da realidade que oponha, num jogo de soma zero, esquerda e direita, como se não houvesse atores legítimos ao centro e mesmo à direita, com forte inserção, capacidade de formulação e agregação.
Impossível prever se a ampla convergência capaz de rodear com um cordão sanitário a direita “rupturista” se dará no primeiro ou no segundo turnos. Trata-se, aqui, de reivindicar que toda e qualquer ação se inspire na ideia de que, acima das rivalidades entre candidatos e partidos, existe a oposição básica entre democracia e autocracia, que está hoje por toda parte como a principal contradição política do nosso tempo. E, como sabemos, há também autocratas e populistas de esquerda, o que é uma advertência severa contra pretensões de monopólio da verdade. Aquela contradição é que permite riscar um campo comum, do qual só se autoexclui quem deliberadamente abandona a linguagem da política e adere à apologia das armas e, portanto, à linguagem da violência.
A República de Weimar – dizem – caiu porque era, no fundo, uma democracia sem democratas. Essa fragilidade, associada à imaturidade conflituosa das forças que deveriam defendê-la, foi a precondição da tragédia que se seguiu. Entre nós, a repetição de uma infeliz sequência deste tipo teria, talvez como nunca antes, todos os atributos da mais perigosa das chanchadas.
*É tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das obras de Gramsci no Brasil.
Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o barreto269@hotmail.com e bruno.269@gmail.com.
A Editora da UFRN (EDUFRN) lança o livro Escravidão no Rio Grande do Norte, que conta com a organização de Juliana Teixeira Souza e Margarida Maria Dias de Oliveira, ambas professoras do Departamento de História da UFRN (Dehis). A obra está disponível gratuitamente para download no Repositório Institucional da Universidade e é voltada para o ensino básico em História.
O livro é uma das primeiras produções da editora dedicadas à produção de obras didáticas para o ensino de História, sendo realizada tanto por professores como por alunos do curso na UFRN. A realização do projeto procura trazer debates sobre o ensino de história e de cultura afrodescendente, tendo como fundamento referencial a pesquisa histórica.
A publicação conta com sete propostas de sequências e recursos didáticos, incluindo textos sobre o ensino-aprendizagem da história da escravidão negra no Rio Grande do Norte, cuja abordagem foca na população, trabalho e formas de resistência à servidão forçada.
Mão na massa
O processo de produção de Escravidão no Rio Grande do Norte foi baseado na bibliografia acerca da escravidão no Brasil Império. Também serviram de referência textos legais sobre políticas públicas educacionais relacionadas ao combate à desigualdade racial e de gênero no ambiente de ensino.
A partir disso, professores e alunos envolvidos com a realização do livro discutiram como as experiências em sala de aula envolvem os temas tratados na obra. Os estudantes, por sua vez, relembraram a vivência de ex-alunos do ensino básico ao serem ensinados sobre os assuntos que estão presentes na publicação. Os discentes também refletiram como esses tópicos foram abordados durante seus estágios como professores, bolsistas de projetos de iniciação científica e assistentes de professores.
Aprendamos com a História e a máxima que “o inimigo do meu inimigo, é meu amigo”. Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e União Soviética tinham a maior parte do mundo sob suas influências, blocos econômicos, políticos e até militares, era a época da Guerra Fria.
Contudo, muitos esquecem que os antagonismos ideológicos foram deixados de lado por algo maior durante o maior conflito que a humanidade vivenciou, a luta contra a barbárie e tudo de pior que tivemos na História da Humanidade representado, o Fascismo e no pior deles, o Fascismo Alemão denominado Nazismo uniram o que pensávamos ser impossível unir.
Parece que nós brasileiros não sabemos ou queremos aprender com a História, tanto que temos componentes e características do fascismo em solo tupiniquim e em 2022 mais uma vez eclodindo a cadela do fascismo, esta que sempre está no cio e que o ovo da serpente parece já ter parido desde 2018 muito do lixo da História que deveria ter ficado apenas nos livros didáticos, para não se repetirem.
O politicamente incorreto, o racismo, os preconceitos diversos a minorias como os grupos LGBTQI+, a violência contra a mulher e a tríade mais que batida do “Deus, Pátria e Família”. Ah, este trio esteve presente nos Fascismos Italiano, Alemão (Nazismo), Português (Salazarismo) e Espanhol (Franquismo). Não a toa que o inglês Samuel Johnson disse que “o patriotismo é o último refúgio do canalha”. O mais irônico que esta versão de políticos patriotas com características fascistas tupiniquins, até continência para a bandeira dos Estados Unidos já fez, estranho, estranho demais.
Estamos em 2021, caminhando para o pleito de 2022, pleito este que será um dos mais pesados da História do Brasil. Redes sociais, robôs, fake news, violências diversas e o principal ingrediente, a adoção não envergonhada de defender a Barbárie descaradamente. Tentam colocar todos os candidatos num mesmo balaio. Porém, além de ser uma ação inglória, mentirosa, débil, sem fundamentação.
Estamos rumo as eleições de 2022 onde um candidato defende o negacionismo, violência, armamentismo, racismo, homofobia e tudo que o lixo da História faz questão que lembremos para não esquecer e repetir. Do outro lado a defesa da vida, das diferenças, dos direitos humanos coletivos e individuais, defesa da vacina, ciência, defesa do emprego, do SUS, dentre tantas outras pautas.
Se na Segunda Guerra Mundial, os antagonismos estadunidense e soviético se uniram contra o Fascismo, em 2022 as esquerdas e direitas busquem se unir contra o nosso fascismo tupiniquim que dia a dia cresce e necessita ser parado, temos a chance de o parar pelas urnas, pelo voto e que jamais deixemos que volte ao poder. Vigilância continua, necessária e não duvidem, tentarão não sair do poder mesmo perdendo, repito, a cadela do Fascismo sempre está no cio.
*É Historiador, autor do livro HISTÓRIA DO RN PARA INICIANTES e mestrando em Ciências Sociais e Humanas na UERN.
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O livro Memorial da Câmara Municipal de Mossoró foi lançado na noite desta quinta-feira (2), no plenário da Casa. Editado pela Coleção Mossoroense, a obra resgata a história do Poder Legislativo, em mais de 160 anos, entre 1853 e 2020. É resultado de parceria entre a Fundação Vereador Aldenor Nogueira e a Fundação Vingt-un Rosado.
Parte da pesquisa é de autoria do historiador Raimundo Soares de Brito, falecido há nove anos e autor da obra Legislativo e Executivo de Mossoró, uma Viagem mais do que Centenária. “Raibrito” assina a autoria do Memorial da Câmara Municipal de Mossoró, com os servidores públicos municipais Edilson Segundo e Eriberto Monteiro.
O lançamento reuniu vereadores, ex-parlamentares, servidores e ex-servidores da Câmara; representantes de academias de letras, universidades e outros segmentos sociais.
Segundo o presidente da Câmara, Lawrence Amorim (SD), a obra reforça a historiografia de Mossoró. “Trata-se de valiosa fonte de pesquisa e de conhecimento sobre a gloriosa história do Legislativo como Poder representativo do povo mossoroense”, destaca.
Um dos destaques do Memorial é o resgate de personagens da história de Mossoró. É o caso de prefeitos e vereadores de diversas legislaturas. “Alguns desses personagens dão nome a importantes ruas da cidade e têm sua importância relevada no livro”, frisa Eriberto Monteiro.
Com mais de 450 páginas, o livro não será vendido, mas doado para escolas, bibliotecas públicas, Museu Lauro da Escóssia, universidades, entidades de classe e outros setores representativos da sociedade.
A obra foi idealizada na gestão da então presidente Izabel Montenegro (MDB) e o lançamento previsto para o final do ano passado ficou para 2021 por causa da pandemia.
Com informações da Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal.
Há dois 14 de julho na história da revolução francesa.
O de 1789, lembrado como a histórica “Tomada da Bastilha”, término do absolutismo monárquico e o início da Revolução.
E o 14 de julho de 1790, a grande festa da federação.
Afinal, qual deles marca a revolução francesa?
Em 9 de julho de 1789, o rei Luís XVI percebeu o início da insurreição popular e a adesão de pensadores franceses às ideias do iluminismo, movimento intelectual, que inspirara a revolução americana (1776) e pregava maior liberdade econômica e política.
Diante da crise econômica gravíssima, o monarca proclamou a abertura da Assembleia Nacional Constituinte, como tentativa de apaziguar os ânimos políticos.
Entretanto, o movimento já estava nas ruas e irrompeu cinco dias depois (14 de julho).
Iniciava-se processo, revolucionário causado pela fome do povo, que levou as massas a invadirem castelos e mosteiros, pilhando e saqueando as propriedades.
A Bastilha era uma prisão, símbolo do antigo regime, tendo sido tomada pela população parisiense.
Ocorreu verdadeiro banho de sangue, quando centenas de pessoas morreram, inclusive a decapitação do governador de Paris. A revolta chegou às áreas rurais, com maior intensidade.
O segundo 14 de julho é de 1790, ocorreu um ano depois, na chamada “Festa da Federação”.
Em Paris, o clima era de esperança e otimismo. A reconciliação nacional parecia próxima.
Diante disso, a população decidiu festejar nas ruas as conquistas alcançadas, após a queda da Bastilha.
Nesse primeiro ano, ocorreram muitos avanços: os bens do clero foram confiscados; os nobres perderam a maioria de seus privilégios; aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que assegurava, ao cidadão os direitos civis; liberdade de pensamento e expressão; igualdade perante a lei; defesa da propriedade; direito de se rebelar contra os abusos do governo.
O rei Luiz XVI continuou no trono, com poderes reduzidos pela Assembleia Constituinte.
A principal razão para os festejos foi a reconciliação popular com a monarquia.
A “Festa da Federação” teve o propósito do esquecimento, perdão das violências e o sangue derramado.
A França vivia a “fase otimista da revolução”, que parecia caminhar para um final feliz, com a união da nação, da lei e do rei.
Infelizmente, o 14 de julho de 1790, que comemorou a unidade nacional, não sobreviveu por muito tempo.
A revolução prosseguiu com mortes e o assassinato do rei e da rainha, três anos depois.
Seguiram-se os períodos do terror, Robespierre, de Napoleão Bonaparte.
O exemplo revolucionário francês estimulou movimentos semelhantes na Holanda, Bélgica e Suíça; com apoio na Itália, Alemanha, Áustria, Inglaterra e Irlanda. Chegou até o Novo Mundo e influenciou a independência nas colônias portuguesas e espanholas.
Diante da coincidência dos episódios históricos, ocorridos no dia 14 de julho de 1789 e 1790, surgiu um debate sobre qual deveria ser considerada a data nacional francesa.
A tomada da Bastilha fora um motim popular sangrento.
A Festa da Federação, comemoração pacífica e reconciliadora.
Tudo convergiu para considerar a Festa da Federação, a data em torno da qual a maioria poderia concordar.
Em 1880, o governo francês proclamou o 14 de julho como a data nacional, numa lei, cujo texto “não mencionou o ano”.
Porém, o senador Henri Martin, que rascunhou a Lei do Dia Nacional, na sua proposta se referiu ao ano de 1790.
Na memória popular, até hoje, a data continua associada a tomada da Bastilha, em 1789.
Em Paris, os festejos se concentram na praça da Bastilha, com shows e espetáculos ao ar livre, para brindar o fim o despotismo e a chegada da soberania popular.
Os valores cultuados à época da Revolução Francesa continuam atuais e merecem reflexões, no período de reconstrução que se inicia, após a pandemia devastadora.
O lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, que inspirou o movimento histórico, deverá servir de exemplo à democracia brasileira, neste momento de tensões e inquietações políticas repetidas.
O valor nacional a ser preservado, a qualquer custo, é a estabilidade do nosso Estado Democrático de Direitos, com o respeito a supremacia da vontade popular, preservação da liberdade e igualdade de direitos, que traduzem a universalidade da cidadania.
Esses valores serão alcançados, a partir da legitimidade das próximas eleições gerais de 2022, realizadas com base na Constituição vigente, que conduzirão a nação para a governabilidade indispensável, na difícil tarefa de reconstrução após a pandemia.
*É jornalista, ex-deputado federal, professor de direito constitucional da UFRN e advogado.
**Data do envio do artigo.
Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o barreto269@hotmail.com e bruno.269@gmail.com.
O ex-presidente da Câmara dos Deputados Henrique Alves, cotado para deixar o MDB, usou as redes sociais para mandar um recado sobre sua eventual mudança partidária.
Ao ser informado pelo jornalista Rubens Lemos Filho de que aparece num trecho da biografia de Tancredo Neves em que é citado nas articulações para tornar o mineiro líder do partido em 1978 o emedebista lembrou de sua história no partido:
Recebo de @RubensLemos uma página da biografia de Tancredo. Em 78, a luta do nosso MDB para fazê-lo líder do partido. Merecimento! A minha escola, vida, história que não se apaga; “Partido não é hospedaria”. 51 anos com essa bandeira na mão. Coerência. Sem ódio e sem medo!
Após ser absolvido em processo que responde com o ex-presidente Michel Temer, Henrique ganhou fôlego e ensaia um retorno as disputas eleitorais. No entanto, ele é desafeto do deputado federal Walter Alves, presidente estadual do MDB.
Antes que venham me atacar, leiam o texto. Depois falem o que quiserem, mas de antemão aviso, escrevo fatos, provados, não a partir, partindo de achismos. Ações deste tipo, deixo para os que não leem, não estudam e ainda se informam apenas através das redes sociais e por falsos filósofos, até falsos messias. Outra coisa, sou contra ditadura, seja de direita ou esquerda, Estado Totalitário ainda mais.
Vimos neste último dia 31 de março de 2021, 57 anos depois de forma nefasta, vil, cruel e desprezível, a retirada de João Goulart do cargo. Numa ação militar-civil que muitos insistem em tentar criar um discurso que justifique o injustificável, a quebra do Estado Democrático de Direito. Este, que na nossa República, na nossa História, fora tantas vezes tornado mesmo que legitimo, em letra morta. Inclusive na ascensão da República em 1889. Não por acaso, tantas vezes as Forças Armadas, principalmente o Exército, fora o protagonista dos golpes, ora apoiando, noutro momento sendo o próprio governo.
Dentre os membros das Forças Armadas, mais recentemente, um senhor que saiu da caserna aposentado por apresentar sérios problemas não só de convívio, mas também psicológicos, ou é mentira que a aposentadoria precoce do capitão Bolsonaro fora fruto disso? Ah, vale salientar que ele entende de golpe (pelo menos de tentativa), tentara sem sucesso explodir (literalmente) parte da caserna para ter maiores vencimentos. Sendo mediano, sem ascender nas Forças Armadas, buscou na política espaço. Encontrou muitos iguais a ele, com ódio, mentiras e falso moralismos até conseguir a vaga de presidente. Não destoando de muitos que em 1964, gritavam “Deus, Pátria e Família” e agora os que sobreviveram e outros que mostraram suas reais caras, faces, ou melhor, deixaram que as máscaras caíssem. Incluindo-os também como falsos cristãos, não tem como ser cristão e apoiar a ditadura, a morte, a tortura.
O mais interessante, como falou Chico Buarque na canção Vai Passar, “num tempo, página infeliz da nossa História”, devendo ser por todos motivo de vergonha, para alguns é vista hoje como Revolução por ter impedido um Golpe de Esquerda que vislumbraram. A época, nem colocar em prática as Reformas de Base o Jango conseguiu, sonhar que haveria a tomada de poder pela esquerda é desconhecer o que vivíamos em 1964, lembro-lhes, esquerdas e não esquerda. Não havia entre os que seguiam tal ideologia uma homogeneidade. Poderia haver grupos que queriam tomar o poder e implantar uma ditadura? Com certeza sim, só que não causavam medo e nem tinham força. As guerrilhas urbana e rural só vieram por parte da esquerda após o Ato Institucional número 5, o famigerado AI-5. Por isso, não venham com discursos vazios, sem bases e sem leituras, continuam passando vergonha.
Muitos se esquecem que o Golpe de 1964, fora adiado em uma década devido o suicídio de Vargas. Situação muito bem avaliada no livro O Dia em que Getúlio Matou Allende, do Flavio Tavares (indico a leitura). Ou seja, não foi a esquerda que tentou o golpe, já estava em curso desde 1954, de lá até o 31 de março de 1964, muita coisa aconteceu, inclusive a Operação Brother Sam. Não é de hoje que os estadunidenses se metem na política interna brasileira, falo do Golpe Contra Dilma e a participação dos Estados Unidos na Operação Lava Jato. Documentos do Wikileaks, complementam e muito minha fala, só que leiam antes, não é Tales Augusto, este Historiador que está afirmando tudo isso.
Então o que leva muitos a tentarem tirar do Lixo da História o Golpe de 1964, buscar o tornar uma Revolução? O Discurso é uma prática que tem força quando usado de forma organizada. Na nossa História tivemos páginas rasgadas, escondidas, queimadas e outras adicionadas como no Stalinismo e Fascismos diversos como o italiano, o nazismo, o franquismo e ainda o salazarismo. O discurso é peça tratada por Foucault no seu livro A Ordem do Discurso.
Bolsonaro e seus asseclas há tempo buscam solidificar que tivemos uma revolução, inclusive alguns grupos tendo conquistado o direito de comemorar a data, só lembro que não foi revolução e sim golpe e vergonhoso. Por quais motivos eu afirmo ter sido golpe? Vamos lá.
De acordo com Pandolfi, “no Brasil, ao longo do século XX, ocorreram, pelo menos, dois movimentos conhecidos também como revoluções: um em 1930 e outro em 1964. Nenhum dos dois totalmente afinado com a ideia que se tem de uma revolução. Nenhum comparável ao que aconteceu na França em 1789 ou na Rússia em 1917. Isto porque sempre que se pensa na categoria revolução pensa-se imediatamente em uma total ruptura da ordem, em uma tomada brusca do poder, em uma substituição radical da classe dominante, em uma ampla participação popular. No Brasil, tanto em 1930 como em 1964, apesar de ter havido uma ruptura da ordem constitucional, não houve alterações substantivas na estrutura de classe do País, nem uma total substituição dos grupos no poder.
Em diferentes medidas, mesmo que esses movimentos tenham recebido apoio da população, não contaram com uma significativa participação popular. Em ambos, o apoio decisivo veio dos militares. Por isso, muitas vezes, as chamadas revoluções brasileiras são registradas na categoria de golpe. Entretanto, enquadrá-las como golpe ou como revolução não é o mais importante. Importa entender o significado, os dilemas e, sobretudo, o legado deixado por esses movimentos.”
Ou seja, o que aconteceu não configura como Revolução nem no Brasil, nem na baixa da égua. Só que o saudosismo bate a porta de pessoas eu nem viveram isso, costumo passear nos perfis de alguns bolsonaristas. Não todos, mas boa parte noto que não buscam leitura para defender o indefensável e tem mais, nesses passeios entrei em alguns grupos do whatsapp, facebook, instagram e é impressionante o que defendem com todas as forças.
São tão sem noção, que falam que o estado atual onde prefeitos e governadores no Brasil devido a Covid-19, restringem certas práticas, são ditaduras, vou repetir, são DITADURAS. Sinceramente, é difícil os levar a sério.
Esses também não compreendem o que cada ente da federação tem como premissa de suas obrigações e responsabilidades, somo ainda que nem entender como funcionam os três poderes. É ou não difícil levar a sério adultos (na idade pelo menos) que não conseguem aprender o que alunos do 8º ano (antiga 7ª série) do Ensino Fundamental já sabem? Aliás, não, sabem, APRENDERAM.
Tivemos ainda nesta semana, a demissão do Ministro da Defesa e o pedido de demissão coletivo dos chefes das Forças Aramadas em bloco, Todos saíram do governo, comentasse que isto ocorreu em decorrência do Bolsonaro buscar reviver 1964, aumentando seu poder e não foi uma ou duas vezes que ele falou em Estado de Sítio e ainda usou a Lei de Segurança Nacional (LSN).
Mas tudo isto não me surpreende, não esqueçam que a cadela do fascismo sempre está no cio e o ovo da serpente já eclodiu. Que não baixemos a guarda, seja onde for. Nós Historiadores principalmente, temos por missão, fazer com que o passado não seja esquecido, só que o principal está em aprender no passado o que não deve se repetir e que as novas gerações, não busquem no Lixo da História, soluções que não existem e discursos mentirosos. Não estudo o passado, o compreendo para pensar o hoje e quem sabe, termos um amanhã.
Mas não posso condenar quem acredita quando Bolsonaro disse que 1964 foi uma Revolução. Vocês acreditaram e alguns ainda acreditam que ele é o guardião da família tradicional brasileira, que ele não é corrupto, que ele é patriota, que ele defende o Brasil. Só não me diga que vocês também acreditam em Invermectina e Cloroquina como tratamento precoce, caso acredite, fica difícil até dialogar.
Fonte:
PANDOLFI, Dulce. O Brasil e suas revoluções. Século XX — Retrospectiva. Edição especial de O Estado de S. Paulo. Disponível em <www.estadao.com.br>. Acesso em jun. 2007.
*É Historiador, Professor e mestrando.
Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.