Na década retrasada, Mossoró vivia como hoje problemas de abastecimento d’água, e a então prefeita Fafá Rosado (na época no PFL que virou DEM e atualmente é o União Brasil) se preparava para a reeleição buscava um tema se blindar dos adversários.
Fafá gozava de boa popularidade e estava longe de estar a frente das articulações políticas de seu grupo. Quem tocava isso era o irmão e chefe de gabinete Gustavo Rosado.
A Prefeitura de Mossoró, que já tinha renovado o contrato de concessão com a CAERN em 2005, ameaçava romper o acordo por causa da crise abastecimento. O assunto tomou conta das manchetes da mídia parceira e colocava a Fafá como defensora do povo.
A então governadora Wilma de Faria (na época no PSB) vinha de uma tentativa de construção de convivência institucional com Fafá. Tinha firmado com ela uma parceria que resultou no prolongamento da Avenida Rio Branco, com destaque para a construção da Praça da Convivência, uma das heranças da gestão de Fafá.
Mas a candidata de Wilma era a então deputada estadual Larissa Rosado (na época no PSB). Então bater na Caern era bater no governo Wilma e por tabela em Larissa.
Por mais insano que fosse, ameaçar romper o contrato, que está vigente até 2025, era pura estratégia política. Fafá tinha uma reeleição pela frente e a sua principal líder política, a então senadora Rosalba Ciarlini (DEM) se preparava para disputar o Governo em 2010 fazendo oposição ao esquema político de Wilma.
Agora o prefeito Allyson Bezerra (União), conhecido pelo estilo modernoso das redes sociais, adota uma tática da década retrasada. Após fazer uma crispação com o Governo do Estado tratando de uma dívida que não se sustentou nos fatos e resultou na revelação de uma dívida milionária do município com a Caern, o prefeito se viu nas cordas no debate público.
Na semana passada, ele recebeu o presidente da Caern Roberto Sérgio Linhares. Na pauta um pedido de liberação de um terreno para a construção de dois reservatórios elevados para receber águas da adutora Apodi Mossoró. O pedido foi negado. O prefeito chegou a sugerir a troca da cessão pelo perdão da dívida, o que se configuraria numa venda. Trata-se de uma obra de R$ 100 milhões que visa acabar a dependência de Mossoró do serviços de poços para o abastecimento d’água.
Temendo a repercussão negativa, o prefeito recorreu ao vereador Francisco Carlos (Avante). Nos tempos de Fafá, Francisco Carlos era conhecido como “super secretário” devido a quantidade de poder que acumulou. O parlamentar resgatou a estratégia da década retrasada e logo propôs antecipar a discussão sobre a concessão da Caern em Mossoró.
A tática é a mesma. Se nos anos 2000 não colou juridicamente, não vai colar nos anos 2020 por causa da Lei Complementar Estadual 682/2021, que estabelece que o serviço de concessão é negociado pela microrregiões e Mossoró está inclusa na Microrregião Central Oeste. Não cabe ao prefeito decidir sozinho pela antecipação.
A tática pode ser velha, mas a legislação é nova.
A ideia é confrontar o Governo do Estado com a tática da década retrasada de olho na eleição do ano que vem quando o prefeito pode enfrentar a deputada estadual Isolda Dantas do PT da governadora Fátima Bezerra e do presidente Lula da Silva.
Allyson sonha se reeleger com facilidade em 2024 como trampolim para disputar o Governo do Estado em 2026. Se Fafá fez por ela e Rosalba, Allyson faz por ele em dose dupla.