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O mundo real e a verdade podem ser enfadonhos

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Por Renato Janine Ribeiro*

Fake news é uma expressão charmosa para o que sempre foi chamado de mentira. Só que há algo mais aqui. Podemos mentir mil vezes em coisas pontuais, mas as fake news fazem parte de um sistema, de uma estratégia. Uma mentira sozinha não é fake news. Só é fake news quando integra um sistema de mentiras, organizado para obter vantagens políticas e/ou econômicas.

Uma andorinha só não faz verão; nem fake news. Precisa haver organizações ou grupos, que podem ser visíveis (como um partido em campanha); escondidos, mas que depois são denunciados (a agora célebre Cambridge Analytica ou as equipes que, segundo ex-bolsonaristas, teriam atuado na eleição passada); ou ainda, e talvez para sempre, bem ocultos.

Fazer fake news é um empreendimento, é coisa de quem se organiza como empresa. Não é para amadores. Mas não sei se um dia sairá um manual para ensinar “engane bem com fake news”. O sucesso delas está em passar por verdade. A mentira só dá certo quando acreditam nela, quando pensam que não é o que é, e sim que é verdadeira.

Tudo indica que o paraíso das fake news é o WhatsApp. Por que ele, e não as outras redes sociais? Porque o Facebook, embora você possa configurá-lo para apenas poucas pessoas verem suas postagens, é, em princípio, público.

Já o WhatsApp se dirige estritamente a grupos fechados e, segundo alega, suas mensagens são protegidas de qualquer olhar, até de seu dono, Mark Zuckerberg, ou do governo americano. Não há como quebrar o sigilo do “zap”, submetê-lo às leis de proteção da honra, exigir direito de resposta. Não há contraditório, não há escrutínio público —elementos essenciais da informação veraz e da disputa democrática.

Mas a grande pergunta é: por que as fake news têm tanto sucesso? Por que seus conteúdos fascinam? Sustento que o maior sucesso no WhatsApp é quando se recorre ao entretenimento, em particular ao audiovisual. A assustadora reportagem do The New York Times sobre a campanha antivacina mostra que ela emplacou no Brasil graças a vídeos difundidos em grupos do aplicativo.

As imagens seduzem. Mais que isso, imagens dão uma impressão (um especialista diria talvez um efeito) de verdade, com o qual palavras não podem competir. Sabemos da facilidade de criar imagens ou mesmo filmes fakes. Há aplicativos que fazem isso. E o espectador acredita. Mais que isso, tem prazer.

Difícil competir com o prazer, com o entretenimento, quando ele toma o lugar da notícia, da análise. O mundo real e sua cobertura, jornalística ou acadêmica, são prosaicos. Podem ser enfadonhos. O Jornal Nacional só tem grande audiência, e mesmo assim abaixo da novela, porque trata o espectador como um Homer Simpson (na frase atribuída a William Bonner). Entretém.

Como enfrentar essa orgia de mentiras, que entre outros promoveu o sucesso do Brexit e de Trump? Como fazer a prosa jornalística e acadêmica vencer o entretenimento fantasiado de informação? Como fazer a palavra racional refutar imagens que mentem direto à emoção? A pergunta não é nova; o assunto já foi discutido por Platão, em “Banquete”, mais de 2.000 anos atrás; mas é o grande desafio hoje, sobretudo para a imprensa e para a democracia.

*É ex-ministro da Educação (2015, governo Dilma), professor de filosofia (USP e Unifesp) e autor de ‘A Pátria Educadora em Colapso’ (ed. Três Estrelas)

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Natália Bonavides será integrante da CPMI das “fake news”

A deputada federal Natália Bonavides (PT/RN) será suplente na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News. A Comissão foi instalada hoje no Congresso Nacional, tendo como presidente o Senador Ângelo Coronel (PSD-BA) e Relatoria da deputada Lídice da Mata (PSB-BA).

A CPMI vai investigar a criação de perfis falsos para influenciar as eleições de 2018, ataques virtuais contra a democracia, além de outros crimes contra a ordem pública. Composta por 15 senadores e 15 deputados titulares e igual número de suplentes. “Quero me somar as colegas e os colegas que concordam que esse é um tema absolutamente importante, é um tema que tá na ordem do dia não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Existe o reconhecimento da comunidade acadêmica, cientifica, política e jornalística de que não podemos ignorar como as novas tecnologias amplificaram a massificação de mentiras e isso tem interferido sim na nossa democracia nos períodos eleitorais”, declarou a parlamentar.

O trabalho da Comissão será fundamental para a ampliação do debate sobre como as novas tecnologias permitem a massificação da desinformação. Natália destacou também sobre a importância da atuação do Congresso Nacional nessa pauta: “Não haveria como Câmara e o Senado ficarem alheios a um tema que tem estreita relação com a nossa democracia. Eu acho que essa Comissão tem um papel importantíssimo, não podemos fugir desse debate e não fugiremos”.

Uma CPMI atua na investigação de fatos com relevância pública que interfiram na ordem legal, social, econômica ou política do país, e deve tirar das investigações proposições que restabeleçam a ordem novamente.

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A Paraíba e o combate às Fake News

Por Abdias Duque de Abrantes

 

O presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB), deputado Adriano Galdino (PSB), promulgou o texto integral da lei instituindo o Dia Estadual da Conscientização e Combate às Fake News. Pela Lei nº 11.413, de 20 de agosto de 2019 fica instituído, no Estado da Paraíba, o dia 24 de março como o Dia Estadual da Conscientização e Combate às fake news, a ser celebrado anualmente. O dia 24 de março é o Dia Internacional do Direito à Verdade.

A instituição deste dia tem o intuito de estabelecer um marco para abordagem da criação, divulgação e disseminação de notícias falsas e conscientização sobre efeitos e consequências jurídicas. O Dia Estadual da Conscientização e Combate às fake news compreenderá a realização de seminários, ciclos, palestras, vídeos e demais ações educativas. As Secretarias Estaduais de Educação e Cultura em conjunto com a Secretaria de Estado da Segurança e Defesa Social coordenarão a realização e divulgação dos eventos, juntamente com outras instituições, bem como, a sociedade civil.

As Secretarias Estaduais de Educação e Cultura em conjunto com a Secretaria de Estado da Segurança e Defesa Social promoverão a discussão e divulgação de medidas que visam ao combate e prevenção das fake news. O projeto foi de autoria do deputado estadual Adriano Galdino (PSB). Na justificativa do projeto, Galdino sustenta a necessidade de o Estado adotar uma legislação própria, políticas e programas que combatam a disseminação de notícias falsas. Ele considera ainda que o investimento na educação é a solução mais barata e eficaz a ser adotada.

“Oportuno, portanto, ser também um dia de reflexão sobre a importância de se apurar e checar a veracidade das notícias que nos bombardeiam todos os dias por meio das mídias sociais, principalmente”, diz o texto.

“Muito importante essa discussão sobre a questão da informação. Estamos vivendo em um tempo onde as notícias falsas estão sendo muito divulgadas e essa Lei vem justamente para pontuar a importância de debater, identificar e coibir essas informações mentirosas”, disse o presidente Adriano Galdino.

O deputado Adriano Galdino ressaltou, ainda, o potencial lesivo que uma notícia falsa pode causar contra a imagem das pessoas. De acordo com ele, o compartilhamento da fake news é um desserviço público, pois muitos internautas não têm o cuidado de verificar previamente a veracidade das informações recebidas através das redes sociais. O presidente também citou como exemplo as empresas que atuam na criação desses fatos, com o objetivo de alcançar o máximo de pessoas possíveis, para influenciar a população e gerar a ‘viralização’ da ‘fake news’. As fake news estão entre as maiores mazelas da sociedade atual, ao lado das drogas”, declarou o presidente da, Adriano Galdino (PSB),

O senador Humberto Costa (PT-PE) propôs ao Senado um projeto de lei para criminalizar a “citação e divulgação de notícia falsa” e a “criação e divulgação de notícia falsa para afetar indevidamente o processo eleitoral”. O texto prevê alterações no Código Penal, no Marco Civil da Internet e no Código Eleitoral.

O projeto prevê, além da punição com até dois anos de cadeia para quem comete o crime, a responsabilização dos provedores, que devem adotar políticas de controle e remoção de notícias falsas depois da notificação extrajudicial por usuários — para isso, o senador pretende mudar o artigo 19 do Marco Civil.

“A notícia falsa, ou seja, aquela que o elaborador sabe ser falsa e lhe faz a divulgação com propósitos malsãos, tem o nefasto potencial de desmoralizar publicamente uma pessoa inocente, afetar de forma indevida processos eleitorais, em prejuízo dos princípios democráticos e da verdade eleitoral, ou seja, da expressão autêntica da vontade do eleitor, e, no limite, até mesmo provocar danos à saúde e à segurança pública”, afirma o senador Humberto Costa, em sua justificativa.

A indústria de fake news nas redes sociais, em grande parte responsável pela intoxicação da seara política e pela manipulação da opinião pública que resultou na eleição de Bolsonaro, continua funcionando a todo vapor. A indústria de fake news do bolsonarismo não tem escrúpulos. A produção e o compartilhamento de notícias falsas e boatos são crimes no Brasil e as penas podem chegar a quase três anos. Esses crimes são previstos e tipificados pelo Código Penal e pelo Código Eleitoral.

O presidente do STF, ministro Dias Toffoli apontou que as fake news são o principal instrumento para construir o descrédito de pessoas, instituições e da própria imprensa. “Cria-se um ambiente de descrença e desconfiança. E nesse cenário, nascem sentimentos que vão influenciar na percepção dos fatos e do mundo. Fomenta-se, assim, a disseminação do ódio”, avaliou.

O ministro do STF, Ricardo Lewandowski, lembrou que a disputa entre a verdade e a mentira não começou hoje. “É um processo longínquo. Nos dias atuais, as fake news têm fundamentalmente três origens: blogs e sites, redes sociais e o whatsapp. Este último, talvez o grande propagador. O papel da imprensa nesse contexto todo é o de decidir entre assumir o papel de induzir seus eleitores ou aprofundar sua função fundamental de formar com clareza e limpidez”, disse.

O combate às fake news é um desafio típico da época presente e que necessita de respostas céleres de enfrentamento. O desafio é colossal e afeta todo o mundo, daí a importância de unirmos forças para combater esse flagelo. A sociedade que preserva a verdade deve se mobilizar para reconhecer e denunciar a disseminação de notícias falsas.

*É jornalista, servidor público e advogado.

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Tudo por dinheiro ou os urubus da (má) comunicação

Francisco Otaviano de Queiroz Filho*

Não é de agora que os gestores municipais tentam de todas as formas desqualificar as lutas sindicais. Na gestão Rosalba, a luta é mais intensa e suja, em muitos casos. As informações, não se sabe orientadas por quem, não necessariamente precisam ser verdadeiras, o importante é babar a gestão e difamar os sindicatos.

Neste diapasão, o Sindiserpum tem sido, gestão pós gestão, a pedra no sapato de quem senta na cadeira de prefeito ou prefeita de Mossoró. Ninguém ficou imune as ações do sindicato e basta uma rápida procura nos arquivos dos vários veículos de comunicação da cidade para se comprovar isto. A verdade está lá.

Nos dias atuais, nesta guerra de Davi e Golias, a prefeitura tem usado a sua máquina de produzir mentiras a torto e a direito, e em escala universal, tendo em vista que agora temos as redes sociais, onde se criar um fato (ou um fake) basta uma pitada de má vontade e, aqui, acolá, umas moedas no bolso.

No ano passado mesmo, em meio à luta do Sindiserpum pelo reajuste dos servidores, o único jornal impresso da cidade comandou uma verdadeira cruzada contra o sindicato. Seu editor, da água pro vinho, passou a execrar os movimentos sindicais, basta uma pequena olhadela no Google para se deparar com elogios rasgados ao Sindiserpum quando este lutava contra outros gestores. Estranho, não é?

Hoje, um pseudo-jornalista, blogueiro, que tem a mesma credibilidade em Mossoró que uma nota fria de 3 reais, publicou, assim, do nada, que “descobriu a pólvora”, anunciando os rendimentos do Sindiserpum nos últimos quatro anos. Primeiro alguém deveria informá-lo que a “notícia” já é requentada, talvez só os valores tenham aumentado do meio do ano passado pra cá. O jornal impresso local já explorou esta pauta “bomba”.

Dois. As contas do Sindiserpum são públicas, estão lá, apostas num mural, mês a mês e só interessam aos seus associados, não são recursos públicos, Sherlock Holmes de meia pataca. Caso um sócio queira saber para onde sua contribuição está indo, é só solicitar ao sindicato que este o informará. O Sindiserpum não tem que prestar conta à imprensa nem ao poder público, já o poder público, este sim, tem obrigação de prestar contas ao povo sobre onde estão sendo empregados os seus impostos.

Sei que estou jogando palavras ao vento, e sei também o que há por trás desta (des)informação. Estamos repletos de urubus sobrevoando esta carniça que se ajunta à gestão atual, todo mundo querendo um pedacinho da costela da hiena. Eu deveria ficar quieto, mas me enoja certas posturas, apesar de que não me sai da cabeça o velho dito popular de que não se deve chutar cachorro morto.

*É servidor público aposentado 

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Apartados pelas disputas na Assembleia, Isolda e Allyson são alvo de uma máquina fake news pró-Rosalba

Deputados estão na mira da máquina rosalbista (Montagem: Blog do Barreto)

Desde o dia em que foram eleitos deputados estaduais Isolda Dantas (PT) e Allyson Bezerra (SD) se tornaram os alvos preferenciais do rosalbismo.

Com o grupo de Tião Couto/Jorge do Rosário subestimado por causa das digitais colocadas no fracasso eleitoral do ex-governador Robinson Faria (PSD), a dupla de jovens parlamentares passou a ser fiscalizada pela mídia e militância rosalbista.

Qualquer deslize terá amplitude nas redes sociais. Seus gestos serão alvo de distorções implacáveis do “tribunal do Facebook” ou de algum meme arrasador.

Enquanto isso, a mídia independente será sufocada por meio de pressões financeiras, assédios e “pedidos de cabeças” nos bastidores.

A máquina está azeitada.

Um pedido de diária para representar a Assembleia Legislativa fora do Estado é tratado como “passeio às custas do contribuinte”.

Isto está acontecendo com Allyson.

O voto em favor do acordo firmado entre Sinte e Governo do Estado referendado pelos professores em assembleia vira uma “traição” contra os trabalhadores.

Isto aconteceu com Isolda.

Por diferenças políticas e ideológicas, Isolda e Allyson estão em campos opostos. Trocando em miúdos: não se unem, não se misturam. São os principais pilares da oposição pela representatividade dos mandatos e por isso acabam tratados como alvos preferenciais de uma máquina de destruição de reputações custeada pela publicidade oficial.

Desunidos, não se protegem entre si. Allyson andou referendando a tese de que Isolda votou contra os professores, o que em nada agrega politicamente para a oposição. Pelo contrário, gera mais distanciamento. A petista pelo visto já percebeu a armadilha e tem evitado confronto aberto com o colega.

Enquanto isso, o rosalbismo está unido, coeso e pronto para compartilhar e curtir cada ataque contra eles nas redes sociais.

A prefeita Rosalba Ciarlini (PP) tem uma vantagem monumental com isso. A onda de distorções e fake news padrão MBL está do lado dela.

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Beto Rosado sofre acusação injusta

Um meme apócrifo espalhado pelas redes sociais acusa o deputado federal Beto Rosado (PP) de ter votado contra a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) na revisão dos recursos de emendas federais.

A informação é injusta porque não procede.

Beto foi fundamental para garantir para a UERN a emenda de R$ 20 milhões prevista inicialmente. Foi importante para garantir que o corte não atingisse a universidade, mas a pressão de Natal (será tema para outro texto ainda hoje) derrubou o acordo.

O corte seria de 21%, mas ele em conjunto com a governadora Fátima Bezerra (PT), o senador Styvenson Valentim (PODE) e a deputada federal Natália Bonavides (PT) evitaram que o estrago fosse maior segurando o corte na casa dos 15%.

A UERN ainda assim terá uma emenda de R$ 17 milhões. O ideal seria R$ 20 milhões, claro. Mas é injusto dizer que Beto traiu a universidade.

Muito pelo contrário. Sou servidor da UERN e dou meu testemunho do quanto ele é parceiro.

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Mudança no Procon Estadual: quando a conjectura flerta com a fake News

O Diário Oficial do Estado (DOE) trouxe a exoneração do cargo de coordenador geral do Procon Estadual de Jandir Olinto Ferreira da Silva. Consta que a decisão foi a pedido do próprio auxiliar.

A saída, de fato, ocorre no mesmo momento em que ele intensificava ações para conter um suposto cartel dos postos de combustíveis.

No entanto, em tempos de pós-verdade a mera conjectura pela coincidência temporal se torna fato pronto e acabado na cabeça dos antipetistas.

Foram muitos questionamentos dos meus leitores perguntando o que eu desse assunto.

Demorei a tratar do tema para poder me posicionar checando. Apurei nos bastidores que aos poucos a governadora Fátima Bezerra (PT) está mudando os cargos de terceiro escalão seja por falta de quadros seja para evitar descontinuidade dos serviços.

Alguns devem permanecer no cargo. Outros não como acontece em qualquer mudança de governo.

É preciso lembrar que Jandir Ferreira foi alçado ao cargo em maio do ano passado numa negociação com o então governador Robinson Faria (PSD) que em troca recebera o apoio do pequeno PMB nas eleições do ano passado.

Não há base fática nem lógica para cravar que a saída de Jandir do Procon teria sido por alguma relação da governadora com os donos de postos de combustíveis da cidade.

Respeitemos a lógica e não confundamos conjecturas com fatos.

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Bolsonaro existe? Foi esfaqueado mesmo, ou é tudo ‘fake news’?

Por JUAN ARIAS

El País 

Talvez a História nunca tenha estado tão insegura entre a verdade e a mentira. Nunca, nem mesmo o presente foi posto tanto em dúvida. Será que descobrimos, de repente, que a verdade no estado puro não existe e que tudo pode ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo?

Vejamos o Brasil. Tudo parece ser uma coisa e o contrário. Há até quem chegue a perguntar a si mesmo se o capitão Jair Bolsonaro, que conseguiu 57 milhões de votos nas urnas não se sabe como, existe realmente ou é uma miragem. Coloca-se em dúvida até mesmo que tenha sido esfaqueado.

Em um mundo no qual até intelectuais chegam a pôr em dúvida a existência do Holocausto judeu, com um saldo seis milhões de pessoas — homens, mulheres e crianças — exterminadas nos campos de concentração, podemos ter a impressão de que a verdade não existe e não será possível conhecê-la.

Isso é positivo ou negativo? É verdade que dessa forma todos nos sentimos mais vulneráveis e inseguros ao não ser capazes de distinguir entre verdade e mentira. E, ao mesmo tempo, talvez tenhamos de nos acostumar a conviver em uma realidade mais complexa do que pensávamos, que nos obriga a estar mais vigilantes, já que os limites entre realidade e aparência, entre notícia e fake news, estão ficando cada vez mais tornam-se se fazem cada dia mais tênues e indefinidos.

O que sentimos hoje como uma inquietação, talvez porque estivemos séculos sentados tranquilos sobre nossas certezas, pode acabar sendo uma importante purificação. Durante séculos vivemos alimentados pelos dogmas que poder civil ou religioso nos impôs. Tudo era, sem que precisássemos nos preocupar em descobrir, branco ou preto, verdadeiro ou falso, bom ou mau, justo ou injusto. Era assim mesmo, ou será que tínhamos nos acostumado a conviver com a verdade imposta, o que nos dispensava da dúvida? As coisas eram como eram, porque sempre tinham nos ensinado assim. Teria dado muito trabalho colocá-las em discussão.

Sempre acreditamos nos livros de História, como se fossem textos sagrados que não pudessem ser discutidos. E se, na verdade, os livros de História nos quais bebemos durante séculos fossem, em sua maioria, uma grande fake news? Nós nos esquecemos de que, em grande parte, a História foi escrita pelos vencedores, nunca pelos perdedores. Como teriam escrito os mesmos fatos aqueles que perderam as guerras, as vítimas, os analfabetos que não podiam escrevê-la, mas que a sofreram em sua pele?

Será que estaria a salvo da contaminação das fake news o grande livro da Humanidade, a Bíblia, escrita no espaço de mil anos por autores desconhecidos, que as Igrejas cristãs consideram ter sido inspirada por Deus e, portanto, verdadeira? E se descobríssemos que historicamente a Bíblia não resistiria a uma crítica séria? Ou será que alguém pode acreditar que existiram seus personagens mais famosos, como Abraão, Noé, Matusalém e Moisés?

E analisando apenas os quatro evangelhos canônicos que os católicos consideram inspirados por Deus, quanto neles há de histórico e quanto há de catequese religiosa ou política? Qual é a versão verdadeira sobre o julgamento e condenação à morte do profeta Jesus se entre as versões dos quatro evangelistas há inúmeras diferenças bem visíveis? Qual é a figura real de Jesus, a que é apresentada aos judeus da época, cuja morte é totalmente atribuída aos romanos, ou aquela narrada aos gentios e pagãos, em que se carrega nas tintas contra os judeus e fariseus?

Talvez a inquietude que todos sentimos hoje, na nova era em que a Humanidade entrou ao não saber se estamos lidando com notícias verdadeiras ou falsas nem o quanto isso pode condicionar a convivência política e social, se deva, no fim das contas, a algo positivo, embora seja preciso se recompor e recuperar a serenidade para entender que vivemos em um mar agitado, no qual é difícil distinguir um peixe vivo de um pedaço de plástico.

Essa positividade que alguns pensadores começam a farejar na situação angustiante que vivemos, na qual verdade e mentira convivem abraçadas, talvez nasça de algo novo e ao mesmo tempo positivo que não existia no passado. Hoje, pela primeira vez, a crônica cotidiana, a história que estamos vivendo, não é narrada exclusivamente pelo poder, como no passado. Não é narrada pelos que se consideravam donos da verdade e a impunham com a espada na mão, se fosse necessário. Todos os poderes, civis e religiosos, fizeram isso. Hoje, a crônica começa a ser escrita e filtrada também pelos de baixo, pela periferia, por aqueles que não têm mais poder do que o oferecido pelas redes sociais.

Isso sem dúvida levará, como já está ocorrendo, a crises de identidade e à quebra de velhos paradigmas de segurança, como o que os dogmas e as verdades oficiais ofereciam antes. Era tudo mais cômodo e causava menos angústia. Mas não éramos também mais escravos do pensamento único do poder? O fato de não termos de nos preocupar em saber se o que nos ofereciam como história era verdade ou não, ou se era só a verdade de uma parte e não da outra, dava-nos tranquilidade. Hoje, estamos no meio de um ciclone que parece arrastar tudo e não é estranho que nos sintamos inseguros, irritados e até com medo.

Tão inseguros que ainda há quem não saiba realmente quem é Bolsonaro ou se ele é uma invenção, ou se os médicos de dois hospitais de prestígio inventaram a história da facada. E Lula? E Moro? Como se escreverá amanhã a história atual do Brasil? Será que os historiadores de hoje conseguirão nos contar no futuro a verdade ou a fake news sobre o que está vivendo uma sociedade que se sente presa entre a verdade e o boato, entre o que ela gostaria que fosse e o que efetivamente é a realidade — que, afinal, tem possivelmente tem tantas caras e nuances quanto as cores do arco-íris.

É melhor não sofrer tanto e aprender a conviver em um mundo que já não é nem será aquele em que nossos pais viveram. E essa sim é uma verdade. Se opressora ou libertadora, só poderemos saber quando baixar a poeira dessa agitação em torno de verdade e falsidade ou de meias verdades e meias mentiras. O famoso filósofo espanhol Fernando Savater me lembrava de que “se o mundo parasse de mentir, acabaria despedaçado em poucos dias”. Às vezes, uma meia verdade pode salvar o mundo de uma catástrofe. Até a Igreja católica, com seus séculos de experiência em conduzir o poder, cunhou as famosas “mentiras piedosas”.

Para terminar, é verdade que Bolsonaro existe, com mais sombras do que luzes e mais incógnitas do que realidades. E também existe Lula, com toda sua história e todas suas contradições. O que não sabemos é como a História nos contará um dia este momento, que em outras colunas em já chamei de dor de parto, mais do que de funeral e morte. E em todo parto existe, ao mesmo tempo, dor e felicidade, ansiedade e esperança.

E, acima de tudo, a certeza de que a vida, com todas suas amarguras e crueldades, verdades e mentiras, é o único e o melhor que temos. Que no Brasil predomine, apesar de tudo, a cultura da vida e não a da morte. Essa é a grande aposta e a grande resistência. Para isso, todos deveríamos andar de mãos dadas.

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Blog debate fake news em simpósio

O Blog do Barreto estará representado pelo editor desta página no I Simpósio de Direito Penal e Constitucional da Universidade Potiguar (UnP) que será realizado hoje a noite.

Estaremos debatendo com o professor e advogado Phabyo Hunter o tema “Direito Constitucional: as fake news o “choque na política”.

A discussão será a partir das 19h no Campus da UnP.

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Checagem de fatos: não procede que José Dirceu vai fixar residência em Natal e integrar governo Fátima

Blog do BG

O ex-ministro da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu, não fixará residência em Natal, ao contrário do que vem sendo disseminando em grupos de WhatsApp.

O boato surgiu no fim de semana e ligou Dirceu à equipe de Fátima Bezerra. O rumor chegou a ganhar até espaço em blogs, levantando questionamentos sobre a participação do ex-ministro no governo Fátima.

A fake news dava conta de que Dirceu já havia alugado uma casa do ex-governador Fernando Freire para viver em Natal.

O fato não procede.

Tanto a assessoria de Fátima, como a do PT, procuradas pelo blog, negam a informação.

Neste fim de semana, a coluna Expresso, da Época, publicou o que a proximidade entre ambos já chamou a atenção de petistas. Mas a governadora eleita sabe que colocar Dirceu no seu governo, de alguma forma, será um desgaste enorme.

Dirceu, além disso, deve retornar para a prisão com a confirmação, no STF, da condenação que o levou à cadeia. Dirceu foi condenado a quase 31 anos de prisão.